Thomas Mann escreveu os Budenbrook dos 21 aos 26 anos, a sua
primeira obra e logo uma de quase 700 páginas. Impressiona a maturidade do estilo e da escolha do tema. Em ponto algum (vou
a meio) se percebe qualquer traço da juventude do autor. Não o digo como uma
crítica ou um elogio, é só uma constatação. A dedicatória cque faz à
irmã na parte 3 do romance é própria da melancolia e afecto sereno que
poderíamos encontrar numa pessoa de idade que já se resignou a uma vida de contemplação e meditação. Quanto ao livro, trata-se da história de sucessivas
gerações de uma família meio aristocrata da alta burguesia que entra em decadência
naquele século de transição (XIX) em que os valores da revolução abalam as hierarquias
centenárias e um novo mundo, global, incerto, tumultuoso, se começa a desenhar. Outro tema central da obra de
Mann está aqui também: a relação entre a criatividade ou o génio e a decadência,
um conceito muito alemão com os seus Goethes e Nietzsches. É curioso como as
personagens se tornam mais humanas, sensíveis e interessantes à medida que
sofrem. As próprias relações familiares e amorosas, tão formais nas gerações mais antigas, tornam-se mais espontâneas e complexas nos jovens que lhes sucedem. Há aqui muito Dostoievski, mas um Dostievski domesticado,
civilizado, continental, alemão digamos assim. Isso resulta num estilo um pouco frio e detalhado, próprio do Thomas Mann, mas que permite um enorme contraste dos momentos críticos na
narrativa, como quando o cônsul Bundebrook setencia a desgraça do aldrabão marido
da filha ao recusar-lhe mais dinheiro para o salvar da falência com um “Controle-se.
E reze.” Este controle-se e reze fica a ressoar na mente do leitor como uma
coisa violentíssima. A morte do cônsul é outro desses momentos, este grotesco. Uma personagem central na história, descrita ao longo de 180 páginas como formal, educada, cristã, dedicada ao trabalho e à família, tem direito a uma morte relatada pela empregada simplória que o encontra no escritório, a olhar para o vazio, muito amarelo, a balbuciar aaa aaa.
5 comentários:
Se calhar no final do séc XIX, os homens de 25 anos não se comportavam como jovens. Mas não tenho bem a certeza porque não sou desse tempo.
Também pensei nisso porque eu quando vou com as minhas botinhas a andar na rua penso muito e não, não se trata de tal pois poderíamos citar muitos escritores da época ou anteriores cujos romances eram obras de jovens, como o Knut Hamsun de quem o Thomas gostava muito, os russos quase todos e também o Maupassant e o Sá Carneiro.
Estou inclinada a concordar com a Sao Joao. Aos 25 anos, naquele tempo, era normal um homem ter ja uma familia para sustentar, com a vivencia que tudo isso implica. Ou nao, quem sabe, eu nao.
Assinado: As botinhas do Tolan
Nem é preciso procurar maturidade "naquele tempo"... há pouco mais de meio século um homem que não constituísse família até aos 22 anos, tinha seguramente algum handicap e as mulheres então nem se fala... depois dos 25 eram consideradas c* velho difícil de desencalhar.
Nunca consegui ler nada do Thomas Mann... desde que, depois de ler a Montanha Mágica, o meu consorte me obrigou a ir, durante um Verão, caminhar para as montanhas perto de Davos para reviver o livro... foi deveras traumatizante... Ainda choro quando penso nisso...
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