sexta-feira, 27 de abril de 2012

o jogador de poker

Hoje fui almoçar com um dos meus melhores amigos ali num restaurante em Alfragide, onde vão os camionistas e operários. Posso dizer que é praticamente um irmão, visto que nos conhecemos há 25 anos e fizémos toda a escola juntos, inclusive o curso de matemática, ao qual chumbámos um ano os dois, só para nenhum de nós se antecipar ao outro. O gajo é um pacato programador e tem um cérebro focado no jogo e na ambição de começar uma carreira no poker profissional, tudo isto potenciado por factores pessoais importantes (não tem miúda, é óptimo para a concentração). Começou a jogar poker mais ou menos ao mesmo tempo que eu, mas sem os meus problemas. Eu vim do blackjack para o poker e pelo poker domestiquei o vício do jogo, mas ao fim de centenas de milhares de mãos online e chegar a NL100 percebi que era impossível ser jogador profissional, uma fantasia que tive, seria um ganha pão a combinar com a escrita. Abandonei devido a problemas cognitivos: arrogância, indisciplina, sentimentos místicos, sensação de controlar o destino, tudo coisas óptimas para um escritor. Ele é mais calmo e cerebral (um excelente jogador de xadrez, brilhante em raciocínio profundo) e começou com uns míseros 100$ no poker online que se transformaram em largos milhares. Está neste momento a disputar pots que chegam aos 1200$. Tem, como qualquer bom jogador, a perspectiva correcta que no jogo, o dinheiro consiste em “fichas abstractas” e não dinheiro real. Jogar com 10$ ou 1000$ é igual, desde que a nossa banca possa acomodar a variância dos ganhos e perdas. E recordo que ele começou com pouco e nunca mais lá meteu “dinheiro”. Aquela banca é abstracta. O poker transformou-o numa pessoa melhor, o poker levado a sério é como um zen prático e não teórico e implica uma transformação no modo de pensar e de ver a própria vida. Sonha em deixar o emprego, estuda poker 3 horas por dia. O objectivo é chegar a high stakes, com pots de milhares de dólares. Espero que consiga. O caminho é muito difícil, até porque não tem fim. Partilhámos experiências. A ironia é que os nossos problemas, ele com o poker, o meu com a escrita, e os sonhos que temos, entalados em vidas em que encaixamos para ganhar o tostão, acabam por ser um espelho um do outro. Depois falou-me no desejo de ser encurralado e no exército que Sun Tzu coloca de propósito numa garganta que impossibilita qualquer retirada, porque sabe que perante um exército maior, o facto de não poderem fugir, motivará as suas tropas a lutar como nunca e a infligir danos sérios. Venha daí essa crise.

5 comentários:

Mak, o Mau disse...

Ter tempo e muito, é o primeiro factor para aspirar ao que quer que seja em poker. Por isso ou o tens, ou o inventas ou não passas da mediania.

A seguir vem a paciência/gosto pela análise de variáveis/ estudo / investimento e riscos.

Mas, começa pelo tempo. E eu percebi logo que o que somava no poker não compensava o que subtraía a outras coisas em que sou naturalmente mais dotado.

Mas o gosto pelo jogo vive.

Tolan disse...

havíamos de jogar um dia Mak! :)
mas strip poker não.

Anónimo disse...

Entretanto vou chegar a casa,
aparar a barba, lavar o rosto, cozinhar algo e vou dar forte e feio na minha pretinha.
Não me vou ater em cálculos ou manigâncias, vou dar-lhe forte e feio. Vou adormecer como um porquinho da índia e vou mandar às malvas o resto do mundo e os cálculos.
Forte e feio ó Tolan.
O vosso,
.

Vareta disse...

Chiça, que raio de mania... Não há zen "teórico".

Mak, o Mau disse...

Jogar sim, strip-poker não.

Estamos de acordo.