segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

flores

Ontem vi um documentário sobre a pintora Lourdes Castro, uma madeiriense nascida em 1930 que dividiu a vida entre Paris mas que se instalou definitivamente nesta ilha em 1983.
Teve notórias influências orientais que se reflectem não apenas na obra mas também na forma de vida.
Lourdes compara a terra a uma tela pintada pela natureza e todos os seus gestos, desde descascar uma maçã até estender a roupa ao sol são um deslumbramento constante, um ritual sagrado, como se vê na sua obsessão pela própria sombra e nas brincadeiras que ela permite. Isto é muito diferente do caso do José Saramago que, apesar de viver em Lanzarote, dificilmente teria inspiração nas sombras da Pilar a estender-lhe as ceroulas ao sol. A sua inspiração era o mundo, a política, a fé, a história, a literatura, a ilha era apenas o contexto de vida e um isolamento pacífico.

O Zen está intimamente ligado à filosofia de absorver o mundo real sem o processar pela razão. O processo de criação de Lourdes Castro é semelhante a uma brincadeira infantil, movido a curiosidade e experimentação. Sorri o tempo todo, como uma louca ou uma sábia, ambos. Cita um haiku que eu cito de memória “caminhamos no tecto do inferno, contemplemos as flores”.

O meu haiku seria algo do género "estamos no inferno, imaginemos as flores". Mas é indiferente a proveniência das coisas, ao fim e ao cabo. O papel da arte é, acima de tudo, entreter. Divirtam-se.

3 comentários:

s. disse...

há anos, vi uma exposição dela na gulbenkian, herbário de sombras. e como ela já disse, nunca esteve no japão, mas é como se vivesse lá, o que é nítido na sua obra. curiosamente faz-me lembrar algumas fotografias do fotógrafo japonês, Shoji Ueda.

DCSdeC disse...

E eu vi uma exposição em Serralves das obras dela o ano passado.
Os trabalhos em plexiglass fazem um efeito extraordinario...

Anónimo disse...

Mas isso não é haiku... a construção não funciona.