terça-feira, 4 de dezembro de 2012

credibilidade e bom senso


Como os mais atentos devem ter reparado, aqui há tempos posteis duas faixas do Jacskon C Frank no formato video de plataforma youtube, a I Want To Be Alone e a Milk and Honey. Ele foi uma pessoa que só fez um disco relevante em 1965. Foi muito influente. O colega de quarto tornou-se uma pessoa famosa (Paul Simon) e produziu-lhe o disco e o Nick Drake inspirou-se muito nele. O disco, todo gravado com uma guitarra acústica, é muito bonito porque quando ele era pequeno a escola dele ardeu e os meninos que brincavam com ele também arderam. O próprio ficou com o corpo todo queimado. Este tipo de coisas são necessárias para se ter intensidade enquanto artista. De onde vem a minha intensidade, que desgraça foi a minha? Eu conto-vos. Natal de 1987. Pedi especificamente um Subuteo. E o que recebo? Um jogo de futebol de salão. Daqueles com um disquinho e bonecos com uma base com disquinho e que se pressionava e o disquinho andava aos salt... não quero pensar mais nisso. A voz de Jackson C Frank. tem um timbre fantástico, o que, espantosamente, é raro na folk. Bob Dylan ou Van Morrison têm vozes horripilantes. Dylan é mesmo insuportável. Van Morrison não, é muito bom, mas não deixa de ter uma voz de pato que está a enxaguar a boca com listerine e a tentar cantar ao mesmo tempo. Nick Drake também tem uma voz de panhonha. Tim Buckley tem uma belíssima voz mas é completamente histérico no uso da mesma. Jackson Frank tem uma contenção nos malabarismos que torna a interpretação muito natural, humilde mas portentosa, cheia de detalhes subtis e que estão em total sintonia com o sentimento da música. Soa profundamente credível e vai fazer vibrar uma corda dentro da pessoa ouvinte desde que ela tenha a corda equivalente pois nem toda gente tem a corda uma vez que nem toda gente sofreu o que eu sofri nesse Natal ou que o Jackson C Frank sofreu com o incêndio.

Aquelas duas músicas que eu postei lá em baixo foram gravadas em 60 e tal, esta aqui foi em 75 e a voz dele já está desfeita pela dependência do álcool e das drogas, outra coisa que também se exige a um artista com intensidade. Nota-se que para cantar ele tem de vencer a resistência da própria voz como se estive preso dentro de si próprio, encerrado num pesadelo, num inferno. O efeito é maravilhoso, genuíno, enfim, o tipo de coisa que dá gosto ouvir no carro à noite quando precisamos de pedir emprestado um bocado de sofrimento para tornar mais poética a fila de trânsito.

8 comentários:

Anónimo disse...

Faço anos.
R.

Izzy disse...

Pra se ser artista convem sempre ter passado uma infancia terrivel.

Tarzan Taborda disse...

Fodasse Tolan, que lindo. "o tipo de coisa que dá gosto ouvir no carro à noite quando precisamos de pedir emprestado um bocado de sofrimento para tornar mais poética a fila de trânsito"

Faz-me um filho!!!

AM disse...

eu Marlenes é mais a do Coyne
http://www.youtube.com/watch?v=5NylZ5NzRVo
ah, sim... não percebes um... um... uma espiral de vinil, da voz do Van Morrison

Tolan disse...

eu adoro van morrison, só que a voz dele tem um timbre que... jesus...

Tolan disse...

PArabens R. :)

Tolan disse...

grande som esta outra marlene, AM. Não conhecia isto. Muito fixe.

AM disse...

capa má, disco bom
e manda logo 90% das "a-tualidades" para o lixo