sábado, 5 de março de 2011

flogging

Afinal o Portrait Of An Artist As a Young Man do Joyce está quase a ser canja. As excepções são termos em inglês que não compreendo. A maior parte é irrelevante, suspeito que são termos que o próprio Joyce inventa, como as pessoas que dizem stander em vez de stand ou sutiões em vez de soutiens. Anos e anos de phones fizeram de mim um ser um pouco duro de ouvido, o que me leva a não compreender boa parte do que me dizem a não ser que faça um grande esforço (o que é raro) para compreender. Limito-me a dizer que "sim" e "hum hmm" e, paradoxalmente, até passo por um bom ouvinte. Acho a minha atitude condenável mas menos irritante do que estar sempre a pedir para repetir o que acabaram de dizer. Onde é que eu ia... ah, Joyce. Por vezes há termos que são importantes na história porque aparecem centenas de vezes na mesma página. O de hoje foi "flogged". Pensei na banda, os Flogged of Seaguls e nos Pink Flogged e nos Flogged of our Fathers do Clint Eastwood, po vezes por aproximação vamos lá, mas não fazia sentido nenhum. Pelo contexto, tentei adivinhar o que significava flogged. A cena em questão passa-se num colégio católico opressivo e uns putos portaram-se mal, fizeram uma traquinice, e os padres dão-lhes a escolher serem "flogged" ou expulsos do colégio. A maior parte prefere ser expulsa mas um deles prefere o "flogging". Nisto, fala-se do miúdo ter de baixar as calcinhas e por-se de bruços com o rabo à mostra e depois o padre zás, flogga-o. Pensei logo que me tinha calhado mais um daqueles livros paniscas à Sandor Marai, afinal de contas, aquilo é um colégio católico e sabemos bem a propensão que os padres católicos têm para essas coisas menos próprias quando vêem um rapazinho de rabinho para o ar. Na linha seguinte falam em 20 floggs e eu 'porra, 20, coitado do puto nunca mais se vai poder sentar' mas outro miúdo acrescenta que o padre talvez não o flogge com a força toda. Entretanto não li mais porque tenho de ir ali grelhar umas espetadinhas de peru e está a dar o Porto Guimarães por isso não sei, amanhã vejo, mas era bom que o Guimarães floggasse o Porto, que é uma coisa má de certeza, é.

sexta-feira, 4 de março de 2011

o cinema e as classes

Não me revejo nesta análise da minha amiga Rita do Rua da Abadia. Ela diz «certos filmes que não pecam necessariamente por pouco multiculturalismo - pecam fundamentalmente por uma hegemonia notória ao nível de estilos de vida ou classe social. Não estamos apenas a falar de filmes exclusivamente compostos por actores brancos, destinados provavelmente a um público branco; estamos a falar de filmes compostos por actores não só brancos, como também lourinhos, de olhos claros, anglo-protestantes, os típicos "wasps" de alta burguesia»

A Rita que também escreve bem diz no seu Inferno Cheio, em reacção ao texto da outra Rita:: É uma espécie de regra geral do cinema de entretenimento: Se quero contar uma história sobre o amor, a amizade, os homens ou o melhor condimento para pizza, escolho brancos ricos e educados. Acho que nem sequer é para assinalar a distinção de classe, é mais uma espécie de tabula rasa narrativa.

Bom, penso que a Rita 2 está mais próxima do que considero ser a origem da questão digamos assim. Mas deixando de parte os maus filmes, pensemos no melhor realizador de sempre, Alfred Hitchcock. Hitchcock usou sempre a classe alta nos seus filmes. São ricos, elas são loiras, movem-se em hotéis, paquetes, andam de avião e não fazem nada. As suas vidas "materiais" são sempre uma incógnita, mas o dinheiro não existe como restrição narrativa. Se é preciso um taxi, há taxi, um avião para Timbuktu, apanha-se, um fato novo em Nova Iorque, compra-se. Há whisky, charutos, ópera, carros rápidos e casacos de pele.

Eu gosto.

Os castings de Hitchcock também eram cirúrgicos. Para além da sua obsessão por loiras, ele queria uma espécie de homem "limpo", a tal tabula rasa narrativa de que fala a Rita 2, que depois é lançada num remoínho de thriller e caos.

James Stewart e Kim Novak

Cary Grant e Grace Kelly

Gregory Peck e Ingrid Bergman

Os homens e mulheres de Hitchock correspondem a um ideal clássico, ao equivalente dos príncipes e princesas das fábulas. Recordo-me de ver uma entrevista ao realizador em que ele justifica o uso da classe alta porque "fascina as pessoas", nomeadamente, o grosso dos espectadores.

