Se googlou por uma crítica séria a este livro, veio ao lugar certo. Neste blogue fazem-se importantes críticas literárias, muito influentes. Aqui um exemplo do que sucedeu às vendas de camiões e automóveis depois de uma crítica minha favorável aos camiões em 1992. Gostava muito mais de camiões do que de carros em 1992. Em 2006 mudei de ideias e depois em 2008 voltei a dizer que os camiões e os carros eram bons.
Esta aqui é a capa do livro que vou criticar hoje, talvez já a tenham visto porque nos últimos dias tenho almoçado a ler o livro e reparei que algumas pessoas olharam para a capa. Se forem uma dessas pessoas, era eu que estava a ler este livro. Os outros ficam a saber que a capa do livro é assim.
É uma capa muito suí generis.Vamos então ao livro. Vou tentar poupar-vos aos detalhes biográfios de H.P.Lovecraft, podem procurar na wikipedia ou noutros sítios da Internet por informação sobre o mesmo. Eu descobri que não posso fazer isso antes de escrever uma crítica séria ou não consigo escrever nada porque fico bloqueado com tanta informação e pontos de vista diferentes. É o problema das pessoas com cultura, que sabem coisas, normalmente começam a resignar-se ao silêncio e a citações, um problema de que os taxistas não padecem.
O Stephen King diz que o Lovecraft é o maior escritor de terror do século XX e realmente, assim parece ser. Contudo, apesar de formalmente perfeito e com aura de clássico, este livro sofre de pequenos problemas que se prendem com ser um bocado datado e o efeito no sistema límbico (o medo) ficar assaz neutralizado. Parece ter sido escrito pelo cruzamento de um geólogo com um arqueólogo com imaginação fértil. Está pejado de detalhes científicos. Estes detalhes são essenciais para a construção da atmosfera. Um grupo de investigadores vai explorar a Antárctica, continente até então muito desconhecido, como o era na época (1931). O homem sempre projectou no desconhecido os seus mitos e medos. Toda a mitologia ligada ao mar e aos descobrimentos é um exemplo. O blogue Abrupto do Pacheco Pereira é outro. No livro, uma civilização muito anterior à nossa veio do espaço, montou a base em montanhas na Antárctica e gerou toda a vida na terra de forma artificial. Isto é o exorcismo da ciência, da crueza e horror da ciência que, com a teoria da evolução de Darwin, deixou de permitir uma concepção antropocêntrica do universo. Não só não fomos criados por Deus e descendemos dos macacos, como somos o resultado de experiências científicas para a criação de escravos miseráveis, por civilizações muito mais avançadas e seres muito mais poderosos. Se considerarmos a época em que este romance foi escrito, podemos perceber porque é um clássico, visto que contém uma miríade de elementos que ainda hoje são usados em qualquer história do género. Não pude deixar de me lembrar do The Thing de 1982 de John Carpenter.
Nas montanhas da Loucura temos "acreditar"no facto de existirem montanhas muito mais altas que o Evereste na Antárctica e isso, sendo descrito de forma meticulosa e científica. Sei que parece um detalhe, mas a base do romance é a atmosfera. Os detalhes científicos, biológicos, antropológicos, históricos e geológicos são atirados para credibilizar a ficção e destinados a um tipo de leitor que, na época do livro, acreditaria nisso. É um bocado o mesmo princípio que torna obras como o Código Da Vinci profundamente datadas a curto prazo se descobrirem, graças a poderosos instrumentos de datação de carbono, que Jesus não só não era casado nem teve filhos, como era gay e tinha, com Judas, adoptado um pretinho.
Este tipo de livro acaba por sobreviver ao teste do tempo por um motivo diferente da intenção que o gerou. Deixa de ser um livro de terror, mas um livro sobre os terrores daquela época, é como ver o RTP memória e ver um programa de debate sobre a CEE. Tal como no Dracula de Bram Stoker (este sim, resiste ao teste do tempo e continua a ser arrepiante), é fascinante o contraste entre o estilo contido, científico, objectivo e algo "formal" (profundamente anglófilo) destes narradores que são quase sempre cavalheiros cientistas /médicos e que lidam com o grotesco das fronteiras do desconhecido e do horror inominável. Um bocado como eu me sinto quando oiço pessoas de esquerda falar de "economia" ou leio blogues femininos. E pronto, obrigado por lerem esta crítica, espero que tenham aprendido qualquer coisa. O livro é bom, era o que eu queria dizer.
14 comentários:
Nunca li Lovercraft, apesar de ser um (ou o) autor fétiche de me mate. Que por acaso também gosta muito de Carpenter, e me obrigou a ver The Thing (belo filme, por acaso). A ver se lhe impinjo esta crítica, porque ele não grama nada o Drácula de Bram Stoker, que por acaso muito apreciei, e que também versa sobre esses medos do desconhecido e "estrangeiro". Quanto a blogs femininos-rosa, percebo o paralelismo, mas na cena da economia explicada por pessoas de esquerda, perdeste-me.
Eu perdi-me logo no principio, porque é importante ter um estudo.
Um estudo revelou que os carros, etc etc,
Qualquer coisa com valor começa por "Um estudo..."
