António Costa acaba de anunciar cortes de 30% nos salários superiores a 100 euros.
António Costa prepara-se para anunciar cortes de 50% nos salários superiores a zero euros, no dia de Natal.
António Costa abandona uma negociação com a facção militar que tentou o golpe de estado, horas antes.
António Costa explica aos jornalistas que vai propor um aumento dos apoios sociais para doentes terminais que concordem com a eutanásia.
António Costa, depois de ouvir Arménio Carlos referir-se a ele como o Primeiro Escurinho...
António Costa em Berlim, captado pelo No Comments da EuroNews, depois de fazer chichi a meio de um summit onde se decide se Portugal continua na moeda única.
António Costa regressa de Berlim e avisa os portugueses de que as contas bancárias estão congeladas e que é boa ideia iniciar um sistema de trocas directas de bens até voltarem a ter moeda.
António Costa responde à questão da jornalista que o interpela a propósito do aumento da mortalidade infantil devido à falência dos apoios sociais.
António Costa, lamentando aos jornalistas que a intervenção dos GOE na sede CGTP tenha causado danos colaterais em Arménio Carlos.
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
António Costa e Quadratura
Pois é. Estive a reflectir sobre o problema António Costa. É um problema. É realmente um problema sério. Há o risco de poder ser primeiro ministro escurinho um dia. Eu não desgosto dele do ponto de vista pessoal e como autarca. Mas o problema está mal colocado. Pedem-nos para comparar António Costa com José Seguro e, nessa comparação, ele parece melhor, como pareceria melhor uma torradeira ou um urso de peluche. O meu problema com António Costa deriva daquele programa, a quadratura do círculo, em que ele comenta coisas com o José Pacheco Pereira e o António Lobo Xavier, preenchendo o slot de esquerda. Antes dele, era o Jorge Coelho. Nunca entendi, muito menos pelos critérios televisivos de se evitar momentos mortos, por que motivo não iam buscar uma pessoa de esquerda que dissesse umas coisas com interesse e sem reservas ou condicionalismos.
Afinal de contas, aquilo é um programa de televisão, de debate, numa televisão privada. Não morria ninguém. Não é a porra de um tempo de antena para candidatos a qualquer coisa. O Jorge Coelho era mestre na arte de não se entalar e era esse o único objectivo dele, na vida, não se entalar. O José Magalhães... eh eh eh. O António Vitorino, acho que nunca fez parte da quadratura, não sei, mas acho que houve uma altura em que tentaram fazer dele o professor Marcelo de Esquerda, ou coisa parecida. Nunca vi um pequeno judeu tão inteligente e tão mal aproveitado como o António Vitorino nesse programa. Conseguia a proeza de parecer extremamente inteligente quando mexia as patinhas assim a falar e a sorrir e, no entanto, não dizia rigorosamente nada.
O
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
zapping
O Tolan também ama Pipoco que ama Tolan. Talvez tenha chegado a hora de revelar a constelação de heterónimos do Autor do Tolan, a sua arca Pessoana. Ultimamente, tenho-me dedicado mais a dois projectos, para além do Pipoco, trabalho no Elogio da Derrota onde assumo o heterónimo alf. Infelizmente, o alf e o Pipoco ocupam-me muito tempo, o primeiro devido à dimensão dos textos que me chegam a criar calos nos dedos e o segundo por causa das viagens que tenho de fazer para encontrar as janelas com a vista certa. Mas o investimento tem valido a pena, para além de criar músculo nos dedos, conheço sítios interessantes. Também mantenho o heterónimo Palmier Encoberto que dá uma enorme trabalheira por causa do cão e dos filhos que tive de arranjar. Isso explica porque não tenho escrito quase nada no causa modificada, tirando os comentários que assino com ex-vincent poursain, o mais peor, sílvia, gajo que, rainha das bichas do chiado, josé mário bronco e zeca tradutor. Comecei a tentar desenvolver blogues para cada um destes comentadores. O que tem saído com mais facilidade é o Capitão Padock, mas é complicado fazer a transição de comentários para blogues, enfim, o estilo, as nuances... Tive o mesmo problema com um projecto, um sub-heterónimo do heterónimo Pipoco, mas não quero falar nesse, ao 3º post comecei a ver aquilo logo a ficar parecido com o Pipoco, os meus sub-sub-sub-heterónimos têm essa mania porque têm uma personalidade tão definida que vem ao de cima sem querer, tal é o meu talento. Há blogues que só escrevo sob a influência de poderosos psicotrópicos. O Atum Macaco, tive de o apagar e reformular, já tinha a judiciária e o sis a investigar-me. E com isto, desisti da Pastoral Portuguesa, esse blogue acabou por trazer trabalho mal pago e ando sempre com merdas para ler e coisas para escrever na Ler, tive de lá estrear um conto e tudo e uma crítica, na mesma revista, é obra. Esse dá trabalho, mas dinheiro, nem vê-lo, por isso parei de escrever na Pastoral, mas nem assim me deixam sossegado. Outro que tal é o 227218 e pedi ao Diego Armés, a troco de umas imperiais, o nome Diego Armés emprestado para o assinar. Utilizo-o para escrever sobre o Benfica, mas convites para a Bola, O Jogo etc. nada, nicles. Vamos continuar. Nem todos os heterónimos que criei puderam ter o mesmo sucesso que atingi com a Pipoca Mais Doce que neste momento vai em velocidade de cruzeiro e é a cash cow do meu império. Foi complicado, a princípio: ter de pensar em roupas, cremes, beleza, moda, perfumes, etc. criou-me problemas de identificação de género e foi então que me ocorreu criar o Arrumadinho, para exorcizar essas coisas e libertar-me de fantasmas. Os dois figurantes que contratei para fazer o simpático casal nem me saem muito caros; umas roupitas, umas amostras de perfumes, uns vouchers e vão à vida deles, felizes. E de momento... acho que é tudo. Fiquem sintonizados.
o que eu queria era o Jorge Jesus como meu treinador
«O Tolan foi o único aspirante a escritor até agora a ganhar um BILF e a perder outro injustamente, mas são coisas que acontecem e não falo dessas coisas. São coisas que não me diz respeito. Numa editora, independentemente do nome da editora, o que importa é a responsabilidade, que será acrescida. A crise e o mau gosto é um adversário que está a fazer uma excelente época, não só na litratura, como também nas restantes artes. Mas convivemos com isso em todos os romances, uns com mais dificuldades do que outros. Olhamos praquilo que pretendemos e que passa por cumprir os nossos objectivos. Prémios Litrários? Isso do escrever bonito é com outros, a mim não m'intressa... Nem sempre dá para ter nota artística. Eu aquerdito é que ele tem potencial para ser um rolo compressor. O objetivo do Tolan é chigar ao topo e pensamos página a página. Mas vamos ter porblemas. Se o José Luís Peixoto vai criar-nos dificuldades? Vai, agora teremos de ter argumentos para sermos melhores do que o José Luís Peixoto. Há aspectos a melhorar, as transições diálogo - discurso indirecto, manobras de tempos verbais... é preciso um entrosamento maior. Temos trabalhado as vírgulas no ginásio. Quando ele aqui chigou faltava-lhe posicionamento narrativo, dava erros, falhava muita pontuação. Vem d'outra escola... É natural haver um período de adaptação, a exigência é maior, a perssão é maior. Mas comigo, o Tolan vai escrever o dobro. », afirmou Jorge Jesus, na conferência de Imprensa de antevisão ao envio do próximo romance
ser
Um criador tem duas forças antagónicas: uma é criativa(positiva) e a outra é crítica (negativa). Toda a criação, ou falta dela, resulta destas forças. Muitas vezes a crítica é tão forte que o saldo é negativo e o criador não faz nada. Se o saldo for muito negativo, não só não faz nada como ainda subtrai à sua volta. No outro extremo, temos os resultados de impulsos positivos praticamente sem autocrítica.
Um atalho em quem começa a acumular consciência
crítica a mais, é o de desvalorizar a própria criação de forma irónica, tornando-a
blindada , incorporando na
própria obra a sua desvalorização ou relativização (muito nítido, por exemplo, na série televisiva Odisseia, do Bruno Nogueira). É como pintar um retrato e
depois dar-lhe o título “tentativa de retrato #42” ou “tentativa frustrada de
retrato”. Um retrato com esta legenda por baixo pretende não poder ser considerado mau, visto que o artista começou por distanciar-se dele, ironicamente. Até o pode ter feito mau ou exagerado de propósito. Se o meu traço é incerto, então vou desenhar aos s's, assim disfarço o facto de não me atrever a tentar fazer um traço direito. Em exposições de artes
plásticas contemporâneas, é comum ver obras que vivem à custa da própria designação / título, algo que tem um truque qualquer cómico, irónico, distanciado e que tem como objectivo, supostamente, fazer-nos sentir sofisticados, cheios de vontade de fazer parte daquela cumplicidade sofisticada. Damos connosco a reprimir o desinteresse, a fazer um esforço para sorrir e fazer parte daquilo.
Picasso chamava aos seus quadros Primeira Comunhão, Guernica, Rapaz com cachimbo, Mulheres Correndo… E é o que está nesses quadros, de forma mais ou menos abstracta. Num quadro como “A Vida”, há mulheres, um bebé, casais abraçados... é uma cena que um cínico poderia considerar lamechas ou desinteressante ou piegas... Mas Picasso escolheu ser.
Não há problema nenhum de não ser, de não expor um flanco vulnerável e encerrar em si próprio as possíveis ameaças, mas é uma escolha limitada do ponto de vista artístico e remete quase exclusivamente para o domínio dos críticos, colegas artistas e uma pequena faixa de público que na verdade queria era ser crítico ou artista também... Nos melhores casos, tem como único resultado palpável o de se ser considerado um artista genial dentro de um determinado meio. E isso é algo estéril, o oposto da vida.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Pode ter conseguido bater o recorde de 100 pés
McNamara, ontem, na Nazaré, pode ter batido o astronómico recorde anterior de 78 pés, com uma onda que pode chegar aos 100 pés (aguarda-se confirmação oficial). Ler coisas na imprensa internacional como: forget the Hawaiian big wave surf spots, Mavericks, Todos Santos and the
Cortes Bank. The ultimate challenge of the modern big wave surfer is
located in Nazaré, in the central region of Portugal... :') Ainda por cima o raio das ondas têm um aspecto medonho, feroz, borbulhante, infernal...
Que a Nazaré tem ondas gigantes, não é novidade. Recomendo francamente os wipeouts aos 2:03 e o épico aos 2:30 e que se tornou viral. Mesmo quem não acompanha estas coisas não deixará de achar divertido ouvir "aiaiaai vai lá! vai lá caralho!"; uma reacção perfeitamente natural à manobra aparentemente fatal que acabou de ocorrer a 2 metros da praia.
