terça-feira, 31 de janeiro de 2012

aqueles momentos

Nos momentos mais difíceis da minha vida,
em que as nuvens nos olhos não me deixam ver o sol,
o meu coração está magoado de fúria e amor perdido,
o meu ego é reduzido a cinzas,
a noite escura não termina nunca,
a lâmina da navalha roça os pulsos
os pés balançam no vazio de um abismo
cheio de ecos de risos
de uma rapariga bonita
que me esqueceu
ou que eu esqueci
e não quero mais
viver
e perco toda
a esperança..



















há uma música...











































que surge sempre...































e me fala ao coração...

































e me reconforta...

































e fala comigo com uma voz
sábia e amiga...








































e me diz...




































está tudo bem...













































vais safar-te.







































LOCOMOTION! :D ALL ABOARD!!!1!!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

33% da vida do Autor



powerpoint

copy paste :D

copy

paste :D

download excel? :\

yes! :D click

save, open?...

open!:D

save... *click*

insert chart :P

click click click click the night away

select font

click click

drag and drop copy  paste

paste paste :D

group ungroup select... ALL!! ALL! AHAHAHAHAHA :D

ahh..



ah...

humpf... a música só durou 2:18... :(


 *pausa*

fumar.

-_- meditar.


Open blogger



um coelho na autoestrada 
encadeado pela luz 
dos teus olhos
é como um
coelho
numa autoestrada 
encadeado
pela luz etc.
e assim
sucessivamente



post?

post, está fabuloso, genial -_-

*fim de pausa*

play again? :)

:) yes! :D

copy paste :D

copy

paste :P

download excel? :\


yes! :D CLICK




(...)

«Líderes europeus discutem hoje desemprego»



- Oh hi! It must be terrible to be unemployed, don't you think?
- Hello, how are you? Yes, i suppose so. Not in the first months i guess, I would certainly welcome a good long vacation.
- I know what you mean, I've been dreaming of this trip to Patagonia for years, I never seem to get the time do it.
- I have hobbies, I love gardening and colecting old coins, I would be busy. It's important to keep busy when you are unemployed, depression can get to you.
- En españa tenemos muchitos desempleados e vamos ahora fornecir un kit de desempleo, que tiene el dominó, ele barajo de quiartas para jogar la sueca, muchos sudoku...
- Yes, indeed. What did this piig say?
- I have no idea, i took off the translation headphones, they hurt my ears. 

domingo, 29 de janeiro de 2012

*glup* :|

exemplo de post padrão dos blogues #214: pedaço de letra e video de música lamechas

Um exemplo típico deste tipo de post será algo do género:


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I tell my love to wreck it all
Cut out all the ropes and let me fall



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Para além de Bon Iver, podem utilizar-se músicas de Cat Power, Smiths, Lana Del Rey, Elliott Smith etc.


Significado:

Este tipo de post é normalmente utilizado quando o blogger passou por uma experiência no campo amoroso, positiva, mista ou negativa e pretende, com economia de meios, partilhar isso e surtir um efeito do tipo "pena", "compreensão", "paixão", "sedução" etc. Simultaneamente, visa colher a empatia de todos os leitores pela sua sensibilidade, vida agitada e bom gosto musical.

Meios:

Geralmente trata-se de uma música depressiva e melancólica, com uma letra que o mesmo pensa ser representativa dos seus sentimentos únicos e, como tal, o coloca no mesmo plano elevado que o artista que a compôs, colhendo por osmose as qualidades do mesmo. Por vezes torna-se extremamente complicado seleccionar um verso em específico e então posta-se a letra toda.

Resultado:

Nulo. No caso de vidas agitadas, leitores podem atribuir-se a si próprios o papel de destinatários quando não são. Quanto aos outros - considerando que se trata de um blogue lido por mais do que uma pessoa - não clicam no vídeo ou ouvem a música porque não lhes apetece interromper a leitura dos blogues e ficar a atrofiar 4 ou 5 minutos. Passam rapidamente ao próximo blogue com um sentimento de irritação. No caso de letras que transmitem um sentimento de experiência amorosa do tipo positivo a irritação é máxima. No caso da mesma transmitir uma experiência amorosa do tipo sofrido ou negativo, o blogger só demonstra não ter auto-estima e é constrangedor e embaraçoso.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

o autor mandou-me dizer que saiu o nº5 da "zine mais linda do mundo".


Download gratuito aqui O Autor mandou-me dizer para ir depressa, antes que a SOPA e a PIPA mandem abaixo o mediafire.

O Autor também me mandou agradecer à Maria Sousa e ao Nuno Abrantes e à R. pela crítica e revisão.

Pronto, dás-me as cervejas agora? Ah, e para que conste não foste tu que criaste o monstro, não foste tu que ganhaste o bilf, é patético, os outros com prémios literários e tu como não tens nada para exibir no currículo metes aquilo e ainda falas no "romance"....

não devia ser esta a intenção da musica, mas quando oiço...

... penso no Cais do Sodré e nos bares de alterne com luzes neon rosa e azul e com más stripers e prostitutas ao colo velhos de charuto na boca e toda gente tão feia e uma pessoa dilui-se num copo de whiksy de contrabando e está tudo bem.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

profissões de escritor #1

Pedi aos meus fãs no facebook que me sugerissem profissões daquelas que ficam bem na nota biográfica de um escritor na contracapa de uns livros. Deram-me umas quantas. Dado que sou muito influenciável e só sei escrever sobre o que sei, suponho que minha escrita em cada uma das profissões seria algo do género:

Sugestão:Ser como o Jack London
A minha casa está a precisar de reparações, o peso do nevão de ontem foi demais no toldo tenda decathlon e o Dentuço roeu uma das cordas e ainda mijou em cima do saco cama que estava a secar. Não lhe levei a mal, estávamos ambos bastante bêbedos, não lhe devia ter misturado Jack Daniels no pedigree pal. É um bom local esta clareira na floresta, mas para arranjar bebida tenho de fazer doze quilómetros pela neve até à estalagem. O pior de tudo são os turistas no natal e fim de ano. A Serra da Estrela torna-se inóspita e perigosa. Descem as encostas sentados em sacos de plástico e pneus. Almoçam em grupos de dez ou vinte pessoas, com Toni Carreira nos carros vermelhos estacionados com as portas abertas. Eu e o Dentuço ficamos a observá-los, escondidos, à espera de um oportunidade para roubar uma lancheira ou um pack de sagres.

Sugestão: Acompanhante de mulheres carentes de sexo e emoções
Achei enternecedor que Sónia não soubesse porque viera ter comigo e atribuísse a esse súbito impulso a necessidade de “conversar com alguém”. Não estava a mentir, estava mesmo convencida disso, apesar do vestido azul e do perfume traírem o esforço de esconder o desejo de me ter dentro dela. Falou-me de poesia, de como o marido não entendia poesia e não percebia a beleza das coisas e que eu era diferente. Pobre coitado, imaginei-o perplexo, de controlo remoto na mão, a não perceber porque ela não o deixava ver o futebol em paz e o aborrecia com poesia. Deixei-a acreditar na fantasia, enternecido. Era melhor para ambos conferir um pouco de dignidade a tudo. Servi-nos champanhe. Bebeu como uma flor seca num deserto de amor.


Sugestão: Sindicalista
Hoje, o patrão ofereceu-me um café na reunião de negociação de direito a não sermos despedidos na eventualidade da empresa falir por catástrofe natural e/ou holocausto nuclear. A sua reluzente nespresso nova, a contrastar com o negrume de fuligem e óleo que cobre o meus camaradas, os seus corpos explorados, o seu futuro, os seus filhos. As mãos dele, leitosas e finas, mãos de burguês, delicadas, habituadas a passar cheques e assinar documentos que são sentenças da nossa dignidade... Estendeu-me o copo fumegante, com um sorriso hipócrita. Recusei, não sou subornável, disse-lhe isso na cara e abandonei a reunião. Greve!

Sugestão: recepcionista num consultório de ginecologia
Não sei o que se passa comigo, devo ter qualquer coisa de errado, não consigo arranjar namorada Sou solteiro, tenho um emprego aborrecido mas honesto e as únicas pessoas que vejo são as pacientes que vêm ao consultório de ginecologia. Acho normal meter alguma conversa e tentar conhecê-las. Primeiro imagino como são, só pela conversa ao telefone a marcar a consulta com o Doutor. E depois vejo se são iguais ao que eu imaginava quando aparecem na consulta. É um jogo divertido e tornei-me bastante bom nele, apesar de ser surpreendido de quando em vez. Antes fazia-lhes perguntas ao telefone, se eram altas ou baixas, morenas ou loiras, mas acabavam por cancelar a consulta ou simplesmente desligavam-me o telefone na cara e o Doutor começou a estranhar a ausência de marcações. Mas aqui, no consultório, não entendo. Vê-se logo que sou uma pessoa simpática e honesta, não compreendo porque não me respondem ou aparentam incómodo quando, ao saírem da consulta, lhes pergunto se posso ser útil em alguma coisa em particular ou se querem jantar comigo.

