domingo, 31 de outubro de 2010

os meus discos preferidos não interessam a ninguém #3:NWA - Straight Outta Compton(1988)


Straight Outta Compton wasn't quite the first gangsta rap album, but it was the first one to find a popular audience, and its sensibility virtually defined the genre from its 1988 release on. It established gangsta rap -- and, moreover, West Coast rap in general -- as a commercial force, going platinum with no airplay and crossing over with shock-hungry white teenagers... AMG

os meus discos preferidos não interessam a ninguém #2 The Zombies - Odessey and Oracle (1968)


Odessey and Oracle was one of the flukiest (and best) albums of the 1960s, and one of the most enduring long-players to come out of the entire British psychedelic boom, mixing trippy melodies, ornate choruses, and lush Mellotron sounds with a solid hard rock base. But it was overlooked completely in England and barely got out in America... - AMG

os meus discos preferidos não interessam a ninguém #1: Aphex Twin- Selected Ambient Works 85-92 (1992)


Selected Ambient Works 85-92 is a desperately sparse album: thin percussion and several haunted-synth lines are the only components on most songs, and Richard D. James added only one vocal sample on the entire album ("We are the music makers, and we are the dreamers of dreams"). Also, the sound quality is relatively poor; it was recorded direct to cassette tape and reportedly suffered a mangling job by a cat... - AMG

sábado, 30 de outubro de 2010

ironia

imitações

Na infância e ainda na adolescência, o tempo parece passar devagar e depois com a idade passa cada vez mais rápido, os anos voam. Como vivemos a mesma coisa uma e outra e outra vez, tendemos a ficar cada vez mais indiferentes. Vem aí o Natal outra vez etc. etc. A vida é feita de rotina e essa passa por nós como a paisagem numa ida para o trabalho de manhã, no eixo norte sul. Os olhos vêem mas não vêem nada e não conseguimos recordar nenhum detalhe particular. Essa inércia também nos pode fazer perder os impulsos criativos pois eles nascem de uma necessidade de reacção a qualquer coisa. Passamos a estar anestesiados pela tv, pela playstation, pela publicidade, pelo dinheiro, pelo conforto, pela previsibilidade. Existem, evidentemente, momentos marcantes que ficarão gravados. O primeiro beijo na mulher, o nascimento do filho, a morte do pai, mas pouco mais.

Tenho um alibi que me permite forçar certas coisas, apenas para poder falar sobre isso. Mas os grandes talentos não precisam disso. O Hemingway, apesar de ter tido uma vida intensa, não teve as experiências limites de que fala no livro. Por exemplo, ele era correspondente na guerra, não era soldado, mas descreve a sensação de matar e combater com enorme realismo, ao ponto de veteranos acharem aquilo mais real do que o que eles próprios viveram. Ele conseguia, como alguns grandes génios da literatura (Shakespeare, Dostoiévski), projectar-se para dentro da mente de pessoas diferentes. É como aqueles actores que apesar de não terem uma mutabilidade total - têm sempre um traço próprio - conseguem uma grande amplitude dramática, fazer comédia, drama, terror, serem o bom, o mau e o vilão. Penso no Kevin Spacey (o meu actor vivo preferido) por exemplo. Uma actriz disse-me que quando tinha de chorar em palco pensava numa coisa triste, quando os pais tiveram de dar o cão da família a outra pessoa. No palco, a tragédia a fingir era incomparavelmente maior (a morte do marido) do que aquele pequeno trauma, mas o público não precisa de saber isso.

O génio do Kevin Spacey a fazer imitações.

o talento perdido

Alguns amigos e "amigas" dizem "eu escrevia poemas" ou "eu fazia música" ou "eu escrevia histórias" ou "eu pintava muito bem" referindo-se a um tempo normalmente pré-universitário. Depois há qualquer coisa que fica soterrada pela maturidade, pela cultura, pela rotina e pela noção de ridículo que escapa completamente aos adolescentes. As "artes" têm uma componente de técnica que normalmente só é adquirida com o tempo, o estudo e a prática e alguma autocrítica. Por isso, é difícil crescer e fazer qualquer coisa pura, viva, infantil.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

