Quero deixar aqui o meu testemunho. Olá, sou o Tolan e sou viciado em Magic. Depois de ter estado numa clínica de reabilitação de Magic The Gathering no final dos anos 90, enquanto era (tentava ser) estudante, passei mais de uma década sóbrio e limpo, focado em vícios inocentes como black jack, poker e álcool. O Magic é considerado o "crack" dos jogos. Os danos que o Magic me causou no período universitário foram graves e irreversíveis no que respeita à minha actividade académica, ao meu rendimento disponível para comprar uma alimentação rica em vitaminas e nutrientes e, muito especialmente, à minha vida sexual. Retirava mais prazer erótico em abrir um pacotinho novo de cartas do que um soutien. A meio de qualquer interacção com o sexo oposto, sentia falta de instant spells como "Enchant female creature. Enchanted female creature performs sex with you".
Também comecei a entender, já no fim do curso, que ser um bom jogador de Magic não era considerado uma característica atraente para mulheres per si.
Como em tudo na vida, o importante são as companhias. A Plaft é uma jogadora compulsiva, sofre de hiperactividade, ADD e tem a consciência do vazio e da dor primordial a que se resume toda a existência. Somos, portanto, muito compatíveis e era impossível não nos apaixonarmos muito, uma vez que fazemos uma espécie de processo de feedback contínuo informação -> processamento -> avaliação -> reacção -> informação etc. Mas tudo tem limites. Tomar xanax fora do prazo e misturar com vodka enquanto temos sexo com pinturas tribais na cara feitas com o sangue do período ao invocar ktulu enquanto ela me estrangula com uma corda de seda é uma brincadeira nossa totalmente inocente, jogar Magic é uma actividade mais perigosa e sinistra.
Para muitos, um rupo de nerds a jogar cartas. Para outros... uma terrível batalha entre poderosos magos e feiticeiros pelo domínio do universo
Tudo isto começou de forma inocente. Saiu um jogo para playstation, um jogo de magic e eu disse assim à Plaft: "olha, se calhar ias gostar deste" e comprei o jogo mais na expectativa de que ela gostasse daquilo e jogasse muito. É bom quando isso sucede porque, pela observação dos homens casados, percebi que eles acham excelente quando a mulher está fortemente entretida com algo. Liberta-lhes espaço para serem maus maridos e relaxarem um pouco. Nesta fase, evidentemente, não necessito dessa liberdade porque acho entretenimento suficiente e divertido vê-la no sofá a ver televisão ou a franzir as sobrancelhas quando algo a intriga ou com a língua de fora quando está concentrada em qualquer coisa. Mas nem sempre é assim. Também vi muitos filmes do Bergman e sei que os casais costumam acabar em choro convulsivo no meio de uma sala de jantar toda partida, com ela deitada no chão com o vestido rasgado e o lábio a sangrar e ele com uma pistola apontada à própria cabeça a gritar Jag hatar dig! jag hatar dig!
Ora, uma relação é como um bom baralho de magic, tem de ter o equilíbrio certo de terrenos, criaturas, feitiços e artefactos e o que se faz na fase do namoro é construir um baralho suficientemente forte para o casamento e a paternidade, altura em que será testado em condições reais. A experiência resultou bem, infelizmente. Ela adorou o jogo e ficou viciada. O problema é que eu também experimentei e fiquei agarrado outra vez, uma enorme recaída. Meti-me no magic the gathering online para PC e voltei ao crack. A minha colecção vai já em quase 3000 cartas e começo a sofrer do síndrome do jogador de Magic de novo. Sonho com combos fatais, viro cartas de mana imaginárias sempre que quero fazer algo, divido o mundo físico real em artefactos, feitiços e criaturas, organizo as pessoas em grupos como orcos, fadas, zombies ou dragões e dou comigo a pensar instintivamente em cartas para representar acções. No outro dia, um pedinte pediu-me um cigarro e eu, enquanto dava o cigarro, pensava "sacrifice one cigarette to ban beggar creature". A Plaft também sofre de alguns dos sintomas mas tem consciência do que está acontecer e decidiu agir antes de ser tarde demais.
Apareceu no escritório (onde eu estava a meio de um torneio online com o meu baralho zombie tipo aggro vs. um blue wizards deck do tipo control) com o xanax, a vodka e um penso usado e disse-me aquelas palavras fatais: "não me dás atenção". Reflecti muito depois disso.
O primeiro passo é reconhecer que se tem um problema. Já reconheci o problema e já identifiquei a solução. Não consegui ganhar ao gajo dos cabrões dos wizards porque preciso de 4 Zombie Apocalypses neste baralho: Return all Zombie creature cards from your graveyard to the battlefield tapped, then destroy all Humans.
Nem imaginam a quantidade de vezes que sonho com esta carta no dia a dia no trabalho, a ver o telejornal, no trânsito... E quanto à Plaft, o essencial é voltar a outro vício menos grave e equilibrar tudo. O blogue parece-me uma boa opção. Está a resultar. Penso menos em magic, a cada minuto que passa.
ps: e logo à noite é o jogo. Espero que Portugal jogue com um combo deck, espanha deve jogar com um control deck. Portugal tem a rare creature Cristiano Ronaldo:
CR7 - Creature
Flying
CR7 can't block and is unblockable.
*/1: tap mountains to charge CR7
If Cristiano Ronaldo is targeted by stupid trolls chanting "Messi Messi" , double the damage to target
"when hell flames unleashed their child, he came to earth to rule upon humans and win le balon d'or" - Mourinho, Wizard of Soccer