(continua)

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ADD

Estou a gostar muito deste livro sobre escrever ficção do John Gardner, aquilo de me chatear com as tais fontes de autoridade foi só por embirrar, aprendi a fazer isso com os meus pais desde pequeno. Não me está a ensinar nada, mas é muito útil para angariar argumentos para depois poder embirrar com os aspirantes a escritor sem ser com argumentos básicos como "não és uma pessoa interessante, nunca vais escrever nada de jeito se não te divorciares e renegares os teus filhos e fores alcoólico". Gosto muito da parte em que sublinha que uma das funções essenciais da ficção é entreter e ter interesse e até me deu vontade de chorar quando falou em comics e no Howard The Duck, classificando essas coisas como artisticamente mais elevadas que exercícios estéreis muito bem elaborados mas chatas como tudo e que só servem para se masturbarem uns aos outros em conferências e lançamentos de livros (esta parte fui eu que acrescentei). Há décadas que não me canso de explicar que o Howard The Duck (4.2 em 10 no IMDB) ou jogos como o Grand Theft Auto - Vice City são obras primas da humanidade, mas nem é por isso. Há obras que claramente ambicionam a criar impacto por um efeito estético e formal. Era capaz de colocar o Ada Ou Ardor do Nabokov nesse campeonato. Só que o Nabokov é o Nabokov e perdôo-lhe aquela primeira parte cheia de barreiras a um leitor como eu, pouco resistente e com ADD induzido por videogames e lolcats. Ao comum dos mortais é preferível concentrar-se numa história sobre um pato que vem do espaço e conseguir fazer a coisa com estilo disso (não é fácil). Ou sobre, essencialmente, nada de especial. O falhanço é aborrecer, o falhanço é aborrecer. Não há desculpa para não arrancar um "foda-se!" de alguém, não falamos de números aqui, os números são irrelevantes e enganadores, mas tem de haver alguém assim fixe que diga "foda-se!" (no bom sentido) ou então estamos a fazer uma coisa mal. Rio-me muito (na verdade enervo-me muito) quando dizem que levo o meu blogue muito a sério ou quando tenho de ficar calado quando a minha mãe diz aos amigos distintos e respeitáveis, todos pessoas com idade e que coleccionam arte sacra, pintam, tocam cravinho e fazem coisas na gulbenkian, que eu escrevo e tenho um blogue. Mete-me sempre em alhadas tremendas e eu disfarço e digo que é só um hobbie (nem sequer digo hobbit) e que a minha mãe é um pouco maluca, não tenho blogue nenhum e ela diz no seu sotaque belga "sim filhe, tu tenj'um blóg"mas à 3ª cotovelada cala-se. E depois, interrompendo o silêncio que se forma porque toda gente pensa "coitada, é mãe dele", a minha mãe começa a falar no pêlo que a Lucy larga pela casa e todos falam de forma entusiasmada dos respectivos cães e gatos e nas respectivas consequências da posse dos respectivos animais e transformam-se em patetas e imitam os seus animais, às vezes ladram e tudo e esquecem-me. Mas eu estou atento, a observar, posso parecer um palerma agarrado ao vinho do Porto com 20 anos, mas não sou. Já não me lembro onde queria chegar quando comecei este post mas não me apetece rever.

"Recebi um SMS da minha mãe a perguntar se eu estava vivo. VOU AQUI Respondi 'não' e adormeci no sofá."

Para me orientar na revisão do romance e nas 270 páginas escrevo "VOU AQUI" quando acabo de rever e depois no dia seguinte faço um "FIND VOU AQUI" e pimbas, é directo. O problema é que às vezes escrevo vários VOU AQUI e esqueço-me e salto de página para página. Isto a ser revisto por alguém com espírito poético pode acabar por conter alguns VOU AQUI inesperados a meio de frases. O revisor poético pode interpretar os VOU AQUI como um marca de estilo, uma espécie de síndrome de tourette literário e deixá-los passar.

"a reforma não chega para pagar as minhas despesas"


Já lá estive, embora com um salário mais modesto. O primeiro passo é admitir que se tem um problema. Pressupondo que ele não vai a casinos (pelo menos legais) devido à exposição pública, e que o problema é específico do jogo online, a maior parte dos sites de jogo permitem que uma pessoa se possa banir por um período superior a 6 meses. E aquilo funciona mesmo bem, pelo menos na bwin e betclick funcionou. Coragem.

o livro é este (e custou-me uns 2 euros na feira do livro)

(e não, não é uma metáfora de nada, é até bastante literal)

o tema de coisas inesperadas em Marte é bastante recorrente.

A Confraria do Vinho


Acabei de ler A Confraria do Vinho do John Fante e fiquei muito satisfeito e comovido. O Fante é um escritor que não sabe bem o que está a fazer e como eu também não sei muito bem criticar, o melhor é ficarmos assim. Obrigado, senhor Fante.

sábado, 21 de janeiro de 2012

autoridade

Estou a ler o Art of Fiction - Notes on Craft For Young Writers do John Gardner. No género parece-me bom, talvez o melhor que li. Ciclicamente (3 em 3 anos mais ou menos) faço isto a mim próprio, pego em livros relacionados com "escrita" e digo que vou ser humilde e à 2ª ou 3ª página já estou a abanar a cabeça. Apesar de sóbrio, académico e com uma visão crítica fundamentada (neste falam de Joyce, Dante, Steinbeck, Homero, Hemingway, Lowry ou Becket e não de obscuros autores), não deixa de conter as naturais contradições inerentes a qualquer livro que se proponha a ajudar a criar arte melhor, contradições que o próprio John Gardner reconhece. Por exemplo, John Gardner faz a apologia da Universidade como a melhor incubadora para um grande escritor quando, uma ou duas páginas antes,  reconhece que os escritores costumam detestar o academismo e que as universidades raramente produzem um grande escritor. Também diz que a grande a autoridade do escritor vem de duas coisas(vou traduzir rapidamente): "a sua sanidade humana; isto é, a confiança nele como juiz das coisas, uma estabilidade baseada na soma das complexas qualidades do seu carácter e personalidade (sabedoria, generosidade, compaixão, força ou vontade) a que nós reagimos, como reagimos ao que é melhor nos nossos amigos, com instantâneo reconhecimento e admiração, dizendo, "sim, tens razão, é assim mesmo que é" e "a confiança absoluta nos seus próprios julgamentos estéticos e instintos".

Bom, se a segunda afirmação não me deixa qualquer dúvida, a primeira encerra várias contradições. Não pelos escritores clássicos cuja autoridade se encaixa perfeitamente nestas duas fontes - penso por exemplo em Dostoiévski, de longe o homem com maior autoridade humana que jamais pisou o planeta terra - mas nas excepções, aquelas em que o artista está absolutamente encerrado num universo próprio. Evitando abordar a poesia e os seus frequentes "não tens razão, isso não é nada assim" que me provoca, posso citar o Estrangeiro de Camus. As obras primas Fome, de Knut Hamsum ou toda a trilogia de Becket (Molloy, Malone, Watt) são desprovidas de sabedoria, generosidade, força ou vontade. As personagens de Kafka também nos enclausuram num pesadelo, em que todas, incluindo (e especialmente) o protagonista, agem de forma contra-intuitiva, cobarde, autista e insondável, não existindo da parte do narrador qualquer ajuda, o que contribui para a angústia do leitor. Nestas obras o papel da compaixão, generosidade, força ou vontade é todo deixado ao leitor, se lhe apetecer nutrir tais sentimentos e exibir essas qualidades. Frequentemente, não as tem, e as críticas negativas, prisões, cemitérios e arquivos de censura ficam cheias de Danil Harms, Luiz Pachecos, Gogóis e Jonathan Swifts. Não pretendo exagerar o sentido da afirmação de John Gardner, apenas a levei ao extremo. Pensar assim pode explicar a sua apreciação da obra As Vinhas da Ira de Steinbeck, uma obra que considera medíocre porque é simplista e só mostra um dos lados das coisas e não lhe arrancou nenhum "tens razão, é mesmo assim".