cães

Tive um gato e mudou a minha forma de ver os gatos, gosto muito de gatos, a minha maior desilusão foi não serem como eu esperava que os gatos fossem, nomeadamente, independentes da minha disponibilidade física e mental para lhes dar mimos. Descobri que os gatos são carentes de atenção afinal de contas, mas a dona da ninhada de 10 gatos vendeu-me a ideia de que aquilo era como um tamagochi, bastava o caixote de areia limpo e comida e eram felizes. Os gatos são como aquelas mulheres que dizem que são independentes e que têm a vida delas e depois um dia ficamos sem bateria no telemóvel a meio de um jantar para ver a bola e quando chegamos a casa estão as luzes acesas, ela está de trombas a ver televisão, rasgou-nos os cortinados e desfez um rolo de papel higiénico. Costumo dizer (sozinho, no carro, em voz alta) que a qualidade de vida se mede pela possibilidade de ter um cão ou uma cadela, um canídeo. Nada se compara a um amor de cão. Um amor de cão é tudo o que um homem precisa. Com um cão ou uma cadela e encontros românticos com mulheres, eu seria um homem equilibrado em vez do farrapo que sou. E o mesmo se aplica às mulheres, esqueçam a idiotice de terem um homem permanentemente a lixar-vos o juízo, reservem-nos para o romance e isso e tenham um bom cão, um cão fiel, um cão que vos ama e não quer saber se ganharam 2 quilos no último mês ou se depilaram as pernas e que só se preocupa se eventualmente gostarem de The National ou José Luis Peixoto. Devíamos viver com cães, cada um com o seu, e não cometer esse disparate de vivermos juntos , de nos irritarmos com os cremes e cosméticos que enchem 80% das prateleiras ao lado do espelho do wc e de embirrarmos com as garrafas de cerveja vazias no chão da sala amparadas por pilhas de boxers e meias usadas. O meu problema é não ter vida para ter um cão, uma coisa com um coração que bate depressa de tão angustiado de amor que está e que me diz "está tudo bem, estás em casa, agora está tudo bem, tenho fome, podes fazer-me o jantar doninho?" e eu faço o jantar e ponho mesa para os dois, o cão sentado à minha frente, com um guardanapo ao pescoço, a tv sintonizada no telejornal que ele ignora porque o importante é a comida e a companhia. O problema das sociedades modernas não é a desagregação da família, como disse o Bagão Felix na antena 1 no outro dia, o problema é haver pessoas que não têm vida onde encaixe o melhor amigo.

zás

«A ideia de pecado original sempre me pareceu muito cruel. Uma injustiça. Quer dizer, uma pessoa está muito bem sem fazer nada e quando dá por ela, zás, já tem um pecado em cima.»

club de esposas cornudas de la Premier

«Rooney le regala a su mujer un implante de mamas para que olvide sus cuernos
Coleen Rooney, miembro del club de esposas cornudas de la Premier, está de vacaciones...»
título e interessante artigo aqui no La Marca

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

nem assim o conseguem parar






6 da manhã hey

Porra, agora ando a acordar às 6:00 da manhã, sem despertador, mesmo a meio daqueles sonhos confusos e com ideias na cabeça como "desenvolve a cena do crocodilo insuflável". Pensei em voltar a dormir mas vou desenvolver a cena do crocodilo insuflável.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

amo a internet

(e tenho de cortar o cabelo)

feito a partir a partir deste video original da rua sésamo e desta música catita da Willow Smith.

só para se ter uma vaga ideia...

... perdi esta e outras músicas para sempre. Isso acontece uma vez na vida e acabou. Ainda as ponho a tocar na penumbra do escritório. Agora parece que as oiço abafadas, a vir de uma sala fechada à chave onde já não posso entrar. Oiço vozes e risos na sala de onde vem a música. Tento ordenar as ideias, escrevo um parágrafo. Faço uma pausa para ir buscar uma cerveja ao frigorífico. etc.

a amizade entre homem e mulheres é perfeitamente possível

Deixem-me só refazer aquela frase de um post aqui há tempos em que dizia que “é impossível a amizade entre um homem e uma mulher”. Essa frase só me trouxe problemas que, estupidamente, não antevi. Primeiro, acabou completamente com as hipóteses de conhecer leitoras giras deste blog, o motivo prático nº1 da sua existência. Risca.
Mas mesmo raparigas que já me conheciam e que sabem da existência do blog e o lêem, chegam a ameaçar-me de me espetar um estalo se eu tentar alguma coisa, isto, em qualquer ocasião, como a propósito de uma coisa básica como um café na fnac do colombo. Aliás, na própria Fnac há uma rapariga da caixa que lê este blog e topou que eu era o Tolan por causa dos livros que estava a comprar e quando lhe ia a passar o cartão multibanco avisou-me “se estiver a ser muito difícil pode mudar para a caixa do lado”.
Há semanas recebi um sms a dizer “não sou tua amiga? Sou o quê? Passa bem”. A minha cabeleireira deixou de me falar enquanto me corta o cabelo, ela que falava tão bem sobre os concertos do U2 e dos Pearl Jam, dando-me vislumbres literários preciosos sobre o modo de vida suburbano. Apanhei uma taxista que passou o tempo todo a não me dar conversa. No banco da frente, ao lado, tinha o “For Whom The Bell Tolls”.
Quando me sento no metro ao lado de uma rapariga dessas de escritório e que está a ler Pedro Mexia e lhe pergunto se conhece a literatura russa do sec. XIX e volto a repetir depois dela tirar os phones do ipod dos ouvidos, responde-me invariavelmente: “Tolan? Lamento, sou comprometida e gosto de The National” e voltam a colocar os fones de onde se ouve um "...half away in our fake empire...".

