Algo deve ter corrido mal porque, não sei como, criei a imagem de que sou de direita.
Reparei nisso porque as minhas visitas descem abruptamente quando falo de política e eu sei muito bem que as pessoas que lêem mais, são normalmente de esquerda. Fico muito triste de, para satisfazer o target intelectual de esquerda, não me bastar dizer que sou ateu e que quero que a autoridade se foda.
O problema é que a minha adorada Plaft, Sílvia é profundamente de esquerda e como se isso não bastasse, é artista, sendo obrigada a prostituir-se em coisas comerciais para ganhar decentemente ou então tem de passar fome e andar com roupas andrajosas quando quer fazer arte a sério paga pelos meus impostos.
É uma pessoa daquelas que apela a greves gerais e que vai para a rua manifestar-se e que depois é insultada por pessoas como eu que as vêem no telejornal no novo televisor de led 3D (ainda não estreei o raio do 3d!).
Ora, eu estou perdidamente apaixonado por ela e por isso quero compreender bem isso de ser de esquerda. Estou disposto a fazer um esforço. Ontem ela levou-me a ver o Portugal real. Disse que seria pedagógico para mim sair do meu meio e ver como as pessoas reais vivem a sua vida.
Isto é por fases. A primeira fase foi ver como as pessoas reais se deslocam. O carro alemão estava fora de questão. Tínhamos de ir de autocarro. Lol. Eu não ando de autocarro desde a universidade (antes da minha curva de rendimento disparar devido ao investimento dos meus pais na minha educação e na escolha de um curso com procura no mercado de trabalho). Os autocarros para mim são aquela merda que nas rotundas atrapalham à brava e que precisam de imenso espaço para fazer curvas e que estão cheios de velhos, pretos e estudantes. E é verdade, estão, confirma-se. Reparei também que as faixas do bus estão cheias de buracos e que o motorista era um psicopata em potência. Também notei que o ar condicionado funcionava mal, que os bancos não eram em pele e que não havia primeira e segunda classe.
Fiquei com muita pena das pessoas todas e disse-lhe 'estou com muita pena destas pessoas' e ela ralhou comigo porque eu não devia ter 'pena', mas sim admiração e respeito. Fiz um esforço e comecei a sentir mesmo admiração e respeito por toda gente ali naquele autocarro. Sim, aquele senhor tinha aspecto de desempregado, aquele pretinho aspecto de ladrão honesto, aquele estudante aspecto de estudante de sociologia... mas respeitei-os a todos.
Só me aborreceu um pouco que o autocarro parasse nas paragens em que não eu não precisava que ele parasse, só para a apanhar a merda de uma velha que de certeza não tinha nada de importante para fazer em sítio nenhum. Quis falar com o motorista para lhe explicar que queríamos sair no rossio e que não valia a pena ele parar até lá, mas a Plaft, Sílvia impediu-me de o fazer.
Felizmente, apesar do piso acidentado, tinha boa rede 3G e deu para consultar as cotações dos meus investimentos em tempo real no meu novo iPhone :) Só no tempo de viagem ganhei duzentos euros porque adoptei posições de venda em futuros do psi20 e aquilo veio por ali abaixo porque a UE fez uma estimativa ainda mais pessimista para a recessão económica em Portugal. Fuck yeah!
8 comentários:
A sua Silvia deve ser uma mulheraça :)
Só ando de transportes públicos durante a semana :)
Ao fim de semana ando de bicicleta ou no targa...
Tens uns leitores de Direita que eu conheço alguns. Eu incluído.
A mim, que sou de esquerda, hoje apanhaste-me a ler isto... confiei no título, ingénua.
Lol
Eu, leitora assídua, prefiro quando pões os bichinhos cutxi cutxi! :p
És subversivo... e um bocado meias-tintas, assim como o filete afiambrado.
:D espero que ao menos tenhas levado vestida uma camisa de quadrados, uns jeans que precisem de ser lavados, e uns ténis velhos. Há que vestir a personagem, pá.
Eu ando de autocarro. Não sei em que autocarro andaste, mas nos que eu ando vão pessoas iguais a mim: saltos altos, blaser, pasta na mão...
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