Lígia Trindade: António Lobo Antunes, um escritor sensível que escreve para gente sensível capaz de ler o que não está lá
Deve ser bom ser gente sensível e escrever para gente sensível. Eu gostava. A gente sensível vai ao restaurante, pede uma caldeirada, ela vem sem safio e sem raia e depois aparece a Lígia Trindade, vinda da cozinha com um bonito avental rendilhado, a dizer que devemos ser sensíveis e capazes de comer o que não está lá porque o cozinheiro também é muito sensível. Sensibilizados, comemos as batatas com a maruca e a pescada.
Deve ser mesmo bom ser um escritor sensível e escrever para gente sensível que lê o que não está lá. Se um leitor não gostar do livro, podemos sempre dizer que ele não é suficientemente sensível para ler as partes boas que não estão lá. Envergonhado, talvez o leitor se redima e leia mentalmente, a caminho do trabalho sensível, no carro sensível, aquilo que ele gostaria de ver num livro que achasse bom. E uns dias depois, talvez meses, após muita escrita e reescrita mental e angústias de criador, o leitor sensível exclamasse "mas que livro sensível!"
4 comentários:
Depois do "bailado de palavras" desisti. Canseira....
Lindo. :D
Achas que este é um comentário sensível?
Toma lá vai buscar... Não sei bem se sensível ou insensivelmente. Mas na mouche é certamente.
LOL lindo :) embora eu goste de António Lobo Antunes e não goste particularmente de safio :D
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