quinta-feira, 16 de junho de 2011

Tolstói

É praticamente inútil, e mesmo arriscado, perder tempo com autores contemporâneos ou do próprio país (quando só os lemos porque são, neste caso, portugueses). Só mesmo com muita sorte se encontra algo que compense o tempo perdido. Editam-se livros que fazem mal, afundam as pessoas numa mediocridade. Chamamos obras ao que fazem e aos seus autores damos-lhes o nome de escritores ou pior, poetas. E fala-se neles e alimenta-se um espírito de novidade, de revelação e atribuem-lhes prémios franchisados, com nomes de escritores mortos que não têm culpa nenhuma e que depois são impressos nas capas. Tudo isto me causa alguma angústia, vergonha e sentimento de culpa, porque meti na cabeça que iria escrever ficção. O único motivo pelo qual perco tempo com autores contemporâneos, particularmente portugueses, é para me sentir menos culpado e mais motivado. A mediocridade é tão evidente que perdemos qualquer vergonha ou sentimento de inferioridade, muito pelo contrário. Pensamos 'bom, já que as coisas são assim, mais um não faz mal'.

O nosso meio literário / intelectual (qualquer meio, aliás, é o mesmo no da gestão ou do marketing ou da política) quando comparado com outros países civilizados parece uma associação recreativa de uma aldeia em que doutores obstinados e estrategas da carreira, que sabem umas coisas 'de fora', profundamente insensíveis e sem coração ou sentido de humor, encenam imitações de civilização para uma plateia ignorante e provinciana.

6 comentários:

Jade disse...

talvez por isso, leio poucos autores portugueses contemporâneos...não me motivam nada, n consigo dizer um que tenha lido que me encha o olho, na maioria são sofriveis

Anónimo disse...

Tolan, o q dizes é tão verdade q até dói!

Pedro Góis Nogueira disse...

Completamente de acordo. Há livros que saem inacreditáveis de medíocres só que escritos por gente com peso no meio, sempre muito perto de onde as coisas "acontecem", em suma, tipos que se mexem, aí são grandes craques, há que reconhecê-lo...Eu há coisas que pasmo e prefiro ficar por aqui.

Anónimo disse...

Não percebo o último parágrafo. Não se passa o mesmo noutros países, nomeadamente EUA e Inglaterra? Não se publica a mesma proporção de lixo? Parece-me antes um sinal dos tempos, transversal a qualquer cultura...

Tolan disse...

Sim anónimo, é transversal a todas as culturas e épocas (conforme disse quando falei no Cervantes que já o refere no D.quixote). Mas a diferença tem a ver a com a dimensão e a periferia (a aldeia). Portugal é pequeno mas também é um país onde se lê muito pouco. Por exemplo, eu adoro futebol (sem ironia) e em Portugal joga-se muito e bem à bola e então aparecem bons jogadores, treinadores e clubes, regularmente. Ser intelectual / crítico e debruçar-se sobre a produção literária portuguesa contemporânea é um pouco o mesmo que ser jornalista desportivo na Bélgica. Os belgas bem podem eleger o golo da jornada ou o melhor jogador do ano, não significa que seja uma coisa muito edificante para todos.

Anónimo disse...

Ya, bro.