Depois Hitchcok lança o inferno sobre as suas marionetas, elas são envolvidas em pesadelos. E há algo de sádico também, nos instintos do público. Masoquista e sádico, em ver os seres perfeitos como joguetes do destino cruel e a voltarem para casa felizes de não se meterem naquelas aventuras perigosas.

Com esta técnica, o Hitchcock consegue depois subverter os clichés. Ele abraça os estereótipos de uma novela normal, mas a novela transforma-se em thriller e pesadelo.

O bom cinema está cheio disto. A boa literatura também. Há muito mais "clássicos" de um e outro meio que recorrem à aristocracia das epócas do que aos "miseráveis" ou um realismo politizado. É só enumerá-los, a começar pela Ilíada e Odisseia.

não se preocupem que no fim do video percebe-se que há um lollipop para cada uma, até para a da direita

BILFs, ou vocês não percebem mas estão a ser manipuladas


When you make a film, are you setting out to frighten men or women, or both?

Women – because 80% of the audience in the cinema are women. Because, you see, even if the house if 50:50 – half men, half women – a good percentage of the men... have said to his girl, being “on the make” of course, “what do you want to see, dear”? So that’s where her influence comes as well. So, men have very little to do with the choice of the film. (aqui).

caricature artist

quinta-feira, 3 de março de 2011

meditar sobre isto, antes de escrever

"Any asshole can chase a skirt, art takes discipline."
— Charles Bukowski

Se não foram os judeus, quem foi que matou Jesus?

O Papa Bento XVI ilibou totalmente o povo judeu da morte de Jesus Cristo. Quando se tem dinheiro para bons advogados, como é o caso do povo judeu, especialmente o americano liberal da finança, o mesmo que esteve por detrás do 11 de Setembro, é fácil ganhar qualquer caso, nem que tenham de arrastar o processo dois milénios. Mas era preciso a prova final e essa Bento XVI, pelos vistos consegui-a, recorrendo a avançadas técnicas forenses de reconhecimento de ADN, a cães medium - aqueles usados no caso Maddie e que cheiram pessoas mortas, em vez de as verem, como o miúdo do sexto sentido ou de as ouvirem falar, como a Alexandra Solnado - e a reconstruções da cena do crime, encenadas com a ajuda do Mel Gibson.

A questão é que se não foram os judeus, alguém teve de ser. Há sectores radicais da igreja que consideram que foram os comunistas e por isso coloquei aqui a fotografia de um suspeito. Mas em termos cronológicos parece complicado dar credibilidade a esta hipótese, uma vez que os comunistas só foram descongelados do bloco de gelo ártico em meados do século XIX, um erro que o explorador polar norueguês Roald Amundsen lamenta com a seguinte entrada no seu diário 'Oh meu Deus, devíamos ter descongelado o mamute... este Stalin já me matou dois esquimós e bebe-nos a vodka toda...'

Contudo, o maior consenso no Vaticano, na opinião de Bento XVI em particular, e na comunidade científica criacionista, é o de que terão sido homossexuais os responsáveis pela morte de Jesus e que foi o lobby gay instalado, que tinha em Herodes e em Tibério Cláudio Nero César importantes figuras de proa, a montar a acusação a partir de escutas ilegais.

As escutas ilegais, conforme vem referido pelo PGR de 23DC, Pintus Monteirus, consistiam no abate dos pombos correio que Jesus enviava aos seus apóstolos e na sua posterior confecção, normalmente estufadinhos e de coentrada. De castigo por o terem morto, Jesus deu-lhes a SIDA, que até então não existia por não haver relações sexuais entre negros homossexuais e macacos homossexuais mas que depois passou a haver e, muito mais tarde, entre negros homossexuais e brancos homossexuais como se veio a verificar quando apareceu o Freddy Mercury. Segundo fontes próximas do Vaticano, Bento XVI estará a preparar prova e a constituir acusação contra os homossexuais pela morte de Jesus, algo que deverá acontecer só nos próximos três ou quatro séculos, pois os homossexuais também têm bons advogados, veja-se o caso da Casa Pia que se arrasta nos tribunais sem fim à vista.

não consigo perceber a cena dos vestidos e dos penteados

Cold bitch

Querida e gira


EEerrrK
Menos EeerrrrK



Escapa...

Escapa muito mais.



Já percebi que é mau dizermos "pareces um ferrero rocher com uma peruca, não podes vestir antes uma calças de ganga e lavar o cabelo? Estavas tão gira ontem :)" ao nosso par, meia hora antes de um casamento. Estou a citar de memória. Não, não disse isto a uma betinha quando tinha 24 anos, ficando o resto da festa a pedir-lhe desculpa e aturar um mau humor insuportável.

