sábado, 27 de agosto de 2011
1985
O conceito de moda juvenil da minha mãe era muito próprio dela. Ela achava que estar bem vestido era ter peças de roupa a condizer, por exemplo, calças verdes com camisola verde e kispo verde ou calças castanhas, camisola castanha e casacão castanho, calças de ganga e camisa de ganga e blusão de ganga. Eu parecia sempre uma manchinha de cor triste. Também desisti do gorro com pompom em cima. Na Bélgica era algo perfeitamente banal, os gorros de lã tinham um pequeno pompom em cima, mas ali naquela aldeia não se podia usar pompom no gorro ou ele serviria de alvo a torrões e fisgas de grampos, mesmo que estivéssemos com o gorro na cabeça a fugir.
Para ajudar ainda mais à minha integração social, minha avó enviava-me camisolas da Bélgica, roupa que ela própria tinha tricotado, em lã espessa, com padrões apalhaçados, sempre demasiado largas e compridas e que eu só usava dentro de casa porque a minha mãe sentia-se mal se eu nem sequer as vestisse.
Não sei que imagem é que a minha avó tinha de mim, talvez pensasse que com o exercício físico do campo eu tivesse crescido muito. As mangas eram tão compridas que tinha dificuldades em agarrar nos talheres. Às vezes, quando tentava ver as horas, o Galão pensava que o meu braço a agitar a manga era eu a convidá-lo para brincadeira e ele mordia a manga e não me largava. Quase que me desfazia a camisola quando eu tentava fugir.
-- Mãaae! Olha o Galão! Está a comer a camisola da avó!
Tinha de vir a minha mãe distraí-lo com um bocado de fiambre. Acho que o Galão deduzia que quando eu puxava pela manga com muita força, estava a brincar com ele. A minha mãe interrompia a brincadeira e o Galão e eu ficávamos envergonhados, ele a cuspir pequenos fiapos de lã com a língua e o focinho arreganhado e eu a recompor a camisola. Nunca conseguimos destruir nenhuma, eram resistentes. A minha avó sabia fazê-las, não há dúvida.
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4 comentários:
Em 1995, nada tinha mudado... :)
É linda, Tolan. Porque não a usas este Inverno ? A moda é o que já era...
Eu sei o que isso é... a minha mãe além de tricotar, fazia-me vestidos, saias, etc, etc. Acho que essas coisas domésticas faziam parte da educação de uma menina de bem no seu tempo (algures nos anos 50).
Hoje, tenho muitas saudades dessas camisolas, dessas saias e desses vestidos... e da minha mãe.
:-)
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