terça-feira, 21 de setembro de 2010

good trip

Este domingo decidi ver o Benfica Sporting na tasca da minha rua, onde compro as 6 cervejas e o maço de português azul quando chego do trabalho. Tem Sportv. Jantar não havia, era domingo, só sandes de carne assada, comi duas. Pedi uma imperial. Nunca tinha bebido imperiais naquela tasca, só Sagres. À minha volta, os outros alcoólicos habitués da casa bebiam sagres, superbock, minis ou normais, de garrafa, sempre. Ninguém bebia imperiais. Curiosamente, a maior parte dos fregueses eram benfiquistas como eu, percebi isso logo no 1-0. Reflecti uns instantes no pormenor inesperado de, num bairro de alvalade, a maior parte dos fregueses num benfica sporting serem benfiquistas. A resposta é simples, os sportinguistas têm dinheiro para ter sportv em casa.

Fui trocando ideias com um vesgo que gritava golo a cada remate a uma baliza e que se desculpava aos outros porque era vesgo e com um tipo bêbado que tinha a teoria que o Cardozo não sabe jogar à bola. De vez em quando vinha à rua fumar um cigarro e trocar ideias com uma senhora alcoólica que fala com uma voz exactamente igual aquele taxista da Maria Rueff. E todos bebiam cervejas de garrafa. Na altura este não me pareceu um pormenor relevante, mas aos 50 minutos, com o 2 0 do Cardozo, já tinha mamado seis e o pormenor pouco relevante começou a crescer até ser incontornável. Algo se estava a passar e era das imperiais. Tinha dificuldade em focar a televisão, via a tasca a andar à roda e comecei a ter vontade de mandar sms à minha ex. Tudo indicava bebedeira, mas ao mesmo tempo isso era impossível, pois só tinha bebido 6 imperiais de 20cl e com o estômago cheio e normalmente bebo 5 a 6 cervejas de 33 na boa. Mesmo que esteja naquele estado amnésico, em que no dia seguinte não me lembro de 3 a 4 horas da noite, os meus amigos e amigas dizem que falei normalmente, me portei muito bem e conduzi ainda melhor ao despistar a perseguição da BT. É isso que explica a propensão que tenho em acordar em sítios estranhos ao lado de mulheres que não conheço de lado nenhum. Com o tempo habituei-me e com a ajuda do GPS do blackberry já encaro a coisa sem entrar em pânico.

Mas se o meu sistema funciona muitíssimo bem lubrificado com bebidas, é extraordinariamente vulnerável a substâncias químicas. Sou daquelas pessoas a quem uma aspirina tira uma enxaqueca de ressaca. Sou daquelas pessoas que tomam um antiestamínico e entram em coma. Isto apesar de pesar 85kg. E ter 1.86. E ser bastante atraente e atlético. A ganza, e especialmente a erva, dão-me um estalo que me lixa o resto da noite. Da última vez que fumei um,  fiquei praticamente cego e, pelo meio de pedidos de desculpa, pedi ao meu amigo que me deixasse sossegado no carro a rir sozinho para ele voltar a entrar no bar (eventualmente também lhe bateu a ele e ficou estendido numa vala a dois metros do carro, a pedir ajuda e eu sem o conseguir ver, éramos uma triste visão para o grupo de miúdas que minutos antes pareciam interessadas em nós).

Portanto, aquela cena era da cerveja e todos sabiam, ninguém me avisou, apesar dos olhares cúmplices e graves com que era brindado de cada vez que bebia mais uma imperial psicadélica, como num filme de sérioe B, quando aquele casal de noivos chega à taberna na transilvânia e se ri das superstições tolas dos locais. Uma vez estive assim quando bebi whiskys na Kapital há muitos muitos anos, e aí o boato que corria era que punham anfetaminas no whisky. Acabou o jogo, 8 imperiais depois. A dificuldade em contar o troco, a confusão mental ao perguntar de novo se já tinha pago uma coisa que já tinha pago, os risos desdentados à minha volta, em camara lenta como na tv, garrafas de óleo boiando vazias na idade dos porquês, a ideia peregrina de querer jogar poker naquele estado e ter a sensação de estar com imenso azar e em meia hora ter perdido o que ganhei numa semana, as letras do livro A Pérola do Steinbeck que formavam um texto tão incompreensível como as cartas da DGCI, estar deitado na cama amparando-me de vez em quando como se ela se fosse virar, o olhar esgazeado no espelho ao lavar os dentes e no meio daquilo uma consciência lúcida de que estava todo fodido. Enquanto não houver aspectos negativos, parece-me que vou passar as beber imperiais lá.

2 comentários:

Cláudia disse...

Onde é que fica essa tasca?
Eu não bebo cerveja, mas se os sintomas são esses acho que vou passar a beber :)
Fica baratinho e tudo...

Cristina Santos Silva disse...

Lindo!!!

Quando for o próximo jogo do Benfica vou lá ver contigo... Boa?