No escritório, espalhou-se o boato que eu sou o autor do Tolan e quando me sento para uma reunião, abre-se uma clareira à minha volta, sentam-se todas do lado oposto da mesa. Eu bem digo "mas eu sou só vosso colega bolas" mas elas nem respondem, fica um ambiente tenso durante o resto da reunião.

Depois, os gajos com namoradas já não querem combinar jantares em casa deles comigo porque dizem “então a minha Patrícia é o quê? Se não é amiga, é o quê? Desculpa lá, vamos à bola no Sábado mas cá a casa não vens”.

Queria alterar aquela frase. Em vez “é impossível a amizade entre um homem e uma mulher” passa para “é perfeitamente possível e muito desejável a amizade entre um homem e uma mulher, compinchas a valer”.
Pronto.

Agora tenho de trabalhar na minha definição de "amiga". Fiz alguma pesquisa. Aqui, o Hugh Grant a conviver com amigas do peito :) É bonito a amizade.

O Hemingway a descrever sexo

ler o trecho seguinte ao som disto para um efeito condigno.

Moloko "The Time Is Now" from MARSHEEN on Vimeo.

Oh now, now, now, the only now, and above all now, and there is no other now but thou now and now is thy prophet. Now and forever now. Come now, now, for there is no now but now. Yes now. Now, please now, only now, not anything else only this now, and where are you an where and where is the other one, and not why, not every why, only this now, and on and always please then always now, always now, for now always one now (...)all the way now, all of all the way now, soaring now, away now, all way now, all of all the way now; one and one is one, is one, is one, is still one, is one dsoftly, is one longingly, is one kindly is ohe happily (...) 'Oh Maria, I love thee and I thank thee for this.' - for whom the bell tolls, Hemingway

Gosto especialmente do fim. "Oh Maria, amo-te muito, obrigados por isto." Ou, "Oh Maria, amo-a e agradeço-lhe este bocadinho que me dispensou".

(a propósito de sexo, há que de dizer que a Roisin Morphy oh la la como diria o francês do jogo online)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

