quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A família fantasma

Tenho imaginado uma família que não existe. Uma mulher e dois filhos, um rapaz e uma rapariga. E um gato. Podiam ser reais acho eu, mas não são, seja porque numa ou noutra ocasião eu fugi a sete pés do compromisso, seja porque noutra fugiram de mim, é assim que as coisas funcionam, não há drama nisso. Dou-lhes características, especialmente defeitos que me irritam ou aborrecem e me fazem sair de casa à noite para não os aturar ou fechar-me dentro do escritório a tocar guitarra mas que no fundo me fazem gostar muito deles. Estão a tornar-se verosímeis ao ponto de achar que um dia se vão fartar de mim. Ela vai pedir-me o divórcio e depois ficar com a custódia deles e deixar-me o gato, a que eu sou alérgico. Tenho medo de os tornar demasiado reais, especialmente ela. Ontem apercebi-me disso quando fiquei excitado a meio de uma cena que imaginei quando estava no meu jardim com a palmeira, a fumar um cigarro à noite. Ela vinha de robe para o jardim, sentava-se de pernas cruzadas no meio das ervas selvagens. Ouviam-se grilos e as ervas sussurram com o vento e depois ela começa a baloiçar lentamente, como se estivesse a ouvir uma música e vejo-lhe um bocadinho do seio nu, pelo robe entreaberto. E eu sinto-me muito longe dela apesar de estar ali ao pé. Não consigo ouvir a música. Ela está triste e deve ser por causa de mim. Apesar de não lhe conseguir ver a cara de forma definida, é a mulher mais bonita que já vi.

9 comentários:

Pipoca dos Saltos Altos disse...

Um dia cansas-te de fugir, deixas de ser escorregadio e esse sonho torna-se definido. É o que digo a mim mesma.
Beijos

a.i. disse...

temos romance, meninos?
espero que sim, e com cenas tórridas para descreverem nos blogs!!;)

Mak, o Mau disse...

Em termos de zombies e de coisas que se nos esfumam nas mãos, só me veio à cabeça isto:

http://www.amazon.com/Zombie-Survival-Guide-Complete-Protection/dp/1400049628

Mas este, pelo menos, sei eu bem onde encontrar.

Isabel disse...

Sempre pensei que gostasses mais de cães!

Tolan disse...

E gosto mesmo, não fui eu que quis o gato :(

Isabel disse...

Claro, até porque és alérgico ao gato. Até onde se vai por amor! Mesmo que seja num amor... fantasma, vá.
Olha, se ela gostar mesmo de ti, troca o gato pelo cão. Faz-lhe a proposta esta noite, quando ela chegar ao jardim de robe, antes da parte do seio nu, caso contrário, ainda acabas por aceitar mais dois ou três gatos.

Bitter disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maat disse...

quero esse livro! estou sempre a dizer às pessoas que é importante saber como sobreviver em caso de um apocalipse zombie. estranhamente ninguém me ouve...

Rosa Cueca disse...

Eu acho que esse pensamento do "fui eu que a deixei triste" é muito recorrente nos homens. Seja porque nós entristecemos facilmente (porque trazemos o mundo às costas e quando desabamos vem tudo incluído, seja porque eles só de quando em quando têm uma excursão à terra da sensibilidade e atenção.