Num apontamento à parte, no outro dia explicava a alguém porque considero o humorista Bruno Nogueira incomparavelmente superior a Ricardo Araújo Pereira e o argumento que usei foi precisamente este. No primeiro, reconheço a autoridade do talento, do universo estético próprio e de nos mostrar "tens razão, não é nada assim que as coisas são" (basta pensar no enorme desafio que nos foi colocado pela reavaliação humorística de pessoas que nos habituamos a desprezar como o Roberto Leal, o Marco ou a Luciana Abreu). Ao segundo, reconheço um profissional talentoso que se leva a sério e de vez em quando resvala para as oportunidades de arrancar "tens razão, é assim mesmo que é", mesmo que o exercício não constitua qualquer desafio artístico (ironizar sobre um cartaz do PNR, desconstruir Marcelo Rebelo de Sousa no referendo do aborto, satirizar Santana Lopes etc.)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

porque demoro 2 anos a fazer a merda de um romance

Raramente consigo escrever algo de jeito mais de 30 minutos, fico todo entusiasmado, afasto-me do portátil e começo a fazer a dança das zebras felizes e imagino-me no câmara clara a seduzir a Paula Moura Pinheiro a dizer coisas como "o Gonçalo Tavares? não tem humanidade, é uma máquina, uma inteligência artificial, mil vezes alguém estúpido com alma e sem medo do erro... Paula, Paula, Paula, os teus olhos... pensei que soubesse distinguir um mau escritor de um bom escritor, com esses olhos felinos... felídeos... Não sentes nada? Descontrai, não precisas de fazer o papel da senhora entrevistadora toda séria e mandona. Posso fazer eu perguntas? Pode-se fumar aqui?" e depois de me passar a fantasia vou jogar ps3 e beber mais um bocadinho e dormir e sonhar comigo a pegar num globo de ouro da sic como o lobo antunes e, francamente, no dia a seguir sou capaz de nem pegar num livro ou de nem me aproximar do computador.

holoceno

«Na escala de tempo geológico, o Holoceno ou Holocénico é a época do período Quaternário da era Cenozoica do éon Fanerozoico que se iniciou há cerca de 11,5 mil anos e se estende até o presente.»



Quando se vive a infância no campo, e especialmente nos anos 80, num Portugal ainda rural, vive-se nas estações puras, nos efeitos extremos do frio, do calor, da escuridão e da luz. A nossa vida é sincronizada com a natureza e imita a dos bichos, quer queiramos quer não, nem que seja porque a EDP demora 2 dias a restabelecer a energia depois de uma trovoada. Depois do campo fui viver a adolescência na cidade de província e convivi com o campo só aos fins de semana. Depois da adolescência, vieram as luzes de Lisboa a cintilar e o campo tornou-se uma memória, a natureza uma abstracção que se resume a escolhas de peças de roupa a mais ou menos e a regular o ar condicionado ou, no bairro alto, entre beber na rua ou dentro de um bar. Hoje o campo para mim resume-se a uma pista de BTT na melhor das hipóteses. O mais normal é ficar a olhar para ele e sentir impaciência. Se levo as cadelas da minha mãe a passear e perco de vista as casas do casal, e fico imerso em vinhas, campos de trigo, pinhais, pomares, a charneca, sinto-me impaciente em vez de me sentir pacífico e relaxado, como seria de supor. Toda aquela quietude e as memórias associadas a cada pedra, árvore, que ano após ano continuam ali, a vinha onde cortei um dedo nas vindimas e achei um coelho morto, a árvore de onde caí ao construir uma casa, o rio onde o amigo se estampou de bicicleta, a oliveira carbonizada pelo raio...  É um sítio de onde se veio e onde não há futuro. Já o mar, é outra história, faz-me sentir bem, porque, para além de ser imprevisível e mutável, é um horizonte e o desconhecido.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

carta ao autor

Querido Autor,
tenho reparado que continuas como sempre na tua vida de escravo de nada. Obrigas-nos a acordar cedo demais e consegues sair da cama apesar de eu te prender a ela com o poder da preguiça ou da erecção matinal ou das fantasias eróticas. Nem a diferença térmica te consegue demover de arrastares o corpo aquecido da toca para o ar gelado da manhã ao 6º ou 7º snooze consecutivo e de tomares banho e de te esfregares todo atrás das orelhas e fazeres a barba imberbe em frente a um espelho embaciado. Escolhes a roupa a pensar nos outros, nada mudou, antes era a tua mãe que a escolhia. Se for dia de reunião é um fato, se o presidente estiver na empresa é o uniforme beto. Mas as calças de ganga, ténis e t-shirt é só se souberes de ante-mão que não há reuniões. Traste. Adorei aquela vez em que foste chamado para uma reunião surpresa com o presidente daquela empresa e tiveste de aparecer com a t-shirt dos sonic youth e os ténis vans depois de implorares para não te chamarem! Ah! AH! Isso, esconde-te cobarde!
E o trânsito, o trânsito que desaparece 10 minutos depois mas que tens de enfrentar porque 10 minutos depois chegas atrasado. Atrasado a quê? À tua cova? E ouves as notícias e o trânsito e é a mesma merda todos os dias e tu ouves e depois desligas o rádio e falas sozinho, berras, cantas, imitas vozes, imaginas poemas e porquê? Porque ninguém te está a ouvir dentro do carro alemão de 300 cavalos meu cobarde. Ouve o que eu te digo: vais morrer e quando tu morreres eu morro também porque infelizmente estamos ligados. Adorava ver-me livre de ti, adorava, porque é que foste tu a nascer e não eu?

Pensa no pai meu idiota. O velho preocupou-se toda a vida, preocupações, preocupações, preocupações, tu eras uma delas meu traste e no fim deixaste-o ir sozinho com umas pazadas de terra em cima e ficaste com a herança, a poupança de uma vida de abnegação e que tu estoiraste em jogo, brinquedos que ele não te dava no natal, jantares finos e, a única coisa de jeito, mulheres.

Lembras-te do Garoto, o cão maluco, o primeiro que tivémos? De como mordia toda gente e era um terror? Lembras-te da sensação de privilégio que era andar na rua com ele e dos teus amigos fugirem todos quando ele andava à solta, de como te sentias um Deus porque ele não te mordia a ti? E lembras-te a da perplexidade que sentiste quando ele te rasgou e arrancou a unha do indicador da mão direita e o pai que o quis matar logo ali mas não matou logo ali e só matou uns anos depois com a injecção de pentotal? Lembras-te do corpo dele embrulhado no seu velho cobertor, a ser pousado na cova ao pé da laranjeira do quintal e de como juraste que te ias vingar “das pessoas em geral por existirem”? Pensa nisso antes de voltares a vestires um fato e a certificares-te que o nó da gravata está bom e que não se nota a mancha de vinho se abotoares o casaco.

Junta-te a mim. Anda. Estou farto de ser um fantasma e flutuar por cima de ti, um adereço que te confere a ilusão de seres mais do que alguém que acaba com pazadas de terra em cima e de que tens futuro. Começa hoje. Ou vais esperar? Achas que és imortal?


ao poeta Rui Costa (1972-2012)

qual é o escritor que te mudou a vida?

«Quem é que me tinha lixado os miolos e escondido os livros, ignorando-os e desprezando-os? O meu velhote. A sua ignorância, a aflição que era viver com ele, os seus sermões, as suas ameaças, a sua ganância. A opressão e o jogo. Os Natais sem dinheiro. A roupinha para a formatura. Dívidas e mais dívidas. Deixámos de falar. Uma vez até nos cruzámos ao atravessar a linha de comboio. Deu mais uns passos, parou e começou a rir. Virei-me e ele apontou para mim e continuou a rir. Fingia ler um livro e ria-se. Não era a brincar. Era raiva, desilusão e desprezo.
Depois aconteceu. Numa noite em que a chuva batia no telhado da cozinha, um grande espírito entrou para sempre na minha vida. Tinha o livro nas mãos e tremia enquanto ele me falava do Homem e do mundo, do amor e da sabedoria, da dor e da culpa e eu soube, naquela altura, que nunca mais seria o mesmo. O espírito chamava-se Fyodor Mikhailovich Dostoyevsky. Ele percebia mais de pais e filhos do que qualquer outra pessoa no mundo, e de irmãos e irmãs, padres e vagabundos, culpa e inocência. O Dostoyevsky mudou-me. O Idiota, Os Possessos, Os Irmãos Karamazov, O Jogador. Virou-me do avesso. Descobri que podia respirar e ver horizontes até então invisíveis. O ódio que eu sentia pelo meu pai derreteu. Eu amava o meu pai, aquele pobre, sofredor, um destroço assombrado» - John Fante, A Confraria do Vinho

e ao som do my heart will go on em pan pipe


Campo de girassóis substitui poses agressivas
túnel de acesso ao balneário EM ALVALADE
- Record
Um campo de girassóis, com borboletas de diversas cores, a esvoaçarem num céu azul-celeste. Esta é a imagem que os adversários do Sporting vão reter a partir de hoje, à medida que percorrem o túnel em direção à cabina que lhes está destinada no Estádio José Alvalade.

O Sporting cumpre assim a solicitação da UEFA, que, após a polémica gerada pela notícia de um jornal diário – na qual eram reveladas fotos de adeptos em poses violentas –, sugeriu aos leões que as mesmas fossem tapadas nos encontros a contar para as competições europeias.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

isto é relevante - SOPA

O congresso americano anda às voltas há tempos com a SOPA e a PIPA, dois projectos de lei destinados a atacar a pirataria on-line. Wikipedia, google e muitos outros websites já fizeram blackouts de protesto hoje. Se os projectos do congresso americano forem aprovados, a internet como a conhecemos acabou. Por exemplo, este vosso blogue, acabou. Aliás, os blogues deixam de fazer sentido. O próprio facebook pode terminar, a wikipedia não sobrevive, nem o youtube como o conhecemos.

