quinta-feira, 26 de abril de 2012
blindagem
Uma forma de assegurar um estilo blindado é incluir referências auto-depreciativas, um certo cinismo ternurento, que tudo condena e perdoa simultaneamente, com recurso a ironia. Se por um lado isso cria um estilo sólido e interessante, o potencial é limitado pela aversão ao risco inerente a qualquer acto criativo puro que não contenha em si a chave para o destruir, como alguém que admite um defeito e pensa que, por admitir o defeito e viver bem com isso, o defeito transforma-se numa qualidade. Muitas vezes é o caso. Às vezes penso na evolução deste tipo de escritor (de pessoa) como uma esfera que se vai expandindo com a prática mas que não deixa de ser uma esfera e não uma lança ou uma nuvem. Estou com muito sono. Estou à espera da crise, com muito sono.
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9 comentários:
foda-se tolan, não havia necessidade, aversão ao risco??? E curvas de utilidade não dá?
Há conceitos que um gajo deve fugir como de veneno, não nos fazem bem nenhum.
Deve fugir dos conceitos se tiver aversão ao risco. Mas depende da curva de utilidade de cada um, claro!
Boa, sei de alguns a que se refere. Só podem.
Escritores não sei, mas foi graças ao toque auto-depreciativo que muitos gordos, caixa d´óculos e minorcas escaparam sem danos de maior aos anos mais hardcore do ensino obrigatório...
Não querido, eu fujo aos conceitos pq sou propenso ao risco, arrisco tudo na imprecisão e na possibilidade de n me entenderem. Tenho uma curva de procura de conceitos obtusos muito inelástica por mais baratos que sejam eu n os compro. Como se comprova.
errm, eu não estava a falar de ninguém em particular, talvez estivesse a pensar em mim. Estou com muito sono, volto a advertir.
não acho que seja um estilo blindado, é só um estilo. não é sólido se for usado em exclusivo, a solidez para mim exige variação, a fim de encontrar e alargar a base de equilíbrio.
se por blindado queres dizer protegido da crítica de carácter (e como admites, não é um estilo de escritor, é um estilo de pessoa), também não concordo, arrisca-se a ser um pachola, aquele que antes de ser uma pessoa é um amiguinho, interessante não é a palavra correcta.
de tempos a tempos (a tempos) tens aqui textos que dão esse murro na mesa.
também é verdade que se trata aqui de uma autocrítica pertinente e, ao assumi-la, asignifica que o autor percebeu toda a leviandade miserável da escrita "jovem" portuguesa e está certamente a ultrapassá-la.
A auto-depreciação irónica e a ironia auto-depreciativa e, por trás disso, o amargo de boca do leitor (ou o gozo): este gajo tá sempre a tentar dizer que é o melhor, por mais que disfarce. Quase toda a ficção portuguesa das últimas décadas é isso.
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