quarta-feira, 24 de agosto de 2011

e falam

Recentemente fiz mais uma viagem de 3 horas de comboio para o Porto e sentaram-se quatro brasileiros, dois homens e duas mulheres, nos seus 50/60 anos, turistas de classe média alta (cada vez mais frequentes devido ao boom económico e valorização do real).

Conversaram em voz alta três horas consecutivas.

Umas vezes falava um para os outros três. Outras os três falavam para um apenas. Às vezes um falava para um e o outro falava para o outro. O que é certo que é falavam todos para mim, que estava sentado atrás deles.

Apesar de se conhecerem obviamente há muito tempo (dois eram irmã e irmão e estavam acompanhados pelos respectivos esposos), não lhes faltou tema, desde novelas, destino de actores, histórias pitorescas disto e daquilo, doenças etc. e tudo num tom suficientemente elevado para que metade da carruagem pudesse desfrutar do seu interessante diálogo. Juro que em três horas não ocorreu uma única pausa nem sequer de um segundo, como é natural de acontecer, aquelas pausas em que todos se calam e um aproveita para dormitar e os outros falam mais baixo ou em que ninguém sabe o que dizer.

Era sobre-humano, o tom era relativamente estável e constante, como que um chilrear instintivo, assim que um terminava de dizer algo, outro havia que reagia imediatamente, mudando de tema ou respondendo. Imaginei uma carruagem toda cheia de pessoas assim e tive um vislumbre do inferno, mas depois pensei que se calhar era menos grave porque ficaria apenas aquele ruído ensurdecedor mas indistinto que se ouve nos transportes em Espanha... Sim, porque os espanhóis são os campeões dos decibéis, puta que os pariu que eles falam aos gritos literalmente.

E pronto, foi o meu post xenófobo do dia :) Espero que tenham gostado. Amanhã vou postar sobre os hábitos de gorjetas dos turistas judeus.

7 comentários:

ANGIE disse...

De mais!

Andorinha disse...

Contradições...explico-me: fiz uma viagem assim com mais 2 amigos na croácia. Durante a viagem pensei que quem estivesse ao pé de nós no autocarro devia estar a ficar doido. Mas durante 3 horas tivemos sempre conversa...acho q nos afogavas. Mas nós estavamos a curtir a companhia um dos outros, e falamos da historia da croacia...sempre eramos mais interessantes...nahhh
A contradição está no facto de eu ter decidido que nunca mais viajo com espanhóis pq falam alto pra burro e nao se calam um segundo e nao há cú que os aguente. Tb posso resumir como: nada como beber do próprio remédio.

carla disse...

Eheheh

Aqui há uns tempos também fiz a viagem de comboio Porto-Lisboa com 3 colegas e fomos a falar as três horas.
Não nos calámos um bocadinho que fosse e apercebemo-nos disso. Houve uma altura que o tema era "e se nos calássemos porque as pessoas que vão nesta carruagem devem estar fartas de nos ouvir". Ora, isso deu logo azo a outros temas...
Deve ter sido aborrecido para os outros mas para nós uma viagem bem divertida.
Secretamente, esperávamos que os outros se estivessem a divertir tanto como nós com o que dizíamos, porque como deves saber quatro mulheres a falar só têm temas e coisas interessantes para dizer :).

Vareta disse...

Confessa, Tolan: ficaste com saudades dos comboios de Tóquio?...

Tolan disse...

Fiquei sim :(
todos tão caladinhos. E era proibido falar ao telemóvel. E eles tinham joguinhos nos telemóveis, com coisas coloridas aos saltos. E havia colegiais a serem apalpadas por velhos e elas nem choravam muito, só soluçavam baixinho. Era tão bom :(

Anónimo disse...

Tolan,

Sempre podes vir ao Galego. Onde já nem o olho de vidro brilha. Grades de cerveja, barrigas proeminente e pernas de pau acompanhadas de mãos de gancho. Aquele cheirinho parasitário do mijo. Depois já mais em desuso a unha amarelada do cigarro e o cabelo amarelado de tanto cuspir.

R.

zozô disse...

Como alguém disse, para deixarmos de ouvir passageiros, o Alfa devia disponibilizar, não os auscultadores do costume, mas almofadas, como antigamente. As almofadas sempre eram mais úteis para sufocar alguns faladores ;)