Hoje no metro sentei-me num daqueles três bancos que estão
virados de lado, concretamente, na ponta mais à direita. Ao meu lado sentou-se
uma de óculos de massa e ar alternativo que abriu um livro e começou a ler
imediatamente. Nunca se sabe se são mesmo espertas lá por saberem ler. Por exemplo, a Plaft sabia ler, mas foi só depois de me ganhar ao buzz, ao poker, ao rummy cub, ao scrabble, ao eclipse, ao pictionary e a todos os jogos, que percebi que ela era capaz de ser assim para o espertalhuço apesar de uma pessoa olhar para ela na rua e achar que é apenas uma tonta que tem mas é a mania. Voltando ao metro. Olhei
de lado e não consegui perceber que livro era, não tinha bonecos mas as letras
eram suspeitas: muito grandes. Já vi raparigas assim com pinta até ter o primeiro vislumbre
da capa daquilo do 50 Sombras ou do José Luís Peixoto, o que provoca
exactamente a mesma sensação de ver uma mulher por trás que parece assim
jeitosa e vocês vão com o vosso copinho de champanhe ter com ela e depois ela
volta-se e é toda estrábica, tem prognatismo e os dentes de baixo sobrepõem-se ao
lábio de cima estilo cão boxer e vocês fazem meia volta buscar um gin tónico. Bem,
mas estou ali a ler o meu Thomas Mann e ela a ler a cena dela, sossegadinhos, e passado um bocado levanta-se
uma senhora que estava na primeira cadeira e um gajo daqueles de cachecol e
sapatinho italiano apanaleirado e abre um livro e senta-se ali ao lado da minha
vizinha. E assim ficámos os três a ler, sentadinhos ao lado uns dos outros,
numa carruagem de analfabetos funcionais, estilo freiras num sítio público, a espalhar a a fé no Plano Nacional de Leitura e a fazer as pessoas sentirem-se mal e culpadas por serem ignorantes e desperdiçarem a vida. Aquilo enervou-me, a lata dele puxar do livro dele e
juntar-se à nossa sessão de leitura. Espreitei e vi-lhe o tamanho do livro,
discretamente. Não devia ter mais de 200 páginas, uma treta qualquer, muito
provavelmente poesia, a julgar pelos sapatos. Ri-me. O meu Mann tem
700 páginas de prosa, incluindo passagens de dezenas de páginas a descrever
coisas só por descrever embora isso não dê para ver assim de fora. Fechei-o para lhe poderem ver o volume, pois assim de perfil parece ainda maior. Chegámos ao Rossio e ela de repente estremeceu, vinha completamente absorta na
leitura e demorou alguns segundos a perceber onde estava, olhou em volta e de
um salto precipitou-se para a porta empurrando as pessoas que já entravam na
carruagem. Percebi que não estava atenta à situação que se vinha a desenrolar, vinha mesmo a ler. Por outro lado, o leitor de poesia estava a olhar de lado para o meu Mann de olhos muito arrregaladinhos. Saí na estação seguinte e fiz o caminho a pé, em passo rápido.
23 comentários:
o "teu" Mann está na minha mesinha de cabeceira há algumas semanas (salvo seja, que não quero confusões com a Plaft!). li a primeira página e ainda estou a viajar naquele comboio. sei que voltarei àquela carruagem e farei a viagem até ao fim. o problema é o tamanha da porra das letras. "piqueno, muito piqueno"...
Post tão sem graça, num tom de suberda deselegante. Enfim... alguém que o ature.
Soberba... Queria eu escrever. É o que dá o comentário deselegante também.
Linha verde? Aquilo é tão mau, com gente a ler e gente a dormir, que uma pessoa está desejando sair dali e sim, há muito quem finja ler e muito quem finja dormir. Só pode.
Homens e tamanhos... what's new ???
"apesar de uma pessoa olhar para ela na rua e achar que é apenas uma tonta que tem mas é a mania"
Um bocadinho deselegante para com a Plaft, nao? Ou isso eh tudo inveja da superidade intelectual dela.
humpf... ela tem muita mania... Não tenho inveja nenhuma, ela é mas é muita espertalhuça. No buzz tem apenas melhores reflexos. Quanto ao scrabble ela treinava com a avó e no início até queria incluir símbolos químicos só para vocês verem o nível da batotice. Inveja, eu? Pfff. Tem a mania de apontar erros de raccord nos filmes. Agora comprou umas galochas cor de rosa. E às vezes pinta as unhas e fica a olhar para elas fascinada com a cor. Anda a ler o Senhor dos Anéis que eu li aos 16 anos e faz comentários do tipo "mas estes nunca mais chegam a Mordor, caralho?!" o que é uma crítica literária bastante inapropriada acho eu. Enfim. Inveja, yeah, right...
Gosto de ler em qualquer lugar mas confesso que quando estou num local onde estão mais pessoas também a ler, faço tudo para ver o que elas leem e dou por mim a fazer juizos de valor sobre elas o que é uma estupidez pois se eu no cabeleireiro (vá lá, um pouco escondidinha) até a Maria leio.