Depois vem o "Lovecraft", não sei... ou estou muito critico hoje, ou talvez fosse melhor mudar de nome. Fiquemos por aqui.
Logo a seguir o/a Izzie vem dizer o The Thing é belo. Por causa desse senhor carpinteiro ainda hoje temos que gramar com 50 milhões de filmes com bichos de vária ordem de fealdade a sair por tudo quanto é corpo. Belo não é.
Mais interessante são os medos do desconhecido e estrangeiros.
Houve alguéns que disseram coisa no sentido de ser nós mesmos o estrangeiro e os medos nascem e acabam em nós.
Somos nós o inferno.
Ó mãezinha! Olha ele!!!!
(esta última parte o freud deve explicar)
(juro que não foi para meter o senhor ao barulho)
(chega antes que corram comigo)
Olha que dizer que o The Thing é um belo filme não é o mesmo que dizer que o The Thing é um filme belo.
pormaiores ;)
não me ligues, só escrevo para não ficar calado.
E partindo do que disseste, talvez seja também um espanador para os meus estrangeiros.
Por acaso gostei bastante do L'Étranger, ainda que nunca tenha lido mais nada do Camus.
Lovecraft no Séc XX e Poe no XIX é onde toda a malta do género vai beber. Do primeiro só li "O Caso de Charles Dexter Ward" e gostei bastante.
Safa, Tolan, tivesses lido isto aos 15 anos durante a noite e logo vias se o medo te ficava "assaz neutralizado". Às vezes ainda tenho pesadelos com aquele som que as criaturas faziam, não me lembro como era, kik, quick, kik wik, já foi há muitos anos. O "The Thing" é uma história Disney ao pé disto. Mas fico contente que andes em tão boa companhia à hora de almoço. Já agora o melhor do Lovecraft, para mim, é o "Estranho Caso de Charles Dexter Ward", a começar logo pelo nome.
Do Lovecraft apenas li o Herbert West Reanimator e tentei ler Os demónios de Randolph Carter, mas não passei do segundo capítulo. O primeiro gosei bastante, o segundo até estava a gostar do que li, mas depois parei muito tempo e acabei por deixar de lado. Mas pelo que dizes, esse é demasiado sci-fi para mim. Prefiro terror mais 'puro', o Dracula, que referes por exemplo, ou o Frankenstein, que não é bem terror, porque chorei (!) ao ler o livro (a criatura não era má, as pessoas é que a puseram má).
o primeiro parágrafo do post é delicioso. genial.
Troll, não sei como veio o Camus à baila, mas amei O Estrangeiro (li em Português, o meu nível de francês é fraco para ler livros inteiros).
Que SUSTO! Quando a capa do livro começou a aparecer no ecrã, juro que, por segundos (breves, claro), temi que fosses falar sobre o Sétimo Selo, do José Rodrigues dos Santos...
Ainda estou a tremer...
O melhor em rever The Thing é na opção comentário do realizador ver a palheta entre o Kurt Russell e o Carpenter, com o tilintar de copos de whisky no background.
A forma como é abordada a conclusão é simplesmente deliciosa.
Light trucks não são camiões pá. São pickups, carrinhas tipo Transit e SUVs.
Sobre o resto não me pronuncio por não perceber nada, mas assumo que esteja igualmente errado.
Estás enganado, quando muito era camioneta, nunca carrinha. Pickup é pickup, carrinha tipo transit é van e SUV é suv. Light Truck é uma pequena camioneta de carga, tem cabine e caixa de carga até 3800kg, embora os tipos às vezes designem o género pick up por light truck não é o oficial.
Basta fazeres um google image search por "light truck" e vês que não estou a aldrabar. Admito que camiões é um bocado estica, mas quando fiz a crítica aos referidos veículos nas datas em questão, dividi-os em dois grupos, os automóveis e os acima das carrinhas, incluindo os light trucks. Como estes tiveram vendas iguais aos normal trucks, heavy trucks e very very heavy trucks, achei que seria um bocado redundante incluir as curvas das vendas dos mesmos no gráfico.
Não. "Light truck" é uma classificação americana que inclui, para efeitos de eficiência energética - os standards CAFE - todos os veículos que descrevi acima. E é isso que o gráfico reflecte, a subida nas vendas de Ford Explorers (que ganhou o prémio "truck of the year 2011", vai lá ver se aquilo se parece com uma camioneta) e afins.
Mas está bem, não te safaste mal com a admissão do esticanço, pelo que o resto do texto também pode não estar completamente errado, embora continue sem perceber nada. Agora vou-me embora e não chateio mais, porque não sou gaja e não posso ser visto a deixar comentários em blogs de engate.
"Isto é o exorcismo da ciência, da crueza e horror da ciência que, com a teoria da evolução de Darwin, deixou de permitir uma concepção antropocêntrica do universo. Não só não fomos criados por Deus e descendemos dos macacos, como somos o resultado de experiências científicas para a criação de escravos miseráveis, por civilizações muito mais avançadas e seres muito mais poderosos."
De acordo com a Teoria da Evolução, o homem não é descendente do macaco, mas ambos possuem ancestrais em comum.
é ruim o livro, só não é pior do que essa crítica, escrita por alguém que pensa que sabe escrever inventando palavras que nem existem, como "adoptar", "oiço" e etc.
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