terça-feira, 30 de outubro de 2012

verificação de palavras

Blogueiros, façam um favor à humanidade: definições -> mensagens e comentários ->mostrar confirmação de palavras -> mudar para não. Vocês deixaram essa merda ligada por defeito quase de certeza e acham que há aí uma horda de robots que andam a encher as caixas de spam se não ligarem isso. Sinceramente, ninguém vos lê ou quer comentar, pelo menos, com muita vontade, nem sequer os robots. Desliguem isso. O comum dos mortais costuma desistir à 2ª tentativa de tentar distinguir um "l" minúsculo de um "i" ou três n's de um m e um n. O novo sistema da blogger até introduziu fotografias desfocadas com o que parecem ser números de portas e isso só me lembra experiências desagradáveis relacionadas com noitadas muito pesadas em que andava para trás e para a frente na minha rua até dar com o prédio.

Ou então deixem isso ligado e deixem que apenas as pessoas com capacidades de criptografia avançada e lentes correctivas vos comentem. Isso e bots de spam mais sofisticados que pelos vistos justificam o constante subir da barra na dificuldade de um gajo provar que não é robot. Qualquer dia o teste pede-nos para ligar a webcam e chorar perante a imagens tristes de gatinhos bebés esfomeados e sorrir perante imagens felizes de arco íris e póneis.

plano



Vou escrever um livro que seja recomendado por programas de escolas. O truque é ter como protagonista uma professora do estilo daquele prof do Clube dos Poetas Mortos, assim do estilo inconformada, espontânea e que diga muitas vezes carpe diem. A professora depois vai mudar a vida dos meninos. Vai haver  um pretinho das barracas que deixa de bater nos outros meninos, um chinezinho das lojas que aprende a sorrir, um homossexual que se assume, um betinho católico que deixa de ser de direita e passa a ser boa pessoa, um gordalhufo que corta nos doces e faz dieta etc. Haverá alguma crítica social, mas focada em problemas abstractos intemporais (a injustiça, a pobreza, esse tipo de coisas). E todos aprendem o poder do Livro. Os livros, no meu livro, terão propriedades mágicas: curam com o toque, voam, falam, cozinham melhor que uma bimbi... São Amigos. São Companheiros. E com isto espero que seja incluído no plano nacional de leitura ou noutro plano que venha a existir assim do género. Evidentemente, vou escrever com um pseudónimo timorense, estive a investigar e não há nenhum timorense nestas coisas (espero que não haja porque a verdade é que não investiguei). Será um timorense que combateu nas montanhas e que depois da independência de Timor preferiu ficar na selva a escrever livros para crianças, recusando o poder e o dinheiro que poderia ter tido. E que chorou de alegria quando Portugal deu as mãos e meteu paninhos brancos por todo lado. Estava em pleno combate contra o exército de Suharto quando soube disso, os morteiros caíam à sua volta e tudo e ele meteu na cabeça que se sobrevivesse, iria retribuir aos portugueses o esforço de darem as mãos na rua e meterem os paninhos brancos com livros que fizessem com que as suas crianças lessem mais e fossem mais ricas na idade adulta. Porque se ele sobreviveu na selva durante duas décadas, foi graças aos escritores portugueses que leu e que lhe fizeram companhia e deram ânimo. Se fizer o pleno de inclusão nos programas de português, talvez  consiga comprar um SLK200 novo (é lindo, parabéns à Mercedes) com um salário de escritor, coisa que neste momento me parece muito difícil e que por isso me desmotiva bastante.


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

muita bom

apaguei  o post do vieira ali em baixo (depois de o ter reduzido para 10% da dimensão do post original),  às vezes escrevo mais para dizer coisas e não necessariamente para ser lido ou ouvido e depois de escrever já não sinto necessidade daquilo estar ali e então apago, o blogue é meu e faço o que eu quiser. Sei que ninguém disse nada, mas pensaram e vocês não mandam em mim. Agora calem-se e bom fim de semana.




