terça-feira, 13 de março de 2012

e se minha escrita agora aparenta laivos de brasileirismo

... é porque estou lendo Clarice Lispector, a conselho da Plaft Sílvia. É raro ler mulheres ou ler autores sul americanos. Aqui é um dois em um. A ironia, é que gosto muito, combina bem. Talvez o que me enerve seja um homem escrever com aquele jeito de enrolar e inventar frases luxuriantes cheias de apalpadelas e coisas macias. Uma mulher está bem, eu deixo, mas só se for inteligente como a Clarice Lispector. Quando uma mulher deixa de ser inteligente, mas continua a escrever como uma mulher, acaba por escrever como o José Luís Peixoto e não queremos isso.

Homem que é homem, escreve como um americano ou um russo.

Um pequeno exemplo:


Clarice, no conto "O ovo e a galinha": «E eis que não entendo o ovo. Só entendo ovo quebrado: quebro-o na frigideira. É deste modo indirecto que me ofereço à existência do ovo: meu sacrifício é reduzir-me à minha vida pessoal. Fiz do meu prazer e da minha dor o meu destino disfarçado. E ter apenas a própria vida é, para quem já viu o ovo, um sacrifício. Como aqueles que, no convento, varrem o chão e lavam a roupa, servindo sem a glória de função maior, meu trabalho é o de viver os meus prazeres e as minhas dores. É necessário que eu tenha a modéstia de viver. Pego mais um ovo na cozinha, quebro-lhe casca e forma. A partir deste instante exacto nunca existiu um ovo.» 


Bukowski: «Fiz uma omelete e estava bem boa.»

14 comentários:

  1. E, no fundo, são os dois belíssimos exemplos do hipermodernismo à Gilles Lipovetsky...

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  2. A Silvia anda a "educar-te" :)
    Eu gosto do Peixoto, podes atirar-me pedras :)

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  3. Clarice Lispector é do melhor que há.
    Da minha parte, recomendo a própria Silvia Plath. É muito refrescante, Tolan. Vais ver. ;)

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  4. Caso te desiludas com Lispector, podes ler o livro do Emproadinho, numa banca perto de ti.

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  5. Qualquer escrita que apresente laivos do que quer que seja tem aí uma base pertinente.

    A minha só apresenta traços felinos porque o gato insiste em deitar-se no teclado quando me ausento. No entanto, a minha melhor prosa surge nesses instantes.

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  6. Mai nada! Eu gosto mais da escrita de macho.

    viagensnomeucaderno.blogspot.com

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  7. Ah, pensava q Buk era mais fiambre no pão.

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  8. Ora vamos lá voltar a ver o "tal" vídeo do Hitler.

    http://www.youtube.com/watch?v=0b04pKO_698

    (yay)

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  9. hehehe mas que bem

    Silvia Plath e Clarice são dois exemplos de mulheres legíveis. O Peixoto nunca li, mas falam tanto dele... porquê?

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  10. se ajudar, a clarice nasceu na ucrânia. mas para mim, neste caso, não me incomoda que seja sul americana.

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  11. uma outra sílvia, que também ama clarice, enviar te á qualquer destes dias, nesses diários em que descontas sul américa nas letras, outros autores igualmente ditosos e transatlânticos :)

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  12. Se já nem nos jornais se escreve à russo, parece-me que a escrita modesta mas contundente estará em vias de extinção...
    Além disso, as mulheres parecem derreter-se como manteiga (que também nos dias de hoje já não parece tão sólida!) com textos melífluos assinados por homens.
    Contra mim falo, mas é segredo.

    Aproveito para agradecer o teaser de Lispector que, ainda que sendo "gaja" me deixou com água na boca.

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