Que a Nazaré tem ondas gigantes, não é novidade. Recomendo francamente os wipeouts aos 2:03 e o épico aos 2:30 e que se tornou viral. Mesmo quem não acompanha estas coisas não deixará de achar divertido ouvir "aiaiaai vai lá! vai lá caralho!"; uma reacção perfeitamente natural à manobra aparentemente fatal que acabou de ocorrer a 2 metros da praia.
nos primeiros, minutos, o Manjerico dos amigos de Gaspar numa trip de ácido
ó soyo toyo soyo.. wuuhuuuu ^_^
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
estilo
O que o Eremita vai aprendendo (e ensinando). Um bom estilo próprio é o reflexo do que fazemos naturalmente e podemos ir incorporando mais coisas nesse estilo próprio, ou com aulas de solfejo (o trabalho de crítica, edição e revisão de terceiros) ou com exercícios de estilo e muita leitura. Se
fazemos um esforço consciente a meio de uma frase para a escrever, por
exemplo, para procurar o termo mais adequado, um adjectivo, uma metáfora
perfeita, é porque estamos a sair de pé e a armar-nos ao pingarelho. Escrever é um improviso em tempo real em frente a uma plateia. Procurar uma forma mais perfeita é o mesmo que o Miles
Davies parar a meio de um improviso para pensar um bocadinho. Com a prática, não começamos um solo que não saibamos como resolver e com a prática, crítica, revisão e porrada, pensamos em solos um bocadinho mais complexos e podemos aventurar-nos.
Mesmo assim, as técnicas só têm interesse (para mim) se forem imperceptíveis e estiverem exclusivamente ao serviço do texto e não o contrário.
Por exemplo, valter hugo mãe., um autor que usa* apenas minúsculas, justifica essa opção com ..
«acha que as maiúsculas são uma "sinalética" que só atrapalha a leitura. "Simplificando, sintáctica e graficamente, chegamos a uma escrita mais próxima do modo como falamos", justifica. "As pessoas não falam com maiúsculas. É a simplicidade que procura e está convicto de que usando apenas minúsculas não só o pode almejar, como "acelerar" a própria escrita. E "agilizando o texto" aproxima-o não só do ritmo da fala como do próprio pensamento.»
O problema que me acomete quando passo os olhos pela escrita de VHM é que não consigo deixar de reparar que está tudo com minúsculas, logo para começar. E que isso é uma opção estética consciente de um autor que existe algures e que optou por colocar tudo em minúsculas para procurar um determinado efeito, aliás, muito previsível, comum e pueril. Em mim, pelo menos, causa precisamente o oposto do efeito pretendido, pois entre mim e o texto, interpõe-se um autor que escolheu não usar maiúsculas.
Quanto ao ritmo da fala ou do pensamento, dá a sensação que VHM sugere que toda a literatura que não fez uso da minúscula, não se aproximou tanto do ritmo do pensamento e da fala. E no entanto, era tão simples. Era uma questão de minúsculas. Mais adiante, informam-nos que jamais usa reticências:
E jamais usa reticências. Abomina esses três pontinhos que considera o "excremento da pontuação". "É uma menorização da capacidade de leitura e de compreensão. É o sinal gráfico mais insuportável, porque é um sinal de desrespeito pelo leitor, que trata como se fosse estúpido".
*(entretanto informaram-me nos comentários que isto foi em 2010 e ele entretanto, no último livro, já usa maiúsculas. Interrogo-me sobre o que o terá levado a sacrificar a agilidade do texto e a proximidade do mesmo à forma como as pessoas falam e pensam. Terá sido o facto de estarem sempre a fazer-lhe perguntas sobre uso de minúsculas e merdas dessas em vez de se focarem em coisas mais interessantes?)
Mesmo assim, as técnicas só têm interesse (para mim) se forem imperceptíveis e estiverem exclusivamente ao serviço do texto e não o contrário.
Por exemplo, valter hugo mãe., um autor que usa* apenas minúsculas, justifica essa opção com ..
«acha que as maiúsculas são uma "sinalética" que só atrapalha a leitura. "Simplificando, sintáctica e graficamente, chegamos a uma escrita mais próxima do modo como falamos", justifica. "As pessoas não falam com maiúsculas. É a simplicidade que procura e está convicto de que usando apenas minúsculas não só o pode almejar, como "acelerar" a própria escrita. E "agilizando o texto" aproxima-o não só do ritmo da fala como do próprio pensamento.»
O problema que me acomete quando passo os olhos pela escrita de VHM é que não consigo deixar de reparar que está tudo com minúsculas, logo para começar. E que isso é uma opção estética consciente de um autor que existe algures e que optou por colocar tudo em minúsculas para procurar um determinado efeito, aliás, muito previsível, comum e pueril. Em mim, pelo menos, causa precisamente o oposto do efeito pretendido, pois entre mim e o texto, interpõe-se um autor que escolheu não usar maiúsculas.
Quanto ao ritmo da fala ou do pensamento, dá a sensação que VHM sugere que toda a literatura que não fez uso da minúscula, não se aproximou tanto do ritmo do pensamento e da fala. E no entanto, era tão simples. Era uma questão de minúsculas. Mais adiante, informam-nos que jamais usa reticências:
E jamais usa reticências. Abomina esses três pontinhos que considera o "excremento da pontuação". "É uma menorização da capacidade de leitura e de compreensão. É o sinal gráfico mais insuportável, porque é um sinal de desrespeito pelo leitor, que trata como se fosse estúpido".
... o que dizer...?
*(entretanto informaram-me nos comentários que isto foi em 2010 e ele entretanto, no último livro, já usa maiúsculas. Interrogo-me sobre o que o terá levado a sacrificar a agilidade do texto e a proximidade do mesmo à forma como as pessoas falam e pensam. Terá sido o facto de estarem sempre a fazer-lhe perguntas sobre uso de minúsculas e merdas dessas em vez de se focarem em coisas mais interessantes?)
ah bom, Arménio, posto assim, é completamente diferente
Ao falar do que
muitos transcreveram como sendo o "rei mago escurinho" durante a
manifestação que reuniu 40 mil professores em protesto em Lisboa,
Arménio Carlos foi alvo de várias acusações (...)
Em reação ao DN, Arménio Carlos recusa ser mal interpretado. "A única coisa que quero é que ponham aquilo que eu disse", afirmou o secretário-geral da CGTP. O líder sindical insistiu em que as suas palavras fossem transcritas com exatidão: "O que eu disse foi que em Fevereiro regressam os três reis magos, dois brancos e um escurinho, que são os representantes do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional. (...) no DN.
Em reação ao DN, Arménio Carlos recusa ser mal interpretado. "A única coisa que quero é que ponham aquilo que eu disse", afirmou o secretário-geral da CGTP. O líder sindical insistiu em que as suas palavras fossem transcritas com exatidão: "O que eu disse foi que em Fevereiro regressam os três reis magos, dois brancos e um escurinho, que são os representantes do Banco Central Europeu, da Comissão Europeia e do Fundo Monetário Internacional. (...) no DN.
domingo, 27 de janeiro de 2013
o debate que realmente importa
Gosto muito dos Strokes, já se sabe. Não gostei nada do single do anterior álbum, o Under Cover Of Darkness , parecia que estavam a tentar soar ao This is It. Com o desastroso disco do Julian Casablancas a solo e o resultado espectacular de tudo em que o Fabrizio Moretti se mete e o bom disco do outro, o baixista (os gajos parecem os Beatles modernos, salve as devidas reservas) cheguei a temer o pior, eles nunca iam fazer nada de jeito juntos. E seria uma pena, gorada que está a minha utopia de encontrar um artista ou banda da pop / rock que crescesse e amadurecesse comigo. Os Strokes já vieram muito tarde, em qualquer caso. O Beck e os Radiohead eram a minha grande esperança, mas infelizmente deixámos de ser amigos íntimos há uns anos. Talvez nos reencontremos.
A nova música deste álbum de Strokes está a ser amplamente massacrada. É curioso, mas desde o This is It que acho que há exactamente o mesmo debate a cada novo disco dos Strokes com uma facção de fãs que ora cresce ora encolhe e que dizem "isto não soa a strokes". Parece-me que parte do problema é o uso de falsete, um debate que me lembro de ocorrer quando o Beck fez o midnight vultures enxotando definitivamente os fãs do calderão meio grunge e indie de onde veio e que não lhe perdoaram.
Sobre esta música do novo álbum? Não é brilhante, mas é fixe. Uma coisa é comparar isto com tudo o que os Strokes fizeram, outra, é olhar para o panorama do rock radio friendly de hoje em dia e compará-lo com esta música e nesse sentido, é boa e é Strokes.
A nova música deste álbum de Strokes está a ser amplamente massacrada. É curioso, mas desde o This is It que acho que há exactamente o mesmo debate a cada novo disco dos Strokes com uma facção de fãs que ora cresce ora encolhe e que dizem "isto não soa a strokes". Parece-me que parte do problema é o uso de falsete, um debate que me lembro de ocorrer quando o Beck fez o midnight vultures enxotando definitivamente os fãs do calderão meio grunge e indie de onde veio e que não lhe perdoaram.
Sobre esta música do novo álbum? Não é brilhante, mas é fixe. Uma coisa é comparar isto com tudo o que os Strokes fizeram, outra, é olhar para o panorama do rock radio friendly de hoje em dia e compará-lo com esta música e nesse sentido, é boa e é Strokes.
sábado, 26 de janeiro de 2013
dentro de 30 anos, a correspondência entre Folha de Papel aka Palmier Junior com Tolan, fará parte de uma antologia
Ola tolan, eu sou o filho da Palmier, o meu nome pode ser Palmier junior, mas há quem me chame Folha de Papel. Olha, eu não vou para o 4º ano. Eu estou no 4º ano e vou para o 5º ano e eu sou da malta fixe. A mim e ao meu grupo em que eu sou o lider chamam-nos os Folha de Papel. Há um que era mais novo e um bocado parvo e tivemos que o despedir porque ele não era bem Folha de papel, ele era mais o caneta sem tampa. Nós causamos o caos pela escola mas eu não como drogas e também não ando de baloiço. Só as miúdas é que gostam de andar de baloiço. Eu achei isto tudo muito estranho mas o texto até foi fixe. O convite para o mcdonalds até foi fixe. A minha mãe nunca me leva e por isso, talvez um dia acabe por aceitar o teu convite quando ela deixar de ser maluca como tu dizes e me deixar sair sozinho. Ela nunca deixa porque é muito protectora, é isso que ela diz. Eu queria dizer que ela era meia marada mas já sei que ela não gosta. Por isso é melhor não dizer. Digo só maluca. Tu percebes não é? Eu também gosto muito de cães e até gostava de ter um tapete de cães. Já temos uma almofada e também tenho um peluche que é igual à Cutxi mas é todo preto. A casa da tua mãe deve ser fixe. Agora adeus que já perdi imenso tempo e tenho que ir jogar Skylanders.
inspiração
Em boa verdade, não posso dizer que consigo gostar de tudo o que os Animal Collective fazem. Aliás, acho que não consigo ouvir cerca de 75% do que eles fazem, apesar de considerar tudo muito interessante e experimental e bom. Os Animal Collective são o que se obtém quando se dá de comer a gremlins depois da meia noite e os deixamos num estúdio sozinhos com uma arca cheia de redbull. Os connaisseurs de música pop, são capazes de ouvir a Purple Bottle do princípio ao fim com o mesmo espírito estóico com que muitos intelectuais enfrentam o Ulysses de Joyce. Contudo, quando aqueles gremlins controlam aquele caos eléctrico frenético onírico e anti-cataléptico e o ordenam para formar uma coisa próxima de "canção"...
