sábado, 28 de maio de 2011

o mar à noite

Ontem à noite estacionei o carro na areia e ao ver as ondas fluorescentes, iluminadas pelos faróis, lembrei-me de mim, puto, à noite, com a minha mãe e os dois cães, a passear ao lado de outras ondas, ondas que já não existem, como o meu pai e aqueles dois cães. Eu também sou outro e aquele puto já não existe. As ondas do mar à noite têm um som fantasmagórico, o clamor de uma multidão de mortos. É o ponto onde acaba a terra e começa o profundo negro do oceano misterioso. Recebi um sms. Pela primeira vez, alguém, um grande amigo, está a ler o meu draft de romance e a dar-me feedback por sms, à medida que lê mais umas páginas. Fumei um cigarro, chorei um bocadinho (tinha bebido um bocadão), fui abraçado e fomos embora. Tenho imensas saudades dele. Vivo com uma ferida estranha que não cicatriza mas não sou diferente da maioria das pessoas. A névoa nocturna diluía o halo das luzes da estrada no caminho para casa e sentia-se o salitre nos ossos.

4 comentários:

zoot disse...

A perda das pessoas que nos são queridas deixam sempre uma ferida aberta, pelo resto da vida, julgo. Pelo menos, as minhas duas feridas ainda não sararam. E fervilham quando, no quotidiano, nos lembramos dessas pessoas e de quão bom seria poder partilhar determinado momento e abraça-las. As saudades e a nostalgia matam uma pessoa.Força!

anouc disse...

"... o clamor de uma multidão de mortos.

Uuuuuuuuuuh :o

Anónimo disse...

fake and gay

Anita disse...

Diz-se que a água lava tudo menos a má lingua. Pois para mim a do mar faz muito mais do que isso...lava a alma, refresca o coração, clarifica as ideias, "desinfecta" as feriadas abertas e acalma-nos o espírito!