Uma coisa que escapa à minha compreensão é o rótulo literatura gay ou lésbica. Percebo esse rótulo na pornografia e no erotismo. E no cinema, como aviso prévio. Não podemos classificar aquela cena em que o António Banderas é enrabado no filme do Almodóvar ou todo o Querelle do Fassbinder como "cinema gay", mas um aviso fica sempre bem. Não me esquecerei nunca do belo serão com os meus pais em que passaram o Querelle em horário nobre na RTP2. Tudo parecia bem até à cena do primeiro enrabanço. O meu pai cuspiu o whisky, os meus dois cães meteram as patas em frente aos olhos e eu mudei para o Parabéns do heterossexual Herman a meio da cena em que o marinheiro de bigode cospe para o coiso para "escorregar melhor". Só a minha mãe protestou dizendo que não compreendíamos arte. Aproveito para dizer que gostava que nos portais pornográficos as secções de "gay" não tivessem thumbs com fotos explícitas na mesma página que as outras secções perfeitamente straight como "abused", "gagging", "bukake" ou "piss drinking", essenciais para a formação saudável de um adolescente heterossexual.
Mas na "literatura", no sentido abrangente do termo, tenho alguma dificuldade em compreender porque motivo um grupo exibe um rótulo redutor em vez de se diluir no resto como indivíduos que por acaso gostam de usar cremes para cuidar da pele e de ler José Luís Peixoto. Desconfio que esse rótulo é abraçado conscientemente, como ser comunista, porque ajuda a uma certa promoção dentro de um meio e, consequentemente, para fora dele.
Uma página na wikipedia diz A instituição de prémios para a literatura gay e seus autores foi um passo natural da evolução da consciência dos direitos civis. Porquê? Parece os Jogos Paraolímpicos da literatura. É evidente que alguém numa cadeira de rodas não pode concorrer com o Bolt nos 100 metros (eu posso). Noutras áreas, exército por exemplo, é claro que a orientação sexual pode ser um handicap. Em Portugal a revolução homossexual comunista do 25 de Abril deu no que deu, espingardas com florinhas no cano em belos arranjos e nos pides a safarem-se todos. Façam um Esquadrão Rosa nos fuzileiros e mandem-nos para o Afeganistão com as M16 cheias de Camélias e Margaridas e depois contem-nos como correu.
Em que medida a orientação sexual constitui um handicap na literatura? Por vezes, a julgar pela estrondosa % de gays talentosos, dá a sensação que têm uma vantagem qualquer, talvez relacionada com adolescências normalmente conturbadas e pela rejeição do "pai". Todos os artistas têm de ter uma história deste tipo e o facto de se ser gay garante à partida uma série de problemas e crises que ajudam. Eu tive de trabalhar pelas minhas próprias crises na adolescência e ainda hoje continuo a trabalhar nelas diariamente, nos meus demónios, como processo de formação paralelo ao aprender a escrever. Os meus problemas não me foram dados de bandeja como são dados aos homossexuais. Na verdade, se na literatura podemos admitir que pode não ser necessário um prémio literário heterossexual, já faz todo o sentido que existam prémios de poesia ou estilismo heterossexual, pois aí há um handicap óbvio.
Acresce que as "artes" sempre foram o meio onde se destacaram e podiam ser aceites - e em certos casos valorizados - precisamente pelo facto de serem excêntricos e não a norma do mundo banal. Toda gente diz "ah, usa plumas e calções de latex, mas é pintor, é normal" ou "sim, vai engatá-los à porta do consulado de angola, mas é compreensível, é deputado do CDS-PP". Agora um consultor ser rabicho, isso seria de homem: "epá, foda-se caralho, esse gajo veio com a malinha Louis Vouiton e o caniche ao colo, nem pudémos ir ao Elefante Branco depois da noitada no escritório, acabamos a noite em casa dele, de pijama, a beber margueritas e a ver os bloopers do Sexo E a Cidade".
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