Outra coisa que me lembrei agora (isto agora é umas atrás das outras, podia escrever 3 horas de seguida só coisas destas): as pessoas deprimem-me um bocado.
Não levem a mal, vocês são pessoas. Mas é verdade. Deprimem-me mesmo, a maior parte delas. Não entendo, é como se tivessem os olhos fechados para as coisas e depois são muito previsíveis e básicas, e lembram-me o que eu próprio devo ser para o mundo exterior. Eu também pareço assim às outras pessoas. Já me disseram isso ou coisas parecidas, pessoas que primeiro contactaram comigo em ambientes de circunstância, em que somos forçados a conviver uns com os outros, e que depois foram encorajadas por horas tardias e bebida a mais, que me achavam arrogante. Da primeira vez que ouvi isto fiquei muito sentido, "eu, arrogante?", achava injusto porque realmente eu sou simpático porque quero que as pessoas estejam bem dispostas, coitadas, a vida delas é uma merda. Também não gosto nada quando as pessoas se dão à liberdade de me caracterizarem, tipo, nunca me passaria pela cabeça dizer a alguém assim o que penso dela, acho isso uma violência totalmente desnecessária. Vou ao mesmo café e restaurante há 4 anos quase todos os dias e os senhores do dito esboçam às vezes (1 ou 2 vezes por mês) tentativas de fazer conversa comigo, a propósito de um rodapé no telejornal ou uma manchete da bola, visto que sou responsável por 50% dos lucros deles. Eu fico sempre meio confuso porque eles não acertam uma, dizem sempre coisas sem sentido como os taxistas. Eles depois calam-se. Mas vejo como gajos que só começaram a frequentar aquele café ou restaurante há muito menos tempo e com menos frequência estão cheios de à vontade e discutem tudo e tratam-se por tu e metem-se uns com os outros. Eu só quero beber o café, almoçar, acho que há assim uma dignidade e respeito mútuo em não encher os ouvidos de um empregado de balcão ou de mesa, até porque já fui empregado numa quinta de casamentos e sentia exactamente o mesmo desconforto quando clientes queriam conversa. O meu refúgio é o Moamba em Alcântara, é para onde vou quando quero estar mesmo sossegado, a comida africana (cachupa, moamba, etc.) afasta os estômagos sensíveis de conhecidos na zona e o empregado preto é discreto como um ninja, consigo acabar capítulos inteiros naquele restaurante, apesar das páginas ficarem manchadas de óleo de palma e molho picante. Outro é o irlandês das Docas, gosto dos hamburguers e uma pessoa fica ali à beira do rio, a ver os barquinhos. Há um veleiro que se chama "Evadido", gosto muito daquele barco e está sempre lá, atado ao cais.
5 comentários:
Thumb Up pra este
Para mim, é milhões de vezes mais difícil fazer conversa de chacha do que escrita de chacha. O truque para estar calado sem parecer arrogante é sorrir das imbecilidades que as pessoas vão dizendo. E escreve as merdas todas que te apetecer vá, deita cá para fora.
Em casamentos e baptizados costumo desligar o modo arrogância. São umas horas seguidas com pessoas que não conheces de lado nenhum, convém sorrires cinicamente de vez em quando. Porque por norma o baptizado vem a seguir ao casamento e essas pessoas vão estar lá outra vez, mas mais gordas e com cabelos brancos. Em funerais não. Sorrir em funerais já não trás nada de bom. Aí activo o modo outra vez, e as pessoas pensam até ficam a pensar que estou a carpir mágoas à macho.
Tenho sempre TANTO MEDO de ser o senhor do restaurante (ou mesmo o taxista) e de te deprimir irremediavelmente com os meus comentários...
Não deprimes nada, Palmier, eu não leio os comentários. Pronto, li esse, mas foi uma excepção.
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