A maturidade



Thomas Mann escreveu os Budenbrook dos 21 aos 26 anos, a sua primeira obra e logo uma de quase 700 páginas. Impressiona a maturidade do estilo e da escolha do tema. Em ponto algum (vou a meio) se percebe qualquer traço da juventude do autor. Não o digo como uma crítica ou um elogio, é só uma constatação. A dedicatória cque faz à irmã na parte 3 do romance é própria da melancolia e afecto sereno que poderíamos encontrar numa pessoa de idade que já se resignou a uma vida de contemplação e meditação. Quanto ao livro, trata-se da história de sucessivas gerações de uma família meio aristocrata da alta burguesia que entra em decadência naquele século de transição (XIX) em que os valores da revolução abalam as hierarquias centenárias e um novo mundo, global, incerto, tumultuoso, se começa a desenhar.  Outro tema central da obra de Mann está aqui também: a relação entre a criatividade ou o génio e a decadência, um conceito muito alemão com os seus Goethes e Nietzsches. É curioso como as personagens se tornam mais humanas, sensíveis e interessantes à medida que sofrem. As próprias relações familiares e amorosas, tão formais nas gerações mais antigas, tornam-se mais espontâneas e complexas nos jovens que lhes sucedem. Há aqui muito Dostoievski, mas um Dostievski domesticado, civilizado, continental, alemão digamos assim. Isso resulta num estilo um pouco frio e detalhado, próprio do Thomas Mann, mas que permite um enorme contraste dos momentos críticos na narrativa, como quando o cônsul Bundebrook setencia a desgraça do aldrabão marido da filha ao recusar-lhe mais dinheiro para o salvar da falência com um “Controle-se.  E reze.”  Este controle-se e reze fica a ressoar na mente do leitor como uma coisa violentíssima. A morte do cônsul é outro desses momentos, este grotesco. Uma personagem central na história, descrita ao longo de 180 páginas como formal, educada, cristã, dedicada ao trabalho e à família, tem direito a uma morte relatada pela empregada simplória que o encontra no escritório, a olhar para o vazio, muito amarelo, a balbuciar aaa aaa.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ornatos

não gosto muito de Ornatos Violeta. Se me dessem 1 euro de cada vez que alguém que gosta de música fixe me insulta por não gostar de Ornatos Violeta tinha hoje o suficiente para almoçar num restaurante daqueles com menus a 4 euros (não conheço assim tanta gente e os outros são educados e não me insultam). Um problema dos Ornatos é produção: sobre-carregada, a voz tem um timbre que acho um bocado desagradável e histriónico e que preenche demasiado as músicas, conferindo-lhes uma espécie de climax constante (as músicas arrancam cheias de pressa para ir dar a lugar nenhum) que nunca se resolve e que por isso resulta numa coisa sem dinâmica. A melhor palavra para descrever a sensação que as músicas deles me provocam é algum cansaço e indiferença.



Esta música dos Ornatos (escolhida ao acaso, há outras muito piores, como aquela do agora quero mijar) tinha potencial mas aos 0:55 já está a entrar numa cena de climax catártico com camadas e camadas de ruído e aos 0:57 em vez do gajo ficar calado lembra-se de berrar Aahhhh ahahhhhhh ahhhhhh Porquê? Que mal tinha respirar um bocadinho e deixar um bocado de espaço aos arranjos e talvez gritar no fim? Aos 1:55 acontece o mesmo. Podia ficar calado mas continua a gemer até um climax que é exactamente igual ao inicial. O ruído de fundo tornou-se indistinto e cacofónico, diluído em camadas sobrepostas em que os riffs do teclado e da guitarra começam simplesmente a colidir uns com os outros tendo por pano de fundo uns arranjos de cordas insípidos e a armar ao épico que se esganiçam por também serem ouvidos no meio daquela algazarra toda. A voz não consegue acompanhar o crescendo porque já deu tudo o que tinha a dar no início e sente-se perfeitamente que o gajo está com falta de ar a debitar os últimos versos.

E agora uma música que me fala da Plaft e dos seus lindos olhos verde mar na tv em anúncios e que é, a todos os níveis, uma coisa de altíssimo nível internacional (a música, mas a Plaft também)

vou soltar os astro zombies

Depois de uma adolescência a ouvir Pink Floyd, Dire Straits, Led Zeppelin e Eric Clapton, é depois dos 30 que mais me identifico com a música punk e as suas letras profundas e metafísicas. De que merda é que um puto tem de se queixar, comparado com a vida de classe média casa-trabalho-casa amochanço reuniões meter papel na impressora ar condicionado café na copa e almocinho de menu todos os dias férias contadas sugado pelo IRS. De estar aborrecido? Os pais não o deixam sair à noite todos os dias? Não lhe dão mesada para comprar gormitis? Nem sei o que são gormitis e se são adequados a crianças de 16 anos.