Penso que aquilo dos vestidinhos faz ligação com uma cena da infância, um conto de fadas digamos assim, e é tipo fantasia delas e se dizemos que ficam mais giras de calças de ganga e t-shirt, ficam chateadas.

Nunca vi uma noiva com o cabelo mais bonito do que o que tem no dia a dia... Canudos e complexas construções arquitectónicas alicerçadas em laca, cenas de metal ponteagudas espetadas, uma coisa horrenda, perigosa e com aspecto de ser quimicamente agressivo para as vias respiratórias. Se eu fosse noivo de uma coisa daquelas não havia crise porque tendo em conta a minha tendência para beber uns copos, o mais provável é que ao chegar ao quarto adormecesse imediatamente, não obstante, era incapaz de ter intercurso com algo com aquele cabelo, mesmo algo que estive nu e só com aquele cabelo.

E depois pintam-se e perfumam-se, a maior parte das vezes em excesso, parecem macaquinhas que entraram pela Sephora adentro e  reviraram a loja toda.

Mas já estive orgulhoso ao lado de mulheres bem vestidas, como ali a Gwyneth que está bem e elogio sinceramente isso e sinto orgulho em andar de braço dado com uma mulher que seja pelo menos, no  mínimo, tão gira como a Gwynie. Desde que não me pareçam umas putas do Técnico sinto-me satisfeito. Mas é tão raro.

quarta-feira, 2 de março de 2011

ser cavalheiro

Neste campo não posso dar grandes conselhos porque não tive educação nisto (a minha mãe não é portuguesa e foi das malucas do maio 68, comuna etc.) portanto, tenho algumas dificuldades em compreender o que me parece um resquício pitoresco de uma época de dominação da mulher, o "não podes falar, votar, escolher o marido ou trabalhar, mas eu seguro-te aqui na mãozinha enquanto desces da carruagem, querida, para que não afocinhes aqui no meio do chão e me faças ficar mal visto aqui à frente desta gente toda"

Mas aqui em Portugal é outra coisa, é um país católico e, para além das regras formais de boa educação - e que aqui atingem píncaros do ridículo - existem cenas de cavalheirismo que eu desconheço. Não raras vezes oiço mulheres dizerem "se um homem não me faz isto e aquilo, fica logo riscado" e eu aceno que sim e que é uma desgraça não lhes fazer aquilo, mas revejo mentalmente várias ocasiões em que não fiz aquilo e mesmo assim não me aconteceu nada de mal. Se calhar, mesmo quando ficamos riscados por falta de cavalheirismo, ela não o vai dizer, na melhor das hipóteses amua e cala-se e o que eu faço nesses casos é aproveitar para descansar a cabeça um bocadinho, de maneiras que é capaz de me passar muita coisa ao lado.

Custa-me perceber esta dualidade entre um Colin Firth formal e educado em situações públicas e depois, em privado, o que querem é umas vigorosas palmadas e ser arrombadas por trás e faciais a torto e a direito e chibatadas e duplas penetrações com a ajuda de um arsenal autêntico de brinquedos sexuais que chamariam a atenção de qualquer agente da CIA à procura de weapons of mass destruction, tudo coisas que também me custou a habituar, visto que eu sou de meios termos, nem tanto ao mar nem tanto à terra digamos assim.

Mas não sou malcriado e tenho noções básicas de cavalheirismo. Por exemplo, se lhe pregarem uma rasteira ao entrar no restaurante (sem querer ou não) e ela se estatelar ao comprido, mala para um lado, sapato a saltar do pé etc. é uma boa ocasião para pedir desculpa, isso é ser cavalheiro.

Agora, se a ajudarem a levantar com um puxão no braço, seguido de palmadão no rabo e um "CÁTIA MARIA EU NÃO TE DISSE PARA NÃO CORRERES QUE IAS PARAR AO MEIO DO CHÃO!? ESTÁ SOSSEGADA!" em pleno hall do Eleven, isso não é cavalheirismo! E se depois se esquecerem da carteira e só se aperceberem disso no fim do jantar e ela tiver de pagar a conta, digam obrigado pelo menos. É fácil, no fundo é só boa educação, isso gostam elas e gostamos todos, homens, mulheres, palestinianos e chilenos (só para citar alguns povos).

E pronto, esclarecidos?






Não tem nada a ver, mas para não fazer outro post e meter esse título e chatear as pessoas que seguem este blog no facebook e nos seus blogues e isso, fica aqui mais uma faixa da minha obsessão musical da semana
Kurt Vile - Jesus Fever

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

3 2 1 transform!

Esta música faz-me sentir poderoso, no sentido transformer. Estou muito molinho e orgânico a jogar ao excel e ao powerpoint e Bzzzt, transformo-me no lethal consultant robot. Só começo a trabalhar bem quando toda gente baza do escritório, ou quase.