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
finalmente, um contemporâneo com quem tem tenho afinidade
Amigo, escrever é muito divertido. Ser escritor foi a única coisa que sobrou que fosse gira de querer ser, depois de mudar de ideias sobre ser jogador de futebol, tal e qual como tu. Também desisti dessa ideia de jogar futebol, este ano. Sou dois anos mais velho que o Aimar e ele está quase a desistir da ideia de jogar futebol, por isso, é melhor pensar noutras coisas. Comigo foi sobrando muito pouca coisa gira para querer ser. Então quero ser escritor também. Há velhinhos que são escritores. Já viste? Dá para se escrever muito
tempo. O Aimar agora pode ser escritor, por exemplo. Não há lesões como no futebol, nem drogas como no ciclismo.
Bem... até há... Mas não precisas de saber isso agora. As drogas fazem
mal. Mesmo aquelas que dizem que são leves ou que o médico da tua mãe lhe receita. Não são nada leves. Agora
vais para a 4ª classe.... não sei bem como são as novas gerações, mas
não aceites drogas dos teus colegas da 4ª classe, a malta "fixe". Não
ligues à malta fixe que fuma drogas, e fica ali no escorrega e no baloiço... não ligues.
Eu também não sei o que quero ser. Tu já descobriste que não queres ser jogador de futebol e que queres ser escritor, apesar de não saberes o que queres ser também. Vamos lá ver, espero que nos corra bem. Gostei muito do teu estilo espontâneo, da forma como subvertes os cânones literários e estéticos mas sem ser intelectual e forçado, muito pelo contrário. Podes não acreditar, mas se pedisses a um escritor que se chama José Luís Peixoto que fizesse uma composição tão boa como a tua, ele não conseguia. E a tua mãe gosta dele e até paga dinheiro pelas composições dele. Fala disso com ela. Pergunta-lhe se ela acha que uma composição dele é melhor do que uma composição tua e porque é que ela não gosta de ti e não é uma boa mãe com bom gosto literário. Hoje tive uma reunião com professores que leram a minha composição que lhes mandei, uma composição com 200 e tal páginas. É a minha primeira composição grande e depois estiveram a explicar-me coisas. Deves ouvir os adultos. Mas nem sempre! Sabes, a minha mãe ralha comigo às vezes porque eu quero deixar de ser doutor e de ganhar dinheiro para comer e ser escritor. As mães preocupam-se com cada coisa. Ficas já avisado. Acham muita piada que queiras ser escritor agora e metem composições no blogue delas, aproveitando-se do teu talento para proveito próprio, mas no dia em que fizeres o teu lanche, o meteres num tupperware e numa mochila e disseres 'mãe, não vou tirar um curso superior, vou para fazer um inter-rail e conhecer o mundo e ser escritor', vais ver que mudam logo de ideias. De repente seres doutor é muito bom. São malucas. A minha também é muito maluca com cães. Tem quatro cadelas. E tem cães por toda a casa. Peluches. Tudo tem cães. As almofadas têm cães, há quadros de cães, o serviço de mesa tem cães... como se não bastasse, a irmã dela, gémea, é maluca por gatos. Então dá-lhe coisas com gatos e a minha mãe dá-lhe coisas com cães, estão sempre a tentar que a outra goste mais de gatos ou cães. Então a casa é tudo com cães e gatos. O bengaleiro são gatos, o capacho tem cães... Não estás bem a ver. A tua mãe calça quatro botinhas tigresse na "pequena Cutxi", hei, sei o que sentes. Se quiseres um dia beber um bongo ou que raio vocês bebem hoje em dia, vamos aí a um mcdonalds afogar as mágoas num happy meal.
Eu também não sei o que quero ser. Tu já descobriste que não queres ser jogador de futebol e que queres ser escritor, apesar de não saberes o que queres ser também. Vamos lá ver, espero que nos corra bem. Gostei muito do teu estilo espontâneo, da forma como subvertes os cânones literários e estéticos mas sem ser intelectual e forçado, muito pelo contrário. Podes não acreditar, mas se pedisses a um escritor que se chama José Luís Peixoto que fizesse uma composição tão boa como a tua, ele não conseguia. E a tua mãe gosta dele e até paga dinheiro pelas composições dele. Fala disso com ela. Pergunta-lhe se ela acha que uma composição dele é melhor do que uma composição tua e porque é que ela não gosta de ti e não é uma boa mãe com bom gosto literário. Hoje tive uma reunião com professores que leram a minha composição que lhes mandei, uma composição com 200 e tal páginas. É a minha primeira composição grande e depois estiveram a explicar-me coisas. Deves ouvir os adultos. Mas nem sempre! Sabes, a minha mãe ralha comigo às vezes porque eu quero deixar de ser doutor e de ganhar dinheiro para comer e ser escritor. As mães preocupam-se com cada coisa. Ficas já avisado. Acham muita piada que queiras ser escritor agora e metem composições no blogue delas, aproveitando-se do teu talento para proveito próprio, mas no dia em que fizeres o teu lanche, o meteres num tupperware e numa mochila e disseres 'mãe, não vou tirar um curso superior, vou para fazer um inter-rail e conhecer o mundo e ser escritor', vais ver que mudam logo de ideias. De repente seres doutor é muito bom. São malucas. A minha também é muito maluca com cães. Tem quatro cadelas. E tem cães por toda a casa. Peluches. Tudo tem cães. As almofadas têm cães, há quadros de cães, o serviço de mesa tem cães... como se não bastasse, a irmã dela, gémea, é maluca por gatos. Então dá-lhe coisas com gatos e a minha mãe dá-lhe coisas com cães, estão sempre a tentar que a outra goste mais de gatos ou cães. Então a casa é tudo com cães e gatos. O bengaleiro são gatos, o capacho tem cães... Não estás bem a ver. A tua mãe calça quatro botinhas tigresse na "pequena Cutxi", hei, sei o que sentes. Se quiseres um dia beber um bongo ou que raio vocês bebem hoje em dia, vamos aí a um mcdonalds afogar as mágoas num happy meal.
publicidade por pagar
Ciclicamente, tenho assim umas manias, umas fases. Felizmente, vão embora passado algum tempo e volto a ser uma pessoa normal, outras ficam mais tempo (o blogue, por exemplo). Aquela em que estou agora é a do liquidificador. Comprei um monstro de um liquidificador, o mais potente e bonito que havia, 650w, jarro de vidro, velocidade progressiva, programa smoothie, ice crush, filtro, ventosas estabilizadoras... Cortam-se as coisas chamadas fruta, mete-se lá dentro, um bocadinho de
leite de soja, um ou dois cubinhos de gelo e VRrrrrRRrr temos um batido
espumoso, cremoso, só ao alcance dos liquidificadores mais potentes e é tão bom que nem parece que estamos a beber uma coisa saudável....
Eu até dizia a marca e o quanto estou satisfeito com ela e com o produto, mas desde que percebi que normal bloggers bem mais ranhosos do que eu, quer em visitas, quer em estilo, serem pagos para estas merdas de falar de marcas, podem tirar o cavalinho da chuva que nunca mais me apanham a dizer bem de nada, só mal. Se por acaso um fabricante de liquidificadores me está a ler e estiver interessado em vender perto de 800 unidades adicionais de uma só vez , contacte-me. Se for a marca que eu comprei, com a qual estou muito satisfeito, então podemos fazer negócio. Se não for essa marca, também podemos fazer negócio acho eu. Nem peço muito dinheiro, é só uma questão de dignidade.
Eu até dizia a marca e o quanto estou satisfeito com ela e com o produto, mas desde que percebi que normal bloggers bem mais ranhosos do que eu, quer em visitas, quer em estilo, serem pagos para estas merdas de falar de marcas, podem tirar o cavalinho da chuva que nunca mais me apanham a dizer bem de nada, só mal. Se por acaso um fabricante de liquidificadores me está a ler e estiver interessado em vender perto de 800 unidades adicionais de uma só vez , contacte-me. Se for a marca que eu comprei, com a qual estou muito satisfeito, então podemos fazer negócio. Se não for essa marca, também podemos fazer negócio acho eu. Nem peço muito dinheiro, é só uma questão de dignidade.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
o raio da miúda tem uma costela de pit bull
The Soviet Union also used women for sniping duties extensively, and to great effect, including Nina Alexeyevna Lobkovskaya and Ukrainian Lyudmila Pavlichenko (who killed over 300 enemy soldiers). The Soviets found that sniper duties fit women well, since good snipers are patient, careful, deliberate, can avoid hand-to-hand combat, and need higher levels of aerobic conditioning than other troops.
Qual é a parte do patient, careful, deliberate and can avoid hand-to-hand combat que não percebeste, Plaft? Pensa nas grandes heroínas soviéticas da próxima vez que ofereceres porrada a três ciganas 'porque foram malcriadas contigo' no supermercado. Pedires a ciganos que usem expressões como 'olhe, desculpe', 'dá licença' ou 'por favor' quando não te estão a tentar vender qualquer coisa é o mesmo que pedires a um francês que tome banho.
Qual é a parte do patient, careful, deliberate and can avoid hand-to-hand combat que não percebeste, Plaft? Pensa nas grandes heroínas soviéticas da próxima vez que ofereceres porrada a três ciganas 'porque foram malcriadas contigo' no supermercado. Pedires a ciganos que usem expressões como 'olhe, desculpe', 'dá licença' ou 'por favor' quando não te estão a tentar vender qualquer coisa é o mesmo que pedires a um francês que tome banho.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
mais vale agora
Desde a última vez que abordei a temática do Tolan e da Plaft num SPA, temos feitos notáveis progressos. Desta vez, para celebrar seis meses de educação de direita, o escolhido foi o Onyria Marinha Edition Hotel & Thalasso que, como o nome indica, seria apropriado para irradiar as últimas toxinas de esquerda que me ficaram daquela manifestação da CGTP a que fui por 'solidariedade'. Confirmou-se, é excelente. Tem onyria, tem marinha, tem edition, calha ser um hotel o que dá imenso jeito porque se pode dormir lá e ainda por cima inclui thalasso. Desta vez não me apanharam dentro da cabine da sauna sem o meu tuperware com tirinhas de bife do lombo, para colocar nas pedras em brasa e ir petiscando um pouco enquanto transpirava os últimos resquícios de culpa e preocupação pelo facto do país ir colapsar completamente e tudo acabar. Chovia em cima do povo, lá fora. Em cima de mim, só mesmo a água do duche sensações, no programa 5 - relaxe, um programa que às vezes atirava uns jactos de água fria só para assustar e depois subia a temperatura até o agradável quente... era como se o chuveiro estivesse a brincar comigo "quentinho, quentinho... agora FRIO! és POBRE! NÃO TENS DINHEIRO PARA O GÁS!... estou a brincar, toma lá agua quentinha... AGORA FRIA OUTRA VEZ! POBRE!" Uma pessoa sai de lá bastante relaxada porque a última carrada de água que leva em cima é quentinha. Nas saídas do vapor do banho turco, a Plaft pode cozer as espetadas de peixe e legumes que trouxe em saquinhos nos bolsos do roupão.
