Acabei de assistir à cerimónia oficial de início dos jogos olímpicos de Londres, realizada por Danny Boyle. A Plaft está sentada no chão, num canto da sala, apática, a abraçar os joelhos flectidos contra o peito, balançando-se numa mímica autista. Tentei falar com ela para confirmar a minha impressão, mas foi como se não me conseguisse ouvir… os olhos permaneceram fixos num ponto invisível para lá de mim, do mundo. Estou também um pouco confuso e em choque e talvez fosse bom dormir umas horas, apanhar ar, ver o Tejo, antes de escrever. Gosto de ver o Tejo. Relaxa-me. Gosto do sorriso das crianças, dos velhinhos a jogar dominó no jardim, os cafés, o bulício da normalidade conforta-me. Mas por outro lado, pensei que escrevendo agora, conseguia captar com mais intensidade a avalanche de sentimentos ambíguos que me preenche a alma. Tentei evocar outros momentos da minha vida em que me senti assim, para colocar as coisas em perspectiva. Lembro-me de uma matança do porco a que assisti por engano aos 8 anos (“tás a anhar ó quê? Tamos a atá-lo qu’ele muita traquinas, é só na brincadeira” disseram-me eles). Lembro-me também de ver o segundo avião a chocar com o wtc em directo. Recordo-me de uma crónica da Laurinda Alves na Xis, sobre ser boa pessoa. Sim, creio que na vida tive muitos momentos em que aquilo a que assistia era mais do que conseguia processar. Eu tinha dito à Plaft que a cerimónia dos jogos olímpicos de Pequim tinha sido estrondosa e que esta, apesar do orçamento menor e dos vestidos da rainha de Inglaterra, podia ser engraçada. Ela nunca tinha assistido a nenhuma. Olhando para ela agora (continua no canto da sala), penso que terá sido a última cerimónia que vai ver na vida. Talvez… talvez a última coisa que tenha visto na vida.
Vou abster-me de comentar todos os segmentos em concreto, os detalhes, porque ainda é demasiado cedo para me recordar de tudo com nitidez e posso precisar de hipnose regressiva. Lembro-me da rainha de inglaterra e de dois cães e do Beckham num barco no Thames. E de ver o Mike Oldfield a tocar vários instrumentos. E da JK Rowling a ler uma coisa com uns monstros e de aparecer a Mary Poppins. Muitos aleijados também, como num video promocional do pirilampo mágico.
Por vezes, quando é tarde e estou no youtube entorpecido por falta de sono, stress, café e álcool, chego àquela parte… da internet… do youtube... Vocês sabem a que me refiro… clicamos naquele video do fail do programa de metereologia em que a gravata do tipo tem a mesma cor do fundo de croma e fica invisível e depois clicamos no outro do anúncio dos anos 40 a elogiar os benefícios do tabaco e depois no outro com os acidentes mais aparatosos do rally da corsega e depois no outro com o genérico do bay watch e depois outro com o nipple slip da Mariah Carrey nos grammys e passado um bocado estamos a ver um documentário chileno sobre chá verde e três horas depois, a meio de um vídeo de um concurso japonês em que uma apresentadora com orelhas de coelhinha inflige pancadas fortes com um taco de cricket nos genitais dos concorrentes masculinos, sentimos a consciência suficientemente aniquilada para dormir? E dormimos como mortos?
Boa noite, Danny Boyle.
10 comentários:
Não vi a Cerimónia, mas parece ter sido um...assombro.
Grande Tolan. Épica a parte do Pirilampo.
Abraço.
Nunca pões as putas virgulas nos vocativos! Fico fodido!
BOA NOITE"," DANNY BOYLE!
FODA-SE!
Eu curti bué. E tenho o Boyle atravessado desde o Slumdog Millionaire.
Coragem!
Só tenho uma coisa a dizer: O que é o Voldemort terá a mais que o Gandalf? (A menos sei que tem o nariz)
eu não vi, mas... foi assim tão má?
Partes foram... estranhas...
mas para que conste, adoro os jogos olímpico...
estranho?
isto é estranho.
http://www.youtube.com/watch?v=1BrpZe8PUBI&feature=related
Isso... é estranho...
já conhecia a versão do dating.
will you go out with me tumowró
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