Comprei o livro a pensar noutro leviatã qualquer. Leviatã é uma daquelas palavras que eu conhecia mas não sabia o significado ou a origem e tinha vergonha de perguntar às pessoas que sabiam. Como em muita coisa na vida, prefiro aprender sozinho. No outro dia, eu e a Plaft descobrimos que sabíamos exactamente qual era a cor de burro quando foge (é uma espécie de cinzento acastanhado) e depois fomos ver na net e afinal "é uma cor que não existe, indefinida". Sabia que "Leviatã" era uma coisa muito importante, meio bíblica e que aparecia no Moby Dick a espaços e que não sei porquê confundi com outra merda qualquer do tipo Comédia Divina ou Inferno, aquilo do Dante. Afinal é um peixe, tipo o charroco ou dourada, mas também pode ser uma lula gigante (o Kraken), um hipopótamo, uma baleia (que não é um peixe, como a lula ou o hipopótamo), etc. de maneiras que é perfeitamente normal alguém não saber exactamente o que é um leviatã.
Este livro não era o Leviatã que eu pensava que seria, mas é muito bom na mesma. O Joseph Roth é judeu (surpresa, com um nome assim ninguém diria) e foi uma pessoa notavelmente infeliz, como aliás, o são a maior parte dos judeus que estão no sítio errado na hora errada. Atraiu-me muito a biografia dele. Ele bebia, o que é sempre bom. Depois apaixonou-se e deixou de beber tanto, só que a mulher dele era maluca e ele passou a beber ainda mais. Juntem-lhe uma vida miserável em Berlim nos anos 30 em plena efervescência anti-semita e têm um judeu típico que se mete a escrever e a ler ou a fazer outras coisas do género para se ocupar sem incomodar muito os outros.
O livro, como já perceberam, é sobre um comerciante de corais judeu que faz jóias com os corais, coisas muito bonitas e que vive apaixonado pelo mar (que nunca viu, pois vive numa pequena aldeia do interior). É uma história muito bonita, vale bem a pena o investimento de tempo porque conseguem ler o pequeno livro de uma assentada, o que é sempre bom porque assim podem dizer "este mês li um livro", o que não acontece quando lemos uma coisa como o Dom Quixote e parecemos uns ignorantes durante meses.
9 comentários:
e é também o nome de um dos melhores livros da Filosofia política.
Agora há uma coisa importante a saber no meio disto. No talmud vem escrito que o Leviathan vai ser servido no banquete dos justos no final dos tempos. Convém, por isso, saber se se trata de uma lula ou de um peixe porque se a recompensa dos justos depois do julgamento final é comer calamares, digamos que Deus é um bocadinho pelintra.
Dá uma oportunidade ao Job (Jó).
Não sejas mamerrão, porque eu também não gostei do "Women" do Bukowski.
R.
Por momentos temi que fosses falar do Leviathan do Paul Auster, fugiu-me o sangue todo da cabeça para os pés, tive uma tontura, ia quase desmaiando, mas depois vi que não e fiquei tão aliviada.
Ola,
Interessante. Leu o Conto da Sereia do Torrente Ballester ? Parece-me reunir algumas das qualidades que v. aponta ao Leviatã do Roth. Nunca li este ultimo autor. Fiquei curioso e vou provavelmente fazê-lo agora, graças a este post. Obrigado.
Seja como fôr, nada como ler, reler, re-reler o Dom Quixote. Uma obrigação higiénica que devia ser imposta mediante sanções penais e cujo principal interesse é, precisamente, lembrar que não parecemos, mas somos mesmo, completamente, ignorantes.
Boas.
Não li o conto da sereia desse autor, vou investigar. E concordo quanto ao Dom Quixote :)
Se fores investigar Ballester e não tiveres lido, compra também a Saga/Fuga de JB.
(se não gostares podes enviar-me a conta)(e o livro, que emprestei o meu e nunca mais voltou)
Devia guardar as sugestões de livros para ler num excel as seguintes colunas: "título", "autor", "quem sugeriu", "quando", "porquê, a que propósito?" -_-
Nunca se empresta livros, deve-se evitar muito essa actividade de emprestar ou de pedir emprestado.
ei, isto não é uma crítica literária... isto é uma badana do livro. assim não vale.
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