 Oh, all I want to know
All I want 


With just a touch of my burning hand
I send my astro zombies to rape the land
Prime directive, exterminate
The whole human race 


Isto sim, isto toca-me cá no fundo quando o telemóvel me acorda às 8:00, quando a impressora encrava,a net vai abaixo ou fico com os pés molhados porque vim com os ténis em vez das botinhas e o ar condicionado está ligado no Árctico.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

a nota

TERCEIRA PARTE 
(É com todo o afecto que dedico esta secção à minha irmã Julia, recordando a nossa enseada junto ao Báltico) 


Thomas Mann, na nota introdutória à terceira parte d'Os Budden Brook.

rotina



Gosto muito de rotinas e depois introduzir pequenas variações nas rotinas. Troco sempre as voltas à senhora do café porque raramente peço a mesma coisa dois dias de seguida. Ela já desistiu de me tentar adivinhar o pedido. Tanto pode ser um compal de pera e um palmier simples como uma sandes de fiambre e um B como uma torrada e um chá de limão. Comigo é assim, uma loucura, a vida no limite. Mas gosto mesmo de rotinas como ir sempre ao mesmo café. Ou acordar à mesma hora e fazer o mesmo percurso para o trabalho e ir optimizando todos os detalhes do percurso, como escolher sempre a mesma carruagem do metro e adoptar  mesma postura para ler - encostado à porta oposta, de pé, como se fosse abrir a Bíblia e dar um sermão a toda a carruagem ensonada. Faço estas coisas porque a rotina permite que certas tarefas (andar a pé pela rua, escolher um café ou uma carruagem de metro) passem para o domínio da competência inconsciente - um conceito que aprendi num livro de poker - e assim libertar a competência consciente para tarefas mais importantes como observar, pensar e ler. É por isso que sou muito inteligente e profundo. Agora já sabem o segredo do meu sucesso, boa sorte. Por outro lado, varrer para debaixo do tapete da inconsciência tantas tarefas coloca-me por vezes em situações peculiares. Hoje vinha pelo passeio com as minhas botinhas e o meu chapéu de chuva, com o Mann debaixo do braço, a pensar na péssima ideia que é dedicar um capítulo específico de um romance a uma pessoa rompendo brutalmente o universo de ficção relembrando o leitor que aquilo é um texto escrito por uma pessoa que dedica capítulos a pessoas próximas dando-nos a sensação de nos estarmos a intrometer numa conversa particular em que não somos desejados, enfim, o costume, quando reparo numa poça de água gigante na berma da estrada e vejo um eléctrico a vir a toda a velocidade e vou e dou um inútil salto para o lado todo encolhido. O eléctrico anda sobre carris e não fez qualquer salpico. Apercebi-me disso naquele momento. Não tem pneus como os autocarros ou os taxis. Depois fui a pensar se, por acaso, a poça fosse bem profunda e ocupasse toda a estrada, incluindo os carris, e um eléctrico lá passasse, isso podia criar uma onda capaz de electrocutar as pessoas nos passeios: uma onda de choque. E ri-me um bocadinho. Também me sei divertir.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

custou-me ainda mais encontrar isto

.

  David Bowie e Iggy Pop no Carnaval de Torres Vedras de 1975

Mentira. Não me custou nada encontrar isto. Está no museu municipal da cidade de Torres Vedras.

Quando estou um bocado desinspirado, mas tenho mais ou menos ideia do tom de que estou à procura, costumo ouvir música para afinar o meu instrumento criativo. É muito divertido. Se mesmo assim continuo muito desinspirado, então escrevo poesia, um dos meus hobbits. A poesia é uma prosa  desinspirada que se interrompe a si própria a meio de frases arrancadas a ferros porque não se  sabe como acabá-las.



Estou farto desta merda
de procurar, procurar
e não encontrar
o absoluto, a verdade
 os meus chinelos
um deles, pelo menos
sempre perdido
A vida é
um pé frio
e outro
quente.

Ando a ler um autor (a música acabou entretanto, só escrevi aquilo) alemão, o Thomas Mann. Já lhe li o Doutor Fausto, A Montanha Mágica, o Morte em Veneza e agora é os Buddenbrook, o primeiro romance dele. É um autor um bocado hipnótico e lento, 700 páginas daquilo. É exactamente aquele tipo de escrita que só dá mesmo para ler no metro. Noutra situação teria a sensação de estar a perder tempo. E comi um salmonete ao almoço.


...

Acho que é tudo.