texto sem bonecos e que pode precisar de ritalina para ser lido

Fiz o Atum Macaco uma pessoa mais feliz por ter visto até ao fim (3 vezes, 2 delas só o audio) o primeiro video deste post. Nele, o professor Sir Ken Robinson defende um novo paradigma para a educação e critica, de forma bastante válida, os defeitos do actual. Será necessário o visionamento do referido vídeo (é muito divertido, ainda por cima) para compreender o post que se segue na sua plenitude. Preferia que fosse assim já que resumir o video obrigar-me-ia a um texto demasiado grande para as dificuldades de concentração dos meus cansados leitores. Decidi nem sequer intercalar o texto com fotos de gatinhos fofos.
No geral, concordo com as críticas feitas ao sistema de ensino actual feitas pelo Sir Ken Robinson mas não vejo que a alternativa utópica ali proposta seja possível sem exigir que a própria sociedade a jusante se transforme totalmente. Começa pelo elevado custo económico de adaptar um esquema de ensino às especifidades de cada miúdo, de acordo com critérios potencialmente subjectivos, como as suas capacidades de trabalhar em grupo, sozinhos, de criar, de estudar, de pensamento lateral, de interesses etc. O que sucederia se um tipo de miúdos fosse muito mais caro de educar que outro tipo de miúdos, sendo que o segundo tipo de miúdos era economicamente mais valioso do que o primeiro, condenado ao desemprego?
Na prática, esta diferenciação já existe no ensino privado e, note-se, acarreta consigo injustiças. Pais com dinheiro podem potenciar o contexto dos filhos de diversas maneiras, de acordo com as suas tendências, a começar pelo facto de os colocarem em escolas melhores onde têm acompanhamento maior, de lhes pagarem livros ou brinquedos ou actividades de acordo com os seus gostos.
Temos de admitir que alunos da mesma idade são, em média, mais parecidos entre si, ao nível das capacidades cognitivas e que esse é um critério objectivo para os enfiar numa sala de aulas e ignorar as suas especificidades. Sobretudo, considero que isso é irrelevante no que respeita a características especiais e diferenciadoras. Não me lembro de exemplos (mas pode haver) de pessoas que estudaram em contextos especialmente criativos e livres se tornaram bestiais e relevantes, em qualquer plano.
Os exemplos opostos são mais numerosos.
Contextos contrários às inclinações pessoais são favoráveis para reforçar e gerar um movimento de resistência e dotar o indivíduo de defesas e métodos para sobreviver. Penso que os casos paradoxais de pessoas que cresceram numa bolha afectiva e económica, como é o caso de muitos betos, acabam por dar jovens adultos profundamente desinteressantes, superficiais, sem curiosidade nenhuma e, portanto, adaptados a gerir empresas, bancos e coisas importantes, mas de resto, completamente inúteis.
Acredito, pela observação de um número infinitamente superior de casos de génios da arte ou da ciência, que as características subjectivas de que fala o professor Ken Robinson, são superiores ao contexto. Os génios transcenderam sempre o contexto. O maior erro do Ken Robinson é dizer que “há muito mais génios só que não sabem que o são”.
Tenho a convicção que isso não é verdade. Uma pessoa especialmente boa em qualquer coisa, ou com interesse enorme por qualquer coisa, atribui sempre uma importância relativa menor à escola e à universidade do que aquilo que lhe interessa a sério.
O professor fala na questão da felicidade e eu aí concordo. Concordo que uma coisa é um sistema que visa a felicidade das pessoas que o frequentam e outro, de inspiração económica, que se preocupa primeiro com o seu sucesso profissional e supõe que daí virá a felicidade geral. Em parte, o modelo até funciona bastante bem nesse aspecto. Tenho a certeza que existirá uma boa correlação entre felicidade e médias escolares, assim como existirá uma boa correlação entre nível de vida e felicidade. O problema são os tais falhados e inadaptados, a maioria. O sistema é claramente darwiniano e, por isso, natural. Todos os sistemas que impliquem selecção natural por critérios objectivos como correr mais depressa ou ser mais esperto, são naturais.
Para a esquerda, na qual gosto utopicamente de me incluir, o "natural", não é uma coisa incontornável, é dever da sociedade evoluir, proteger os mais fracos e não deixar ninguém de fora. Mas pergunto-me se, numa turma especial de miúdos com talentos especiais idênticos, não iríamos criar graves complexos nos míudos menos bons, menos especiais, ao estarem constantemente a conviver com outros com os mesmos talentos. Paradoxalmente, não os estaríamos prejudicar ao colocá-los num contexto em que deixassem de ser tão especiais?
Para finalizar, a minha principal oposição ao sistema actual prende-se com o excesso de trabalho, de exames, de ocupação de tempo que exige aos alunos. Há cada vez mais exames e avaliações e cada vez mais cedo. Os putos precisam de mais tempo livre e de menos stress. A escola deveria dar a hipótse de aprender música, uma boa biblioteca, clube de ciências, desporto, seja o que for, e talvez fosse mais útil ter mais disto do que aulas e aulas, estudos e ainda por cima explicações. O astrofísico João Magueijo, uma espécie de rebelde à sua maneira, inovador com a sua teoria da velocidade da luz não ser constante, já tinha referido este ponto numa entrevista, em tempos, como um problema da nova geração de alunos.

tolan faz um cover do cure for pain dos morphine

O Tolan sente-se um pouco envergonhado por postar isto uma vez que se ouve a voz do Tolan e o Tolan a brincar com guitarras e a errar sempre a mesma nota que nem o software de afinação de voz, o melodyne, conseguiu martelar no sítio certo. Mas depois o Tolan lembrou-se que este senhor tem esta foto muito sexy na Internet e isso relativiza as coisas.