A Plaft parece- me uma piquena e peras ! E tem toda a razão ! ...demoram o caraças para chegarem a Mordor... vocês são dos que deixam a Rose explicar as cenas, ou passam á frente? ...
fodaçe tolan, tu não me desiludas caralho!!!
primeiros: uma gaja estrábica é a quintessência da tusa na modalidade bicos;
segundos: um gajo que calça “botinhas” e salta com medo de borrifos dum eléctrico, não tem autoridade moral - ou macheza, na linguagem dos reles necrófilos do Jorge Amado escandalosamente exibidos em horário nobre numa cadeia de televisão que se diz pública - pra chamar apaneleirado a um gajo de cachecol e sapatinho italiano. Mesmo que para rabeta só lhe faltassem as penas, o que parece confirmar-se pelos olhos arregaladinhos pró volume do teu mann;
terceiros: gajo que é gajo não se põe a ler no metro. Fica atento às gajas que lêm no metro e se possível senta-se em frente. Normalmente, páginas tantas, abrem as pernas e um gajo pra matar o tempo dá uma de Moisés… terra prometida e essas merdas;
quartos: quem não lê no metro não é necessariamente um ignorante e analfabeto funcional a desperdiçar a vida. Eu nunca leio no metro e a minha mãe jura a pés juntos que eu não sou nada disso;
quintos: um gajo apaixonado não desdenha da expressão poética, e nem o criativo mais heterodoxo associaria sapatinho italiano a poesia, salvo se o calçante for zarolho. Já a botinhas qualquer estagiário caixa d’óculos associou, pelo menos uma vez, o mann;
sextos: sobre a questão de fechares o livro para lhe apreciarem o volume… não me pronuncio!!!... mas vem na linha do mercedes coiso e tal;
sétimos: pra compor a coisa devias ter terminado com: Saí na estação seguinte e comprei uma dúzia de castanhas assadas. Descasquei-as lentamente enquanto caminhava. Não me saía da cabeça o estremecimento da miúda do metro. Por alturas do terceiro quarteirão e da quinta castanha já a tinha nua.
Inesperadamente esbarrei num poste. Um autocarro pulverizou uma poça de água nas minhas calças. Um pombo assustado bateu asas e borrou-me o pescoço com merda verde. A imagem da miúda a esvaiu-se, um senhor solicito ajudou-me a recompor – estes gajos não respeitam os peões… calaceiros… quando não estão em greve agridem as pessoas! –, dos tomates pra baixo todo molhado, as botinhas shock shlock… fodaçe!... o mann não prepara um gajo pra estas cenas.
Sentei-me à secretária… vou ali comprar umas calças e um par de peúgas. Refodaçe… o senhor solicito palmou-ma a carteira!!!
Oitavos e últimos que já é tarde: mas afinal já andas a ler o mann há quanto tempo caralho???!!!... andas a sublinhar e a escrever notas nas margens é???... o Fermat também escrevia notas, mas propunha teoremas porra!!!... tu népias, lês, observas, pensas!!!... andas é apanhado por essa tal de Plaft!!!... não te cures não!!!
Delta de Vénus, Morte em Veneza do seu Thomas Mann, Elogio da Madrasta, só para mencionar alguns livros pequeninos e trabalhadores da mente. Pensando bem, nenhum deles apropriado para ler no metro, à vista de outros leitores indiscretos ☺
Poursan, tomei as devidas notas. Tens de me explicar as coisas porque eu quero melhorar -_-
Quanto à Plaft, pois estou apanhado por ela porque sei que se tivesse cauda ela abanava quando ouvisse a voz dela acho eu.
ai... melhor que o post é o teu primeiro comentário... Tive a mesma sensação que a Plaft e não foi a ler, voi a ver a merda do senhor dos aneis.
Quando trabalho em Lisboa vou sempre a ler no metro e não escondo que de certa maneira me sinto numa posição de superioridade como quem diz "aqui estou eu a aproveitar o tempo da viagem para acrescentar mais estas linhas ao meu conhecimento e vocês aí adormecidos como se a vida já nada tivesse a dar, como um tempo suspenso na existência."
ri-me :)
ler no metro? qualquer pessoa com o mínimo de experiência em transportes públicos sabe que só se lê decentemente no barco (travessia barreiro-terreiro do paço, preferencialmente) ou no intercidades. o resto é de quem não tem nada que fazer.
Estou a ler o Guerra e Paz e leio-o no metro todos os dias, e sinto-me pedante.
E sempre que vejo homens a ler livros de 500 paginas no metro, acho-os ainda mais pedantes e....pouco masculinos.
Nesse intelectual subway game parece-me que quem ganha é quem vai a dormir :D
Forro os meus livros com papel de jornal por causa de vocês, seus cuscos pedantes do crl. Ide medir pilas para a casa-de-banho dos homens.
Estive para nem comentar depois de ler isto: 'E assim ficámos os três a ler, sentadinhos ao lado uns dos outros, numa carruagem de analfabetos funcionais, estilo freiras num sítio público, a espalhar a a fé no Plano Nacional de Leitura e a fazer as pessoas sentirem-se mal e culpadas por serem ignorantes e desperdiçarem a vida'. Achei de uma condescendência atroz. Aliás achei de uma filha da putice que mete nojo ao caralho. Mas depois de uma profunda e profícua introspeção apercebi-me de que costumo ir no metro a topar quem são os verdadeiros leitores e quem são aqueles que vão para lá para passear os livros de lombadas largas e de nomes sonantes. E por isso veja lá... Também consigo ser condescendente ;)
Inês
Muito bem Inês, parabéns, tem muito jeito para topar coisas e fazer introspeções profícuas, continue.
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