Vem isto a propósito deste post do maradona, deixei lá dois comentários.
Penso que sou de esquerda, em geral, apesar de não me identificar com nenhum partido em especial.
Penso que ser de esquerda ou direita é ter um sistema de apreciação da realidade diferente. As soluções, essas, deviam ser consensuais porque para cada problema existe uma só solução ideal e as ideologias não deviam limitar a acção correcta e racional. Só há 1 solução ideal para a crise actual por exemplo.
Pondo de parte o insuportável carácter reaccionário e conservador da direita portuguesa, tão colada à igreja, tão incompreensível e fossilizado como a doutrina do nosso PCP, penso que a direita tem tido em geral um carácter mais reformista e progressista que a esquerda, porque é mais pragmática na procura de soluções, parece-me menos espartilhada por ideologias no que respeita à procura da solução ideal. Menos "cega".
Dito isto, há linhas mais cinzentas. Uma pessoa de direita não verá, por exemplo, algo de errado nas assimetrias de riqueza. Só me parece um mau mundo e incomoda-me. O lema do "o problema não é haver ricos, é haver pobres" que já ouvi tantas vezes repetido por pessoas inteligentes de direita não me convence quando a tendência é para uma distribuição sempre mais desigual de riqueza, quando há pessoas que vivem mal agora.
Depois, também me incomoda a livre circulação de capitais a nível global (não a globalização) e a especulação mal regulada em coisas que envolvem países. É que um país sofrer pelos erros de um sistema financeiro, como a Irlanda ou a Finlândia, parece-me algo grotesco. É como uma família ir ao fundo porque o tio avô resolveu jogar no casino às escondidas e fodeu a fortuna toda e ainda empenhou tudo.
O que move um agente financeiro é a procura do seu lucro e não o bem estar geral, a solução ideal. E cria turbulência e incerteza, falta de informação, falta de previsibilidade na economia, pelo mero volume irreal das suas operações. Faz sentido o BPN custar mais que todos os sacrifícios que vamos fazer? Percebo que tenham de o safar, como nos EUA tiveram de safar bancos e na Irlanda, mas por favor corrijam lá o sistema em que estas merdas são possíveis e enterrem de vez o Reaganismo ultra-liberal que já se viu que dá merda.
Quanto à incerteza causada pela especulação e concorrência nos mercados financeiros e na banca, dizem às pessoas: "comprem casa, comprem carro" e depois, cabum, uns anos depois, crise, agora estás fodido. Isto está mal, um sistema que cria condições para que as pessoas não saibam decidir, não tenham certezas de nada. E isso não é óptimo. As pessoas não são estúpidas. Dizem-me que tenho emprego, que tenho este salário, que as taxas de juro são estas e uns anos depois, estou fodido, está tudo ao contrário. Acho isso errado por princípio e acho mal um mundo assim e cada vez mais assim. E vejo a esquerda mais preocupada com isto do que a direita.
10 comentários:
São duas formas totalmente legítimas de governar um país. O problema da direita portuguesa é que parte de duas premissas erradas: a primeira é a de que o incentivo à economia se traduz automaticamente na criação de empregos, como se os empresários portugueses fossem competentes o suficiente – já nem digo honestos – para bem gerirem os apoios estatais no sentido da criação de emprego; e a segunda é a convicção de que vivemos num mundo perfeito e que todos terão as mesmas oportunidades uma vez criados tais empregos, como se os filhos dos mais carenciados tivessem o nível de formação – já nem digo padrinhos – para competir com os filhos dos empresários a quem o estado apoiou in the first place. O problema da esquerda portuguesa é que também ela parte de duas premissas falsas: a primeira é a de acharem que os mais ricos não se vão importar de pagar mais impostos para ajudar os mais pobres, quando na realidade vão fazer de tudo – dado que a riqueza anda de mãos dadas com a influência – para manter o seu actual nível de vida; e a segunda é a de acharem que os mais pobres não se vão aproveitar da situação para viver às custas do estado para o resto da vida. Em Portugal é costume acusar o pessoal de esquerda de serem sonhadores, de almejarem a utopia, um mundo onde todos são iguais e onde a riqueza é distribuída de forma equitativa. Somos sonhadores, sim senhor, mas olhem que o pessoal de direita não nos fica atrás. Pois não sei o que é mais descabido, se acreditar na honestidade do Zé-povinho ou na competência e integridade dos empresários portugueses! O problema de Portugal é que não temos nem uma coisa nem outra: tivéssemos um Zé-povinho honesto (que, por exemplo, não passasse metade do ano de baixa médica) e um governo de esquerda era capaz de endireitar o país; por outro lado, tivéssemos empresários competentes e íntegros (que, por exemplo, não fugissem ao fisco) e com um governo de direita as coisas eram capazes de ir ao sítio.