Ratatat - Lex


Diga-se que nesta música é perfeitamente possível ouvir, a partir dos 2:56, um ratitinho a tocar cravivinho com as suas patitinhas muito contentitinho.

joyce, meu cabrão

Sentado no cais, ao sol, com as perninhas a baloiçar sobre o tejo, forço-me para ler o Portrait of an artist as a young man do enconado do Joyce. De súbito tive uma apoplexia grave, aqueles momentos em que penso "eu não tenho talento, que merda, o que é que estou a fazer foda-se!?" e imagino que os meus últimos 10 anos foram uma anedota de mau gosto, o meu sonho é um sonho é um sonho é um sonho tão ridículo como o dos concorrentes dos ídolos, mesmo daqueles que o ganham.

Há três tipos de escritores. Os maus (não falemos deles) e depois os bons que esmagam e os bons que entusiasmam. O Joyce pertence aos bons que esmagam. Quando leio Joyce fico brutalmente deprimido porque tudo aquilo é uma linguagem e um universo que me é completamente inacessível.
É como ser aspirante a actor porno e calhar ver um video do Peter North. Pior, ler Joyce e tentar escrever o romance no mesmo dia, é como entrar nú num set cheio de gente, com a Jenna Jameson de gatas a ser arrombada pelo Peter North e o realizador e a Jenna Jameson e todos ficarem impacientes comigo porque não consigo ter uma erecção.
O complexo do talento pequeno é forte por estes lados. Tanto é que já tirei os livros que me esmagam todos do escritório onde escrevo e só tenho uma pilha de livros que me entusiasmam atrás de mim. De vez em quando volto-me para a biblioteca e faço um brinde ao Bukowski nosso que está no inferno ou partilho um cigarro com o Boris Vian ou toco no Catcher in The Rye. Eu percebo o que eles estão a fazer, eu gostava de beber copos com eles, eu gostava de ser amigo deles e mostrar-lhes a minha colecção de cartas de magic e se calhar ensiná-los a jogar.

Do Joyce não percebo a ponta de um corno. Não me refiro a perceber o que está escrito, se bem que começa com uma citação em latim do Ovídio ou Orelhio ou como se chama, uma citação em latim que não percebo e nem vem traduzida porque quem gosta de Joyce, sabe latim. Logo a primeira frase. A primeira fase do Bukowski no Post Office é: “this is a work of fiction and its dedicated to nobody”. Isto eu percebo.

O que me custa perceber é a intenção do gajo. Então, é fazer uma obra de arte assim perfeita? Muito bem, epic win senhor Joyce.

Aquilo é doloroso, todas as frases escorrem génio misterioso, mas são como Deus a falar comigo nas igrejas, não o oiço bem, não o oiço, nunca o ouvi, mesmo quando ficava a olhar para Jesus muito tempo na cruz a ver se o gajo me fazia Ok ou um aceno de cabeça, nada. E toda gente parecia ouvi-lo, ou pelo menos, falavam com ele a dar com um pau.

Deste portrait até estou a gostar mais que do Ulysses, é mais perceptível e pelo menos explica porque é que o Joyce era um enconado. Para já, não gostava de desporto e estava sempre a atrofiar e doente. E meteram-lhe o catolicismo e as canções irlandesas deprimentes e soturnas na cabeça, desde tenra idade. Tenho de me lembrar disto para a educação do "filho artista" que quero ter.

dicas do Tolan para o jantar romântico - a escolha do vinho

Vinho é muito importante. Sem vinho, não há jantar! Eu preciso de vinho para ser eu próprio, sóbrio sou uma pessoa detestável e lúcida.

Quanto aos vinhos, há de três cores, tinto, branco e verde. Também há rosé, mas se querem escolher vinhos cor de rosa, este texto não é para vós.

Independentemente da cor, escolham o vinho como se fizessem ideia do que estão a escolher. Eu tinha por hábito pedir vinhos inexistentes só para me armar, como um "Focinho de vaca, Reserva 98" ou um "Bicicleta da Porca 2002", mas deixei-me disso quando um dia me trouxeram mesmo um "Pedra do Urso".

Normalmente os vinhos mais caros têm garrafas que parecem de vinhos mais caros e ficam mais bonitas na mesa. E quando forem provar o vinho, finjam que eram mesmo capazes de mandar uma garrafa de vinto euros para trás, elas gostam daquele momento de suspense.Uma vez de vez em quando cuspam o vinho, indignados e gritem com sotaque francês "Oh mon dieu, que porcarie eh eshta? Pfff" Nas outras, façam que vão mesmo aprovar mas antes do empregado começar a encher os copos, levantem a mão, como se tivessem acabado de detectar uma cena manhosa, deixando-o com a garrafa suspensa. E depois aprovem.

