Às vezes não mostram a cara ou tapam as partes com objectos como livros ou com as mãos ou com uma pose dramática, como se estivessem a atrofiar com qualquer coisa, mas para o meu amigo fotógrafo é indiferente, ele viu tudinho enquanto elas se ajeitavam à pose e está-se bem marimbando para mim ou outros espectadores. Às vezes até ralho com ele ‘porra, não reparaste que a gaja tinha o livro mesmo ali em frente?’ e ele olha-me de lado com desdém.
é só fazer ali um clip da fotografia, mas ele fica com o original completo
e um gancho ou um elástico para o cabelo, não havia não?
Ele não gosta que eu diga “fotografias de mulheres nuas” mas o que é certo é que são fotografias e são de mulheres nuas a sério, não é photoshop. Elas nem são strippers ou prostitutas. Elas querem ver-se a si mesmas bonitas e artísticas, como nas fotografias artísticas de outras mulheres que quiseram o mesmo e assim sucessivamente. São muito invejosas!
O essencial na sua actividade de fotógrafo de mulheres nuas é conseguir manter-se neutro, sério, como os médicos por exemplo, quando eles se viram para as mulheres e começam com aquela história da apalpação mamária e do ‘dispa-se’. À menor coisa, os médicos dizem ‘dispa-se’ e fazem apalpações como espanhóis numa loja. Imagino que no dia a dia os médicos tenham algumas dificuldades em ser sociais, basta uma senhora queixar-se de qualquer coisa numa conversa de café que lhes sai um embaraçoso ‘dispa-se’ e esticam as mãos para apalpar a senhora como se fossem zombies.
uma dica: flash
Uma das manifestas limitações da escrita é a dificuldade em escrever mulheres nuas. De todas as artes, penso que é a mais infeliz, especialmente a prosa. Os poetas ainda é como o outro, mas como os poetas são tendencialmente homossexuais é um talento que não lhes serve de grande coisa.
já vimos poses mais naturais em politraumatizados de acidentes de motociclo
Já pensei em abordar mulheres na rua, como faz o meu amigo fotógrafo, com um cartãozinho a dizer ‘escritor’ e dizer-lhes que só precisam de se despir e ficar ali à minha frente enquanto as escrevo e até fazer uns ares dramáticos, como se estivesse muito concentrado. O problema é que o corpo é um objecto literário bastante desinteressante e considero a misoginia cultivada como uma característica essencial para um escritor a sério,o que faz com que os meus retratos tendam a ser pouco abonatórios. Imagino que o Picasso sofria do mesmo problema, 'o meu nariz não é assim, idiota!' etc.
Uma mulher nua é uma espécie de vazio em termos literários, tem muito mais piada uma mulher, por exemplo, a coxear subtilmente porque uns minutos antes o salto se lhe enfiou entre duas pedras de calçada e lhe torceu o pé. E ela vai mesmo assim à porcaria do copo de água, a disfarçar as lágrimas e a cerrar os maxilares para se conter e contém-se, contém-se, contém-se e depois quando chega o namorado ao pé dela com dois martinis e lhe diz ‘então marmotinha, tás com uma cara, deves estar com a tpm não?’ ela, discretamente, pisa-lhe um pé com o salto e aplica nele todo o peso do corpo mas multiplicado por quatro ou cinco, que é uma coisa que elas conseguem fazer e os gatos e os cães também quando temos de lhes dar banho. E depois ele também fica a lacrimejar e ficam os dois calados e com os olhos húmidos, tensos, a beber martinis como se não houvesse amanhã e as pessoas cochicham que entre eles já não há amor e que devem ter vindo o caminho todo a discutir e que são alcoólicos.
Uma mulher nua é uma espécie de vazio em termos literários, tem muito mais piada uma mulher, por exemplo, a coxear subtilmente porque uns minutos antes o salto se lhe enfiou entre duas pedras de calçada e lhe torceu o pé. E ela vai mesmo assim à porcaria do copo de água, a disfarçar as lágrimas e a cerrar os maxilares para se conter e contém-se, contém-se, contém-se e depois quando chega o namorado ao pé dela com dois martinis e lhe diz ‘então marmotinha, tás com uma cara, deves estar com a tpm não?’ ela, discretamente, pisa-lhe um pé com o salto e aplica nele todo o peso do corpo mas multiplicado por quatro ou cinco, que é uma coisa que elas conseguem fazer e os gatos e os cães também quando temos de lhes dar banho. E depois ele também fica a lacrimejar e ficam os dois calados e com os olhos húmidos, tensos, a beber martinis como se não houvesse amanhã e as pessoas cochicham que entre eles já não há amor e que devem ter vindo o caminho todo a discutir e que são alcoólicos.
6 comentários:
http://www.thenuproject.com/site.php
E gajos nus, não?
Se calhar tinhas mais jeitinho!
;)
tolan, esta cena da tua ingenuidade inventada é muito engraçada, mas há qualquer coisa neste blog que me irrita muito. não sei bem o que é, sei que não te curto nada. talvez seja por teres muitas groupies.
És horrível: nao se consegue só coxear ligeiramente quando se torce um pé.
Ora aqui é que o menino se engana!
É muito desafiador escrever uma mulher nua!
Vejamos. Com uma imagem a saciedade é logo de imediato consolada. Com as palavras, vai-se construindo, imaginando, descrevendo, adjectivando o corpo nu. É um, processo continuado, e com um prazer não tão fugaz quanto o da visulaização de uma imagem. E com a vantagem que a miuda pode até ser desengonçada, mas o florear das palavras pode levar-nos a uma gaja muito boa!!
É certo que as imagens valem por palavras, mas o prazer das palavras é demasiado gratificante !! ;)
The first image is Copyright Dean Farrell Orcatek Photography, www.Orcatek.com
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