quarta-feira, 11 de agosto de 2010

sandor marai

O Sandor Marai, para além de ser muito parecido com o Droopy conforme se pode ver nas imagens acima (o Sandor é o da esquerda) é um escritor competente. Já lhe li o As Velas Ardem Até ao Fim (o melhor) e o Herança de Heszter.
Uma coisa que não me agrada muito na sua técnica é que o narrador que sabe mais que o leitor e revela os factos a conta-gotas, mantendo um nível de mistério que dá vontade de ler a próxima página (e explica o sucesso comercial). Contudo, sentimos que o mistério é obtido à custa de um subterfúgio e por vezes isso causa impaciência “foda-se, se sabes qual é o segredo destes amigos, o que os une, desembucha caralho”. Sandor mantém um mistério sobre o passado das personagens e nós, como espectadores, sentimo-nos invariavelmente perdidos no meio das relações complexas. Porque é que este está a sair de casa? Porque é que o outro fugiu? Por que não se pode pronunciar o nome de fulano tal na presença do outro? Quem foi que matou aquele? Tudo parece confluir para um momento no passado, como um clímax retrospectivo, em que um terrível segredo é revelado e finalmente percebemos a big picture. O Dostoiévski faz exactamente o oposto. É uma questão de gostos, suponho, mas aprecio mais a abordagem Dostoiévskiana em que o narrador / escritor, apesar de ter sempre uma postura de "vou-vos contar esta história que eu inventei e que é magnífica", dá-nos a mão e leva-nos passo a passo desde o início, até aos 2 ou 3 climaxes brutais que marcam os seus livros.

Outra coisa que me enerva são os cheiros. As descrições de cheiros. É a oficina do sapateiro que tem um cheiro acre a cola misturado com cabedal velho, é o quarto da mãe que faleceu há muitos anos mas mantém o cheiro dos cremes que usava, o cheiro da outra que é a canela e o outro que é o cheiro a tabaco ou a aguardente cediça, enfim, o narrador parece um perdigueiro a andar pelas cenas ou o nariz do Gogol. Eu sei que o cheiro supostamente causa impressões fortes na memória, assim o dizem os cientistas. Algumas amigas e um amigo gay garantem-me que os cheiros são importantíssimos e que os associam a pessoas ou locais e mesmo acontecimentos. Frustra-me um bocado que eu seja completamente cego aos cheiros mais subtis. Gosto muito do cheiro de gasolina e cola por exemplo.

1 comentário:

Mónica disse...

Concordo completamente! Devo ter pensado "foda-se, se sabes qual é o segredo destes amigos, o que os une, desembucha caralho" pelo menos uma vez em todas as páginas das Velas ardem até ao fim!