Não se metam é com merdas de toques de avelã e carvalho e canela, com final de boca prolongado. O mais provável é que se fodam se apanharem com uma que percebe de vinhos a sério. E estão vocês a confundir canela com baunilha ou final de boca com princípio de língua ou carvalho com contraplacado IKEA.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

as saudades do sony walkman



E quando as pilhas quase acabavam a meio da viagem de autocarro e não fazíamos fast forward às músicas, para poupar? E se carregássemos no play quase até ao click aquilo andava mais rápido e ouvia-se wwhwhhhshshsshadylanewwhshshshwvery body wantsonewwsssshsh...

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

pode-se dizer que os Fogo da Arcada voltaram em grande

iam-me fazendo despistar o carro com aquela sensaçãozinha de nó na garganta por debaixo do nó de gravata, a euforia e melancolia, as faúlhas a saírem do cigarro à janela como um rasto de um cometa perdido que se vai desfazendo e tenta resistir ao modern man e não o vão quebrar, nunca, nem a morte o pode quebrar, ele prefere arder até ao fim!

Arcade Fire - Modern Man


(depois passou Cold Play no rádio e saí depressa do transe)

educar uma filha

Ter uma filha é muito complicado para qualquer homem. As filhas normalmente não sabem jogar à bola por exemplo e se souberem também não é bom sinal. Preferem uma wii em vez de uma ps3. Preferem bonecas em vez de armas de fogo. Todos os brinquedos que tenho, e que fariam delirar qualquer rapaz, parece-me que lhes seriam indiferentes, da guitarra eléctrica às bicicletas, das réplicas de espadas samurais à gigantesca colecção de cartas de Magic. As raparigas são mais sensíveis do que os rapazes, o que dificulta a aplicação do método pedagógico inspirado nos romanos e que consiste em constantes provações físicas e psicológicas, banhos gelados e lições de luta. Se eu tivesse um filho, de certeza que me divertia a partir do momento em que ele conseguisse ripostar minimamente nas lições de boxe e deixasse de choramingar, o que deveria acontecer aos 5 ou 6 anos.

No início é assim

depois é assim

e assim

Evidentemente que não tenho grande experiência na educação de crianças em geral, meninas em particular, apesar de ter tido namoradas um pouco infantilóides e uma cadela, uma cocker spaniel, que apresentava desafios psicológicos semelhantes a uma criança com disturbios emocionais graves. Mas os livros ensinam tudo o que precisamos de saber e agora, os blogues também, nomeadamente, este aqui.
A filha pode deixar de achar o pai o homem mais fantástico do mundo quando atinge uma certa idade e passar a controlá-lo e a oprimi-lo também. Nos casos mais extremos, felizmente raros, em que ainda não houve divórcio quando ela chega a esta idade, pode dar-se o caso de termos duas mulheres em casa. Em casos ainda mais extremos, e que conheço, chegam a ser três ou quatro mulheres em casa e ainda, de vez em quando, com visitas da sogra. E todas a chatear. A minha casa felizmente tem um quintal onde conto construir uma espécie de bunker com os meus brinquedos e fecho-me lá dentro. Depois, as filhas têm tendência a gostar de rapazes a partir de uma certa idade (19, 20 anos) e não é nesse momento que temos de nos preocupar com isso. É logo aos 6 meses de idade. Temos de usar as técnicas ancestrais que deram origem aos primeiros mitos urbanos, sob a forma de contos como o Capuchinho Vermelho. Estou a preparar uma extensa lista de todos os contos, lendas e e-mails forwardados por pessoas da faixa dos 40-60 anos que acabaram de descobrir a internet e a história da droga na bebida e do rim desaparecido, cuja moral essencial é: homens = perigo. E não só estou a recolher a lista como também vou escrever uns quantos de minha autoria, inspirados na obra de Stephen King. Já tenho títulos: “A discoteca da morte”, “O namorado esquartejador”, “O cinema fatal”, “A discoteca da morte II”, “Andar de mão dada, morte anunciada”, “Beijos e as doenças dos homens”, “A discoteca da morte III”…. E faço isso para o bem delas, não quero que acabem mal.

solidariedade com o Sporting e pacto de não agressão

Não queria deixar passar uma oportunidade de apoiar os meus amigos do Sporting. Digo isto sem sarcasmo. As coisas começaram lentamente. O primeiro sintoma foi deixarem de falar de futebol, até do futebol estrangeiro.

O Rogério Casanova parece ironizar com um seu hipotético suícidio devido ao leque de opções que se perfilam para o Sporting, nomeadamente, coisas como «Quique e Paulo Sousa na lista de Futre para os leões» ou «Ângelo Correia é trunfo de Godinho Lopes» e ainda «Octávio Machado mostra-se disponível para conversar com Santana Lopes».

