Sou uma menina que tem dois anos. Vivo num castelo muito
grande há muito tempo. Tem um corredor muito comprido e muitos quartos. O céu dos quartos
está muito longe porque é um castelo muito grande e antigo. Às vezes há nuvens
e não dá para ver o céu dos quartos por causa das nuvens. A mãe e o pai
construíram uma tenda no quarto da princesa real. A princesa real é eu. A mãe
às vezes quer entrar na tenda mas a tenda é da princesa e ela fica triste
e começo a chorar e a mãe foge. O Sujinho é o coelho. Nasceu ao mesmo tempo que
eu que sou a princesa. Somos os melhores amigos e gosto de o mastigar e
depois de brincar com ele ao atira-te ao chão Sujinho! ou ao vai pelo ar Sujinho!
Os pais é deram a ele o nome de Sujinho, não sei porquê. Uma vez tiraram o Sujinho e depois
fiquei a ver o Sujinho na máquina a andar à roda e tinha as patinhas encostadas ao
vidro e rodava, rodava, rodava. E depois ficou no estendal do pátio preso pelas
orelhas e eu sei que doía e chorei muito e depois ele veio e cheirava mal, demorou muito a ser o Sujinho outra vez.
Eu e o Sujinho gostamos de ver o carteiro Paulo, é sempre emocionante. O carteiro Paulo é um carteiro que tem um gato preto e branco e
depois tem aventuras. O pai comprou os filmes todos do carteiro Paulo. Já vi
mil vezes infinitas o episódio em que o carteiro Paulo não pode entregar o
correio porque caiu uma árvore na estrada. E o gato Preto e Branco olha para ele
e depois adormece. É muito engraçado porque o gato adormece. São
sempre histórias emocionantes mas fazem impressão aos pais porque tem muita emoção e suspense e eles não aguentam. O pai e a mãe
fogem quando começa a tocar a música do carteiro Paulo e vão os dois beber chá
de uma garrafa escondidos na cozinha e o pai começa a fumar.
O carteiro, o carteiro
E o seu gato preto e branco
O pai gosta de ver senhores a falar na televisão e depois começa a falar na crise. O meu pai é uma pessoa importante e manda muito
e vai salvar o reino. A minha mãe foge para a cozinha quando ele começa a falar
disso e depois o meu pai fala para mim e para o Sujinho e ouvimos os dois com
muita atenção até começar outro episódio do carteiro Paulo.
Quando os meus pais estão tristes do dia no reino lá
fora eu gosto de os ajudar porque sou uma princesa generosa. O carteiro Paulo é muita emoção para eles, mas o pai fica muito feliz quando a princesa generosa deixa o
Economist no colo. A minha mãe gosta que a princesa peça colinho. Gerir uma
relação com os pais é difícil e temos de fazer sacrifícios. Senti que era
altura de deixar de usar fraldas e a semana passada comecei a fazer chichi e
cocó na sanita onde o Sujinho tomava banho às escondidas. Os pais
ficaram muito contentes. Se eu soubesse tinha feito isso há uns meses.
Às vezes o meu pai começa com um
cachecol verde a dizer “Spoooorting!” até eu e o Sujinho dizermos “Spooorting”
também e ele fica todo contente. Os mais crescidos são muito simples. Não têm
de lidar com a complicação que é ser uma princesa num castelo e tomar conta do
pátio das flores.
Tenho um pátio que tem muitas flores. As flores são bonitas e
nascem abelhas para mim. Tenho um regador cor de rosa com pintas pretas e sou eu que salvo as flores de
morrerem à sede e a água depois faz nascer abelhas nas flores. Gosto das abelhas porque são amarelas e pretas e voam como eu
e o Sujinho quando joga ao vai pelo ar Sujinho mas a minha mãe não gosta que eu
tente apanhar as abelhas e tem medo delas. O meu pai não gosta que eu brinque
com as flores. Elas querem brincar comigo e começam a dançar e a dizer para as
salvar porque estão presas nos vasos e não podem ver o castelo. Assim que arranco umas flores para brincar com
elas e mostrar-lhes o castelo, o pai vem a correr a dizer “não, não! Não faz isso às flores!”
É muito mau
para as flores, o pai. E fala comigo na terceira pessoa do singular sempre que se trata de um contexto de limitação da minha liberdade. Mas dá jeito porque quando tenho fome ou quero brincar
com ele e não sei onde ele está, é só arrancar uma flor e ele vem a correr. Para
chamar a minha mãe é mais fácil ainda, é só chorar. Ela é capaz de ouvir eu a chorar de
uma ponta à outra do castelo, mesmo quando o pai tem a televisão muito alto para
ver senhores sérios a falar. E acorda a qualquer hora da noite e vem a correr. Às vezes gosto de brincar ao chora chora vem a correr mãe toda noite porque passado um bocado vem o meu pai também, e depois a minha mãe e é à vez. É muito divertido.
Também gosto de me esconder. Os meus pais
gostam muito desse jogo. Uma vez escondi-me no roupeiro da mãe debaixo da roupa
dela que cheira bem e adormeci e acordei com a minha mãe a chorar sentada na
cama e o meu pai a gritar por mim na rua. Foi muito divertido para mim e para o Sujinho e para eles também porque quando a mãe viu eu e o Sujinho a sair do roupeiro ficou muito contente e o pai subiu as escadas a correr todo contente também!
Para a Catarina, o J e a R.
8 comentários:
E agora? fiquei a rir-me sozinha no computador e, questionada pelos coleguinhas de trabalho pela razão da risota, li-lhes alto (enquanto me ria pela segunda vez) a totalidade do teu texto (sim...tudo, tudo)... e agora estão ali... a olhar para mim... a achar que estou maluca... :S :DDDD
Delicioso!
"porque passado um bocado vem o meu pai também, e depois a minha mãe e é à vez. É muito divertido."
Ainda bem que esclareceste que isto é um jogo. Sempre pensei que fosse uma forma de tortura sofisticada.
(Ah, e uma criança de dois anos saberia o nome do gato ainda antes do do carteiro ;))
Se isto se passasse numa cave era um conto infantil belga.
Austríaco. Caves é austríacos.
Agora é bósnia. Caves é na Bósnia. Para a semana será em Sanfins do Douro, assim haja falta de notícias.
Assim o dia da criança tem outro sabor. Obrigado.
lovely!
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