Fiz um video a partir de videos com cães, para acompanhar a música, porque coisas com cães colocam as pessoas bastante receptivas e descontraídas. E pus o video todos a preto e branco para ficar artístico. Espero que o Mark Sandman não dê voltas na tumba.

sábado, 23 de outubro de 2010

O Lobo Antunes disse ao expresso: «tenho a certeza que serei lido para sempre

Más notícias António:

«12 billion years – the ever-expanding sun, transformed into a red giant, will engulf the planet, melting away any evidence it ever existed and sending molecules and atoms that once were Earth floating off into space. "The disappearance of our planet is still 7.5 billion years away, but people really should consider the fate of our world and have a realistic understanding of where we are going," said UW astrophysicist Donald Brownlee. »
univesity of washington

... e ainda este poemazinho do Bukowski, de que me lembrei e fui buscar ao velho companheiro http://oamorumcodoinferno.blogspot.com/ do Manuel A. Domigos.

depois de ler a imortal literatura do mundo

as crianças nas escolas
fecham ferozmente
os seus pesados
livros

e correm
sempre contentes
para o
pátio

ou

ainda mais
alarmante –

para as
suas
horríveis
casas.

não há nada mais
deprimente
do que
a imortalidade.


Charles Bukowski

hoje acordei assim

a propósito da entrevista postada aqui em baixo

Repesquei uma coisa que eu tinha escrito no anterior Tolan:
«A personagem do Huck é o Hank do Bukowski ou o puto do Catcher in the Rye do Salinger e 20 personagens do Hemingway. A vida idílica é uma jangada a descer o mississipi, é dormir nu debaixo das estrelas, é pescar um peixe e comê-lo e recusar a civilização. E mal saber ler e escrever, não fazer juízos sobre nada e recusar a consciência. O Huck diz que a conscência humana é mais estúpida que um cão. Eu gosto do Mark Twain, eu acho que o Mark Twain foi a melhor pessoa que já viveu.»
(citar-me a mim mesmo é esquisito)

E acrescento que não concordo em absoluto com o Borges na questão do Tom Sawyer. Também não gosto do Tom. Mas penso que o Tom, apesar de quebrar um pouco o ritmo, funciona muito bem como contraste para Huck. Ao aparecer nos últimos capítulos, dá à obra do Twain uma textura de universo real. Tom e Huck aparecem como estranhos de visita nos livros um do outro.

Sem dúvida que um dos melhores livros inconscientemente obra prima (juntamente com toda a obra de Shakespeare e Cervantes) foi o Robinson Crusoe do Daffoe. O livro é absolutamente magnífico, profundo, seminal, revolucionário, visionário e giro. E foi claramente pensado como livro de aventuras. É hilariante ver uns últimos capítulos dedicados a umas pífias aventuras de Robison e Sexta Feira, já em terras continentais, em que enfrentam um ataque de um urso. É como se um daqueles apóstolos, o São Mateus, resolvesse contar uns episódios pitorescos com Jesus, num anexo a seguir à Bíblia, por exemplo, Jesus vai ao mercado, às compras, um mercador engana-se no troco e Jesus devolve-lhe umas moedas que este lhe deu a mais.

estou a começar a apaixonar-me por este gajo

Jorge Luís Borges

Excertos da entrevista:
1ºexcerto:
«quando eu era jovem andava sempre à caça de novas metáforas. Descobri então que as metáforas verdadeiramente boas são sempre as mesmas. Quer dizer, compara-se o tempo com uma estrada, a morte com o sono, a vida com um sonho, e são essas as grandes metáforas da literatura porque correspondem a algo essencial. Se inventamos metáforas, elas são capazes de surpreender durante uma fracção de segundo, mas não provocam qualquer tipo de emoção profunda.»

2º excerto:
«Há um livro de que tenho de falar e esse livro é Huckleberry Finn. Não gosto nada de Tom Sawyer. Acho que Tom Sawyer estraga os últimos capítulos de Huckleberry Finn. Com todas aquelas piadas tolas. Tudo piadas sem sentido; mas suponho que Mark Twain pensou que tinha a obrigação de ter graça mesmo quando não estava para aí virado. Acho que Mark Twain foi realmente um grande escritor mas julgo que ele não se dava conta disso. Todavia, para se escrever um livro que se possa considerar realmente um grande livro, talvez seja necessário que uma pessoa não se dê conta disso. Pode-se trabalhar que nem um forçado e alterar qualquer adjectivo para um outro adjectivo, mas talvez se escreva melhor se se deixarem ficar os erros.»

3º excerto
(...)há uma tendência para encarar qualquer tipo de escrita - especialmente a poesia - como um malabarismo de estilo. Conheci muitos poetas que escreveram bem - coisas muito boas - de um modo delicado e por aí adiante - mas se falar com eles, só lhe contam histórias obscenas ou falam de política da mesma forma que toda gente fala; portanto, o que escrevem é na verdade uma questão secundária. Aprenderam a escrever do mesmo modo que se pode aprender a jogar xadrez ou a jogar bridge. Eles não eram realmente poetas ou escritores. Aquilo era um truque que eles aprenderam, e aprenderam-no por completo. Tinham a coisa dominada na ponta dos dedos. Mas a maioria deles - excepto quatro ou cinco, diria eu - parecia pensar na vida como não tendo nada de poético ou misterioso. Sabem que quando têm de escrever, então, bem, têm de se tornar de repente extremamente tristes ou irónicos.