Um video:


Os críticos da lei, obviamente, não são a favor da pirataria, mas sim contra os efeitos altamente discutíveis e gravosos que isso terá, pois a lei é tão aberta a abuso que significa o fim da liberdade de expressão em todo o mundo pela internet e a morte da livre iniciativa. O verdadeiro motivo da lei não é o fim da pirataria exactamente, mas o fim da concorrência de redes alternativas. Eles sabem que não é possível pela solução tecnológica apresentada (bloqueio de DNS) acabar com a pirataria. O que pretendem é censura pura e simples.

E não, não tem nada a ver com política, mas sim censura económica. As grandes corporações funcionam com marketing de massas, pago. O que significa é o controlo total sobre as formas legítimas de marketing pago. Significa que alguém não pode, como eu fiz, fazer um post sobre o Ada Ou Ardor do Nabokov porque não existe blogger e que portanto o único canal que interessa é o canal pago pela editora. Isto significa que maior editora / software house etc. terá o mesmo poder dentro da Internet que já tem fora dela (televisão, publicidade, paga, montra da fnac etc.) O motivo é evidente: eliminar concorrência. Qualquer indústria ou negócio que precise de canais livres para se dar a conhecer e distribuir pela internet sofrerá um duro revés e pode acabar. Business Angels, dispostos a investir em startups de software por exemplo, dizem que isto pode acabar com esses investimentos devido ao risco de um grande bloquear os canais de distribuição e divulgação desses negócios.

O fim da liberdade de expressão de ideias políticas e opiniões é um mero efeito secundário, mas mais grave ainda. Isto é tão absurdo e radical que me custa a acreditar que passe. Mas pode passar.

Petição online em:
http://americancensorship.org/
(existe uma caixa para cidadãos não americanos no fundo da página)

eu podia fazer isto. na boa.




*glup*

foi uma palmeira na avenida da liberdade e de repente

isto é uma fotografia do escritor John Fante a recolher o seu correio

Está quase a começar outra fase, apercebi-me disso hoje quando ultrapassei meia centena de carros em entrecampos, convencido que estava a jogar gt5 na playstation. Nada resulta melhor que um livro do Fante / Bukowski / Salinger etc. e uma mulher das que dão com um tipo em doido. Nos próximos tempos isto vai durar e espero escrever algo de jeito. Não tenho tempo para ti, mundo de rituais herdados e formalidades absurdas. Posso ser um bocado maluco, mas se calhar, quando me desligarem da máquina, ainda me vou rir.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

a minha teoria (pelo menos eu acho que em Lisboa deve ser por isto)







Tolan 2012, shapes, clipart, paint e comicsans sobre powerpoint, 25cm x 19cm





agora de volta aos slides da apresentação para o banco amanhã... fuck!! já é tão tarde!? :O

se há coisa que eu gosto muito é de cerveja ou vinho

Começa a haver sinais preocupantes de que posso não ganhar o melhor blogue do ano na categoria "Diários íntimos". e que vou ficar atrás de um blogue que escreve coisas como

para mim, a profissão ideal seria a lidar com pessoas, todos os dias, falar com este e com aquela e se há coisa que eu gosto muito é de ensinar.

Podia ficar extremamente desiludido com vocês, mesmo com os que só votaram uma vez em mim, e com o mundo em geral, mas na verdade não fico. O meu ego já tratou de acomodar uma eventual derrota. Ao contrário do BILF, neste campeonato estou a concorrer com mulheres, no terreno delas: Diários de Bordo / diários íntimos e pessoais. Um homem ganhar isto é como uma mulher ganhar a categoria de blogues de desporto. Concorrer com os pesos pesados (no sentido metafórico) Luna ou Polo Norte lembra-me aquelas cenas do Borat a ser espancado no wrestling.

Tenho apenas o diário íntimo e pessoal masculino mais votado. Podia ser uma honra, mas dos 47 blogues nomeados, 45 têm nome de blogue feminino e devem ser mantidos por mulheres. Por amor de Deus, nem ao Pedro Mexia o meteram ali naquela categoria. Sinto-me como um heterossexual que por engano foi colocado num curso de psicologia. Vejo amigos meus na categoria de desporto, literatura ou economia, todos num viril despique e eu parece que sou obrigado a brincar às bonecas e às casinhas com as meninas. 1984, all over again.

Um homem másculo por norma não escreve um diário íntimo a não ser que a sua intimidade se resuma coisas como "cacei um antílope hoje. A lança ainda precisa de melhoramentos" ou "Tempestade forte, estai de proa enrolou com o vento, trepei mastro para soltar cabo, atingido por raio, queimaduras não muito graves, desinfectei com o resto do rum".

Mas devia fazer um esforço maior para tornar isto um diário íntimo a sério já que é isso que ele deve ser. Até tenho imensa coisa para dizer sobre mim e a minha intimidade e o dia a dia. Por exemplo: nunca usem o champô delas quando se acabar o vosso sem ver bem o que diz o rótulo. Acreditem, não querem um "extra caracóis & volume" se estiverem sem cortar o cabelo há 4 meses e tiverem uma reunião no conselho de administração nesse dia. Ah, e outra coisa, o meu champô de menta, daqueles que dão uma agradável sensação de frescura, faz-me arder a pilinha. Cuidado com esses champôs de sensação de frescura.

crítico lamechas

Na excelente entrevista do ípsilon ao jovem escritor americano Philipp Meyer, autor do American Rust (que ainda não li), afirma que não fez qualquer referência biográfica na sua escrita e que é incapaz de escrever sobre algo próximo. Diz que talvez no futuro possa fazer isso, mas só com distância. O autor viveu uns tempos na cidade decadente descrita no romance, para tirar notas e ver a forma como as pessoas viviam. Criou personagens e entrou na cabeça delas e desenvolveu um romance ficcional de pendor realista que retrata a decadência da indústria do aço americana nos anos 80. É uma obra ambiciosa e consciente. Meyer apercebeu-se que nenhum livro moderno tratava os efeitos da desindustrialização dos EUA com o advento da globalização. Os críticos comparam-no a Steinbeck. Philipp Meyer veio de livros rejeitados e trabalhou quatro anos no American Rust e meteu as fichas todas na mesa, largou um emprego em wall street, ficou falido etc. E conseguiu. Boa.

Estou a ler o Confraria do Vinho do John Fante e, apesar de não ter lido o American Rust, sei que é certamente superior ao certamente excelente American Rust ou a qualquer outro romance escrito na premissa de ser independente da biografia do autor, porque gosto do Fante, do coração atormentado dele e do sentido de humor e da honestidade. Se a uns mete nojo uma arte sem uma preocupação social, para mim, uma arte sem autor porreiro, não me comove tanto. Só isso, posso admirar na mesma.

É um bocado como o Woody Allen. É preciso alguma condescendência para aturar alguns dos seus filmes mais recentes mas, a morrer um realizador, um só, qual é o único que me faria ter uns momentos de silêncio e introspecção e, eventualmente, choramingar um pouco?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

bom dia


The Low End Theory. Jive Records. 1991.

Tribe produced one of the best hip-hop albums in history, a record that sounds better with each listen. The Low End Theory is an unqualified success, the perfect marriage of intelligent, flowing raps to nuanced, groove-centered production - AMG

Tolan Angels, go!

Está a decorrer a votação do blogue do ano num blogue chamado Aventar que eu, naturalmente desconhecia. O grande Anão Gigante fez-me chegar ao dito blogue por um comentário em que me avisou do referido concurso mas dizendo-me, erradamente, que o Tolan não tinha sido nomeado. Por curiosidade fui espreitar e o Tolan surge na categoria Diários de Bordo / diários íntimos e pessoais (em vez de Sexo / Erotismo). Só posso depreender que se tratou de uma pérfida manobra de diversão do Anão Gigante. Tenho 5 míseros votos, sendo que um deles é meu. Amanhã vou ter outro voto, quando usar o IP do escritório onde trabalho, portanto, 6 míseros votos. Mas às 4 que votaram em mim, sem sequer eu falar nissso, o meu sincero obrigado.

O único concurso que me interessa, obviamente, é o BILF da Quadripolaridades, que venci. Mas nem nesse pedi para ser nomeado. Sinto-me como Jackie Chan, sempre a dizer "leave me alone" ao grupo de gangsters que quer assaltar a mercearia da minha sobrinha e depois sou obrigado a usar os golpes de karaté que aprendi durante toda a vida convicto de que sou uma pessoa pacífica que quer que o deixem em paz. Fiquei com a impressão, devido ao BILF, que tinha Tolan Angels com poderes especiais, capazes de me eleger para Presidente da República se isso fosse necessário. Por isso, "unleash the demons!" Os homens também podem votar mas preferia que o fizessem discretamente e sem eu saber, porque me faz confusão essas coisas e preferia olhar para o número de votos e imaginar essa quantidade exacta de mulheres (menos os meus 2 votos em mim mesmo) em chaises longues à volta da piscina da mansão Tolan, sem macacos peludos de roupão com martinis na mão lá pelo meio. O meu ego é frágil e ávido. Se não ganhar, vou amuar e não vou postar 2, talvez 3 dias.

