quarta-feira, 25 de agosto de 2010

o horror, a humanidade

Por um motivo inexplicável e que vou investigar e corrigir (um like no sitio errado?) recebi a notificação no facebook que a Quetzal lançou mais um livro do José Luís Peixoto, chamado, Livro. É o mesmo que receber uma notificação que o Donald Rumsfeldt facturou mais 3 milhões de dólares com a venda de uma participação numa empresa ou que Aníbal Cavaco Silva fez um discurso numa terra pequena a apelar a qualquer coisa. "A história é maravilhosa, desde a primeira frase do livro", disse à Lusa Francisco José Viegas, director editorial da Quetzal, que está a reeditar a obra de José Luís Peixoto".. (daqui). O Francisco José Viegas lembra-me aquele preto, o Don King, o empresário do boxe americano, a apresentar livros. E aqui no canto esquerdo, um livro que é maravilhoso da primeira à última frase. Falta depois acrescentar que o escritor viveu em Nova Iorque para se inspirar, não sei se para este, mas foi amplamente divulgado por aí "José Luís Peixoto em nova iorque, entrevista" etc. qual provinciano encantado com a grande metrópole a contar as aventuras para as provincianas leitoras que sonham com sexo e a cidade e escritores.

Penso que nunca li um livro maravilhoso da primeira à última frase. Estou curioso. A notícia avança que primeira frase é "A mãe pousou o livro nas mãos do filho". Ok, perdi a curiosidade. Toda. Até penso que há aqui um sinistro jogo de palavras. O romance chama-se "Livro". Não sei se isto é mesmo o que parece. É como uma banda fazer "o disco" ou um cozinheiro fazer "o prato" ou uma banda chamar-se the band (por acaso, nem era má).

Mas o horror, dispensável, é isto. A thumb da notificação era esta.
À primeira vista pensei ser mais spam homoerótico. Costumo receber spam homoerótico desde que um colega engraçadinho se pôs a fazer-me "likes" a torto e a direito em páginas alusivas à causa gay, quando eu me levantei para ir buscar um café sem fazer log off do fb. Passou-me a ideia da tatuagem. A minha mãe vai agradecer ao JLP.

A culpa disto tudo não pode ser só do gajedo, evidentemente, a quem a foto e todo o marketing à volta do José Luís Peixote habilmente se dirige (um pouco como o meu blogue, mas ao contrário). Se o tipo ganhou prémios, como o Saramago 2001, é porque é bom. O Lobo Antunes ganhou 1 globo de ouro na sic. O Alfred Hitchcock ou o Orson Welles nunca ganharam um óscar.

Estou a ler um gajo que se diz que era maricas, o Mário de Sá-Carneiro, a confissão de lúcio, e estou a gostar. Isto é só para calar os que me rotulam de homofóbico. Estão a ver? Não gosto de José Luís Peixoto que é hetero. E gosto do Mário de Sá-Carneiro. Claro que se matou aos 27 anos, os escritores gay têm tendência a fazer isso, é como se estivessem programados geneticamente. O Tenessee Williams. O Truman Capote. O Mishima, este com requinte e muitos, muitos mais. Deve ser possível demonstar isto cientificamente. É pena o José Luís Peixoto não estar programado geneticamente para vestir uma t-shirt pelo menos.

4 comentários:

Maat disse...

Gosto muito de Mário Sá Carneiro. Adorei a Confissão de Lúcio. Não sei se conheces, mais ou menos do mesmo género e do Sá Carneiro também, 'A Estranha Morte do Professor Antena'. Acho que estes dois livros nos fazem entrar numa atmosfera algo estranha e surreal, mas de algum modo confortável.

Tolan disse...

Estou a gostar mesmo muito e vou ter de ler tudo dele. Também vejo isso da atmosfera estranha e surreal. O tempo na narrativa avança de forma muito fluída e só tem momentos importantes, como acontece num sonho em que ora estamos aqui, ora noutro sítio, e tudo parece encaixar. Tem uma escrita despretenciosa mas ao mesmo tempo refinada, própria de um poeta inteligente. O Pessoa dizia dele que tudo nele era génio.

Maat disse...

Tenho também as novelas do Céu em Fogo, mas ainda não consegui atirar-me a esse livro como deve ser. Mas suponho que seja igualmente genial. Eu acho que o único problema do Sá Carneiro foi ter sido contemporâneo do Pessoa, e assim ter sido um pouco ofuscado por este. Sá Carneiro é muito underrated e há pouco tempo apercebi-me que há relativamente pouca gente que conhece, a dimensão é muito inferior à do Pessoa.
Um livro em que senti mais ou menos este mesmo sentimento de estranheza e de atmosfera de sonho, apesar de não ser bem na mesma linha, foi O Estrangeiro do Albert Camus.

Rita F. disse...

Psst, psst, psst, Truman Capote nao se matou nem morreu especialmente novo. Ai. :)