À noite, com as faces afogueadas, a circulação activada, satisfeito do ossobuco e do carpaccio de atum.... senti-me rico e de direita, com a minha mulher na cama, uma cama coberta de pétalas, toalhas em cisne, morangos, vinho, gomas em forma de coração... A nossa cama era tão grande, mas tão grande, que quando eu me cheguei para o pé da Plaft, fiquei com jet lag. Depois fiz sexo como os homens de direita o fazem, a fazer músculo para um espelho, com palmadas no rabo dela e a dizer-lhe 'queres uma mala? é? queres uma mala? chanel ou cartier? queres uma mala?' No fim, benzi-me e fui para a varanda contemplar a noite, certo de que um dia, quando tudo colapsar, eu poderei dizer para comigo 'eu conheci a civilização, antes da barbárie'.
domingo, 20 de janeiro de 2013
não pode ser muito pior do que eu imagino...
"Irei surpreender portugueses com futuro Governo" - José Seguro, em entrevista.
António José Seguro - Primeiro Ministro
Ministro das Finanças - Abebe Selassie
Ministro da Cultura - Manuel Alegre
Ministro da Economia e da Saúde - Professor Karamba
Ministro da Educação - Rui Verde
Ministra da Justiça -Fátima Felgueiras
Ministro da Defesa - Roberto
Ministra do Sagrado Ministério da RTP - Nossa Senhora de Fátima
Ministra dos Negócios Estrangeiros -Isabel dos Santos
sábado, 19 de janeiro de 2013
decent open violence
E pronto, com o post anterior, encerramos definitivamente dos textos metafísicos que preciso de escrever de vez em quando para arrumar coisas e poder focar-me nos temas importantes.
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matar, pacifismo etc.
Uma mulher com dois filhos é espancada e abusada pelo marido, um sargento de polícia reformado. Em diversas ocasiões, ele ameaça-a de morte, com uma pistola. Um dia, ela tenta fugir de casa com uma pistola e ele agarra-a. À queima roupa, ela esvazia o carregador no marido. Ele não morre e tenta agarrar a outra pistola que ela também consegue agarrar e ainda lhe prega mais seis tiros. A lei considera que só é justificado o uso de força letal em resposta a uma ameaça imediata de perigo de vida. Foi acusada de homicídio. O caso de Barbara Sheehan tornou-se bastante conhecido (chegou a ir à Oprah).
Prosecutors typically reject the battered-woman defense by arguing that a person in Ms. Sheehan’s position had the opportunity to seek help. An abusive relationship, however egregious, they argue, does not justify homicide. But friends of Ms. Sheehan say she was too afraid to report her abuse to the police since her husband had worked in law enforcement.
Penso que o mundo se divide em dois campos. O meu, que considera que a mulher fez o que tinha de fazer e até retira algum prazer de um ser humano mais asqueroso ter tido aquilo que merecia e outro, que provavelmente não está a viver a mesma situação que a mulher viveu (suponho, enfim) vai dizer que em nenhuma ocasião o 'homem tem o direito de tirar a vida a outro' ou outras banalidades do género.
Foi condenada a cinco anos de cadeia, consideraram ter havido atenuantes. Por mim, se fosse ilibada, era ouro sobre azul. O mesmo tribunal, que a condenou aos cinco anos, representativo dos mecanismos legais da justiça, falhou para a proteger, uma vez que é preciso uma situação grave e factos consumados para poder agir. Contudo, o caso demonstra que a sociedade tem (felizmente) gradações diferentes para o aparentemente absoluto princípio do 'em nenhum caso se deve matar'. É evidente que o acto de matar uma pessoa pode ser avaliado de forma extremamente subjectiva. Há bastantes casos semelhantes onde é mais difícil encontrar atenuantes legais, como o de uma mulher abusada e espancada que, durante o sono do marido, lhe dá um tiro. Talvez essa (um caso real) não tenha tido paciência para esperar para uma situação limite arriscada como Sheehan e resolveu a questão de forma segura, pagando por isso pela condenação por homicídio de primeiro grau.
Isto não é o mesmo que ser favorável à pena de morte. Sou contra. Considero que o homicídio perpetrado por um mecanismo legal, ritualizado, do Estado, aceite pela maioria da sociedade como "correcto", com direito a padre, perante testemunhas, com data e hora marcada, com métodos como cadeira eléctrica, enforcamento ou injecção letal, sobre um ser humano inofensivo (preso), uma barbárie mais doentia do que um massacre perpetrado por um Breivik e obviamente sem qualquer comparação com os casos como o de Sheehan. O que me move não é exactamente pena dos condenados à morte, mas a sensação de viver numa sociedade desumanizada e que está disposta a matar um ser humano, detido e portanto inofensivo, num contexto neutro, sem atenuantes. Se pactuasse com isso como cidadão, seria um monstro. Em todo o caso, viveria entre monstros legalizados.
É curioso que tenha surgido um debate quando Obama eliminou Bin Laden numa espectacular operação. Ouviram-se as inevitáveis vozes, especialmente dos anti-americanos profissionais, de 'ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém'. Diziam-nos estes especialistas, sentados no sofá do mero observador num país sossegado, que gostariam de ver tudo pela lei, mesmo que a prisão de Bin Laden implicasse um fenomenal reacender mediático da sua figura e gerasse, por todo o mundo, atentados com reféns executados por terroristas a exigir a libertação do seu ídolo durante todo o tempo que durasse a sua detenção. É precisamente o carácter excepcional da operação cirúrgica que a torna aceitável tendo em conta o contexto do mundo em que vivemos e das atrocidades que os países já cometem. Morrem milhares de inocentes anónimos que nunca atiraram aviões contra prédios cheios de gente em nome da guerra contra o terrorismo, os tais danos colaterais de operações que até podem ter o aval da ONU entre países que assinam convenções de direitos humanos ou que mantêm relações cordiais e comerciais entre si. Entre as várias formas de resolver o problema (equacionaram utilizar uma grande bomba convencional para terraplanar a área) penso que levaram a cabo uma bastante elegante e arriscada. Não celebrei a sua morte e, apesar de entender que as imagens de celebrações patrióticas espontâneas de americanos sejam indicadoras do primário espírito "cowboy" americano, considerei-as meramente humanas, uma catarse simbólica ao mesmo nível do queimar de bandeiras.
Pelo princípio absoluto da superioridade da vida humana ou da morte apenas em nome da auto-defesa, então nenhum país invadido resistira ao invasor que lhe apresentasse a ocasião de simplesmente depor as armas, render-se e servir. Xanana Gusmão poderia ter descido das montanhas mas décadas mais cedo e poupado a vida a milhares de indonésios e, especialmente, timorenses.Os americanos podiam ter assinado um acordo e ceder à facção interna isolacionista e deixar a europa entregue à aprendizagem da saudação nazi. Afinal de contas, se formos colaboradores com um agressor, não há derramamento de sangue: é a nossa resistência que vai provocar mortos, especialmente do nosso próprio lado. Portanto, observando a história, em certas circunstâncias, princípios tão abstractos como a 'liberdade', 'independência' ou 'dignidade' podem mesmo sobrepor-se a princípios como ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém.
Prosecutors typically reject the battered-woman defense by arguing that a person in Ms. Sheehan’s position had the opportunity to seek help. An abusive relationship, however egregious, they argue, does not justify homicide. But friends of Ms. Sheehan say she was too afraid to report her abuse to the police since her husband had worked in law enforcement.
Penso que o mundo se divide em dois campos. O meu, que considera que a mulher fez o que tinha de fazer e até retira algum prazer de um ser humano mais asqueroso ter tido aquilo que merecia e outro, que provavelmente não está a viver a mesma situação que a mulher viveu (suponho, enfim) vai dizer que em nenhuma ocasião o 'homem tem o direito de tirar a vida a outro' ou outras banalidades do género.
Foi condenada a cinco anos de cadeia, consideraram ter havido atenuantes. Por mim, se fosse ilibada, era ouro sobre azul. O mesmo tribunal, que a condenou aos cinco anos, representativo dos mecanismos legais da justiça, falhou para a proteger, uma vez que é preciso uma situação grave e factos consumados para poder agir. Contudo, o caso demonstra que a sociedade tem (felizmente) gradações diferentes para o aparentemente absoluto princípio do 'em nenhum caso se deve matar'. É evidente que o acto de matar uma pessoa pode ser avaliado de forma extremamente subjectiva. Há bastantes casos semelhantes onde é mais difícil encontrar atenuantes legais, como o de uma mulher abusada e espancada que, durante o sono do marido, lhe dá um tiro. Talvez essa (um caso real) não tenha tido paciência para esperar para uma situação limite arriscada como Sheehan e resolveu a questão de forma segura, pagando por isso pela condenação por homicídio de primeiro grau.
Isto não é o mesmo que ser favorável à pena de morte. Sou contra. Considero que o homicídio perpetrado por um mecanismo legal, ritualizado, do Estado, aceite pela maioria da sociedade como "correcto", com direito a padre, perante testemunhas, com data e hora marcada, com métodos como cadeira eléctrica, enforcamento ou injecção letal, sobre um ser humano inofensivo (preso), uma barbárie mais doentia do que um massacre perpetrado por um Breivik e obviamente sem qualquer comparação com os casos como o de Sheehan. O que me move não é exactamente pena dos condenados à morte, mas a sensação de viver numa sociedade desumanizada e que está disposta a matar um ser humano, detido e portanto inofensivo, num contexto neutro, sem atenuantes. Se pactuasse com isso como cidadão, seria um monstro. Em todo o caso, viveria entre monstros legalizados.
É curioso que tenha surgido um debate quando Obama eliminou Bin Laden numa espectacular operação. Ouviram-se as inevitáveis vozes, especialmente dos anti-americanos profissionais, de 'ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém'. Diziam-nos estes especialistas, sentados no sofá do mero observador num país sossegado, que gostariam de ver tudo pela lei, mesmo que a prisão de Bin Laden implicasse um fenomenal reacender mediático da sua figura e gerasse, por todo o mundo, atentados com reféns executados por terroristas a exigir a libertação do seu ídolo durante todo o tempo que durasse a sua detenção. É precisamente o carácter excepcional da operação cirúrgica que a torna aceitável tendo em conta o contexto do mundo em que vivemos e das atrocidades que os países já cometem. Morrem milhares de inocentes anónimos que nunca atiraram aviões contra prédios cheios de gente em nome da guerra contra o terrorismo, os tais danos colaterais de operações que até podem ter o aval da ONU entre países que assinam convenções de direitos humanos ou que mantêm relações cordiais e comerciais entre si. Entre as várias formas de resolver o problema (equacionaram utilizar uma grande bomba convencional para terraplanar a área) penso que levaram a cabo uma bastante elegante e arriscada. Não celebrei a sua morte e, apesar de entender que as imagens de celebrações patrióticas espontâneas de americanos sejam indicadoras do primário espírito "cowboy" americano, considerei-as meramente humanas, uma catarse simbólica ao mesmo nível do queimar de bandeiras.
