segunda-feira, 25 de julho de 2011

não tive sono entretanto


Comecei a fumar lentamente, depois dos 20. Antes disso fumava ocasionalmente, para me treinar para as drogas leves e não tossir quando a C. me passava um charro no bairro alto. Um escritório onde todos fumavam contribuiu para me tornar fumador mais depressa, havia o culto da pausa para o cigarro e eu queria integrar-me no mundo dos adultos. Então em vez de só fumar quando saía à noite, comecei a fumar diariamente e durante o dia. Também há os filmes, o rock, os escritores envoltos em nuvens de fumo.




Deixei de fumar por longos períodos. Até que uma sucessão de coisas más, uma delas muito triste (uma morte) me colocou num estado de espírito niilista que no íntimo me fazia pensar que não era assim tão importante morrer aos 36 ou aos 56, que era tudo a mesma coisa. Não vou dizer que hoje penso de forma diferente nesse aspecto. Não tenho minimamente medo de morrer de cancro ou de outra coisas qualquer, continua a ser-me indiferente. Há poucos dias mataram a tiro quase 100 jovens na ilha de Utoeya. Em termos absolutos, não é desonesto achar que umas pessoas têm sorte e outras azar? Que direito tenho eu de achar que a minha vida é "melhor" por ter vivido mais 10, 15 anos que um miúdo na ilha de Utoeya que estava no sítio errado à hora erada? A única forma de entender isto é esticar as coisas ao infinito e relativizar, ver que não existe diferença entre viver uns segundos ou viver oito décadas. A opção contrária é demasiado cruel e absurda para se verdadeira, é anti-natural,. A morte é uma condição inerente à existência.




Por isso para deixar de fumar são precisos motivos mais práticos: é caro, os dentes ficam amarelos no longo prazo, temos mau hálito, o coração e os pulmões sofrem, custa-me mais fazer surf ou btt e sobretudo, tenho dores de cabeça com muito mais frequência. Mas o Bukowski fumava.

5 comentários:

Helena disse...

... e que tal o aumento do risco de impotência?

Maat disse...

eu estou a ler 'easyway to stop smoking'. ainda não tenho resultados, mas também ainda não terminei. aliás, até comecei a fumar mais do que fumava antes (tinha praticamente deixado, fumava só em ocasiões especiais). mas tenho esperança que depois de acabar nunca volte a fumar na vida.

Tolan disse...

Maat, já li esse e foi o responsável pela minha grande paragem de fumar. Esse livro é excelente, a sério. Como dizia não sei quem, deixar de fumar é facílimo, já deixei mais de 100 vezes.

WcPato disse...

dizer que "Não tenho minimamente medo de morrer de cancro ou de outra coisas qualquer, continua a ser-me indiferente" é muito bonito e dá um efeito porreiro ao texto. Fodido é se essa morte de que falas vier apenas depois de um longo período de sofrimento, o que é característico do cancro do pulmão!

Anónimo disse...

Dantes também não tinha medo de morrer. Ranto fazia se morresse amanhã.
Agora tenho um filho pequenino e tenho tanto medo de lhe faltar quando ele mais precisa.
Nesta altura seria logico de te dizer que quando tiveres filhos vais ter medo de morrer e deixas de fumar.
Wrong! Vais fumar ainda mais porque estes bichos são chatos p'ra caraças!
Por isso: fuma rapaz! Quem fuma seus males espanta. (é mais ou menos isso)