Parece ironia, mas sempre que alguém se suicida, depois vem uma série de gente dizer que nada o fazia esperar, que era uma pessoa bem disposta e tudo mais, e vai-se a ver e num blogue ou num hi5 ou no facebook já havia referências ao suicídio e depois há debates no prós e contras e alguém na plateia grita "como é que ninguém percebeu?" e é aplaudido e os membros do painel, muitos psicólogos nomeadamente, ficam todos com aquela atravessada.

Acho que é engraçado brincarmos uns com os outros mas com respeito e consideração e há uma linha que não podemos passar, como a que a minha turma do 8ºF passou ao colocar uma potente bomba de bicarbonato de sódio no caixote do lixo ao pé da secretária da professora que era asmática e sofria de ataques de pânico.

O maradona fez um post sem comentários e bastante amargurado, umas horas antes da derrota com o Benfica. Fez o post antes do jogo, o que revela o estado actual do adepto do Sporting, um adepto que encontra alegrias em vaticinar com antecedência os desastres futuros, para assim encaixar melhor as coisas. Um dia ou dois depois do Sporting Benfica foi a vez do Alfredo Barroso quase desfazer-se em lágrimas em reacção às reacções de um treinador adjunto do Sporting chamado Cabral que 'ficou feliz com o jogo' e achou que jogaram bem.

Dias antes, foi o Liedson saiu e vimos milhares de sportinguistas a chorar comovidos, uma imagem que, admito, me causou alguma consternação e pena.
imagem da autoria e roubada sem autorização ao binary solo mas que como foi uma foto da televisão não conta.


E hoje um golo daquela equipa de alegados ébrios escoceses que marcam um golo no último minuto, um golo que, a bem dizer, poderia ter sido marcado por 1 dos 4 ou 5 jogadores que apareceram isolados em situação de marcar o referido golo. Foi como se a defesa do sporting também se tivesse sintonizado com o adepto e com o sentimento geral e quisesse também ela concretizar o que devia ser concretizado.

E isto é triste. Eu acho que não devíamos gozar mais com eles e é com toda a sinceridade que digo que não me dá prazer nenhum ver 4 ou 5 alegados ébrios do Rangers a surgirem em posição de golo e a defesa do Sporting toda com o braço no ar, como se tivessem todos uma questão muito pertinente a colocar ao árbitro ou estivessem a dançar o Saturday Night Fever.

E amanhã lá vão estar eles, pelos escritórios, taxis, spas, conselhos de administração, cabisbaixos e silenciosos, os sportinguistas. Receberão umas palmadas no ombro e vão dizer que já sabiam, que não têm equipa etc. e que não são parvos e que nem viram o jogo. Mas à noite, na cama, quando apagarem a luz e a esposa lhes sussurrar 'querido, o que tens?' não saberão responder, apenas chorarão em silêncio, resignados. E isto não é coisa de se gozar com.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

estar vivo é fundamental para não estar morto

A concentração é fundamental para não haver distracções. " - Anderson Polga, n'O Jogo

alegadamente os menos bêbados

Todos temos embirrações de estimação com vícios jornalísticos. A mim, nem são os frequentes erros de português. São a falta de informação e espírito crítico na análise de estudos publicados ou descobertas científicas e o uso indiscriminado do "alegado".

Um exemplo de alegado perfeitamente cretino:
A mulher que foi vítima de um sequestro numa dependência bancária no Porto sofreu “uma perfuração na zona do abdómen” e “escoriações”, encontrando-se “estável e consciente” (...) a vítima, de 43 anos, “está em recuperação”, encontrando-se já "a receber visitas”. A mulher foi vítima de um alegado roubo, seguido de sequestro, na área de uma caixa Multibanco de uma dependência bancária na rua Damião de Góis, na quarta-feira, cerca das 22h00. Público

Suponho que haja uma cadeira de jornalismo em que os testes consistem em preencher espaços em branco antes de qualquer facto ou pessoa numa reportagem sobre crimes com a palavra "alegado".

E depois, os estudos. Acredito que os leitores deste blogue já exclamaram, uma vez ou outra na vida, que "todos os dias sai um estudo a dizer A e depois outro a dizer B" etc. De facto, quem se ficar pelas notícias nos jornais pode chegar à conclusão que os estudos só servem para entreter. Por exemplo, veja-se este belíssimo título da referência que é o Jornal i:
Portugueses são dos menos bêbados do mundo
Não só o uso da linguagem é discutivel para um jornal que supostamente tenta estar no campeonato do Público ou DN, como o teor da notícia é suspeito.