Pelo princípio absoluto da superioridade da vida humana ou da morte apenas em nome da auto-defesa, então nenhum país invadido resistira ao invasor que lhe apresentasse a ocasião de simplesmente depor as armas, render-se e servir. Xanana Gusmão poderia ter descido das montanhas mas décadas mais cedo e poupado a vida a milhares de indonésios e, especialmente, timorenses.Os americanos podiam ter assinado um acordo e ceder à facção interna isolacionista e deixar a europa entregue à aprendizagem da saudação nazi. Afinal de contas, se formos colaboradores com um agressor, não há derramamento de sangue: é a nossa resistência que vai provocar mortos, especialmente do nosso próprio lado. Portanto, observando a história, em certas circunstâncias, princípios tão abstractos como a 'liberdade', 'independência' ou 'dignidade' podem mesmo sobrepor-se a princípios como ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém.
in one instance capturing the meows of a cat he claimed was speaking in human tones, asking for help
Joe Meek, aquele que é considerado por algumas listas como o maior produtor de todos os tempos, por ter sido o mais visionário, inovador e marcante, até em biografia alucinada ganha ao Phil Spector.
(da wiki)
Meek was obsessed with the occult and the idea of "the other side". He would set up tape machines in graveyards in a vain attempt to record voices from beyond the grave, in one instance capturing the meows of a cat he claimed was speaking in human tones, asking for help. In particular, he had an obsession with Buddy Holly (claiming the late American rocker had communicated with him in dreams) and other dead rock and roll musicians.
His professional efforts were often hindered by his paranoia (Meek was convinced that Decca Records would put hidden microphones behind his wallpaper in order to steal his ideas), drug use and attacks of rage or depression. Upon receiving an apparently innocent phone call from Phil Spector, Meek immediately accused Spector of stealing his ideas before hanging up angrily.
Meek's homosexuality – illegal in the UK at the time – put him under further pressure; he had been convicted of "importuning for immoral purposes" in 1963 and fined £15: he was consequently subject to blackmail.[5] In January 1967, police in Tattingstone, Suffolk, discovered a suitcase containing the mutilated body of Bernard Oliver. According to some accounts, Meek became concerned that he would be implicated in the murder investigation when the Metropolitan Police said they would be interviewing all known homosexual men in the city[citation needed].
The hits had dried up and Meek's depression deepened as his financial position became increasingly desperate. French composer Jean Ledrut accused Meek of plagiarism, claiming that the tune of "Telstar" had been copied from "La Marche d'Austerlitz", a piece from a score Ledrut had written for the 1960 film Austerlitz. This lawsuit meant Meek never received royalties from the record during his lifetime[citation needed].
On 3 February 1967 Meek killed his landlady Violet Shenton and then himself[6] with a single-barreled shotgun that he had confiscated from his protégé, former Tornados bassist and solo star Heinz Burt at his Holloway Road home/studio. Meek had flown into a rage and taken the gun from Burt when he informed Meek that he used it while on tour to shoot birds. Meek had kept the gun under his bed, along with some cartridges.
The lawsuit against Meek was eventually ruled in Meek's favour three weeks after his death in 1967. It is unlikely that Meek was aware of Austerlitz, as it had been released only in France at the time.
(da wiki)
Meek was obsessed with the occult and the idea of "the other side". He would set up tape machines in graveyards in a vain attempt to record voices from beyond the grave, in one instance capturing the meows of a cat he claimed was speaking in human tones, asking for help. In particular, he had an obsession with Buddy Holly (claiming the late American rocker had communicated with him in dreams) and other dead rock and roll musicians.
His professional efforts were often hindered by his paranoia (Meek was convinced that Decca Records would put hidden microphones behind his wallpaper in order to steal his ideas), drug use and attacks of rage or depression. Upon receiving an apparently innocent phone call from Phil Spector, Meek immediately accused Spector of stealing his ideas before hanging up angrily.
Meek's homosexuality – illegal in the UK at the time – put him under further pressure; he had been convicted of "importuning for immoral purposes" in 1963 and fined £15: he was consequently subject to blackmail.[5] In January 1967, police in Tattingstone, Suffolk, discovered a suitcase containing the mutilated body of Bernard Oliver. According to some accounts, Meek became concerned that he would be implicated in the murder investigation when the Metropolitan Police said they would be interviewing all known homosexual men in the city[citation needed].
The hits had dried up and Meek's depression deepened as his financial position became increasingly desperate. French composer Jean Ledrut accused Meek of plagiarism, claiming that the tune of "Telstar" had been copied from "La Marche d'Austerlitz", a piece from a score Ledrut had written for the 1960 film Austerlitz. This lawsuit meant Meek never received royalties from the record during his lifetime[citation needed].
On 3 February 1967 Meek killed his landlady Violet Shenton and then himself[6] with a single-barreled shotgun that he had confiscated from his protégé, former Tornados bassist and solo star Heinz Burt at his Holloway Road home/studio. Meek had flown into a rage and taken the gun from Burt when he informed Meek that he used it while on tour to shoot birds. Meek had kept the gun under his bed, along with some cartridges.
The lawsuit against Meek was eventually ruled in Meek's favour three weeks after his death in 1967. It is unlikely that Meek was aware of Austerlitz, as it had been released only in France at the time.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
um animalista
Daniel Oliveira, no Expresso
O abaixo-assinado para impedir o abate do Zico não tem grande importância? Ele, propriamente dito, não a terá, por isso não merece que se perca mais tempo com o assunto. Mas o que ele revela é bastante importante. E fala-nos de uma civilização desnorteada.(...) Foi por atribuirmos à vida de todos os seres humanos um estatuto absolutamente excepcional que a escravatura nos pareceu inaceitável. (...) Ao colocar as relações humanas no mesmo patamar que as relações com os animais a escravatura torna-se aceitável, porque desprezamos essa excecionalidade que a liberdade humana nos confere. Se eu sou dono de cães e de gatos, numa relação necessariamente desigual - e que só pode funcionar se for desigual -, porque raio não hei de ser dono de pessoas? Se eu mato animais para me alimentar, porque raio não hei de matar seres humanos para garantir a minha subsistência?
Para o Daniel Oliveira, o abaixo-assinado é pouco importante e nem merece mais tempo, mas o que revela é a uma civilização desnorteada. Afinal é relevante.
E curioso que o mesmo Daniel Oliveira, quando escreveu no Arrastão a propósito do referendo pela legalização do aborto e em defesa do sim, começava o texto por apelar ao nosso sentido prático e que se esquecessem as questões filosóficas e metafísicas impossíveis de resolver e geradoras de ruído. E no entanto, eis-nos aqui, longe das questões práticas como a responsabilização criminal dos donos dos cães, passando pelas limitações à posse de raças perigosas, pelas soluções para animais que mataram etc. discutindo se as pessoas que assinam o abaixo assinado são a semente do regresso da escravatura ou do canibalismo...
Focando-me apenas no exemplo improvável da escravatura: podem ser exploradas 200 mil mulheres em redes de exploração sexual da europa de leste, e podem existir 12 milhões de escravos em todo o mundo, mas para o Daniel, o sinal de desnorte está na petição pelo zico ou nas opiniões como a minha. Essas sim, são o prenúncio de um perigo que ainda está para vir, quando ele já aqui está e nunca se foi embora, nem mesmo quando o tal homem de que fala o Daniel (quem será esse homem misterioso e representativo da moral colectiva?) teve a súbita revelação de que o ser humano tinha um carácter absolutamente excepcional.
Metafisicamente, não me considero superior a um cão, uma árvore ou uma ameba. Não vejo diferença metafísica entre o massacre de toda uma tribo da amazónia por mineiros e a própria destruição da floresta da Amazónia. Vejo diferenças de gravidade e crueldade, de necessidade e de fins. Para os mineiros assassinos, matar os índios foi equivalente a derrubar mais umas árvores. Fizeram-no com a mesma convicção e pragmatismo, em prol dos seus interesses que considerarão totalmente legítimos. O facto dos índios serem humanos, não os salvou do mesmo destino que aguarda Amazônia, precisamente porque os seres humanos têm um carácter absolutamente excepcional, especialmente os mais fortes ou mais representativos do ponto de vista económico e social.
Faço parte da natureza e isso coloca-me numa posição pragmática. Se na natureza se mata para comer, também não me considero hipócrita por matar para comer. Considero que existe mal, sofrimento e relações de força que são inevitáveis, como existem na natureza. Existem, são incontornáveis. Até no mundo do Daniel, há crianças que passam mal enquanto ele vai jantar fora, compra um fato novo ou vai fazer turismo. É assim que vivemos, todos os dias e não sinto que sejamos hipócritas por isso, desde que façamos um esforço para corrigir o que está errado e não entremos em absolutismos do estilo "a vida do ser humano está acima de qualquer animal". Se a vida de outro ser humano - que não conhecemos - não chega a ser excepcionalmente superior para abdicarmos de tudo ou mesmo de um pouco para o salvar, então poupem-nos a reflexões sobre como a consideram excepcionalmente superior a cães ou gatos. Não há nada excepcionalmente superior a nada por princípio absoluto.
Não deixa de ser irónico que esta opinião venha de Daniel Oliveira, membro do Bloco de Esquerda. Parece que é uma tentativa de aproximação ao Portugal conservador e católico que não terá ficado bem impressionado depois do referendo do aborto. Quanto à perigosidade das ideias dos "animalistas", por favor... Não há qualquer registo de que os traficantes de escravos fossem uns activistas de direitos dos animais particularmente activos. Por outro lado, podia devolver ao Daniel a mesma desconfiança e medo (o que nunca fiz nem farei) pois há provas históricas de que ideologias políticas como a sua, quando se juntaram à vontade e possibilidade de nos nortear a civilização, fizeram estragos consideráveis a outros seres humanos, assim como encontramos amplos registos de que muita gente plenamente convicta do princípio da excepcionalidade da vida humana - uma ideia bem antiga e Cristã - cometeu atrocidades sobre humanos, bastando-lhe para isso o truque de não os considerarem como humanos, mas sim animais, mercadorias, ameaças ou obstáculos.
O abaixo-assinado para impedir o abate do Zico não tem grande importância? Ele, propriamente dito, não a terá, por isso não merece que se perca mais tempo com o assunto. Mas o que ele revela é bastante importante. E fala-nos de uma civilização desnorteada.(...) Foi por atribuirmos à vida de todos os seres humanos um estatuto absolutamente excepcional que a escravatura nos pareceu inaceitável. (...) Ao colocar as relações humanas no mesmo patamar que as relações com os animais a escravatura torna-se aceitável, porque desprezamos essa excecionalidade que a liberdade humana nos confere. Se eu sou dono de cães e de gatos, numa relação necessariamente desigual - e que só pode funcionar se for desigual -, porque raio não hei de ser dono de pessoas? Se eu mato animais para me alimentar, porque raio não hei de matar seres humanos para garantir a minha subsistência?
