terça-feira, 11 de junho de 2013

ciclovias de Lisboa, revisitado


Tenho vindo a abordar este tema nos últimos 10 anos, tantos quantos aqueles em que uso a bicicleta para fazer o meu commuting diário, de forma mais ou menos regular. Apesar de hoje haver muito mais ciclistas urbanos do que há uma década, por muitos e diversos motivos que estão fora do âmbito deste post, a política da CML para utilização urbana de bicicletas não se alterou muito neste período: continua a ser inserida no slot de responsabilidade social eco-friendly, o que em si não seria necessariamente mau se não resultasse na rede de ciclovias globalmente ineficaz da imagem acima. Pelos vistos, a construção de ciclovias será uma competência do Departamento de Ambiente e Espaço Público da CML, fora da alçada da Direcção Geral de Mobilidade e Transportes (organograma).

Continua a não haver qualquer ligação da zona ribeirinha ao resto da cidade e continuam a não existir ciclovias na Baixa e no Centro. Assistimos ao fenómeno um pouco absurdo de ver uma rede crescer "por fora", ignorando o centro. Perde-se a possibilidade de potenciar as ciclovias já construídas e as zonas naturalmente cicláveis sem necessidade de ciclovias - nomeadamente, toda zona ribeirinha, uma zona que já era perfeitamente ciclável  antes do desperdício simpático da ciclovia Belém - Cais do Sodré. De facto, por ciclovia entenda-se uma simples demarcação de uma zona na faixa de rodagem, não é necessário construir autênticas pistas de atletismo por todo lado.

A construção de ciclovias continua a seguir os mesmos critérios de há 10 anos: privilegia-se a utilização de lazer (o mítico "corredor verde") colada a zonas verdes e a construção em locais onde não é exigida uma intervenção nas rodovias. O resultado é mais ou menos inútil: atapetam-se passeios largos com uma faixa redundante e cara que depois acaba por ser naturalmente usada pelos pedestres, suscitando críticas por parte de pessoas que não utilizam a bicicleta porque vêem estas ciclovias desertas uma usurpação do seu espaço e uma despesa inútil. A bicicleta é um meio de transporte urbano: está melhor na estrada, numa faixa delimitada, do que no passeio, mas enquanto for encarada como uma brincadeira ecofriendly não é de esperar grandes alterações de políticas por parte da CML.

Desconheço por completo se há planos para ampliar a rede onde e como seria mais relevante para a mobilidade urbana, mas não há qualquer sinal disso na informação da CML.  Deixo aqui, um mapa das cycle superhighways previstas para Londres. Note-se como irradiam da periferia para o centro da cidade. O planeamento obedece a uma lógica compreensível e com uma perspectiva de utilização para commute a sério. Para além de serem patrocinadas, consistem sobretudo numa faixa devidamente demarcada na faixa de rodagem já existente, mantendo-a fora dos passeios.









2 comentários:

Mariam disse...

Não sei porquê, mas acho que faltam as ciclovias de Telheiras no mapa.

E é verdade o que dizes: as pistas nem sequer se ligam entre si. Mesmo dentro dos bairros, têm interrupções absurdas e recomeços a metros, sem nexo. Até se pode atravessar um bairro de bicicleta pelas pistas (não contando com os tais hiatos), mas já não se atravessa a cidade.

Faltam 3 ou 4 meses para as autárquicas. Será que, até lá, não há um passarinho verde que sopre aos ouvidos do AC?

D.S. disse...

Muito interessante o post. Aqui em Bruxelas, na grande maioria dos casos não existem ciclovias construídas especialmente para bicicletas. O que fizeram foi apenas pintar na estrada em intervalos regulares o desenho de uma bicicleta, indicando que naquela parte é provável e expectável (para os condutores) que circulem bicicletas. Nos casos em que as ruas são demasiado estreitas, os desenhos das bicicletas são pintados no meio da faixa de rodagem, indicando que as bicicletas devem circular no meio da estrada e os carros que esperem.
Lisboa tem avenidas largas, não iria custar quase nada fazer o mesmo.