Portugueses, espanhóis, gregos e italianos partilham uma característica: são dos povos mais sóbrios do mundo. Um estudo divulgado pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos mostra que México, Rússia, Ucrânia e África do Sul são recordistas em consumo de álcool e que alguns países europeus, a Austrália e a América do Norte são as zonas do mundo em que menos se consome bebidas alcoólicas.

O último estudo da OMS, uma instituição um pouco mais credível que o misterioso "Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos" que pelos vistos estuda o mundo inteiro, volta a colocar Portugal no 14º posto mundial de consumo de álcool, um valor que seria o 8º se não fosse a utilização de estimativas para consumos não declarados (mais elevados em países de leste por exemplo).

Felizmente, ambas entidades usaram o mesmo software para fazer o mapa:

O mapa do estudo do Centers for Disease Control and Prevention

O mapa da OMS (olha nós ali a roxo escurinho eh eh)

A questão aqui não é não noticiar o estudo do Centers for Disease Control and Prevention, mas sim que o jornalista, (neste caso, Sílvia Caneco) não desconfie ou não ache contraditório que de repente venha a lume um estudo com uma nova ordem mundial no que respeita a consumo de álcool e, no caso de Portugal, diga exactamente o oposto que décadas de informação das mais variadas fontes, destronando-nos de um pódio que por acaso eu até gosto.

Parte disto poderia ser contornado se tivessemos no corpo da reportagem um prático link para o estudo original e pudessemos fazer o resto do trabalho que o jornalista não fez. Não consigo encontrar o estudo da Centers for Disease Control and Prevention e acho estranho que não consiga e a Sílvia Caneco consiga, uma vez que o site da Centers for Disease Control and Prevention é bastante fácil de utilizar. Só vejo estudos relativos aos EUA. O da OMS consigo, é muito giro. Gostava de comparar as metodologias um do outro e perceber a origem do desvio. Manias, mas ninguém me ganha ao Buzz por algum motivo. O que me parece é que o da OMS é calculado pelos volumes de álcool vendido e consumido, daí que só em 2011 tenhamos os dados de 2005. O outro parece referir-se a drinking patterns, ou frequência de consumo digamos assim, uma informação que terá sido obtida por amostragem e inquérito. O meu conselho continua a ser o mesmo: não levem a sério qualquer alegada informação nos alegados jornais sobre estas alegadas conclusões....

writer fashion

Como se sabe, os escritores antes de começarem a escrever, preocupam-se muito com a sua aparência e estilo. Como estou com algum bloqueio e desmotivação, tenho estado a tentar decidir a minha aparência e estilo e estou indeciso entre estes vários modelos. Acredito que depois de escolher um poderei adaptar o meu estilo de escrita ao estilo de roupa que escolher. O contrário é complicado.

Estilo 1: vagabundo que nos vai chatear e cravar cigarros se olharmos para ele

Gorro de pescador em lã, casaco de tweed da zara, relógio timex, calças dos ciganos e relógio timex.
Modelo: Charles Bukowski

Estilo2: hipster
Barba hipster, casaco comprido da Gentle Fawn, camisa Obey, calças WESC
Modelo: Fiedor Dosotiévski


Estilo 3: padrinho de casamento na Quinta da Meta dos Leitões
Fato: Geovani Galli, gravata Zara
Modelo: José Rodrigues dos Santos

 Estilo 4: formal de casamento
Camisa branca da Victor Emanuel
Modelo: António Lobo Antunes

Estilo 5: Rapper meets House meets... não sei...
Cabelo Lúcia Piloto, casaco de pele da Berschka, calças Maximo Dutti, varão de cortinado serrado ao meio
Modelo: Oscar Wilde


Estilo 6: gothic emo
Casaco da darkside clothing, lenço da smart punk
Modelo: Edgar Alan Poe

Estilo 7: groupie dos moonspell

Tatuagem cat type spelling e outras decalcadas de capas dos Iron Maiden
Roupa preta lavada com gel roupa preta blancotex (continente online por 5,01€ a embalagem com 33 unidoses)
Modelo José Luís Peixoto

agora já percebi como se faz isto

John O'Brien-Docker - Say You'll Be Mine

mais uns pais

Aconteceu finalmente. Os últimos resistentes estão a cair. Até os amigos de quem nunca esperei esta decisão, têm filhos, sem sequer me consultar. E sem ser por acidente, com a empregada brasileira ou a secretária. Não me interpretem mal, acho excelente ter crianças, mas é preciso admitir que a individualidade dos pais desaparece em boa parte, se pretendem ser bons pais, evidentemente.