(nota: o blogue que está a ganhar na minha categoria chama-se A Cereja em cima do Bolo e tem template rosa e escreve coisas como «Adorei fazer o voluntariado há três semanas. Foi maravilhoso».... e vocês deixam? Estamos a combater as forças do mal aqui!)

justiça

Acosta é agredido por Paulinho Santos (os comentadores muito chocarreiros acham imensa piada a tudo) e minutos depois acaba com uma parte da cara metida para dentro, num belo exemplo de justiça bíblica que me fez saltar do sofá como se o Benfica tivesse marcado golo.


(ia postar sobre as minhas previsões de diferenças pontuais entre Benfica e Sporting que previ em Novembro do ano passado quando se chegasse à 2ª volta, mas preferi antes procurar um momento de união entre benfiquistas e sportinguistas para que possamos todos viver em paz e harmonia)

domingo, 15 de janeiro de 2012

pasteis de Belém e teologia


Quando foi nomeado, um amigo meu próximo ficou em estado de choque com o erro de casting. Para me convencer, começou por reduzir a cinzas o seu percurso académico. O tipo dava aulas numa "universidade lá fora" (medíocre), os seus escritos e artigos sobre economia eram meras enumerações de factos e evidências, sem uma visão consistente e definida. Mas o golpe que me convenceu foi a citação de bocados do Diário de um Deus Criacionista. O livro, para além de mal escrito e banal, é obra de um hamster deslumbrado, convencido não só da sua inteligência como da originalidade das suas ideias desenvolvidas na rodinha na sua gaiola. Ao contrário do meu amigo, que leva a economia e os destinos do país a sério, eu fiquei muito entusiasmado com o que viria ai: uma personagem digna do Eça, materializada no mundo "real" e debaixo de holofotes, sob pressão. O potencial cómico disto era enorme. Até vinha do estrangeiro e cheio de modernidades americanas (canadianas, enfim, foi o que se arranjou). As personagens do Eça não nos instigam ódio, pelo contrário, até sentimos alguma ternura. Não se pode achar o Álvaro má pessoa ou mal intencionado ou enervante como outros erros de casting (Fernando Nobre) ou aquelas pessoas que não entendemos bem a necessidade de existirem no nosso televisor (Miguel Relvas). Começou tudo muito bem com o seu pedido para que o tratassem por Álvaro, o primeiro sinal de modernidade e progresso civilizacional. Também foi gira aquela ideia da rede de abastecimentos low cost, a revolução nos transportes, a insistência nuns obscuros efeitos do fim da TSU, o fim da crise em 2012... Infelizmente, Passos percebeu o erro de casting (ou explicaram-lhe) e retiraram ao Álvaro a possibilidade de me entreter regularmente. Chegámos ao ponto de ver  um Ministro dos Negócios Estrangeiros (Paulo Portas) anunciar uma nova linha de crédito para as PME. Todas as semanas tiram ao Álvaro um dossier, uma pasta e remetem-no para uma semi-obscuridade que, junto de um grupo de imbecis fiéis, lhe dá uma aura de seriedade e trabalho: "ele não aparece porque está a estudar as coisas e a trabalhar, é uma pessoa séria e não está para mediatismos". A pessoa séria e que não está para mediatismos, há dias teve um momento alto, quando falou no pastel de belém. Podia ser uma metáfora de Cavaco Silva, mas não, referia-se mesmo às natas, ao pastel de nata. O risível não é o exemplo em si, que não seria mau se fosse inserido num discurso que abordasse os problemas estruturais que dificultam o empreendorismo e as soluções que um Ministério da Economia iria apresentar para potenciar o mesmo. Afinal de contras, estava a falar para empresários no papel de ministro da economia. Mas perante uma plateia de empresários incrédulos, Álvaro, intrépido e em modo entrepreneur Donald Trump style, expõe o seu plano de domínio mundial com um franchise de pastéis de nata e traça o paralelismo com o frango ao piripiri do Nandos, porque aquilo está cheio de estrangeiros a fazer fila todos os dias, eles adoram aquilo! Chega ali, dá uma ideia aos empresários, todo contente, e vai-se embora :) Veni vidi vici! É muito bom. Gostava que lhe dessem a pasta da cultura. Seria delicioso vê-lo sugerir a uma plateia de intelectuais que se "franchisasse" o conceito de sucesso do Shakespeare em 97 minutos em peças como Becket em 60 minutos, Tcheckov em 75 minutos ou Brecht em 45 minutos. Fica aqui a sugestão, tenho muitas saudades de Santana Lopes e dos seus violinos de Chopin, quando era secretário de estado da cultura no governo do pastelão de belém.

sábado, 14 de janeiro de 2012

bola

É oficial, desde o Benfica de Erickson que não me lembro de ver um Benfica a jogar o que este Benfica 2011 / 2012 joga. Quando o Setúbal marcou o 1-0 aos 6' só pensei "big mistake, não deviam provocá-los tão cedo" e o 4-1 final pecou por escasso. Consegui visualizar sportinguistas e portistas a bater palminhas lá em casa e a fazer zapping uns momentos depois, mal humorados. Já fiquei entusiasmado noutras épocas, particularmente na primeira época de Jorge Jesus. Aliás, fiquei talvez mais entusiasmado do que agora, mas era ingénuo e vinha de muito tempo sem um campeonato ganho de forma cabal. Fomos humilhados na Champions e pelo FCP em todos os jogos decisivos e não foi por acaso.

O Benfica de 2011/2012 faz esse Benfica campeão parecer um adolescente explosivo e sôfrego. Neste Benfica, há jogadas e detalhes tácticos que me comovem às lágrimas, fico com um nó na garganta. Há um leque de jogadores de topo, banco, soluções tácticas, variações de intensidade de jogo consoante as exigências do adversário e as circunstâncias. Há solidez mental. E fico feliz por o Aimar ter uma equipa que o mereça na fase final da sua carreira. A maturidade vem de, nas últimas duas épocas, termos uma equipa que em momentos decisivos se descaracterizava e isso poder voltar a acontecer.

No crescimento do Benfica, para além de peças novas magníficas, como Witsel, Artur, Garay, Bruno Cesar, Nolito ou Gaitan, e num acréscimo de mística, vejo o crescimento de Jorge Jesus que é hoje radicalmente diferente do que era há 3 anos: muito mais comedido, seguro e experiente a lidar com a adversidade e as expectativas. Jesus é a personificação do Benfica e tudo lhe é perdoado, mesmo frases engraçadas  como "somos livres de sonhar até onde nos deixarem" a propósito da Champions. Por mim, era o nosso Ferguson.

E a propósito de bola, que no meu blogue é um tema esporádico, o http://227218.blogspot.com/ do Diego fez um ano ontem e merece os parabéns, pela escrita, digna de um Aimar.

inimputável

Tribunal ordenou que fossem feitos novos testes psiquiátricos a Breivik, depois do primerio concluir que o autor dos atentados de Oslo e Utoya era psicótico e por isso inimputável. - DN

Este caso de Breivik é interessante porque é um problema filosófico colocado na prática. É impossível traçar uma linha objectiva entre a realidade e o mundo percebido de cada um, pelo que seríamos todos inimputáveis até um certo ponto. Um tipo como o Rei Ghob foi já considerado lúcido e consciente dos seus actos por peritagens. Já Breivik, que parece de outro campeonato, é considerado inimputável. Notem que a própria existência de uma segunda peritagem no caso de Breivik revela bem a ambiguidade do processo de avaliar se uma pessoa é ou não responsável pelos seus actos. Os advogados de defesa de assassinos como o Renato Teixeira, tentam sempre ir por essa via, do episódio psicótico, do "não estava consciente do que estava a fazer". O exemplo das confissões de oficiais nazis nas Entrevista de Nuremberga a um psiquiatra americano, já me tinham demonstrado esse paradoxo. A maior parte dos oficiais não se considerava responsável (ou imputável) porque "seguiam ordens" ou "não sabiam a verdade" ou "estavam a ajudar o povo alemão". Outros eram perseguidos por demónios ou queriam evitar a verdade (Goring suicidou-se). Mas penso que só um, pelo que me lembro, admitia que merecia morrer. E fazia pena. E é muito estranho ver alguém que se conforma com uma pena, que a considera justa, ser efectivamente condenado. Não estou a dizer que seja justo ou injusto, digo apenas que me causa estranheza e mal estar. De facto, causa-me menos estranheza a execução de um criminoso psicótico sem remorsos, como Breivik, do que de um consciente dos seus actos e cheio de remorsos, porque no segundo reconheço um humano e uma consciência que irá sofrer um castigo. Há episódios de Budha que vão neste sentido: o perdão ao criminoso que tem consciência plena do acto que cometeu. E o perdão é imediato. A Bíblia também tem uma cena qualquer que tenta aproximar-se disso, com aquilo do bom e do mau ladrão pregados ao lado de Cristo, só que morrem os três, crucificados no fim, para efeitos práticos. Imagino que as prisões estejam cheias de tipos que, volvidos anos de cativeiro, não se reconhecem minimamente no homem que cometeu os crimes que os puseram ali, dando a sensação de se estar a condenar "outra pessoa". Lynch, um budista, explora este aspecto no Lost Highway, quando um protagonista substitui inexplicavelmente outro que estava na cadeia ou nas outras transmutações de espaço e tempo que ocorrem ao longo do filme (o músico jazz assassinou a própria mulher e ouve-se a si mesmo do futuro a falar com ele no presente, etc.). Nem me parece certo que a pena de cadeia ou a proximidade da morte por execução seja necessária para um processo de mudança. Um caso exemplar foi o de George Wright, velhote pacato e afável a viver em Sintra, cuidando dos seus passatempos, décadas depois de ter sido um violento criminoso. Onde traçar a linha da prescrição de um crime? Um dia, um ano, dez anos, uma vida?