Para colocarem o chapéu de escritores?
Sim, para colocarem o chapéu de escritores e entrarem num certo estado de espírito e depois escreverem. Depois disso, voltam à política corriqueira."


Excertos retirados das entrevistas da Paris Review, livro que me foi gentilmente cedido - já convenientemente rabiscado, emendado e sublinhado nas partes em que devo prestar atenção - pela bluesy que,, entretanto, parece que implodiu o blog.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

man manchine

quando se está a partir pedra numa base de dados no escritório e a escrever 934 linhas de código para crackar duas variáveis, o que roda bem no itunes com o equalizador ajustado para dance e ainda com um overboost de +3db nos graves é kraftwerk. Então, aí o escritório, o computador, o código, os números, a células do excel, tudo parece fazer parte do videoclip, da música, torna-se poético e bonito.

male bonding

As mulheres dizem-me "a maior parte dos meus amigos são rapazes", julgando que são peculiares. Não queria ser eu a dizer isto, mas praticamente todas as mulheres decentes têm mais amigos rapazes. Isto não é uma indirecta a nenhuma conhecida minha (não tenho amigas) em especial, é uma indirecta a todas. Penso que as mulheres têm uma certa infelicidade nisso. As mulheres têm vantagens face aos homens como, por exemplo, terem um corpo de mulher com maminhas sempre à disposição. Também têm as maminhas das amigas e há sempre umas ocasiões em que experimentam as maminhas umas das outras e se beijam, como no Mulholland Drive. Eu percebo de mulheres. O David Lynch também. Tudo isto é bonito. Mas o girl bonding raramente atinge o nível épico e trágico do male bonding. Este texto podia alongar-se sobre  o futebol como exemplo de tragédia colectiva masculina. Mas rapidamente haveria uma mulher a levantar o braço e a dizer "calma aí, eu também vejo futebol e gosto". É verdade que elas existem, as que gostam de futebol, normalmente, procurando fugir aos estereótipos da mulher e tentando ser adoptadas pelos amigos, como cães perdidos. Mas quantas vão, ao intervalo do jogo, fazer chichi ao lado de desconhecidas e comentar a política de contratações que não supriu as ausências de dois extremos vendidos a clubes milionários e que originou a situação de termos dois jogadores de meio campo mal adaptados a essas posições? E genuinamente preocupadas? Não acredito.

No escritório também é nítido que elas não se suportam umas às outras muito tempo, navegam em alianças que flutuam ao sabor do momento, coisas instáveis e confusas. Nós falamos de miúdas, de como vão estar as ondas no próximo fim de semana, de cenas fixes em geral.

Mas o melhor exemplo é a guerra, o exército. Como hoje se torna difícil ter uma boa guerra à Hemingway, ela pode ser vivida nos jogos de playstation online. Até hoje, nunca conheci uma mulher que genuinamente quisesse jogar um jogo de guerra online, um violento first person shooter, daqueles em que vemos o que o "boneco" vê e temos uma arma realista para matar outros jogadores virituais. Querem sempre singstar, buzz, wii etc.
Não conhecem a alegria instantânea, a euforia, de estarmos numa equipa de 11 jogadores anónimos, nomeadamente um francês que passa a vida a gemer "ah non hein? ah ben bfff ça alors, ah tien qu'est qu'il fout la oh la l." e um espanhol que só diz "coño" no bluetooth wireless headset para os outros 9, e tudo aquilo funcionar bem: o médico curar companheiros, o engenheiro de explosivos dinamitar as estruturas certas, o sniper (eu, normalmente) providenciar boa cobertura e ataques de morteiro certeiros e as assault class conseguirem entrar no edifício e fazer explodir o comunication center defendido pelos inimigos, desconhecidos que odiamos genuinamente de morte. Sim, nessas alturas festejamos aos saltinhos com os bonecos, o francês grita "trés bien les gars!" e o espanhol "coño!".

E adicionamos amigos que jogaram particularmente bem connosco. Formamos clãs online. Combatemos orgulhosos com as tags dos nossos clãs. Isto, nunca vi nenhuma mulher a fazer. Mas até um rapazinho de 12 anos com bad parenting issues faz.

