terça-feira, 10 de agosto de 2010

please don't leave me.

Sabemos que estamos a viver um cliché autêntico quando as músicas pop mainstream transmitem melhor os nossos sentimentos do que as coisas mais alternativas. É mais fácil identificar-me com o I always say how I dont need you, but it's always gonna come back right to this, please don't leave me da Pink do que com um "yesterday I woke up sucking on a lemon" dos Radiohead (excepto aquela vez, em que colapsei à 12ª caipirinha numa festa no algarve). Sim, somos todos criaturas patéticas. Para agravar as coisas, ouvi esta música na RFM, num Domingo à noite. Vinha cansado e dorido de um dia solitário a vadiar pela zona oeste e parei na estação de serviço de Torres Vedras, na A8, para jantar. Estava a adormecer ao volante e a perspectiva de jantar sozinho em casa ainda era pior do que jantar numa estação de serviço. Comi uma sandes de salsicha alemã com queijo e uma imperial. O sítio estava infestado de moscas. Um casal jovem com um bebé descansava de uma viagem de férias. À parte as moscas e o casal, não havia mais ninguém. O empregado das sandes tratou-me por tu, um problema quando estou com roupa civil em que me atribuem um estatuto social e etário que muda radicalmente quando visto um fato e gravata. Pedi apenas mostarda, pensei em reviver aquele jantar numa estação de comboios em frankfurt, numa viagem de negócios, em que comi umas salsichas com couve e cerveja alemã, num tasco miserável subterrâneo, enquanto lia o Cell do Stephen King. Sentei-me numa mesa a um canto, com o meu livro do Sandor Marai, o Rebeldes. O casal parecia-me simpático. Tenho sempre fé na espécie humana quando vejo pais que parecem sensíveis e queridos, um pouco tímidos, com uma criança calma e atenta. Normalmente acho os pais quase todos uma espécie de animais e as suas crias uns bacoros inúteis que vão apenas encher as audiências da tv. Jantei, bebi a cerveja, comprei um Português azul e um isqueiro (perco os isqueiros todos) na tabacaria deserta e fui ao WC. Um urinol estava avariado e outro estava a transbordar de mijo. O 3º parecia-me ok. Pensei em quem era capaz de mijar para um urinol entupido. Aquilo devia ver-se que estava entupido e não devia ser agradavel. Mesmo assim, alguém tinha insistido. Pensei em como poderiam tratar daquilo, as senhoras da limpeza. Tavez tivessem uma bomba hidráulica. Não sei. Saí para a rua, dois carros chegaram e com o parque totalmente vazio, estacionaram os dois em cheio nos lugares para deficientes. Apropriado e irónico. Entrei no carro, abri a janela, liguei o rádio e fumei um cigarro, a ver os carros passar, na a8, no meio dos eucaliptais áridos. O céu estava opaco e tinha chovido lama. Uma linha de alta tensão era talvez a coisa mais bonita ali. Começou a dar esta música e bateu-me. Por instantes pensei que se calhar com a idade uma pessoa atinge um nível de frieza e insensibilidade em que recusa palavras básicas e lamechas. Foi o tempo de fumar o cigarro.


P!nk - Please Don't Leave Me (Official Video) HQ
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