No campo, é sabedoria comum que as cadelas ficam melhores para a caça depois de terem uma ninhada e com as mulheres é igual. O 'melhor para a caça' resume-se a maturidade e foco. O instinto maternal leva-as a focarem-se mais nas coisas práticas e concretas, seja um coelho a fugir, seja uma promoção o trabalho. E começam a dizer coisas como "para mim o Paulo Pedroso devia ser executado" (ouvido de uma mãe recente). Percebemos que está ali um animal com um instinto primário quando sente uma ameaça à prole. Li num livro que só usamos parte da capacidade muscular por questões ligadas a sinapses e impulsos e que em situações de stress os nossos músculos até podem levantar um automóvel ou partir ossos e é isso que vejo numa mãe a dirigir-se à última caixa de Nestum no Pingo Doce que eu por acaso até estava quase a meter no carrinho, só por curiosidade e devolvo à prateleira rapidamente.

Depois, nos gajos o que sucede é que ficam cansados e sem tempo. A energia vital esgota-se, ficam uma sombra do que foram, uns zombies a conduzir carrinhas meganes com cadeirinha de bebé e tarados por rabos de miúdas de 20 e poucos que passam na rua. É um desastre. Elas e eles crescem décadas de repente, no dia em que são pais e ficam parecidos com os meus pais em vez de serem parecidos com os meus amigos. Mas eu acho bem, acho tudo muito bem.

Eu gostava de ter filhos também, para fazer experiências pedagógicas. Deve ser interessante ter alguém impressionável e moldável ao nosso dispor. É um bocado como no jogo que estou a jogar agora, o Mass Effect 2, temos uma squad de guerreiros de elite e podemos especializá-los em certas áreas, um pode ser sniper, o outro dominar energia telepática, o outro ser especialista em armas pesadas etc. e nós damos ordens. Se eu tivesse filhos era para fazer uma squad do género. Um seria o cientista maluco, o outro o artista e depois treinava um para ser jogador de futebol e garantir-me uma reforma confortável.

O difícil é o que fazer de uma rapariga, as raparigas não servem para nada, só dão stress e quando chegam aos 19 ou 20 já querem sair à noite e falar com rapazes. Só se fosse geek e feia. Aí gostava dela porque os rapazes não gostam de raparigas feias. E eu dizia-lhe "tu és feia, não percebes? só o pai é que gosta de ti" e depois aos 30 lá arranjava um senhor rico de 40 ou 50 que me garantia a reforma. Não sei, não percebo muito de paternidade.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

um craque


O Salvio é um craque daqueles que se percebe logo que é craque na primeira exibição. Quanto ao jogo, foi simpático, prejudicado pelo árbitro que começou mostrar cartões amarelos a tudo o que se mexia e redundou na desnecessária expulsão do Sidnei (deve ter caído em si depois). Mesmo a jogar com 10 e com uma perna atrás das costas, ao pé coxinho portanto, o Benfica controlou (sem dominar), ao contrário do FCP que foi controlado e dominado (e outras coisas acabadas em 'ado'). Prioridades do Mister Jesus, que sabe que 5ª feira há jogo com o stutegarda. O Sporting mostrou atitude, mas tem um plantel fraco e assim é complicado de maneiras que.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

o blogger da maratona

Com a excepção de alguns, são muito poucos os que compreendem os meus ímpetos desportistas suicidas que interrompem longas fases do mais abjecto sedentarismo. É evidente que sabia que fazer uma maratona de 40km em lama quando estou fora do btt há um ano, me deixar marcas psicológicas e físicas graves. Quanto às psicológicas, quando estamos a fazer um circuito de 40km por terreno acidentado e lamacento e somos ultrapassados pelos atletas dos 80km que partiram ao mesmo tempo que nós e já deram uma volta, sentimo-nos desanimados e tristes. Até ali vivíamos a fantasia do "até estou a fazer uma boa prova, tendo em conta". Depois, as feridas físicas. Basicamente, não me consigo mexer. O meu corpo está em estado de choque e revoltado comigo, habituado a maratonas de ps3 e escrita e hoje fez greve. Durante toda a prova sentia-o confuso e em intensa discussão.
- Mas que raio de merda é que se está a passar, estou aqui a bater forte e feio há 3 horas e meia, só nestas horas já bati mais que numa semana!? Ó pulmões vocês sabem o que se passa?
- Não coração, também estamos em ritmo acelerado e só sei que não veio fumo de tabaco ainda para aqui desde manhã. Já perguntaste à pilinha e aos tomatinhos se é sexo?
- Já mas só ouvi um 'mfff mfmmfmmff' abafado. Além disso, 3 horas e meia de sexo? Deves estar a gozar. Não será um jogo novo de ps3? O gajo às vezes entusiasma-se, lembras-te de quando saiu o BFBC2?
- Ele não comprou o Critical Mass 2 este fim semana?