quarta-feira, 6 de julho de 2011

plágio

Quando eu era pequeno pensava que plágio (que escrevia "pelágio" até há uns 4 ou 5 anos) era aquela fase anual dos cães em que eles perdem imenso pêlo.

"Mãe, mãe, a Patinhas está com 'pelágio', olha só a minha camisola azul escura!"


Portanto, ainda hoje distingo as duas coisas: o plágio, acto de copiar qualquer coisa que outra pessoa criou e tomá-la como sua, e o pelágio, fase em que os cães perdem mais pêlo que o normal. Tive muitas dificuldades na pontuação desta frase.

Nas áreas criativas, em que uma pessoa cria muitas coisas, sejam piadas, anúncios, porcos, marcas, galinhas ou músicas, acontece por vezes um plágio de coincidência.

Perante um determinado problema que é sempre o mesmo, o criativo lembra-se de uma solução criativa que já foi usada. E se não souber disso mas outra pessoa souber, pode ser - injustamente - acusado de plágio.

Uma pequena dose de má fé ajuda a ver má fé nos outros. Felizmente, não há pessoas invejosas no mundo da criatividade, é tudo gente boa e que fica feliz pelos sucessos uns dos outros. Aliás, o maior medo que um criativo tem, especialmente o masculino, é o do seu próprio 'pelágio' - a que se dá o nome científico de alopécia.

E se não é no particular, na frase, na ideia, na piada, também pode haver acusação de plágio / inspiração no global de uma obra. Nabokov estava sempre a levar com a "acusação" de que o Convite para uma Decapitação era inspirado no Processo do Kafka, apesar deste jurar a pés juntos que não tinha lido Kafka porque nem havia traduções na altura em que escreveu o Convite para ma Decapitação.

O Borges, o escritor argentino, diz uma coisa muito gira. E ele diz que é inútil tentar escrever metáforas rebuscadas para ser original porque as metáforas boas são as simples e que toda gente usa, como "a vida é um sonho" ou "o Passos Coelho é uma alforreca".

3 comentários:

disse...

não concordo que seja preciso má fé para ver um plágio fazer-se de pequenos pormenores subtis, acho que basta ser paranoico. eu sou, mas como tenho consciência de que sou e de que na verdade não tenho grande coisa para plagiar, não ligo um caracol.

Margarida disse...

e o Relvas o Torquemada de Tomar!
Não sei porquê mas até gosto mais desta!

Fusível Ativo disse...

Uma vez, não há muito tempo, ouvi um senhor já com a sua idade e experiência dizer: copiem-me à vontade, desde que não façam figura de estúpidos.

ou seja, novos inputs são sempre bons, copiar chapa 5 é estúpido.

Concordo.