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

baixas pressões


Gosto muito de chuva. Não sou obrigado a estar bem disposto como quando está sol e calor e toda gente anda com roupas leves e garridas e um sorriso estúpido na cara. O meu mau humor e pouca vontade de sair da cama fica camuflado porque as caras das outras pessoas estão como a minha. O ar fica com menos pó, mais limpo, é mais saudável. Podemos andar a pé e não transpiramos porque está frio, a não ser naqueles dias impossíveis em que está a chover e está calor como se estivessemos num país tropical qualquer. Li algures que esses dias acontecem por causa do aquecimento global. Quando está a chover também posso usar as minhas botas e o meu blusão verde, que é como gosto de andar. O blusão tem bolsos onde posso deixar a tralha toda e tem um carapuço que é uma espécie de toca portátil muito prática e que me faz falta em reuniões mais aborrecidas. O livro da Plath vai debaixo do blusão, comprimido contra o corpo pelo meu antebraço. As pessoas não conseguem ver o livro porque é pequeno e está escondido debaixo do blusão e então devem estranhar o meu braço direito hirto e colado contra o corpo, como se estivesse partido e preso por um gesso invisível. Ou então nem reparam nisso porque estão tão deprimidas com a chuva e as constipações que só conseguem pensar na própria sobrevivência. É assim que imagino as pessoas em geral, uma vida que se resume a sensações como as de um animal: estou com frio, doi-me as pernas de andar, tenho fome, preciso de um café, quero dormir, tenho fome… O livrinho da Plath é como um passarinho que tenho de manter quente e proteger da chuva. Gostava de ter sido amigo dela e em vez de electrochoques tinha-lhe dado chocolates ou outra coisa assim do género, as raparigas costumam gostar de chocolates, especialmente as mais doidas. Gostaria de a guardar comigo como um ratinho ou um ouriço para enfiar num dos meus bolsos e dar-lhe pequenos pedacinhos de queijo ou restos de torrada com manteiga, sem que ninguém estivesse a ver. Podia levá-la para reuniões também, às vezes há bolos secos e outro tipo de comidas que ela poderia mordiscar. Ou nos aviões, há sempre bolachas nos aviões da tap. E nunca como a sobremesa, talvez ela gostasse da sobremesa e depois ficava o resto da viagem a dormitar ao meu colo a ver um mau filme até adormecer enrolada naqueles cobertores vermelhos que nos dão e que nunca são suficientemente grandes. É muito aborrecido isto tudo, mas felizmente está a chover por isso não faz mal, se estivesse sol podia sentir-me culpado.


quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sylvia Plath

Cá em casa costumamos dizer (eu e o Autor) que gaja com escrita depurada e sem adorno, comprimidos, bebida ou cabeça no forno. É muito difícil para uma mulher carregar as psicopatias necessárias e ao mesmo tempo ter a lucidez e a força de vontade exigida para as colocar em frases elegantes e com estilo. Quando são doidas são mesmo chanfradas e é tudo muito imprevisível. O Campânula de Vidro é um milagre, uns raios de luz a espreitar por entre grossas nuvens negras. E depois há aquele extra do o sentido de humor. A Plath tem um sentido de humor comovente capaz de ombrear com Twains, Salingers e Fantes.

Todas as mulheres são malucas. É muito difícil explicar a uma mulher com talento e, sobretudo, cérebro, que se ela se sentasse e alinhasse uma frase e depois outra e depois outra como um ritual diário, faria a melhor coisa de sempre. Às mulheres inteligentes falta o orgulho vazio e a vaidade infinita que existe nos homens e nas mulheres superficiais que enchem as prateleiras e as filas para a caixa. As mulheres inteligentes escrevem um bocadinho e depois fartam-se como que quem se cansa de um brinquedo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

amuei

Calculo que o Pipoco se esteja a divertir à grande com brincadeira de redireccionar tráfego para aqui com o tópico "Tolan vai ser pai". Contudo, a Plaft não está de esperanças, apesar de estar a achar muita graça a isto tudo. O tema foi debatido no lar como mera hipótese. Também discuti com a Plaft se devíamos arranjar o jardim e ninguém andou aí a dizer nos comentários que o Tolan ia arranjar o jardim nem se originou a situação da minha mãe que lê este blogue me ligar a perguntar "então vais arranjar o jardim e não me dizes nada!? Parabéns! É um pouco arriscado nesta crise ires arranjar o jardim agora, mas..." e continuar a falar sem eu a conseguir interromper durante cerca de quinze minutos.