Para concluir, e porque não gosto de deixar problemas em aberto e prefiro sempre dar uma solução mesmo que seja temporária e errada, a vantagem da punição, para além de um efeito dissuasor, é sobretudo a de repor um equilíbrio na nossa percepção de bem e mal. Estar no sofá a ver o telejornal, com a família, e pensar "a justiça foi feita" ajuda à digestão e a um sono tranquilo. A sensação de que um criminoso é punido e a justiça é feita é benéfica se a generalidade da sociedade o considerar como tal. A justiça é inteiramente relativa e enquanto for considerada relativa, é um mal menor.

O mal maior advém dos que lhe atribuem um carácter absoluto que só pode vir de inspiração divina, como é o caso dos fundamentalistas islâmicos a caminho de impor a sharia no Egipto depois da "primavera árabe", ou dos cristãos americanos que defendem a pena de morte com base no bíblico olho por olho, dente por dente.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

apelo aos especialistas de portunhol dos jornais desportivos...

...parem, por favor, de traduzir "ilusión" por ilusão.

"ilusión" naquele contexto será sonho ou esperança e não "ilusão". Vejam se entendem isto de uma vez por todas por amor de Deus. Sinónimos de ilusão: alucinação alucinamento delírio desvairamento desvairo desvario devaneio ilusão oura tresvariar visão aparência ar aspecto disfarce exterioridade fachada ficção

O sentido de frases como «Vou com a ilusão de jogar e conquistar o meu lugar» vinca Matías Rodríguez é um tanto ou quanto estranho, não?

Fazem dos jogadores que falam castelhano uns gajos bestialmente deprimidos e muito pouco confiantes, cheios de ilusões que eles próprios identificam.

adaptação

Não suporto a subjugação. Custa-me que um presidente da república fale para “os portugueses” convencido que está a falar para mim e que aquela encenação da bandeira e do hino me diz alguma coisa e que lhe confere autoridade. A revista às tropas, a hóstia, o congresso do partido, os comunistas todos a entoar a internacional, os católicos na missa, ajoelhados e o padre a ler um livro escrito para entorpecer as massas, o juiz pomposamente vestido de toga num pedestal, o jubilar de um professor, o colar da ordem , a árvore de natal e o presépio, a ordem do grão duque do raio que os parta, os trajes académicos e a bênção das fitas… O progresso é a destruição das encenações, é assim que vejo a minha utopia, sem religião, sem nacionalidade, sem nada que valha a pena viver ou morrer por, assim à John Lennon. Uma utopia é uma utopia e a minha não foge à regra: é impossível de atingir. Porque para se atingir, precisaria de existir um grupo mais forte que os outros que se lhe iriam opor e isso tornava-te igual a eles, se querias seguir o John Lennon ias parar a hippie e vestir aquelas roupas e fazer aqueles rituais e seres um imbecil como eles. Mesmo a anarquia envolve-se em rituais e símbolos que os identificam como anarquistas. A única forma de criares um grupo forte é pelo ritual e pela encenação. Não se cria um exército, nem se ganham votos ou poder de outra forma. Por isso, homens puramente livres estão condenados a vaguear como fantasmas entre os escravos que são mais ferozes e violentos do que eles ou então dares em doido. Para não seres um fantasma ou não dares em doido, adere a rituais inofensivos, que é o que faço, ao Benfica, a vestir o fato quando vou a clientes, à árvore de Natal, às prendas no aniversário, ao arroz atirado para cima dos noivos no casamento, não faz mal, sê um deles, aceita o que não mexe assim tanto contigo e não é assim tão grave e até te pode divertir, é a única coisa que interessa. Se algo de grave se passar, algo que te impeça de seres livre, então adere ao grupo que combate isso da forma mais eficaz até venceres, depois adere a outro grupo que combata esse grupo, muda, adapta-te.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

o artista não é na realidade um artista

É verdadeiramente cretino isto que te vou dizer, mas é totalmente verdade: o meu leitor ideal é uma mulher. Eu tenho de escrever "para seduzir" e só tenho piada nessas fases porque estou motivado a isso. Se não é para que miúdas interessantes se apaixonem por mim, perco completamente a pica. Eu comecei a escrever por causa disso, mas não foi consciente, na altura não identifiquei o que era. Mas digo-te, não é por dinheiro pelo menos, nem sequer por estatuto ou por fama ou vaidade. Por outro lado não é também por amor à arte ou raio que o parta. Não sei o que estou a fazer. Se me apaixono e tenho assim uma namorada, uma vida boa, hei, meto a escrita de lado, não me apetece, não preciso dela entendes? E então desisti de ter namoros porque gosto de escrever porque quero ter a namorada que não tive aos 15 anos e é um ciclo vicioso. Infelizmente, o Autor não segue a mesma vida. O Autor tem assim uma miúda e está todo embeiçado, já vi no que aquilo vai dar. Ela vem cá a casa e ele esconde-me os cheetos e as garrafas vazias de cerveja, a roupa espalhada pelo chão, o volante da playstation e fecha-me no roupeiro. Oiço-lhe a voz grave a debitar piadas e risos femininos. Espero que ele consiga de vez em quando ter problemas graves com ela, arranjar uma discussão forte, umas separações e escreva alguma coisa de jeito. Não sou eu que escrevo os romances, é ele. Mas os romances demoram mais tempo a escrever e é preciso ele estar mesmo ali no ponto certo do anhanço meets raiva meets amem-me! meets suicídio, enfim, é uma questão de esperar. Ele já me disse que conta comigo, que tenho de ser eu a fazer tudo e ele só assina, pediu-me por favor por favor por favor, só quer ser uma pessoa normal, ter filhos, o bmw, esse tipo de coisas, não quer estoirar tudo sempre e tem-me trazido malgas de cheetos e cerveja boa quando ela não vem. Vou pensar no caso dele. Há uma casa no jardim (temos um jardim). Se calhar mando-o fazer obras e instalar lá uma secretária e uma cadeira, para eu poder trabalhar enquanto ele brinca aos casalinhos e aos planos de viagens a nova iorque e discutem nomes de filhos. Às vezes sinto que em Auschwitz teria um ambiente mais propício à criatividade.

Tomem:

globalização, o verdadeiro significado

Este automóvel é um jaguar xj de 2007, aqui assim ao pé da ponte 25 de Abril, todo bonito:


Aqui, o presidente da Tata compra a jaguar land rover em 2008. Há um inglês na foto. Suicidou-se poucos dias depois.


O presidente da Tata tem uma visão inovadora para o ramo automóvel...

... depois do motor de combustão interna, a Tata apresentou o carro de combustão espontânea.

.. entretanto, isto é um jaguar xj de 2011.


as pessoas até nem são assim tão complexas

Nabokov, entrevistado no programa Apostrophes, em francês, com legendas em espanhol: 4 mil views.



Nyan cat:
60 milhões de views.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A minha forma de entender física quântica

 Sou uma pessoa curiosa e informada e às vezes farto-me dos livros de divulgação científica que usam bonecos com vaquinhas a levar choques em cercas eléctricas para explicar a teoria da relatividade e tento ir à real stuff e pesquiso papers. Contudo, os meus conhecimentos de física quântica ficam-se pelos bonecos das vaquinhas e a minha interpretação dos papers é sempre um bocadinho livre.

