Eu acreditava piamente na pop como modelo de sedução. Se as raparigas ficavam embeiçadas por cantores com o Bon Jovi, Axl Rose ou Brian Adams, então tudo o que eu tinha de fazer era dizer-lhes exactamente a mesma coisa. Não quero alongar-me nos detalhes penosos das reacções que obtinha de dizer “olá bebé, não chores esta noite, há um céu por cima de ti” ou “quero deitar-te numa cama de rosas” nos intervalos das aulas antes do 2º toque.
Se me viravam as costas e fugiam eu também tinha a resposta pronta, um “tu dás ao amor um mau nome!” ou algo do género.
Durante uma fase pensei que aquilo das paixões que tinham por estrelas pop funcionava como um complemento do facto de gostarem dos broncos de que gostavam, só porque tinham blusões de ganga Chevignon. E depois fechavam os olhos e imaginavam que eles tinham aquele tipo de sentimentos sensíveis enquanto eles lhes apalpavam as mamas.
Mas depois tive um blusão desses e nada de especial mudou. Depois veio o grunge e eu tentava procurar no catálogo da La Redoute a roupa mais parecida com a do Kurt Cobain (ah ah...). Dado que a minha mãe se recusava a comprar roupa esburacada, esfolada e bleached, eu submetia as minhas roupas novas a um processo de canificação que inventei. O processo é simples, tira-se a roupa da embalagem da La Redoute e chamamos o nosso cão e fazemos “kss kss ataca! Ataca!”. É só segurar nela com firmeza enquanto ele a canifica com os dentes e as patas.
A minha roupa canificada não surtia efeito nas bonitas raparigas da escola apesar de ter tantos detalhes grunge. Talvez ficasse um pouco deformada demais, especialmente as camisolas de lã. No limite, tinha os cães do bairro a farejar-me no caminho para casa e para a escola. Até que um dia, uma cadela gira apareceu.
Costumavam soltá-la na praceta Moura Guedes e ela gostava de mim e não me largava, farejava-me as mangas do blusão e eu fazia-lhe festas.
E um dia apareceu a dona dela, uma rapariga linda de morrer, com uma trela na mão, a chamar pela sua Pantufa. Fiquei tão atordoado que pensei que a trela que ela levava na mão fosse para mim e já me estava a preparar para ser repreendido e baixei as orelhas e o pescoço, imitando a Pantufa, ao meu lado.
E ela disse "olha, ela gosta de ti, ela não gosta de ninguém..." e sorriu. E pronto. Atrelou a cadela e afastaram-se as duas, com a Pantufa a ser meio arrastada e a olhar por cima do ombro(?) para mim. Foi uma espécie de triângulo amoroso que se gerou ali e que durou uns tempos, comigo a passar por ali, a atrair a Pantufa e vinha a dona gira atrelar a Pantufa e eu sorria feito parvo. Até que um dia apareceu o pai dela, mal encarado e com a trela enrolada no punho. Enfim.
11 comentários:
Ufa.
Por momentos pensei que ias falar de uma fase com calções de licra brancos como os do Axel.
Nunca é fácil tentar visualizar um gajo com essa indumentária.
E da Pantufa? Morreu como o grunge?
este teu post pôs-me a ouvir Guns And Roses Don't Cry a tarde toda :/
Agora escreve outra vez a história, mas acaba casado com a miúda.
O que eu gostava de conseguir apagar a letra do bed of roses da minha cabeça...
Eu tentava assobiar o "Winds of Change" mas cuspinhava-me todo...
Amigo Tolan: La Redoute só tem um "t". cuidado com os direitos de autor...
Anónimo, a seguir a um ponto final também se começa com Maiúscula.
Preciosismos.
Vê lá se alguém pegou contigo por isso...Oh wait...
Rebuscada a tua técnica do cão para "grungear" a roupa (what? Se há branquear, também pode haver esta). A minha era melhor: roubas duas camisas de quadrados ao teu avô, daquelas que ele já só usa para plantar couves e juntas-lhe o casaco, roto no cotovelo, que a tua avó utiliza para a mesma função. Depois sais para a rua todo contente por seres o Kurt Cobain, quando na verdade és um hortelão alentejano.
LOOOOL, muito bom!
eu ainda estou presa à imagem dos calções de lycra do axl rose...ainda bem que não te lembraste de imitar isso :/
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