Para o Daniel Oliveira, o abaixo-assinado é pouco importante e nem merece mais tempo, mas o que revela é a uma civilização desnorteada. Afinal é relevante.
E curioso que o mesmo Daniel Oliveira, quando escreveu no Arrastão a propósito do referendo pela legalização do aborto e em defesa do sim, começava o texto por apelar ao nosso sentido prático e que se esquecessem as questões filosóficas e metafísicas impossíveis de resolver e geradoras de ruído. E no entanto, eis-nos aqui, longe das questões práticas como a responsabilização criminal dos donos dos cães, passando pelas limitações à posse de raças perigosas, pelas soluções para animais que mataram etc. discutindo se as pessoas que assinam o abaixo assinado são a semente do regresso da escravatura ou do canibalismo...
Focando-me apenas no exemplo improvável da escravatura: podem ser exploradas 200 mil mulheres em redes de exploração sexual da europa de leste, e podem existir 12 milhões de escravos em todo o mundo, mas para o Daniel, o sinal de desnorte está na petição pelo zico ou nas opiniões como a minha. Essas sim, são o prenúncio de um perigo que ainda está para vir, quando ele já aqui está e nunca se foi embora, nem mesmo quando o tal homem de que fala o Daniel (quem será esse homem misterioso e representativo da moral colectiva?) teve a súbita revelação de que o ser humano tinha um carácter absolutamente excepcional.
Metafisicamente, não me considero superior a um cão, uma árvore ou uma ameba. Não vejo diferença metafísica entre o massacre de toda uma tribo da amazónia por mineiros e a própria destruição da floresta da Amazónia. Vejo diferenças de gravidade e crueldade, de necessidade e de fins. Para os mineiros assassinos, matar os índios foi equivalente a derrubar mais umas árvores. Fizeram-no com a mesma convicção e pragmatismo, em prol dos seus interesses que considerarão totalmente legítimos. O facto dos índios serem humanos, não os salvou do mesmo destino que aguarda Amazônia, precisamente porque os seres humanos têm um carácter absolutamente excepcional, especialmente os mais fortes ou mais representativos do ponto de vista económico e social.
Faço parte da natureza e isso coloca-me numa posição pragmática. Se na natureza se mata para comer, também não me considero hipócrita por matar para comer. Considero que existe mal, sofrimento e relações de força que são inevitáveis, como existem na natureza. Existem, são incontornáveis. Até no mundo do Daniel, há crianças que passam mal enquanto ele vai jantar fora, compra um fato novo ou vai fazer turismo. É assim que vivemos, todos os dias e não sinto que sejamos hipócritas por isso, desde que façamos um esforço para corrigir o que está errado e não entremos em absolutismos do estilo "a vida do ser humano está acima de qualquer animal". Se a vida de outro ser humano - que não conhecemos - não chega a ser excepcionalmente superior para abdicarmos de tudo ou mesmo de um pouco para o salvar, então poupem-nos a reflexões sobre como a consideram excepcionalmente superior a cães ou gatos. Não há nada excepcionalmente superior a nada por princípio absoluto.
Não deixa de ser irónico que esta opinião venha de Daniel Oliveira, membro do Bloco de Esquerda. Parece que é uma tentativa de aproximação ao Portugal conservador e católico que não terá ficado bem impressionado depois do referendo do aborto. Quanto à perigosidade das ideias dos "animalistas", por favor... Não há qualquer registo de que os traficantes de escravos fossem uns activistas de direitos dos animais particularmente activos. Por outro lado, podia devolver ao Daniel a mesma desconfiança e medo (o que nunca fiz nem farei) pois há provas históricas de que ideologias políticas como a sua, quando se juntaram à vontade e possibilidade de nos nortear a civilização, fizeram estragos consideráveis a outros seres humanos, assim como encontramos amplos registos de que muita gente plenamente convicta do princípio da excepcionalidade da vida humana - uma ideia bem antiga e Cristã - cometeu atrocidades sobre humanos, bastando-lhe para isso o truque de não os considerarem como humanos, mas sim animais, mercadorias, ameaças ou obstáculos.
queda watching
Quando chove um bocado, mas não demais, há uma camada oleosa que se forma nas pedras de calçada e no empedrado de Lisboa. Os pés escorregam e a probabilidade de alguém escorregar e se estatelar de costas é bastante boa, enfim, depende do calçado, da aderência da respectiva sola e da agilidade natural ou reflexos do transeunte. As senhoras, obesos e os mais idosos, são propensos a estas quedas, mas os homens de escritório que usam mocassins de sola lisa também podem proporcionar divertidos tombos. É um espectáculo que aprecio bastante e considero-me um ávido conhecedor do género. Às vezes, se não estiver a rir demais, até as ajudo a levantar se for preciso, uma pequena retribuição pelo entretenimento que me proporcionaram. Há zonas da cidade mais adequadas, digamos assim, e é preciso conhecê-las, estudá-las. De outro modo bem podemos ficar à espera a olhar que se perde uma manhã inteira para nada. Para além da chuva, é necessária a combinação de outros factores, como um tráfego de pedestres considerável para aumentar a probabilidade e frequência de ocorrências, um declive pronunciado, pedras mais lisas e sujidade escorregadia. A melhor sujidade é a de origem vegetal, enfim, restos de folhas, flores... nada escorrega melhor do que isso. A Avenida Dom Carlos, por exemplo, coberta de jacarandás, é muito boa em Maio, Junho, pois as flores desta árvore, que são de resto pegajosas e extremamente aderentes em tempo seco, formam uma eficaz camada oleosa à primeira chuvada. A esplanada do Café República é um bom posto de observação, discreto e confortável, podemos estar ali uma tarde a fingir que estamos a ler o jornal ou coisa do género. Recordo-me com saudade do tombo de um senhor de fato que não se limitou a cair no passeio, à maneira usual, mas que achou por bem cair entre dois automóveis estacionados na berma. Ali ficou, entalado entre os para-choques dos dois carros, até alguém reparar na perna de fora que se agitava desesperadamente e o ajudar a sair. Gosto da zona do Chiado também. A rampa que se inicia nos Armazéns, apesar de não ser particularmente escorregadia, tem um elevadíssimo tráfego de peões, incluindo mulheres muito produzidas e de salto alto, o que aumenta a probabilidade de valer a pena ficar ali à espera, a fingir que se está muito admirado com a beleza da rua. Não é apenas a queda em si que é engraçada e às vezes um pouco erótica até, pois nos tombos de costas seguidos de deslizamento, as saias sobem um pouco e há ligas e rendas para ver. Há que ter em conta o facto da queda ser presenciada por muita gente que finge que não reparou. É interessante assistir a esta solidariedade humana, enfim, é muito raro toda gente de uma rua parar e desatar a rir ou tirar fotos, algumas ficam até bastante consternadas e precipitam-se para ajudar a vítima o que, creio, ainda aumenta mais a sua vergonha. Depois é vê-la sair disparada o mais rápido possível dali, a ajeitar o vestido e com um pé de fora do sapato. Ao contrário do que se possa pensar, a espera pelo momento da queda não atenua em nada o divertimento, passa-se exactamente o oposto. Quando somos apanhados de surpresa por um tombo espectacular, como o do turista francês obeso que me conseguiu rebolar pelas Escadinhas do Duque abaixo, deixando atrás de si um rasto de pedaços de máquina Nikon, óculos escuros e moedas de uma bolsinha canguru que tinha à cintura, ao som de gritos de mon dieu! da esposa estática no cimo das escadas com as mãos na cabeça, ficamos um pouco perplexos no início, quase assustados e perde-se parte do efeito. Temos de reconstruir mentalmente o que acabámos de ver e só depois podemos rir. O facto de estar à espera que isso aconteça faz disparar a adrenalina no momento zero e o tempo abranda, é como se víssemos a coisa em câmara lenta do princípio ao fim. Sei que não faz de mim melhor pessoa, mas há prazeres piores do que esse
e, de qualquer modo, não sou eu que prego rasteiras às pessoas.
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
escritor maldito
Nos momentos mais difíceis da vida de um artista, especialmente de um escritor do género "escritor maldito" como é o meu caso, a solidão é extrema perante a obra e o destino afigura-se como uma barreira intransponível. Apenas um torpor alcoólico ou mesmo o suicídio poderá aliviar o sofrimento do género de artista a que eu pertenço. Seria muito pior se fosse poeta maldito. Esses, para além destas coisas todas, ainda acumulam uma orientação sexual ambígua. Encosto a testa ao vidro da janela e, de olhos fixos no horizonte recortado de telhados e antenas sobre um céu negro de tempestade, sigo um avião a descolar até este ser engolido pelas espessas nuvens entre relâmpagos divinos que poderiam ditar o seu fim. Ou o meu. Cemitério de aeroplanos. Que relâmpagos são aqueles que fazem o teu nome em babilónia...
Mesmo nos momentos mais negros e opressivos, onde vou buscar a inspiração necessária para me consumir em prol da arte, corro o risco de receber outro e-mail da minha mãe a perguntar se eu vi o video do Mishka, the talking dog, a dizer i love you e que eu, como tudo o que ela me envia, já tinha visto há pelo menos quatro ou cinco anos. Faço uma pausa com um reconfortante chá de jasmim que a Plaft me traz. Bebo o chá, enquanto me enrosco no roupão do bugs bunny e clico no link. I looove you diz o cão Mishka, do fundo do seu silêncio canino, a sua barreira de solidão intransponível. Ninguém, de facto me compreende, a não ser outros grandes artistas.
Nos momentos mais duros, em que preciso de uma reserva de força e de fé, é à sua sabedoria que recorro, a sua sabedoria expressa na arte, na poesia, na música... a sua solidão partilhada comigo, como um confidente. Para além de Bukowski, Dostoiévski, Luíz Pacheco, Fernando Pessoa, Nietzsche, Kafka, Schopenhauer ou Beckett, um dos artistas que reservo para os momentos mais críticos, os momentos em que é necessário carregar sobre as eólicas da dúvida e incerteza, a cavalo do Rocinante da inspiração divina, é a sábia Willow Smith.
Deixo aqui esse hino e o poema, na esperança que possa salvar vidas de outros escritores malditos. Tenham fé.
Hop up out the bed, turn my swag on
Pay no attention to them haters
Because we whip 'em off
And we ain’t doin' nothin' wrong
So don’t tell me nothin'
I’m just trying to have fun
So keep the party jumping
So what's up? (yeah)
And now they don't know what to do
We turn our back and whip our hair and just
Shake em off, shake em off
Shake em off, shake em off
Don’t let haters get me off my grind
Keep my head up, I know I’ll be fine
Keep fighting until I get there
When I’m down and I feel like giving up
I whip my hair back and forth
I whip my hair back and forth (just whip it)
Mesmo nos momentos mais negros e opressivos, onde vou buscar a inspiração necessária para me consumir em prol da arte, corro o risco de receber outro e-mail da minha mãe a perguntar se eu vi o video do Mishka, the talking dog, a dizer i love you e que eu, como tudo o que ela me envia, já tinha visto há pelo menos quatro ou cinco anos. Faço uma pausa com um reconfortante chá de jasmim que a Plaft me traz. Bebo o chá, enquanto me enrosco no roupão do bugs bunny e clico no link. I looove you diz o cão Mishka, do fundo do seu silêncio canino, a sua barreira de solidão intransponível. Ninguém, de facto me compreende, a não ser outros grandes artistas.
