domingo, 17 de outubro de 2010

genética

A cerca de 72% do For Whom The Bell Tolls do tio Mingas e depois de uma parte em que Pilar, de acordo com a superstição cigana, explica a Robert Jordan a que cheira um homem que se sabe que vai morrer, pouso o livro, com a mão a tremer e a boca seca. Fico aliviado por dizerem que é o melhor romance do tio Mingas, seria muito deprimente se um ser humano escrevesse sempre assim porque indicaria uma prevalência demasiado brutal da genética sobre o trabalho - o próprio Tio Mingas via nas recentes teorias Mendelianas a confirmação da sua convicção de que uma pessoa nasce para isto. Ele escreveu este livro 11 anos depois do Farewell to Arms, aos 41 anos - e com outro romance, não-ficção e contos pelo meio. Custa muito vermos os nossos próprios limites numa coisa de que gostamos muito de fazer, espelhados em talento que transcende largamente o nosso como quando, aos 14 anos, percebemos que nunca vamos ser jogadores do Benfica.  Na escola onde estudamos há pelo menos seis ou sete putos que jogam melhor do que nós e há um génio da bola, o puto mulato do bairro pobre, que vai para o Torreense, para jogar com outros génios da bola e de quem nunca mais ouvimos falar.

1 comentário:

Cuca, a Pirata disse...

Estou convencida que, no que respeita à escrita, o inato vale muito pouco. 80% serão trabalho, disciplina e resistência à frustração. E também não há, necessariamente, uma escala evolutiva (Veja-se o caso de Paul Auster cujos últimos livros são francamente piores que os primeiros).
Há uma inegável vantagem em relação ao futebol, que é ter a vida inteira para a aperfeiçoar a técnica.