1) Se o sucesso de outro artista te incomoda, por exemplo, financeiro, prémios, notoriedade... isso significa que tu próprio dás importância ao dinheiro, prémios e notoriedade.
2) Pelo ponto 1), deves tentar perceber exactamente o que pretendes. Se vives ou queres viver da tua arte, é natural e legítimo que pretendas o suficiente para sobreviver e continuar a fazer a tua arte para o resto da vida.
3) O ponto 2) significa que tens pelo menos a obrigação de uma ligação prática ao mundo real e submeter-te às incontornáveis leis da oferta e da procura. E como tal, em vez de dissipares energia em rancor e ressentimento para com as imperfeições e injustiças do meio, o teu dever é agir sobre o meio. O teu dever é ser alternativa. Obriga a trabalho e perseverança, não muito diferente do trabalho pragmático de um engenheiro, gestor ou cientista.
4) Tem sempre presente que em caso de emitires crítica, ela deve ser para ti. Se és artista, então o teu papel não é educar público pela crítica, mas sim pelo confronto com a criação: a tua. Se não gostas de algo, deves perceber que relação é que isso tem contigo. O que tu farias diferente? Deves procurar alguma
profundidade que te construa a ti próprio nesse processo. Vais dar contigo muito mais preocupado com os artistas bons que cometem erros ou se afastam do que tu és, do que com aquilo que é evidentemente péssimo só porque te chamou a atenção pelo sucesso que teve (comercial, crítico etc.)
5) É claro que pode apregoar que és um artista tão especial que te estás nas tintas para tudo: público, crítica, vendas, sucesso, consagração... seja o que for. Pode dar-se o caso de teres outras fontes de rendimento, o que é bom, e a tua arte ser um part-time de liberdade. Nesse caso, entende que de cada vez que o sucesso de outro artista (ponto 1) mexe contigo e te torna bilioso, estás a fugir à verdade. Não queres admitir que a tua rejeição de formas de sucesso (sejam elas quais forem) é na verdade uma defesa contra a tua vulnerabilidade ao mundo prático, uma vaidade que não queres admitir ou uma desculpa para a tua própria preguiça e cobardia de não tentar. Percorre esta check list, no caso de seres artista, quanto sentires azia.
6) Para seres coerente, deves pura e simplesmente ignorar o mundo exterior, avaliar as coisas pelo que elas são e ignorar totalmente como são percebidas e recompensadas pelo mundo. Se estás acima disso tudo, então tens mesmo de estar acima disso tudo, intocável como um Deus no Olimpo, apenas privando com outros deuses, os teus, mortos ou vivos, disposto a morrer à fome se for preciso. Acredita, não te vai fazer grande diferença a forma como o mundo exterior te avalia ou avalia outros, tirando talvez meia dúzia de pessoas próximas.
7) Cuidado com o ponto 6. Pode dar-se mesmo o caso de tu não seres nada de especial. Ou porque ainda tens de trabalhar e falhar muitas vezes ou então porque simplesmente não te está nos genes, não tens talento O facto da procura não querer nada com a tua oferta pode dever-se a seres menos interessante que outra oferta ou trabalhares muito menos que a outra oferta, e não ao facto de seres tão genial que és incompreendido. É mais provável que sejas mau, por meras probabilidades. Tenta sempre ter em perspectiva que podes ser pior, mais preguiçoso e mais estúpido do que pensas que és. E não tenhas medo de descobrir isso. O falhanço pode até ser libertador, permite uma melhor criatividade, mais natural e feliz. Talvez descubras então na arte algo de divertido, uma fuga, um prazer, completamente nas antípodas das almas torturadas que são muitos génios, mesmo os compreendidos e amplamente consagrados em vida.
Entendido?
8 comentários:
Concordo plenamente com este post, para variar :) Excepto a parte dos génios compreendidos, infelizmente não existem quase nenhuns.
DESBOCADO!
TAL E QUAL!
isso não é um artista é um robot.
olha que não anda longe, em certo sentido, de uma máquina que responde exclusivamente a um programa lá dele, à mercê de eventuais bugs e virus que podem reescrever linhas de código...
Para quando um tutorial para engate de gajas a partir da premissa "que andas a ler?".
R.
É um bocado assustador. E um bocado redutor. E um bocadinho fascista. E fazes-me lembrar um dos meus irmãos: para ti, as discussões ainda são uma coisa para ganhar.
Senhor professor Tolan, os escritores também são artistas?
Devias incluir no blog aquela funcionalidade que os comentários dos jornais agora têm (fixe/não fixe). Eu n tenho muito jeito com palavras, e a uma 6ª feira às 18h, nem paciência para pensar nelas. No entanto, ao ler este post, apraz-me dizer: gosto!
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