terça-feira, 30 de agosto de 2011

técnica artística #235: "enlatados de melancolia"

Sabemos que a arte de cortar os pulsos é levada mais sério do que outros tipos de arte (especialmente a comédia).  Assim, o Warhol facilmente é desconsiderado como fútil, mas um Francis Bacon ou uma Frida Kahlo têm aquela aura.

O quadro mais famoso do Picasso é o Gernica, inspirado no massacre na referida cidade, e não este aqui de um duplo nipple slip de duas inglesas histéricas em Quarteira.

Do José Luís Peixoto ao António Lobo Antunes, todos praticam a arte de escrever coisas de cortar os pulsos (no caso do José Luís Peixoto, ele consegue induzir essa vontade a toda a gente, fãs ou detractores).

Um dos problemas do artista é fazer coisas assim de cortar os pulsos quando, na verdade, ele até teve um dia um pouco cansativo, a cerveja está fresca e o Benfica ganhou. Não conseguimos imaginar o Munch a tentar pintar O Grito depois de uma patuscada com amigos pois não?

É aí que entram os "enlatados de melancolia". São aquelas músicas que ficam associadas a coisas que eram muito boas e que agora são tristes ou desapareceram. Só por si, isso já induz uma realista sensação de melancolia.

Note-se que o que interessa é apenas o sentimento abstracto em si. Um adepto do Sporting pode, por exemplo, pensar na ex namorada ao ouvir aquela música dos Coldplay, e escrever uma crónica comovente sobre os tempos do Jardel no Sporting.

E é só de carregar no play no mp3. Depois é aproveitar e criar qualquer coisa. Repetir em loop se necessário, até acabar o poema, o texto ou o quadro.


Beach House - You Came to Me from Bella Union on Vimeo.

6 comentários:

Rita Maria disse...

Há quem tenha emoçoes ao ouvir os Coldplay?

Maria disse...

Afinal posso mesmo deixar de me preocupar e voltar a lê-lo sem me manifestar! O que pensei ser tristeza é culpa dos enlatados!

Tolan disse...

Rita Maria, eu tenho. Normalmente são límbicas: medo, repulsa etc.

Anónimo disse...

Ia jurar que a imagem era a serigrafia "Camponesas livres" do Álvaro Cunhal.

Eu adoro estas senhoritas tontas que gostam de dizer mal dos Coldplay! Adoro-as! E há tantas! Pululam como florezitas primaveris! Quando vêem a mim, faço questão de começar pelo solfejo, logo passar à filosofia da mente e terminar tudo em grande emoção! Ao despedirem-se sempre levam as cabecitas mais claras e leves e já não confundem alhos com bugalhos! Há tantas! São uns amores!

Unknown disse...

É só para avisar que o novo livro do José Luís Peixoto chega às livrarias no final de Outubro, chama-se "Abraço" e tem 846.385 caracteres. ;)

Tolan disse...

ARGHHh \o/ fujaaam!