terça-feira, 23 de agosto de 2011

great technical difficulties e figura de urso


ATENÇÃO: Peço muitas desculpas aos meus leitores que, estranhamente, sabem o que é o Bildungsroman e eu não sabia, pelo que este meu post não faz grande sentido. Dado que comentaram entretanto e que sei que os vossos corações são sensíveis, não apago e fica aqui, ainda acrescento a seguinte nota tidada da wikipedia: É designado com o termo alemão Bildungsroman (romance de aprendizagem ou formação) o tipo de romance em que é exposto de forma pormenorizada o processo de desenvolvimento físico, moral, psicológico, estético, social ou político de uma personagem, geralmente desde a sua infância ou adolescência até um estado de maior maturidade.

A propósito do Adolescente, um livro de Dostoiévski com um narrador na primeira pessoa (incomum em Dostoiévski e considerado por alguns críticos como um livro mais fraco mas eu vou mostrar que não depois de o ler até ao fim), este blogger estrangeiro escreve isto:

«In a bildungsroman [romance na primeira pessoa], the narrator of the story knows the end before the beginning, and must withhold this information from the reader, both on the level of plot and incident, and on the level of self knowledge. At the same time, the illusion of developing awareness, of evolving consciousness must be self-consciously created.

The first person narrative limits the omniscience and interest of the narrative voice. Other characters’ motivations cannot be examined, other scenes in which the narrator is not present cannot be described, without the risk of breaking the illusion of a central viewpoint. The risk of boring the reader without a breath of fresh air provided by a change of scene or character is very great.

At the same time a first person narrative raises all sorts of questions about narrative provenance: is the story being told to the reader, or written down and ‘discovered’ by the reader? What is the gap in time between the events described and the writing/telling?

The genre is therefore fraught with great technical difficulties.»


Apesar de reconhecer as techical difficulties (ah ah) não creio que seja mais difícil que outros, penso que depende mais da voz interior, do estilo. Em todos os bons bildendumsroman (Catcher in The Rye, todos os Bukowski, Fome do Knut Hamsun, Molloy do Becket, Livro do Desassossego etc.), estes aspectos são irrelevantes. Vejo o bildiungsbergman (agora encontrei um nome fino para isto e não me calo) como a construção de um mundo subjectivo, uma consciência nova, que seja fascinante e que provoque estranhamento.

Nem um género nem outro é melhor ou pior por princípio, mas reconheço facilmente que o bildumgsroman é menos popular e tem menos potencial de sucesso de vendas e mesmo crítico. Contudo, acho o bilbobaginsroman mais natural. O Kerouac pode escrever o blimungsroman do On The Road todo de uma assentada, mas dificilmente faria um não-blinmunsroman de uma assentada. Até porque ele é mau escritor (desculpem) e mesmo assim o On the Road não deixa de ser interessante e poderoso se encontrar a consciência certa. Os diários que se tem na adolescência, as cartas e e-mails que se enviam ou os blogues, são pedaços de blidungsruman. Contamos e escrevemos coisas limitados à nossa consciência e experiência. O esforço de ficção é criar uma consciência nova ou derivações da nossa consciência ou projectar a consciência em experiências novas. Exige voz. Um tipo formidavelmente chato consegue escrever romances não-blidensgruminan e o oposto é completamente falso. Ainda vou no inicio do Adolescente e gosto muito. O Dosto é tudo menos chato e tem sempre truques na manga. Vamos ver.

10 comentários:

Anónimo disse...

Penso que o Bildungsroman é mais do que a narrativa na 1ªpessoa, tem a ver também com a construção da narrativa e a evolução, a formação da personagem, por exemplo da adolescência até à idade adulta.

Rita Maria disse...

Vá, um Bildungsroman é mais que uma narrativa na primeira pessoa, convém que se bilden alguma coisa, na maioria dos casos uma evolução, um crescimento...(preciosismos, não ligues)

Rita Maria disse...

Ah, já cá tinha vindo um anónimo dizer a mesma coisa!

RBM disse...

Caraças pah, o Kerouac mau escritor?! Onde é que é o teu caixote de lixo literário, oh Tolan?!

Vareta disse...

EU cá não sei até que ponto concordo com o teu citado estrangeiro sobre as maiores dificuldades técnicas da narração na primeira pessoa. Em especial em língua portuguesa, que é tão asada para tal propósito, mais ainda no uso moderno do "eu disse a ela e ela ligou a ele e".

Não sei. Se estás a engatilhar qualquer coisa como "olhem só como o Dosto até com as maiores dificuldades técnicas se safa!", não sei se é muito válido.

O Kerouac narra na primeira pessoa, sim, mas o On the Road como bildungsroman... enfim, com uma pedrinha de sal, talvez.

Laranja disse...

No outro dia perguntei-te mas não me chegaste a dizer... gostaste dos Cadernos da Casa Morta? :*

Tolan disse...

Não li esse ainda! :*

Tolan disse...

E têm todos razão, só para que conste, peço desculpa de não saber o que é um blidiunsgrudum

Rita Maria disse...

Home, já chega de auto-flagelaçao, estamos a começar a sentir-nos mal.

Tolan disse...

._.