A imagem no topo do post é do Bad Company 2. Por vezes pode calhar jogarmos com o preto, mas ele tem as mesmas capacidades dos outros e não se nota (podia correr mais depressa ou não conseguir armar explosivos). Como vemos o jogo pelos olhos do boneco, e ele usa luvas e roupa como os outros, nunca nos chegamos a aperceber disso, a não ser que estejamos num servidor onde há o hábito de fazer o informal "shoot the nigger" que é quando os jogadores da própria equipa matam por gozo o boneco do preto e nem conseguimos jogar.

o header

Ele está a olhar para mim não está? Está atrás de mim não está?
Sinto-me observado pelo header que um(a) gentil anónimo(a) me providenciou. Agora tenho toda uma nova responsabilidade e vou começar a fazer spell check aos meus textos. E não me refiro apenas um spell check ortográfico, também farei um spell check de feitiços (ah ah ah "spell" ah ah ah). Não que eu não conseguisse fazer um header assim bonito, sozinho. Sei mexer muito bem nos softwares que os designers profissionais usam, como o Paint e o Microsoft Picture Viewer. Há uns meses comprei um livro para aprender a fazer caricaturas, uma coisa que eu gosto muito. Estou a trabalhar nestas ainda, mas acho que já dá para ver como me ajeito bem.
Precisam só de mais um pouco de trabalho.
Outra coisa, ao longo da minha extensa carreira de blogger já me deram coisas boas, como um gato e um header bonito. Será que algum dos meus leitores sabe impermeabilizar um telhado?

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

je suis le grand artiste

... de cada vez que me enviam folhetos para workshops de escrita eu penso que me estão a enviar sugestões para ganhar uns trocos. Agradeço a dica e explico que je suis un artiste e que o que sei não pode ser transmitido por palavras a meros mortais. Segue-se um longo testamento sobre a literatura russa do séc. XIX e os videojogos e a sua influência no meu método. Depois, na resposta curta e agastada que recebo 5 minutos depois, compreendo que me estavam era a sugerir que eu fosse aluno e não professor do workshop. Depois, faço "unfriend", apago o contacto da pessoa no telemóvel, bloqueio-o no messenger e no gmail. E se a vejo na rua, mudo de passeio. E crio um stalker anónimo que lhe enferniza os comentários do blog até ser obrigado a activar a moderação. Seja como for, acredito que workshops podem ser úteis a meros mortais como vós que sonhais em ser como eu ou o Kafka ou o Bukowski e, no processo, podereis  eventualmente atingir o nível do João Tordo e, sobretudo, muito importante, evitar descambar num José Luís Peixoto . Aqui o programa completo deste curso.

publicar blogs

Não tenho nada contra publicar blogs, nada, nada, nada. Mesmo. Bons amigos e talentosos ainda por cima, publicaram os respectivos blogs. No meu caso, isso não se coloca por dois motivos. Primeiro, nunca ninguém manifestou interesse nisso, apesar do estrondoso volume de visitas que invade este espaço de cada vez que a Luna me linka num post. Segundo, e mais importante, muito mais importante, porque mesmo que me pedissem de joelhos e acenassem com um chorudo cheque que não chegaria ao que eu ganho numa semana de trabalho, parece-me que será muito giro publicar coisas destas daqui a 20 ou 30 anos, se eu for um escritor famoso. Conseguem imaginar? Poderão dizer "epá, raios e coriscos, macacos me mordam, o Tolan, pois era!" e aí o Toaln estará associado a uma série de recordações da vossa rotinazinha de hoje. E que daqui a 20 anos vos suscitará melancolia, saudade, carinho. Vão lembrar-se de vocês a ler o Tolan e outros blogs, lembram-se de brincar também aos blogs e dos vossos leitores. E enquanto as outras pessoas terão curiosidade pelo livro porque querem ver um escritor em estado bruto, como nas Cartas de Guerra do Lobo Antunes, vocês poderão dizer, orgulhosamente, "eu já topava que o gajo era merecedor do nobél" enquanto puxam a mantinha para as pernas e beberricam o chá perante uma esposa ou esposo indiferente. E aí, marcamos um lançamento e vocês aparecem na Fnac, já meio entrevados das maleitas da idade, pare me cumprimentar e falamos dos velhos tempos, dos nossos nicks e dos nosso blogs, das palhaçadas, vai ser como os encontros dos veteranos do ultramar. Oh, explicar aos nossos filhos e netos o bom que era viver em 2010, eles que só verão 2010 nos livros de história como o ano do início do apocalipse económico que durou uma década...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