Agora para castigo já não brinco mais com essas coisas.

dia da raça

"Pertenço a uma raça de homens: a que gosta de honrar os compromissos". - Pedro Passos Coelho, há momentos do debate do orçamento

50/50...

na opinião da Plaft a minha relação com vocês é mais ou menos assim

lost generation

As notícias sobre a minha paternidade são manifestamente exageradas. Não vou ser pai. Eu nem para tomar conta de um gato tenho jeito. Tenho a sorte da Plaft ser toilet trained e de ter polegares oponíveis que lhe permitem abrir sozinha os pacotes de bolachas quando eu não estou em casa, caso contrário o mais certo era colocar-lhe a foto no facebook com o título "para adopção - partilhem". Eu quero ser um grande escritor americano alcoólico da lost generation, não o raio do homer simpson que é exactamente o que se obtém quando se conjuga um grande escritor americano alcoólico da lost generation com filhos, uma mulher e o Benfica.
A única hipótese... a única hipótese é talvez aproveitar tudo para fazer um romance durante a licença de paternidade.

Era uma noite chuvosa e negra. Alice assistia ao BabyTV com desinteresse, entorpecida pelas rodadas de leite morno do biberon que bebia sofregamente para esquecer o tédio de ser bebé e a depressão de estar à mercê dos adultos para limpar o rabo depois de se cagar toda. O passeio de carro fizera-a vomitar em cima de mim e estávamos os dois exaustos. Abri mais um compal fresh de maracujá, mudei para a playstation e meti-me a jogar battlefield. Queria relaxar com um pouco de morte e guerra, ainda que virtual. Alice acordou com o som da minha M16 a varrer um pelotão inteiro de putos e sorriu um pouco. Nada como boa violência para a entreter. Tirei uma cenoura e pus-me a mastigá-la. Já tinha roído dois maços.


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

e ainda dizem que os pretos não têm jeito para informática




uma vantagem de ter um filho

Um amigo meu está a pensar ter um filho. Pediu-me ajuda para listar os pontos positivos e negativos de se ter um filho. Os negativos são muitos. É uma despesa, especialmente se ele nascer de esquerda ou com os genes das Humanidades ou Letras. Dá trabalho à empregada. Combina mal com o posicionamento de escritor maldito alcoólico (o meu amigo também quer ser). Causa stress no casal quando a mãe não entende as necessidades do pai. A lista é interminável.

No entanto, um dos pontos mais positivos no meio disto é a questão profissional. Estar casado é importante, a aliança transmite seriedade em qualquer reunião, mas esse ponto há muito que resolvi ao usar o meu "precious" quando há reuniões com clientes: um anel de ouro a fingir. Já treinei o timing certo para o mostrar, erguendo a mão e fazendo aquele sorriso cúmplice de companheiro da desgraça, de homem para homem, quando chega aquela parte das piadinhas e apresentações prévias a qualquer reunião em que ganha quem é casado há mais tempo.

Mas ter filhos é match point, pelo menos, é isto que digo ao meu amigo. Se os filhos não forem bonitos para se mostrar em ambientes de negócios, uma opção pode ser colar fotografias de crianças  tiradas do getty images ou outro banco de imagens e colá-las no desktop para se verem no ecrã projectado naqueles segundos antes de abrir o powerpoint. Nem é preciso falar sobre isso, mas em qualquer conferência, reunião de negócios etc. causa um excelente efeito. É que ter filhos é um bocado o equivalente ao "golo de ouro" em qualquer situação de empate profissional para um homem.

 - A quem vamos dar a promoção? Ao Carlos que se diverte à grande com o dinheiro que nós lhe pagamos e faz coisas fixes que nós já não fazemos há mais de uma década ou ao Norberto que é casado com uma chata que o tem preso pelos tomates e  uma bebé para sustentar?

- Quem é que vai ter a reunião depois de amanhã em São Paulo sem dormir e volta no próprio dia? É Carlos que não tem responsabilidades nenhumas e ninguém que sinta a falta dele a não ser os amigos da playstation network ou a namorada boazona que com um bocado de sorte o encorna ou o Norberto que tem a bebé de cinco meses que ainda agora nasceu e passa noites em claro porque ela chora e que logo por azar tem de ir ao pediatra no dia da reunião em São Paulo?

- Quem é que vamos despedir? O Carlos que não precisa de dinheiro nenhum a não ser para os seus prazeres egoístas como andar por aí a fazer não sei o quê a vadiar ou o Norberto que tem uma criança para alimentar e vestir?

É curioso que nas mulheres isto funciona exactamente ao contrário e mesmo assim elas querem ter filhos. Em situação de empate, é sempre a solteira sem filhos que ganha.

- A quem vamos dar a promoção? À Vanessa que não tem filhos e está focada na sua carreira e ambição e bem que podia vir comigo à semana de conferências de vendas em Nova Iorque e ficávamos os dois no hilton, ou à Lucília, que tem dois filhos e que volta e meia um está doente e não pode ficar no escritório até tarde e tem de tirar férias em agosto e que deve ter algumas estrias?