domingo, 15 de abril de 2012
instantâneos entre grandes escritores #1 Tchekhóv e Tolstói
- Ouve o que eu te digo Tchekhiuchka: o chá verde é excitante. Pensas que não é, bebes duas taças à noite e depois não dormes nada.
- Se calhar tem razão.
- Claro que tenho, meu urso! Bebe chá de camomila por exemplo, tenho sempre o samovar cheio dele.
- Sim.
- E não te armes em esperto comigo que eu sei mais do que tu que és médico.
- Foi só uma sugestão.
-Ah bom. Então guarda-a para ti para a próxima. Quando tiveres uma barba como a minha em vez dessa barbichazeca vem cá dizer-me como devo viver a minha vida.
- Estamos só preocupados consigo avô Tosto, a Sofya pediu-me para vir cá visitá-lo.
- Essa parva!Agora tu ouves o que elas dizem? Vais longe vais..
- É só que não tem dormido nada. Tem de descansar.
- Descansar!? Viste o jornal de hoje? Já viste em que estado está a Humanidade?
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6 comentários:
Falta referir que a tradução do filipe e da nina guerra, naturalmente.
o texto está realista, até porque: sabiam que havia grande animosidade da parte do velho em relação a Tchékhov (acento no é)? Era o novo que o ia destronar genialmente, sem beatices nem aristocracices camufladas. Então tornou-se paternalista para com o puto Anton.
conheço o perfil de cada um pelas notas biográficas que li pela net e do que li de cada um, mas não sabia dessa animosidade. Deduzi o texto apenas pela expressão de cada num na fotografia.
Pela disposição da mesa e do traje informal, percebe-se que é Anton que o visita e não o contrário. Tolstói parece "surpreendido" num qualquer seu hábito diário de tomar chá ou café na varanda, pelo visitante vestido a rigor. Depois Tolstoi fala com o que parece ser um lápis erguido, como que a meio de uma frase acalorada e Tchekov tem as mãos unidas no colo numa posição de respeito e alguma humildade, visto que não olha directamente para Tolstoi mas sim para a mesa, em oblíquo, como alguém que está a ser paciente. Está também afastado da mesa, o que sugere uma distância "formal" entre os dois.
É pelas cartas de Tch. ao irmão, a outros escritores e a amigos, onde Tch. se exprime mais livremente, que se depreende o respeito dele pelo velho mas também alguma ironia. Por outro lado, na correspondência de Tolstoi com várias pessoas, Tch. é mencionado mas de alto e por alto, até que numa correspondência qualquer (agora não me lembro com quem) admite, mas num tom agastado, que o novato é bom, mas enfim...
isto desde a wikileaks que um escritor russo do século XIX já não pode trocar cartas com privacidade, sinceramente...
Por falar em animosidade, este belo instantâneo fez-me lembrar, talvez pela coincidência do aspecto físico, outros dois monstros: Jung e Freud (ainda tenho a lembrança do Cronenberg fresquinha da semana passada). Mas nesta minha fantasia, ter-se-íam ambos esquecido de aparar as barbuchkas durantes largos meses.
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