sábado, 6 de novembro de 2010

conto

Um dos 3 livros que estou a ler é a colectânea de todos os contos do Truman Capote. O gajo era genial, não sei se já sabiam, ficam a saber. Os contos dele são fatias de real, cortadas cirurgicamente, só a parte que interessa, postas num pratinho para consumo. Gostava de perceber como é que um tipo pode parecer genial só em dois parágrafos aparentemente simples, sem grandes recursos. Não sei explicar exactamente. A melhor metáfora que me vem à cabeça é que dois pintores, um bom e um medíocre, conseguem fazer um retrato realista de alguém, com tempo, técnica, uma coisa semelhante a uma fotografia, mas só o genial consegue fazer aquele retrato em poucos traços rápidos, tornando-o abstracto, distante do real, às vezes a fugir-lhe, mas inesperadamente mais próximo da sua essência. Tipo silhueta desta pessoa muito querida.

3 comentários:

Beatrix Kiddo disse...

"Gostava de perceber como é que um tipo pode parecer genial só em dois parágrafos aparentemente simples, sem grandes recursos" realmente. mas há quem consiga

Ana disse...

Melhor silhueta-retrato de todos os tempos.

Rita F. disse...

Há um prefácio em que Truman talvez explique esse efeito "sem recursos", como lhe chamas. Ele designava o efeito por "underwriting" - genial, não? E explica também que trabalhou muito para o conseguir. O registo documental-ficcional que usa em In Cold Blood e noutras pequenas reportagens/contos também ajudou ao underwriting, daí o Truman gostar muito do texto jornalístico e de explorar as fronteiras entre jornalismo e ficção.
Acho mesmo que ele diz, a uma certa altura, que o underwriting é ainda mais difícil do que o overwriting, e sei que concordarás. :)
(a propósito, este prefácio de que falo está, penso eu, no Music for Chameleons, se calhar até já leste e eu estou para aqui a perder tempo, mas pronto, Boa continuação para si).