Aqui de outro ângulo:
Ao avançar para este texto sinto-me como o Richard Dawkings a explicar aos criacionistas que o mundo tem mais de 6000 anos. Para baixar um pouco as defesas, não digo que os The National sejam uma merda - o que penso na realidade.
Digo apenas que não são assim tão bons. Tenho muitos amigos que gostam de The National, pessoas que, apesar disso, continuo a estimar e a respeitar. De facto, a única pessoa que conheço que detesta The National é uma das pessoas com pior gosto, não gosta dos Strokes.Os adeptos de The National têm todos uma coisa em comum: têm a ideia que têm bom gosto. Têm consciência desse bom gosto. Em boa verdade, têm bom gosto. Não existe banda nenhuma à face da terra que espelhe melhor a noção de “bom gosto” pós 2000 que os The National. Gostava de saber onde compram roupa e cortam o cabelo. Mas o bom gosto não é tudo.
Eu não tenho bom gosto. Gosto daquela música do Corey Hart, a eurasian eyes. E de muitas baladas de Brian Adams.
Eu gostei dos The National a primeira vez que os ouvi e a 2ª também. Depois com o tempo, à medida que ouvia outra e outra música, comecei a mudar de opinião, a ficar com mau gosto.
As roupas, as poses, as texturas do som, os vídeos cinematográficos com pessoas bonitas e a fotografia escura, a doce melancolia que nunca resvala para a piroseira de um Corey Hart em hipotermia, tudo nos The National é pensado e pesado, num esforço pretensioso. Eles levam-se brutalmente a sério. Não há ironia nenhuma. É difícil haver uma boa banda sem ironia. Se fizermos uma lista das 10 melhores bandas de sempre, 9 têm ironia, 1 não (Joy Division).
Os The National são uma banda de adultos bonitos, maduros, que usam uma fórmula já de si aborrecida, tornada ainda mais aborrecida pela repetição: uma textura sonora agradável e narcoléptica, uma estrutura primitiva, sem acidentes, sem contradições, com uma ideia por música, uma voz bonita, grave, sem amplitude, sem risco, a lembrar o pastelão dos Tindersticks, a debitar letras perfeitas, inteligentes, crípticas quanto baste para não serem demasiado óbvias, tudo em progressões de acordes menores, sempre com a mesma tonalidade que remete para o sentimento melancolia e grandiosidade.
Musicalmente, uma coisa que me causa náuseas nos The National (estou lançado) é a forma indiferenciada com que preenchem os espaços do silêncio com pianos soporíferos e, por vezes, coisas piores, como metais e violinos, coros, num crescendo inóquo, sem tensão, básico, formal.
Sem emoção. Mesmo os Arcade Fire, que fizeram um 3º disco absolutamente miserável (falta de ironia) têm um vocalista que arrisca um bocado, há por vezes uma sensação de perigo. Nos The National há a sensação de absorção e nem é ao contrário. Salva-se o trabalho de Bryan Devendorf, na bateria.
Dou só este exemplo, a Fake Empire, uma música a lembrar o melhor dos Silence 4 na utilização de uma 2ª voz feminina em doubling. Vejam como é sensaborrona a secção de metais a partir do minuto 2:33, completamente “random” e como a banda parece encher um chouriço sem fim com a mesma estrutura do verso. Por fim aos 3:16, um acorde perfeito, o piano, tchan, acabou. O paradoxal é que é muito difícil dizer que a música é feia. E no entanto, ela é feia.