Nos momentos mais duros, em que preciso de uma reserva de força e de fé, é à sua sabedoria que recorro, a sua sabedoria expressa na arte, na poesia, na música... a sua solidão partilhada comigo, como um confidente. Para além de Bukowski, Dostoiévski, Luíz Pacheco, Fernando Pessoa, Nietzsche, Kafka, Schopenhauer ou Beckett, um dos artistas que reservo para os momentos mais críticos, os momentos em que é necessário carregar sobre as eólicas da dúvida e incerteza, a cavalo do Rocinante da inspiração divina, é a sábia Willow Smith.
Deixo aqui esse hino e o poema, na esperança que possa salvar vidas de outros escritores malditos. Tenham fé.
Hop up out the bed, turn my swag on
Pay no attention to them haters
Because we whip 'em off
And we ain’t doin' nothin' wrong
So don’t tell me nothin'
I’m just trying to have fun
So keep the party jumping
So what's up? (yeah)
And now they don't know what to do
We turn our back and whip our hair and just
Shake em off, shake em off
Shake em off, shake em off
Don’t let haters get me off my grind
Keep my head up, I know I’ll be fine
Keep fighting until I get there
When I’m down and I feel like giving up
I whip my hair back and forth
I whip my hair back and forth (just whip it)
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
ponto de situação sobre as editoras, envio do romance e apelo
Está tudo a correr bem nisto do envio a editoras. Aliás, antes de enviar o romance, já recebia convites de editoras e fabricantes de brindes diversos que, por módicas quantias, me aliciaram para
negócios muito favoráveis para o meu lado em edições de autor ou pfd on-line. Como sou generoso e me
preocupo sinceramente com o sucesso do mundo editorial, prefiro doar a
maior parte dos royalties a uma editora do que ser guloso e ficar com
todos os lucros para mim. Um ex-amigo disse-me assim aqui há dias: olha e se nenhuma te quiser? Já pensaste nisso? Não vais desanimar pois não? Se calhar não é desta, se calhar vai mesmo ter de ser edição de autor e prepara-te e beca beca beca...
Não percebi o que me queria dizer com aquela conversa, mas de qualquer modo não lhe levei a mal. Existe uma enorme disputa entre as maiores editoras portuguesas (e algumas estrangeiras) para ficarem com os direitos do meu romance, pelo menos, as que já o receberam e contam nos seus quadros com pessoas que sabem ler português. Isto, infelizmente, excluiu a Shinchosha/Tsai Fong Books que edita o Mishima em japonês e que me mandou este gif animado de um Pikachu em resposta.
Deduzo o interesse das editoras pelo facto de todas as moradas de e-mail serem válidas até agora, o que podia não ser o caso. Nenhum veio devolvido com a mensagem "undelivered: the recipient e-mail does not exist", técnica que eu utilizaria se fosse editor e recebesse o que eles recebem todos os dias.
Bom sinal, portanto. Por norma, a reacção à recepção do documento word contendo o romance está a ser um profundo silêncio, para ser mais preciso, uma ausência de resposta (sim, podiam enviar-me silêncio num e-mail em branco por exemplo). Interpreto isso como sendo prova de uma enorme reverência e timidez. Afinal de contas, como me sentira se Dostoiévski ou Cervantes me enviasse um draft de romance para eu avaliar? Semanas de choque, sem dúvida. Muitas semanas. Talvez meses ou uma vida inteira até.
Houve duas excepções, para além do Pikachu. Um que dizia apenas "reenvie a fulano xis, o responsável pela edição". Isto foi alguém que, para além de estar preocupado com eu não ter tempo a perder com palavras, simplesmente não quer ter a responsabilidade de decidir, pois isso iria catapultá-lo para os livros de história literária para os próximos séculos e os editores são discretos e humildes, para além de simpáticos e afáveis, inteligentes, enfim, um sem número de qualidades profissionais, humanas... Creio até que nesta fase se destacam de todos os outros seres humanos na excelência com que praticam a actividade de ser humano em geral.
A outra exepção ao silêncio, foi um aviso de que demoravam 2 a 3 meses a dar resposta porque todos os dias recebem dezenas de romances muito inferiores ao meu. Enfim, não disseram isso de serem muito inferiores ao meu porque não querem destruir os sonhos de pessoas que gostam tanto de livros que às tantas metem na cabeça que também os querem fazer para mostrar como é que se faz. Mas recebem muitos. É uma coisa que confesso que não fazia ideia e que uma amiga do mundo da edição me confirmou. As editoras recebem dezenas e dezenas de manuscritos por dia e chegam a ter na pilha do unread mais de cem.
Gostava, por isso, de lançar aqui um pequeno apelo aos aspirantes a escritor: por favor não enviem mais coisas às editoras até eu receber a minha resposta. Não só estão a causar um engarrafamento no worfklow da minha consagração e a irritar e cansar editores, tornando-os menos predispostos a identificar um enorme talento, como também não vale a pena de certeza porque vocês são muito maus. Nunca se adia demais uma rejeição. E em todo caso, mais vale preparar-se para ela. Até eu, vejam bem. Aliás, no caso improvável de uma das quarenta e três editoras e o centro de fotocópias do Colombo me rejeitar o romance, eu próprio responderei a esse improvável e-mail com um lacónico "message ignored: the writer e-mail does not care :P :P :P and peixoto sucks :P :P"
Não percebi o que me queria dizer com aquela conversa, mas de qualquer modo não lhe levei a mal. Existe uma enorme disputa entre as maiores editoras portuguesas (e algumas estrangeiras) para ficarem com os direitos do meu romance, pelo menos, as que já o receberam e contam nos seus quadros com pessoas que sabem ler português. Isto, infelizmente, excluiu a Shinchosha/Tsai Fong Books que edita o Mishima em japonês e que me mandou este gif animado de um Pikachu em resposta.
Deduzo o interesse das editoras pelo facto de todas as moradas de e-mail serem válidas até agora, o que podia não ser o caso. Nenhum veio devolvido com a mensagem "undelivered: the recipient e-mail does not exist", técnica que eu utilizaria se fosse editor e recebesse o que eles recebem todos os dias.
Bom sinal, portanto. Por norma, a reacção à recepção do documento word contendo o romance está a ser um profundo silêncio, para ser mais preciso, uma ausência de resposta (sim, podiam enviar-me silêncio num e-mail em branco por exemplo). Interpreto isso como sendo prova de uma enorme reverência e timidez. Afinal de contas, como me sentira se Dostoiévski ou Cervantes me enviasse um draft de romance para eu avaliar? Semanas de choque, sem dúvida. Muitas semanas. Talvez meses ou uma vida inteira até.
Houve duas excepções, para além do Pikachu. Um que dizia apenas "reenvie a fulano xis, o responsável pela edição". Isto foi alguém que, para além de estar preocupado com eu não ter tempo a perder com palavras, simplesmente não quer ter a responsabilidade de decidir, pois isso iria catapultá-lo para os livros de história literária para os próximos séculos e os editores são discretos e humildes, para além de simpáticos e afáveis, inteligentes, enfim, um sem número de qualidades profissionais, humanas... Creio até que nesta fase se destacam de todos os outros seres humanos na excelência com que praticam a actividade de ser humano em geral.
A outra exepção ao silêncio, foi um aviso de que demoravam 2 a 3 meses a dar resposta porque todos os dias recebem dezenas de romances muito inferiores ao meu. Enfim, não disseram isso de serem muito inferiores ao meu porque não querem destruir os sonhos de pessoas que gostam tanto de livros que às tantas metem na cabeça que também os querem fazer para mostrar como é que se faz. Mas recebem muitos. É uma coisa que confesso que não fazia ideia e que uma amiga do mundo da edição me confirmou. As editoras recebem dezenas e dezenas de manuscritos por dia e chegam a ter na pilha do unread mais de cem.
Gostava, por isso, de lançar aqui um pequeno apelo aos aspirantes a escritor: por favor não enviem mais coisas às editoras até eu receber a minha resposta. Não só estão a causar um engarrafamento no worfklow da minha consagração e a irritar e cansar editores, tornando-os menos predispostos a identificar um enorme talento, como também não vale a pena de certeza porque vocês são muito maus. Nunca se adia demais uma rejeição. E em todo caso, mais vale preparar-se para ela. Até eu, vejam bem. Aliás, no caso improvável de uma das quarenta e três editoras e o centro de fotocópias do Colombo me rejeitar o romance, eu próprio responderei a esse improvável e-mail com um lacónico "message ignored: the writer e-mail does not care :P :P :P and peixoto sucks :P :P"
Cadernos da Casa Morta e Dostoiévski
A principal qualidade literária de Dostoiévski é a forma como parece entender o humano, ou procurar entendê-lo e suscitar a reacção de pois é, as coisas são mesmo assim perante personagens em situações de vida particulares, extremas, ambíguas... De alguma forma, Dostoiévski consegue sempre parecer um homem moderado, que está no meio de extremos e erros, que identifica as injustiças mas nunca se precipita para soluções. Tem tanto de revolucionário como de conservador. Quanto a Dostoiévski, os leitores podem dividir-se entre dois grupos, os
que consideram que isto é uma qualidade literária e os que acham isto
manipulador ou básico. O certo é que passou quase século e meio e as
suas histórias continuam a apelar a um enorme número de leitores, mais
do que Gogol, Tchekhov ou Tolstói. E são histórias que, voluntaria ou
involuntariamente, levantam na cabeça do mais empedernido leitor,
dúvidas como "o que faria eu naquela situação?"
Em José Saramago, um enorme romancista, é notório em certos livros e muito especialmente nas suas memórias, uma espécie de ressentimento de classe que nunca desapareceu, como se no povo, nos oprimidos, não houvesse filhos da puta em barda e os ricos ou nobres nascessem com uma culpa primordial de que se têm de livrar. Isto não inquina aquelas que para mim são as suas grandes obras. Apenas levanto este ponto porque, muitas vezes, vejo Dostoíevski atirado para dentro do grande saco do "realismo" de carácter político e que está na raiz do ódio de muito dos seus detractores que, não raramente, nem sequer o leram.