Higgs boson coupling behavior at large top quark coupling in the standard model
Comportamento sexual do bosão de Higgs com grandes casais de topo de quarks modelo standard


We consider the U(1)×SU(2)×SU(3) gauge theory and use the one-loop renormalization group equation for the Higgs coupling λ as a function of ε=gt2/g12 desconfio logo quando alguém começa uma frase com "we consider"... we consider... We quem? As coisas são ou não são, se é preciso ele começar uma teoria todo com um "consideramos que" está aberto o caminho à bandalheira. The behavior of the function x(ε)=λ(ε)/g12 at large ε is studied. temos aqui um marrão com os trabalhos de casa em dia. We estimate upper bounds on both Higgs boson (mH) and top quark (mt) masses which depend upon the embedding scales Λ on which a nonstandard new physics appears. nem tenho aquele V ao contrário no teclado... como é que se faz aquilo? Insert symbol... Λ :) Win! Thus, for Λ=1 TeV one finds mH123 GeV at mt=180 GeV. espera, espera, faz lá essa continha à minha frente na calculadora In our picture the Higgs particle should not be much heavier than 0.3 TeV. eu penso sempre o mesmo antes de pegar numa miúda ao colo à cena macho romântico, ah e tal, não deve pesar mais de 0.3TeV mas depois vai-se a ver e pesam mais que um leitão, lixei as costas umas poucas de vezes e ainda por cima tinha de fingir que estava tudo bem If we expect that the new physics has to appear in the 1 TeV region, our model gives roughly the same upper bound on the Higgs boson mass in the range of the top quark mass between 180 GeV and 200 GeV o problema meu amigo, são as expectativas... sabes lá se vai aparecer na região 1 TeV ou região Norte Centro Searching for the physical Higgs boson at the CERN LHC (the ATLAS program) would allow us to indicate where the new unexpected physics has to be natural. Hmm. Eu apostava que é natural.




Depois de ler umas coisas destas, estou preparado para qualquer diálogo sobre o tema:

- Então Tolan, viste ontem a notícia sobre aquilo do CERN? Da origem do universo e do bosão de Higgs? Como tu és todo dessas cenas...
- Não precisei de ver a notícia... eu já sabia disso. Eu já sabia que o universo tinha começado num bang antes de ser big.
- Então explica lá.
- Então, é assim... o bosão de Higgs precisa de quarks....  Muitos quarks e dos grandes. De topo. Há outros quarks que são os pequeninos e mais de baixo. Esse não interessam. Depois há a questão da massa do bosão. Há uns assim magrinhos e outros mais pesados. Estou a usar esta linguagem simples porque se não usar esta linguagem não me faço entender ok?
- Ok.
- Bom. Os bosões podem aparecer numa região especial que é acima de meia dúzia de tevs, mais coisas menos coisa e quando isso acontece, as leis da física tornam-se inesperadas e os quarks desaparecem e começa um universo.
- Mas o que era aquela notícia do CERN? O acelerador de partículas, o colisacionad... colisonad...
- Colisionador de Hadron. É porque ocorrem colisões de Hadrons entendes? No CERN fazem as experiências com os Hadrons. Porque os bosões são lixados de encontrar percebes? É preciso um túnel muito grande tipo pista de atletismo. Depois deixam assim um rastinho de quarks no chão do túnel e o Hadron vai por ali a correr muito rápido a comer os quarks como o pacman e PIMBA, vai de frente com uma parede e explode e parte-se em bocadinhos: os bosões. E tira-se uma fotografia tipo raio xis à procura dos bosões, só que até agora nunca conseguiram apanhar nenhum.

novidade

A novidade fascina-nos, mesmo que não sirva para nada. Termos um objecto que nunca existiu antes e que faz coisas nunca feitas, nem que seja jogar ao angry birds num ipad com ecrã maior que o do iphone, dá uma sensação de pioneirismo, de viver no limite da evolução humana, de ser um privilegiado à face do planeta terra. Ter a novidade antes dos outros também é importante uma vez que dá status. Mas a busca pela novidade por vezes causa uma decadência estética. Não é, de todo, o caso da Apple. Digo isto para aqueles que pensam que este post ia ser mais um sobre o meu desprezo pelo Steve Jobs. Não senhor. Mas a novidade pode deixar de ser melhor, para passar apenas a ser diferente. A roupa made in china é cada vez mais descartável por princípio, a regra é usar e deitar fora. Mas há coisas que são melhores de ano para ano. As televisões, por exemplo. Melhores e mais baratas e mais económicas. Já os automóveis, tendem a ser melhores do ponto de vista tecnológico mas por vezes são simplesmente feios. Os poetas continuam a não servir absolutamente para nada, pelo que nem sequer podemos falar de evolução. Estava a tentar lembrar-me de experiências recentes em que me senti humilde e em transe perante uma experiência de novidade com qualidade estética (sem contar com algumas jogadas do Benfica 2011/2012).

Uma vez, foi quando passei no Hotel Unique em São Paulo, do arquitecto Ruy Ohtake, todo ele magnífico, a lembrar um barco, carregado de detalhes surpreendentes mas esteticamente válidos e elegantes...


...com quartos que não cheguei a ver mas que parecem divertidos até para andar de skate nos intervalos dos powerpoints...



... mas o que me levou às lágrimas foi o Bar, uma parede de prateleiras gigante a subir por ali acima, cheia de garrafas translúcidas, coloridas, brilhantes como esmeraldas, rubis e diamantes... Parecia que Deus e o Diabo se tinham juntado para desenhar um sítio onde pudessem confraternizar e ignorar os meros mortais, até porque as garrafas, a maior parte delas, estavam completamente fora do alcance do barman, estavam ali apenas como jóias inacessíveis e mágicas!

(felizmente, o barman tinha todas as bebidas necessárias para bloodymarys acessíveis debaixo do balcão)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Carta aberta à pessoa que comprou o Porsche Panamera e o tinha em frente ao Pingo Doce de Alcântara

Hoje de manhã vi o teu Porsche Panamera e fiquei deprimido. Só o tinha visto em fotos e como tal, alimentava a esperança que não passasse de um sonho mau.


Vê-lo ali materializado à porta de um Pingo-Doce, foi uma coisa perturbadora. Não entendo porque fizeste essa escolha de viatura auto-motora. Uma viatura dessas começa nos 97 000 euros e na versão S vai aos 143 0000 euros, versão que tu não adquiriste, talvez numa réstia de bom senso. Tudo isto contradiz a minha fé inabalável no capitalismo como ambiente propício a uma justa selecção natural. Se tens um orçamento a rondar os 100 mil euros para viatura e eu não, submeto-me à evidência que és mais forte do que eu. Mas no capítulo do bom gosto, nessa escolha de carro aproximas-se das escolhas de indumentária do Manuel Luís Goucha. E todos sabemos que o bom gosto é essencial para a sobrevivência na selva de hoje. Bom, pensando no Cristiano Ronaldo, se calhar não é. Mas devia ser. Com esse rico dinheirinho, há tanto carro bonito que podias comprar e ainda te sobrava para comprar uma VW Passat carrinha de 2007 para as idas ao Pingo Doce. Não se vai de Porsche ao Pingo-Doce, por Deus. E não vi, mas digo-te já que não se têm cadeiras de bebé no banco de trás de um Porsche a não ser que se seja divorciado.

Sem mais,

Tolan




A Porsche decaiu muito nos últimos anos e vai continuar o caminho de ser uma VW premium. O Jeremy Clarkson explica porquê:

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

In Aufruhr

Olá, estes são os Extrawelt. São alemães como a Angela Merkl e o Goethe (famoso pelo instituto).


Fazem música electrónica do género minimal para depois por a tocar nas fábricas e nos escritórios e motivar as pessoas a produzir mais. Fazem-no desde 1970 e é a razão do seu sucesso. Também usam a música como estimulante para conduzir na autobahn a 250km num carro alemão. Os alemães não são de grandes festas. Muito pouco efusivos. O instrumento preferido é o rato do computador e improvisar significa rodar um botão de filtro para a esquerda em vez de ser para a direita. Penso que podem exercer uma boa influência junto de nós, portugueses indisciplinados e com tendência para ter "sentimentos".




(agora um truque muito giro, no youtube podem escolher a definição do video não é? 240p, 360p, 480p, 720p e mesmo HD a 1080p... mas o que não sabiam é que isso tem influência no som. Não sabiam pois não? É verdade, a 240p ou 360p isso tem uma bitrate nojenta de 64kbs que, felizmente, já nem se encontra nos mp3. 128kbps é o mínimo. De 720p para cima já tem uma variable bit rate que pode ir até aos 240kbps. Dado que este video (e outros do género) são só uma imagem estática, não perdem nada em escolher ver em HD. Se não conseguem perceber a diferença de som, então sugiro que oiçam a rádio cidade online por exemplo, é mais adequado aos vossos ouvidos embrutecidos)

como matar um escritor

É complicado ser o escritor maldito quando o Autor me borrifa com perfume só porque vem cá uma miúda a casa. O Bukowski alguma vez se borrifaria com perfumes? Sinceramente, sinto-me ridículo, todo cheiroso e lavadinho. E depois esconde-me o volante e os pedais da PS3 e o headset, tudo debaixo do sofá da sala, à pressa, junto com o resto da pizza congelada do dia anterior… quem é que ele quer enganar? Porque se dá ao trabalho? É só uma rapariga! Elas não sabem jogar Battlefield sequer :P Não sabem fazer nada de jeito e depois são emocionais e dão-nos pesos na consciência por tudo e por nada, estamos sempre a fazer tudo mal e a magoar “sentimentos” só porque nos esquecemos delas na estação de serviço. Não dá para fazer meia volta rapidamente na autoestrada, mas explicar isto a uma rapariga com tpm... Estão sempre a tentar mudar-nos, começam por dizer "gosto de ti como és" mas é só até descobrir os restos de pizza e depois "como és" transforma-se no "como eu quero que tu sejas" e percebemos que sim significa não e que talvez significa não e não significa não. Uma rapariga só atrapalha um artista. Ele uma vez pôs jazz na aparelhagem quando estavam a jantar. Como se ouvisse jazz. Tem dois cds tipo best off do jazz. Nem é de um músico em particular, é do “jazz”. E tudo porque ela lhe respondeu que "gostava de jazz" quando ele lhe perguntou "gostas de jazz?" É daquelas coisas que todos dizemos não é? Até podemos dizer "gosto mas não oiço muito". E nisto nasceu um equívoco entre os dois, ela vai continuar a falar do John Davis e do Miles Coltrane e ele embevecido a dizer "perfeitamente, perfeitamente" e eu vou ter de assistir a esse espectáculo deprimente. Enquanto isso, a grande literatura adormece, perfumada.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

um fim de semana santo para todos

escolhe artista, escolhe

...teres elevados padrões artísticos estéticos e socializantes:

