quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ornatos

não gosto muito de Ornatos Violeta. Se me dessem 1 euro de cada vez que alguém que gosta de música fixe me insulta por não gostar de Ornatos Violeta tinha hoje o suficiente para almoçar num restaurante daqueles com menus a 4 euros (não conheço assim tanta gente e os outros são educados e não me insultam). Um problema dos Ornatos é produção: sobre-carregada, a voz tem um timbre que acho um bocado desagradável e histriónico e que preenche demasiado as músicas, conferindo-lhes uma espécie de climax constante (as músicas arrancam cheias de pressa para ir dar a lugar nenhum) que nunca se resolve e que por isso resulta numa coisa sem dinâmica. A melhor palavra para descrever a sensação que as músicas deles me provocam é algum cansaço e indiferença.



Esta música dos Ornatos (escolhida ao acaso, há outras muito piores, como aquela do agora quero mijar) tinha potencial mas aos 0:55 já está a entrar numa cena de climax catártico com camadas e camadas de ruído e aos 0:57 em vez do gajo ficar calado lembra-se de berrar Aahhhh ahahhhhhh ahhhhhh Porquê? Que mal tinha respirar um bocadinho e deixar um bocado de espaço aos arranjos e talvez gritar no fim? Aos 1:55 acontece o mesmo. Podia ficar calado mas continua a gemer até um climax que é exactamente igual ao inicial. O ruído de fundo tornou-se indistinto e cacofónico, diluído em camadas sobrepostas em que os riffs do teclado e da guitarra começam simplesmente a colidir uns com os outros tendo por pano de fundo uns arranjos de cordas insípidos e a armar ao épico que se esganiçam por também serem ouvidos no meio daquela algazarra toda. A voz não consegue acompanhar o crescendo porque já deu tudo o que tinha a dar no início e sente-se perfeitamente que o gajo está com falta de ar a debitar os últimos versos.

E agora uma música que me fala da Plaft e dos seus lindos olhos verde mar na tv em anúncios e que é, a todos os níveis, uma coisa de altíssimo nível internacional (a música, mas a Plaft também)

12 comentários:

Isa disse...

olha, só tu pra me pores a ouvir estes gajos. concordo, são histéricos demais

SJ disse...

As músicas de ornatos são desconfortáveis. Não sei quem disse que os livros do Gonçalo M. Tavares são desconfortáveis (e não estou de modo nenhum a compará-los). Não é isso que faz a boa música ou a boa literatura, o desconforto que provocam não é necessariamente uma qualidade, pode ser só uma forma elaborada de chatice (eu, infelizmente, gosto de coisas desconfortáveis, mas isso agora era preciso 40 sessões de psicanálise para explicar.)

Tolan disse...

Desconfortável para mim é uma coisa como Scentless Aprentice dos Nirvana ou alguns livros do Mário de Sá Carneiro. Os ornatos e o gonçalo são só irritantes.

Alexandra, a Grande disse...

Ía discordar completamente, cortar relações contigo (embirrar com The National e também Ornatos já me parece um bocadinho de mais, pá!), mas depois lembrei-me de uma vez, UMA, em que também achei aquilo bastante irritante - numa longa estrada curva contra curva nos Pirinéus espanhóis. Tive de sair para apanhar ar na faixa "Capitão Romance" e depois troquei de CD. Perdeu-se ali qualquer coisa mas, no fundo, tirando essa vez, gostei sempre muito deles, acho-os muito bons músicos, originais para a época e para a nação e suficientemente pesados para me cairem no goto, numa altura em que só me agradavam coisas da pesada.
Do Gonçalo é que não sei nada. :P

Be disse...

Eu gosto de música fixe, também gosto de Ornatos e também gosto do que escreves, não concordo com tudo mas gosto da honestidade e da forma como escreves. Na música é assim, ou se gosta ou não se gosta, não pode haver meio-termo, penso eu. Sabes o engraçado, o Manuel Cruz admite não saber cantar e escreve as letras (Ornatos, Pluto, Mundo Cão, e outros projectos) de forma a que se adaptem à fraca voz que tem. A meu ver, resulta.

Tolan disse...

Eu comecei o post logo com um disclaimer de que estou habituado a ser insultado por esta opinião. A Plaft, por exemplo, gosta muito deles e ainda há bocado me chamou de parvo. Mais 1 euro (já dá para um mac menu)

Bid disse...

Gosto de Ornatos, gosto de Mão Morta. São dois registos diferentes.
Tudo o que indicas como negativo nos Ornatos é o que faz deles uma banda diferente e de valor. O "ahhhhhhhh" sem espaço para respirar dá-lhe o toque de lamúria, de sofrego. Como quando em crianças chorávamos: era lágrimas, ranho, justificações, tudo ao mesmo tempo tropeçando-se umas nas outras.
A voz ocupa o espaço que as músicas precisam. Tal como em Mão Morta o instrumental é necessário para criar o clima de filme, o suspense.

Maat disse...

o Mário Sá Carneiro é muito bom. louco, mas bom.
e concordo com a parte do Manel Cruz não saber cantar. vá, ao menos admite. ver um concerto dele de 2 horas a berrar e a tocar instrumentos sem nexo está no top dos 10 piores momentos da minha vida.

. disse...

Eu acho que o Mário Sá Carneiro instrui o Manel Cruz através do além e se liberta através da sua voz transformando as ondas sonoras num manguito a quem o estiver a ouvir. Penso que o fundamental quando se diz que se gosta de x mas não se gosta de y é a dimensão extra-sensorial sensitiva sensodyne que activa no cérebro uma pequena onda de manifesto ou empatia traumatóide. A minha banda favorita, por exemplo, são os Child Machine e detesto os Guns on top. É assim a vida. Detesto cotonetes coloridos e gosto de tampinhas. Matem-me ou enforquem-se.

Anónimo disse...

Por acaso nunca tinha juntado Ornatos e Mão Morta num só pensamento... Mas agora que o faço... deduzo que afinal gosto mais de Mão Morta que de Ornatos e acho que faz sentido. É a tal cena de ver os anos passar por nós e existirem alguns aspectos de nós que, outrora revelados de forma passageira, passaram-nos a definir enquanto pessoas.
Nunca pensei que envelhecer pudesse ser tão... confortável!

A Bomboca Mais Gostosa disse...

Também não gosto, não és o único.

je suis...noir disse...

É comum juntar "Ornatos" e "Mão Morta"; quase inevitável, quando se fala de música e de bandas portuguesas, no Norte. Cá por cima, os euros, chegariam para anos e anos de francesinhas.
O Norte é uma nação; defende os seus...