Concordo Scotex. Conheço bem a realidade da gestão portuguesa nas grandes empresas. Em Espanha há muitos a pensar a nível global e proporcionalmente os espanhóis têm muito mais empresas de sucesso internacional. Nós nem o vinho do porto conseguimos proteger e desenvolver porque os produtores do douro preferem fragmentar a produção (agora andam a fazer vinhos de mesa) e brincar às quintas em vez de se unirem numa ou duas marcas poderosas para exportação. Os nossos empresários são, em geral, fracos e mal preparados. Mas talvez mude.
Tolan, meu caro... assim não vais lá. Os teus argumentos para defender uma postura "de esquerda" por oposição a uma "de direita" e, consequentemente, a conclusão que tiras da realidade estão simplesmente errados. Ou melhor, não é que estejam errados (na etimologia do termo), o problema é que pecam por defeitos profundos de entendimento do que está na essência (é aqui que a porca torce o rabo) dos problemas. Mas agora não tenho tempo, fica para outra altura discutirmos, se quiseres, ok?
usando a mesma linha de argumentação (?) do Miguel, eu contraponho com o seguinte: é pá, Miguel, tás a ver, eu acho que tu assim não vais lá, porque, quer dizer, porque os teus argumentos estão, tipo, tás a ver, simplesmente errados.
Scotex e Tolan, concordo totalmente com cada um de vós.
(Tolan, desculpa, até irrita, mas hoje deu-me para estar de acordo contigo, está visto...)
O essencial é que a direita quer o seu próprio bem - por mais que o seu líder ande pelas feiras, toda a gente sabe que quem tem dinheiro e poder quer mantê-lo, não distribui-lo; e a esquerda luta pelo direito à informação, pela igualdade, pela solidariedade.
E, sim, o vinho do Porto só não é um maior sucesso porque, mesmo com ingleses à frente das quintas, a mentalidade não é a de unir esforços em nome da região, mas sim a de encher contas bancárias e comprar motas de água para os netos... (I should know, sou de lá...)
Sara,
Diga-me, por favor, o nome de um país "de esquerda" onde exista o direito à informação, à igualdade e à solidariedade...
Cumprs.
Wcpato, o que te posso dizer são duas coisas:
1. Eu não argumentei, deixei para mais tarde.
2. Avante, camarada!
Miguel, fico à espera então.
acrescento que uma opção "de esquerda" tem qualquer coisa de contrariar a lei darwiniana da natureza, do domínio dos mais fracos pelos mais fortes, como é tendência natural das coisas. Não é necessariamente racional, mas pode estar disposta a sacrificar eficácia na geração de riqueza e na utilização dos recursos, por uma maior distribuição da mesma, como que a contrariar o facto de uns serem mais fortes e outros mais fracos. A direita parece acreditar que a riqueza para todos será uma consequência natural de uma maior riqueza total. Eu até punha os empresários noutro saco totalmente diferente.
O meu problema actual, grave, são mercados financeiros ultra-liberalizados. São um poder não legitimado, imprevisível, egoísta e causador de turbulência a mais. Espero que o aconteceu, pelo menos, mostre a todos que não podemos continuar a viver num mundo sem certezas, um mundo com os tais activos tóxicos. Vejam bem se é lógico estarmos na incerteza do problema do nosso próprio país, de espanha ir abaixo etc. etc. Não era bonito sabermos exactamente a extensão dos danos dos tais activos tóxicos? Não era bonito os investidores que decidem a nossa taxa de juro de dívida público terem um rosto, uma responsabilidade, e dizerem "nós achamos que a dívida está a 7% porque isto e aquilo, mas se fizerem isto e aquilo, baixamos para 4%". É que é patético! Dizem (em surdina, boatos) "se aprovarem o orçamento de estado, os juros baixam". Aprova-se. Os juros aumentam. E não se pode criticar os mercados, não senhor, porque pode dar uma de Chavez e os juros disparam, são muito racionais os juros.
Que seca! Que puta de seca!
Tolan:
1. Concordas que um regime de "esquerda" consegue ser pior que um regime de "direita"? Se sim, continuamos a partir daqui. Senão, temos uma divergência fundo e não vejo como conseguimos ir a alguma lado a não ser à tasca da esquina deitar abaixo umas mines.
2. Discordo da forma como te referes ao funcionamento dos tais "mercados", esses papões! São o mecanismo mais perfeito e simples que há na Terra. Uma pergunta, também antes de prosseguir: conheces os tais "mercados" por dentro, ou és somente um espectador (espera-se) atento?
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