Yellow Sarong dos The Scene is Now (original)

...seres audível:

Yello Sarong dos Yo La Tengo (cover)

ali, especificamente, mandam eles

Sporting forrou acesso a balneário com imagens que exaltam violência - Público
«Adeptos das claques em poses agressivas, desafiando os seguranças. Outros de cara tapada e com tochas na mão. Outro numa pose que sugere uma saudação fascista. Outro ainda com um tatuagem com a cruz de ferro (...) Paulo Pereira Cristóvão, assumiu em entrevista ao jornal do clube, em Agosto, que houve obras no estádio: “Aqui mandamos nós... somos o Sporting”, disse, na altura.»
 

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

antes era capaz de escrever sobre livros e agora já não sou

Olá. Este livro é o Ada Ou Ardor. Ada é o nome de uma miúda e não de uma pomada contra queimaduras solares. Ah. ah.

Este é o Nabokov, que foi quem escreveu o livro Ada ou Ardor, o Lolita, o Convite para uma Decapitação e o Dom e até um sobre Gogol, tudo livros que o Tolan já leu, porque é uma pessoa muito culta.

A bem da verdade, ainda estou a ler o Ada ou Ardor. O senhor Nabokov também era borboletófilo ou borboletífero (não é o nome científico correcto, mas é um do género, para designar uma pessoa que estuda borboletas). Também era sinestésico, que são aquelas pessoas que confundem visão com som e som com visão e que por isso acham muito ambíguo o título do álbum Sound and Vision do David Bowie. Os livros do senhor Nabokov do género deste Ada ou o Ardor, pautam-se por um certo desprezo intelectual pelo leitor. Nunca sei se estou a gostar do que leio ou a ser insultado, provavelmente ambos. Ele mistura coisas, entendem? Não, não entendem. Como é que eu hei de explicar isto... É como uma criança prodígio emancipada e com muitas coisas na cabeça. Às vezes ele consegue escrever assim umas frases que nunca existiram antes, mas não sei até que ponto o propósito dessas frases, que no conjunto formam um romance, não é precisamente o de ser uma coisa que nunca existiu antes. Às vezes dá vontade de o abanar e exigir "sê normal pá, o que é que queres dizer? porque não o dizes? Porque tens de inventar nomes de continentes e palavras inexistentes e falar tanto de borboletas?" só que isto da literatura não é a mesma coisa que comunicação, como aprendemos na escolas, nem sequer comunicação unilateral, do estilo, só o autor é que comunica connosco. Este é um daqueles autores que tente a remeter o leitor para um papel de observador enquanto ele vai fazendo as suas coisas. Isto é patente nos diálogos de narradores, os amantes Ada e Van, que se interpelam um ao outro e dão a sensação de estarem a escrever um para o outro, na presença um do outro, num jogo que é secreto e com regras próprias, como acontece entre amantes dignos desse nome. E pronto.

Vocês podem não acreditar nisto, mas só agora li esta citação:

"uma obra-prima de ficção é um mundo original e, como tal, não é plausível de encaixar no mundo do leitor" - Nabokov

Eish. Tungas.

os comentários a jornais portugueses são de facto interessantes

(DN, 5 de Janeiro)

Utilizador Não Registado
oscar alho
05.01.2012/09:20

esperimentem googlar amadora, por imagens. é que eu estava mesmo à procura de imagens da cidade da amadora, não disto, quando quero gajas sei onde ir. e em tantas outras buscas inocentes me deparo com cenas destas. qualquer um criança ou não está sujeito a dar com pornografia na net.



Utilizador Não Registado
Amadora?
05.01.2012/09:42

Se queres ver pretos googla Africa!

ontem apanhei um bosão de Higgs com uma caixa de fósforos

bosão de Higgs é esquisito, soa-me a estado de embriaguez, uma embriaguez tão forte que uma pessoa desafia as leis da física e isso, tipo grande bosão que o Higgs apanhou ontem



ou então é um palerma: aquele Higgs, saiu-me um grande bosão!

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pingo Doce, Sabe bem pagar tão pouco

Rebentou nas mãos da Jerónimo Martins o discurso do Pingo Doce muito "tuga" e da "terrinha" e "das pessoas", com esta história de mudar a sede para a Holanda. A assinatura da marca então, é perfeita. Pôs-se a jeito.

Considero errado que empresas deslocalizem as sedes do sítio onde exercem actividade económica, em função de benefícios fiscais... mas não as posso censurar muito mais do que isso. O problema é a existência das próprias assimetrias fiscais. A prática de deslocalizar a sede é generalizada nas multinacionais.

Países como Luxemburgo, Bélgica e a Holanda têm regimes fiscais destinados a atrair sedes e capitais de multinacionais. Isto não cria apenas assimetrias entre países, mas também entre pessoas colectáveis. Não é qualquer empresa ou particular que pode fazer estes malabarismos fiscais. E isso é injusto.

Devo dizer desde já que nunca na minha vida comprei um chocolate, relógio ou canivete Suíço, não simpatizo com um país que vive das assimetrias legais e fiscais. Não gosto da Suíça desde que li livros da II Guerra Mundial, ou seja, desde os 4 anos. Não gosto de um país que tem a mania que é bom, neutro, pacífico, tolerante e ético, e depois tem os cofres cheios de dinheiro da droga e tráfico de armas e uma extrema direita efectiva que nem deixa os chamuças e os pakis terem os seus minetes sossegados lá no telhado das sinagogas deles. Mas a Suíça está fora da união monetária, tem o frango suíço e pronto, é auto-determinada e faz o que lhe apetece.

Na união monetária, contudo, parece incomportável a existência de grandes assimetrias fiscais. Para mim, como para a minha querida Angelita Merkl, não faz sentido uma união monetária sem harmonização fiscal. Por isso, tal como a Angelita meteu o Cameron mais a sua city londrina capitalista selvagem na rua, tal como disciplina os nossos "estados sociais" que na prática não sobrevivem sem a mama do endividamento, espero que vergaste ferozmente a Holanda, a Bélgica e o Luxemburgo. E se isto for uma utopia, ok, saímos do euro e cada um pode ser uma suíça ou uma venezuela, consoante a autodeterminação dos respectivos povos e exércitos.

finalmente os videojogos têm o tratamento romântico e poético que merecem

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

flannery o'connor

Através da Cavalo de Ferro descobri este blogue brasileiro sobre a Flannery O´Connor. Gosto muito da Flannery O'Connor, é um dos meus escritores preferidos de sempre.


“Por favor agradeça ao senhor W. P. Southard por gostar das minhas histórias. Eu fico sempre muito feliz de saber que tenho um leitor de qualidade porque eu tenho tantos que não são. Eu recebo cartas de pessoas que eu mesma deveria ter criado... (como) uma de um jovem rapaz da Califórnia que está começando uma revista chamada Carro-Fúnebre – “um veículo a transportar histórias e poemas para o grande cemitério do intelecto Americano”. Depois eu recebi uma mensagem de dois estudantes de teologia da Alexandria que disseram ter lido Sangue Sábio e que eu sou a garota pin-up deles – a mais ameaçadora distinção até o presente momento. Eu recebi uma carta realmente assustadora de uma garota de Boston sobre o conto Um Templo do Espírito Santo. Ela disse que era Católica e que por isso não conseguia compreender como é que alguém era capaz até mesmo de TER aquele tipo de pensamento. Eu escrevi para ela uma carta que poderia ter sido assinada pelo bispo e agora ela é firmemente minha amiga e me escreveu dizendo que o marido dela está fazendo de tudo para ser Procurador Geral mas ainda não conseguiu. Eu queria que alguém realmente inteligente me escrevesse de vez em quando, mas parece que atraio principalmente lunáticos.”


Flannery O´Connor
em carta para Robie Macauley – 18 de maio de 1955.