Espero que a violência de ontem seja pedagógica. Os portugueses têm queda para tontinhas que abraçam polícias e slogans parvos. A importância daquelas imagens é incontornável. Pessoas como nós, a levar com um cacetete nas trombas e coisas a arder nas ruas, caos, isso vale por 50 manifestações pacíficas de 500 mil pessoas e por todas as greves gerais de que a CGTP se lembre de convocar. Obrigado aos que atiçaram a polícia, obrigado aos que sofreram as bastonadas e obrigado à polícia pela brutalidade. Aquilo é o que funciona lá fora, para mostrar que em Portugal e Espanha as coisas podem ficar gregas nos 10 segundos de noticiário a que teremos direito. E funciona cá dentro. São essas imagens que incomodam os que adoram a ordem, elogiam a pobreza digna, os que dizem que somos o melhor povo do mundo de forma paternalista enquanto nos ignoram o protesto civilizado. Cavaco Silva também não gosta disto, lembra-lhe uma carga policial numa certa ponte com um nome que ele não gosta de pronunciar e que lhe acabou com o governo.
update: os telejornais agora exploram a "destruição". De repente, é o drama do café da rua que teve de fechar mais cedo, a calçada arrancada, os sinais de trânsito que desapareceram e o povinho que diz "e agora nós é que pagamos estes estragos, isto está muito mal", aquele povinho velho e rasteiro que para isto se indigna, para uns trocos de reparações de vandalismo, enquanto que só no BPN foram oito mil milhões que para eles são tão abstractos como a Nossa Senhora de Fátima. Até o calceteiro, que por acaso hoje teve trabalho de sobra, sentencia para as câmaras da RTP: "é gente que nem merecia respirar".
13 comentários:
O primeiro comentário ao que aconteceu ontem com honestidade, sem hipocrisias, com coragem. Parabéns.
Acho que eh o primeiro post que leio na blogoportuguesa que nao condena a violencia de ontem. E tens razao. Embora nao me parece culpa do povinho rasteiro nao saber distinguir entre trocos e 8 mil milhoes... O povinho rasteiro mal sabe ler e nem as elites nos safam. Oh Tolan, nao te queres candidatar nas proximas legislativas?
O primeiro post acéfalo do Tolan! Não há clarividência sem alguma neblina, é a confirmaçao que o Autor é humano! É um de nós!
A porradaria, estavam a pedi-las e a polícia, picada com as pedradas, mandou a razão às urtigas e arreou forte e feio sem olhar a cabelo. De resto, a montanha pariu um rato, e a malta não invadiu S. Bento porque não quis
Claro está que o MAI quando questionado se não terão sido os polícias á paisana infiltrados os agents provocateurs, disse sentir-se insultado com a prrgunta. 3horas de boa TV... uma excelente maneira de passar uma tarde de folga... :)
clap clap clap. concordo com tudo. ainda há bocado, quando via o telejornal e dizia o mesmo que tu, me chamaram idiota. pelos vistos, já somos dois idiotas. venham mais.
ah!e se tivesse facebook, fazia like e share :)
Estás a falhar Tolan.
A "violência" em concreto serviu para quê? Arremessar pedras da calçada à polícia em frente da Assembleia numa greve geral, serve concretamente para quê? Para as pessoas dizerem que "as pessoas estão desesperadas"?
Que pessoas? As pessoas que estão a atirar pedras e a beber cerveja? Eu? que trabalho como um cão? Não confundas as coisas. Lá fora, e a título de exemplo, existem carros queimados. Concretamente em França. E não é numa greve geral. São problemas concretos de minorias (Argelinos etc). Achar que numa greve geral atirar meia dúzia de pedras e picar a polícia é sinal de sangue na guelra do "povo" é estar muito enganado. Eu, que voto e não me revejo nem na greve nem no governo (que somos sim, a maioria dos votos) ficamos onde?
A "revolução" nunca foi dos descamisados. Acho que sim, que as pessoas se manifestem. Já a queimar carros, tenho muita relutância. Porque o Governo é o que é (com PSD ou PS) à causa da "base social".
R.
Que grande confusão R. Eu falei em queimar carros? O que perguntas está explicado no post. O image byte da carga policial inédita em portugal desde o início da crise, alinhado ao lado das imagens de espanha, ajuda a criar a consciência (correcta aliás) que a austeridade continuará a potenciar a tensão e que é insustentável. Parece que ignoras Maio de 68, Stonewall riots, direitos dos negros, enfim, todas as manifestações e movimentos que tiveram sempre franjas violentas que têm precisamente como objectivo materializar o conflito em algo de simbólico e radical. Eu também não me revi na greve (não fiz), e depois? Revejo-me no sentido dos protestos, desde a greve às pedradas. A forma é-me irrelevante, desde que seja a mais eficaz e só não concordo com as greves porque as acho ineficazes e porque acho que só fazem sentido em conflitos com o próprio empregador, o que não é o caso da maior parte das pessoas.
eu próprio não atiraria uma pedra à polícia. Podia atirar uma bola de ténis por exemplo. Ou um tomate.
Maio 68 foi beber aos protestos contra a guerra do Vietname. Concretamente começaram como meras manifestações estudantis. Só depois foi aproveitada pelos diversos setores. E é aí que bate o ponto. Quem aproveita meia dúzia de borregos à pedrada à polícia? Em que adianta? Há efetivamente base social para protestos sérios? Para evoluções sérias? Os exemplos que dei de França são notórios. Existe base social para isso. Existiu o vietname nos EUA, os direitos dos negros etc. Aqui há o quê? A base social é efetivamente contra toda e qualquer reforma do Estado. Não vejo sentido nestes cambalachos, ou melhor, vejo, como escape.
R.
Desculpa, em França existiu e existe a questão da Argélia e dos Argelinos, existiu a guerra a igualdade dos sexos etc.
Aqui são os filhos dos funcionários públicos... a protestar contra a falta de empregabilidade no setor público...
R.
nós não somos tontinhos, nós precisamos é d amooooor
Claro que não aproveita, a pedrada e o coqktail molotov devia ser á porta das principais firmas de advogados do pais, do BES, e outros casos responsaveis pelo BPN. Sim eu sei que há tribunais e justiça e estado de direito e democracia e etc. E é para todos??
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