Percebi a força que o fenómeno milagre de Fátima tem no Portugal moderno, europeu e que se quer de volta aos mercados, desde que vi, quando a Irmã Lúcia foi a enterrar, uma espécie de Volta a Portugal em Caixão, com o carro funerário, filmado de helicóptero, a percorrer estradas cheias de povo a dizer adeus com lencinhos brancos e a torcer pela boa ventura da alma da santa pastorinha.
Eu próprio, em Março de 2011, já tinha tentado convencer os investidores a ficarem com o Santuário de Fátima, pois é a modos que a pulseira power balance de Portugal e podia-lhes trazer boas energias para os investimentos. Por isso, ao contrário de muitos amigos e conhecidos, revi-me nas palavras do nosso Presidente e penso que isto poderia ser uma nova linha estratégica para lidar com a crise.
O primeiro passo é converter o líder da troika, o etíope Abebe Selassi e inspirar-lhe piedade cristã. Não seria a primeira vez que cristianizávamos um escurinho. De seguida, vamos todos em peregrinação a Berlim, visitar a Merkl, num novo êxodo lusitano, um cortejo de portugueses, ricos e pobres, solteiros e casados, jovens e idosos e crianças, muitas crianças vestidas à pastorinho, com figuras de proa da sociedade portuguesa, desde empresários a sindicalistas de mão dada, passando por políticos de todos os quadrantes e por caras conhecidas da cultura e da arte, não faltando um Diogo Morgado caracterizado à Jesus, nem um Vítor Gaspar comovido com o melhor povo do mundo, muito melhor que o outro, o eleito.
Na frente, Cavaco Silva vestido à José carpinteiro e Maria com um xaile preto, solene e meditativa e, ainda mais adiantado, Abebe Selassi, o batedor etíope que conhece o caminho para a capital alemã, os perigos da viagem e, recorrendo à sua ampla experiência da infância em Mogadíscio, capaz de descobrir o melhor lixo comestível para alimentar a faminta comitiva.
O primeiro passo é converter o líder da troika, o etíope Abebe Selassi e inspirar-lhe piedade cristã. Não seria a primeira vez que cristianizávamos um escurinho. De seguida, vamos todos em peregrinação a Berlim, visitar a Merkl, num novo êxodo lusitano, um cortejo de portugueses, ricos e pobres, solteiros e casados, jovens e idosos e crianças, muitas crianças vestidas à pastorinho, com figuras de proa da sociedade portuguesa, desde empresários a sindicalistas de mão dada, passando por políticos de todos os quadrantes e por caras conhecidas da cultura e da arte, não faltando um Diogo Morgado caracterizado à Jesus, nem um Vítor Gaspar comovido com o melhor povo do mundo, muito melhor que o outro, o eleito.
Na frente, Cavaco Silva vestido à José carpinteiro e Maria com um xaile preto, solene e meditativa e, ainda mais adiantado, Abebe Selassi, o batedor etíope que conhece o caminho para a capital alemã, os perigos da viagem e, recorrendo à sua ampla experiência da infância em Mogadíscio, capaz de descobrir o melhor lixo comestível para alimentar a faminta comitiva.
Os últimos quilómetros, talvez já na periferia de Berlim, seriam percorridos de joelhos. Há imensas ciclovias em Berlim por isso era seguro e o piso não é tão abrasivo como o asfalto. Finalmente, a vigília nos jardins do Palácio Meseberg, noite fora. De velas acesas, entoamos uma canção, cada vez mais forte, liderados pela voz de barítono de Passos Coelho...
No seu leito, Angelita Merkl acorda, esfrega os olhos... Was für ein Lärm ist das? Serão outra vez os freaks do movimento occupy a sachar-lhe os canteiros de rosas para neles plantar rabanetes e couves? Vê as horas, tira a botija de água quente que entretanto arrefeceu, compõe a camisa de noite de flanela, calça os chinelos fofinhos, ajeita o barrete do pompom e caminha pelos longos corredores do palácio, em direcção às vozes...
...assoma à janela, espreitando por entre os pesados cortinados de veludo do palácio. Cá fora, uma constelação de velas e iPhones, como um firmamento de pirilampos mágicos e o canto, um canto angelical...
Auxiliadora, Virgem Formosa,
Dos pequeninos, mãe dadivosa
De mil tormentos, entre o furor
Teus filhos salva, Astro de Amor
Bradamos todos, numa só voz
Auxiliadora rogai por nós
Auxiliadora rogai por nós
...assoma à janela, espreitando por entre os pesados cortinados de veludo do palácio. Cá fora, uma constelação de velas e iPhones, como um firmamento de pirilampos mágicos e o canto, um canto angelical...
Tu que do empíreo, és soberana
Tem dó da imensa miséria humana
Do nosso exílio pelo caminho
Envolve a todos no teu carinho...
Infelizmente, a estratégia não está livre de perigos. Merkl talvez não compreenda português e não reconheça os rostos no seu jardim, nem os de Gaspar, Passos ou Cavaco, despenteados e farruscos que estão dos tubos de escape dos porsches, audis e bmws da autobahn que palmilharam enchouriçados em coletes reflectores. É bem possível que nos confunda com um bando anormalmente grande de ciganos romenos a pedir asilo e um visto de emprego e que dê ordens aos guardas para nos levar dali para fora, antes que chegue alguma equipa de reportagem ao raiar do dia. Contudo, tenhamos fé, pois nestas horas difíceis, é-nos cada vez mais claro que só um milagre nos salva e no que respeita a milagres, tanto faz este como aquele da transmutação de portugueses desempregados em vinho empreendedor do melhor ou o outro da multiplicação dos pasteis de nata.
2 comentários:
E pronto.
Quem sabe (isto de escrita), sabe e mais nada.
Fenomenal. :)
Está perfeito, Tolan! Eu própria já estou aqui de joelhos e de mãos postas a rezar.
Enviar um comentário