Os Cadernos da Casa Morta, pelo menos toda a primeira parte, são uma sucessão de perfis de criminosos e dos agentes da ordem e, consequentemente, das noções de moral, da própria sociedade no seu sentido prático e real. A principal conclusão é a de ser tudo um tanto ou quanto absurdo e desafiar as ideias pré-concebidas. Um caso extremo é o da troca de identidades. Por vezes, condenados a crimes graves compram a identidade de outro criminoso que aceita a pena muito mais severa do outro a troco de dinheiro para a vodka. Tanto pode ser muito dinheiro como apenas uns copeques, a personagem em questão aceita a troca porque acha que isso é um ritual e que as coisas são feitas assim e não há nada a fazer. Quando Dostoiévski escreve sobre mujiques ou grilhetas (os prisioneiros), sabe que não está a escrever para este público alvo, mas sim para um leitor alfabetizado, provavelmente urbano, que tem destes universos uma série de ideias pré-concebidas. O segredo do sucesso de Dostoiévski nos dias de hoje, é que essas ideias continuam a ser actuais e relevantes. Um crime é um crime, uma prisão uma prisão. Quando aborda temas como a humilhação a que um guarda de prisão submete os seus prisioneiros, podemos rever nisto uma relação hierárquica no próprio local de trabalho. Ou quando diz que o trabalho não custa, o que custa é a sensação de absurdo desse mesmo trabalho: se um chefe ordenar ao condenado que mova umas pedras de um sítio para o outro e depois de volta ao mesmo sítio, só para o manter ocupado, instala-se um desespero que o pode levar o preso à loucura, enquanto que se sentir na tarefa um propósito e uma recompensa, pode dar tudo de si por mero orgulho e brio. E com isto se descreve numa penada uma grande doença do século XXI do trabalhador de escritório que tem, muitas vezes, uma noção algo difusa do seu papel na grande máquina e uma angústia que não desaparece (quem sou eu? estudei para isto? quero é viajar pelo mundo! quero é ser guarda florestal ou cozinheiro etc.)
Neste pequeno livro, o objectivo parece ser o de voltar humanos do avesso, numa constante surpresa pelo que se descobre, uma surpresa genuína, muito provavelmente biográfica, visto que Dostoiévski esteve preso numa prisão igual e também era, nela, um estrangeiro, uma minoria relativamente fidalga atirada para o meio dos desgraçados. Mas não há aqui moralismo de pacotilha. Um sacana continua a ser um sacana, mas todos têm uma reserva de dignidade, como se os seus actos não os caracterizassem, pelo menos, não no próprio entender. Podem até ter vaidade nas patifarias que cometeram. Os colegas de cela roubam coisas uns aos outros, mesmo aos que neles têm confiança e tudo isso é considerado como que inevitável e ninguém "julga" o outro. É como se fosse um processo automático, como se não pudessem escapar à natureza das coisas. As discussões entre prisioneiros são quase que encenadas, estão zangados, mas não estão bem zangados no fundo. O homem que matou seis pessoas pode parece mais dócil e frágil que um matulão carrancudo e explosivo que se limitou a espancar um superior que o insultou. O que Dostoievski parece querer desarmar são as lógicas de quem, não conhecendo a realidade, emite sobre elas explicações simples para poder continuar a ter as suas coisas bem arrumadas, sejam elas benevolentes demais e idílicas ou então condenatórias e violentas.
Esta atitude é completamente diferente daquela de escritores que tentam humanizar o "povo" e dignificá-lo a todo o custo, muitas vezes em busca de uma consagração comercial ou ética e moral, como se fossem candidatos políticos e não artistas. Lembro-me de um caso, talvez há 9 ou 8 anos, em que vi uma escritora (que entretanto parece ter desaparecido) dizer que escolheu uma caixa de supermercado para protagonista porque uma caixa de supermercado é uma pessoa humana e as pessoas não sabem disto, ela passava na caixa e sentiu-se culpada, que aquela criatura tinha sonhos também etc. Independentemente da eventual qualidade de um escritor que se predisponha a este exercício masturbatório, sabemos que está longe de Dostoiévski se não conseguir admitir que podia caracterizar qualquer pessoa como um filho da puta, incluindo o mais desgraçado dos desgraçados. Até porque, na prática - e são os números de vendas que o dizem - é mais provável que a Margarida Rebelo Pinto ou o José Rodrigues dos Santos contribuam mais para a felicidade e dignidade do tal povo do que o mais bem intencionado dos intelectuais urbanos, ao dar-lhe objectos de que ele gosta e que o entretêm. Não há nada mais dignificante do que isso. E Dostoiévski é grande porque consegue ir até aos limites desta possibilidade, nunca se esquece da necessidade de "entreter", talvez porque o próprio tivesse como objectivo ganhar dinheiro para pagar dívidas.
Assisti a isso diversas vezes, o típico leitor que devora tudo nos transportes públicos, sobretudo as coisas mais comerciais, mas que as distingue entre si por uma característica muito simples: é aborrecido vs não é aborrecido, no fundo, a implacável e justa medida de qualidade nesse campeonato. Ao contrário do "intelectual", que se esforça e se sente culpado por achar o Joyce uma estucha do caraças, e lê aquilo num esforço de auto-flagelação quase, para entrar no clube dos leitores crescidos, este tipo de leitor está-se bem marimbando. Autores como Dostoiévski são dos únicos que conseguem ter uma qualidade literária intemporal incontornável e ser metidos ali pelo meio. Só não são mais lidos porque também esse tipo de leitor tem muitas vezes um preconceito enervante: acha que vão ser aborrecidos!
Em José Saramago, um enorme romancista, é notório em certos livros e muito especialmente nas suas memórias, uma espécie de ressentimento de classe que nunca desapareceu, como se no povo, nos oprimidos, não houvesse filhos da puta em barda e os ricos ou nobres nascessem com uma culpa primordial de que se têm de livrar. Isto não inquina aquelas que para mim são as suas grandes obras. Apenas levanto este ponto porque, muitas vezes, vejo Dostoíevski atirado para dentro do grande saco do "realismo" de carácter político e que está na raiz do ódio de muito dos seus detractores que, não raramente, nem sequer o leram.
Os Cadernos da Casa Morta, pelo menos toda a primeira parte, são uma sucessão de perfis de criminosos e dos agentes da ordem e, consequentemente, das noções de moral, da própria sociedade no seu sentido prático e real. A principal conclusão é a de ser tudo um tanto ou quanto absurdo e desafiar as ideias pré-concebidas. Um caso extremo é o da troca de identidades. Por vezes, condenados a crimes graves compram a identidade de outro criminoso que aceita a pena muito mais severa do outro a troco de dinheiro para a vodka. Tanto pode ser muito dinheiro como apenas uns copeques, a personagem em questão aceita a troca porque acha que isso é um ritual e que as coisas são feitas assim e não há nada a fazer. Quando Dostoiévski escreve sobre mujiques ou grilhetas (os prisioneiros), sabe que não está a escrever para este público alvo, mas sim para um leitor alfabetizado, provavelmente urbano, que tem destes universos uma série de ideias pré-concebidas. O segredo do sucesso de Dostoiévski nos dias de hoje, é que essas ideias continuam a ser actuais e relevantes. Um crime é um crime, uma prisão uma prisão. Quando aborda temas como a humilhação a que um guarda de prisão submete os seus prisioneiros, podemos rever nisto uma relação hierárquica no próprio local de trabalho. Ou quando diz que o trabalho não custa, o que custa é a sensação de absurdo desse mesmo trabalho: se um chefe ordenar ao condenado que mova umas pedras de um sítio para o outro e depois de volta ao mesmo sítio, só para o manter ocupado, instala-se um desespero que o pode levar o preso à loucura, enquanto que se sentir na tarefa um propósito e uma recompensa, pode dar tudo de si por mero orgulho e brio. E com isto se descreve numa penada uma grande doença do século XXI do trabalhador de escritório que tem, muitas vezes, uma noção algo difusa do seu papel na grande máquina e uma angústia que não desaparece (quem sou eu? estudei para isto? quero é viajar pelo mundo! quero é ser guarda florestal ou cozinheiro etc.)
Neste pequeno livro, o objectivo parece ser o de voltar humanos do avesso, numa constante surpresa pelo que se descobre, uma surpresa genuína, muito provavelmente biográfica, visto que Dostoiévski esteve preso numa prisão igual e também era, nela, um estrangeiro, uma minoria relativamente fidalga atirada para o meio dos desgraçados. Mas não há aqui moralismo de pacotilha. Um sacana continua a ser um sacana, mas todos têm uma reserva de dignidade, como se os seus actos não os caracterizassem, pelo menos, não no próprio entender. Podem até ter vaidade nas patifarias que cometeram. Os colegas de cela roubam coisas uns aos outros, mesmo aos que neles têm confiança e tudo isso é considerado como que inevitável e ninguém "julga" o outro. É como se fosse um processo automático, como se não pudessem escapar à natureza das coisas. As discussões entre prisioneiros são quase que encenadas, estão zangados, mas não estão bem zangados no fundo. O homem que matou seis pessoas pode parece mais dócil e frágil que um matulão carrancudo e explosivo que se limitou a espancar um superior que o insultou. O que Dostoievski parece querer desarmar são as lógicas de quem, não conhecendo a realidade, emite sobre elas explicações simples para poder continuar a ter as suas coisas bem arrumadas, sejam elas benevolentes demais e idílicas ou então condenatórias e violentas.
Esta atitude é completamente diferente daquela de escritores que tentam humanizar o "povo" e dignificá-lo a todo o custo, muitas vezes em busca de uma consagração comercial ou ética e moral, como se fossem candidatos políticos e não artistas. Lembro-me de um caso, talvez há 9 ou 8 anos, em que vi uma escritora (que entretanto parece ter desaparecido) dizer que escolheu uma caixa de supermercado para protagonista porque uma caixa de supermercado é uma pessoa humana e as pessoas não sabem disto, ela passava na caixa e sentiu-se culpada, que aquela criatura tinha sonhos também etc. Independentemente da eventual qualidade de um escritor que se predisponha a este exercício masturbatório, sabemos que está longe de Dostoiévski se não conseguir admitir que podia caracterizar qualquer pessoa como um filho da puta, incluindo o mais desgraçado dos desgraçados. Até porque, na prática - e são os números de vendas que o dizem - é mais provável que a Margarida Rebelo Pinto ou o José Rodrigues dos Santos contribuam mais para a felicidade e dignidade do tal povo do que o mais bem intencionado dos intelectuais urbanos, ao dar-lhe objectos de que ele gosta e que o entretêm. Não há nada mais dignificante do que isso. E Dostoiévski é grande porque consegue ir até aos limites desta possibilidade, nunca se esquece da necessidade de "entreter", talvez porque o próprio tivesse como objectivo ganhar dinheiro para pagar dívidas.
Assisti a isso diversas vezes, o típico leitor que devora tudo nos transportes públicos, sobretudo as coisas mais comerciais, mas que as distingue entre si por uma característica muito simples: é aborrecido vs não é aborrecido, no fundo, a implacável e justa medida de qualidade nesse campeonato. Ao contrário do "intelectual", que se esforça e se sente culpado por achar o Joyce uma estucha do caraças, e lê aquilo num esforço de auto-flagelação quase, para entrar no clube dos leitores crescidos, este tipo de leitor está-se bem marimbando. Autores como Dostoiévski são dos únicos que conseguem ter uma qualidade literária intemporal incontornável e ser metidos ali pelo meio. Só não são mais lidos porque também esse tipo de leitor tem muitas vezes um preconceito enervante: acha que vão ser aborrecidos!
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