o amor é

típico post pós-queca

Assim como no liceu tínhamos aquela professora carrancuda o tempo todo e que um dia aparecia toda risonha e simpática na sala de aulas e todos dávamos cotoveladas cúmplices a comentar que "ontem é que deve ter sido eheheh", também há posts de blogs onde se percebe que no dia anterior houve brincadeira na vida da blogger. Nestes casos, normalmente, uma série de posts normais é interrompida subitamente com um post estranho e minimalista. O título do post estranho refere um destinatário críptico e uma referência privada, como "teremos sempre o cais do sodré" (foi onde me apalpaste as mamas dentro do carro) ou "não preciso dizer-te, é algo que se sabe" (gritei demais os vizinhos ouviram) ou "há coisas que palavras não nos dizem" (finalmente lá te calaste fosgass...). O corpo do post consiste numa música romântica, cena de filme, pedaço de poema ou fotografia artística, visando alimentar a ilusão que o que se passou depois de vinho a mais, ocorreu num contexto semelhante ao que vem na música, na cena de filme, no pedaço de poema ou na fotografia artística.

Exemplo de imagem que diz "já não me limpavam o pó há 1 ano, obrigado"

solidão

A solidão é um pouco como uma pessoa inscrever-se num ginásio. Parece sempre boa ideia em teoria, depois na prática é uma coisa diferente. Colada à solidão, vem o conceito de liberdade. Sozinhos, podemos fazer o que quisermos. É com tristeza que compreendemos que isso desemboca rapidamente em maratonas de playstation e pornografia. Acende-se a televisão para ouvir um ruído de fundo de normalidade em casa e ligam-se luzes desnecessárias. Ninguém quer saber, naquele momento, se estamos de pijama às 3 da tarde, a tropeçar em garrafas de cerveja vazias, a hesitar entre ir buscar macdonalds ou aquecer mais uma pizza congelada ou se, pelo contrário, tomámos banho, fizémos a barba, um almoço saudável, fomos à rua comprar o jornal e estamos a escrever, sentados direitos na cadeira. Quando conseguimos normalidade e disciplina na solidão, ficamos orgulhosos, mas também não temos ninguém com quem partilhar o feito e rapidamente mergulhamos no desleixo. É até um pouco doentio manter rigor na solidão. O Bukowski disse "mostrem-me um homem solteiro com uma cozinha impecavelmente arrumada e limpa e eu mostro-vos alguém com qualidades espirituais detestáveis". A diferença que faz ter aquele bicharoco, num dia de chuva, enrolado em cobertores, entretido com as suas coisinhas, no sofá da sala, enquanto brincamos à solidão no escritório.

domingo, 17 de outubro de 2010

:(

não é só o Sarkozy

The gipsy, he thought. He is truly worthless. He has no political development, nor any discipline and you could not rely on him for anything (...) It's odd to see a gipsy in a war. They should be exempted like conscientious objectors. Or as the physically and mentally unfit. They are worthless. - For Whom the Bell Tolls, Ernest Hemingway,

genética

A cerca de 72% do For Whom The Bell Tolls do tio Mingas e depois de uma parte em que Pilar, de acordo com a superstição cigana, explica a Robert Jordan a que cheira um homem que se sabe que vai morrer, pouso o livro, com a mão a tremer e a boca seca. Fico aliviado por dizerem que é o melhor romance do tio Mingas, seria muito deprimente se um ser humano escrevesse sempre assim porque indicaria uma prevalência demasiado brutal da genética sobre o trabalho - o próprio Tio Mingas via nas recentes teorias Mendelianas a confirmação da sua convicção de que uma pessoa nasce para isto. Ele escreveu este livro 11 anos depois do Farewell to Arms, aos 41 anos - e com outro romance, não-ficção e contos pelo meio. Custa muito vermos os nossos próprios limites numa coisa de que gostamos muito de fazer, espelhados em talento que transcende largamente o nosso como quando, aos 14 anos, percebemos que nunca vamos ser jogadores do Benfica.  Na escola onde estudamos há pelo menos seis ou sete putos que jogam melhor do que nós e há um génio da bola, o puto mulato do bairro pobre, que vai para o Torreense, para jogar com outros génios da bola e de quem nunca mais ouvimos falar.

sábado, 16 de outubro de 2010

muitos dos meus escritores preferidos não tinham ética

O Truman Capote usou chapéus assim e óculos bem antes do Elton John.

O Norman Mailer deixava as pessoas incomodadas quando se sentava.

O Bukowski não era exactamente um gentleman.

O Faulkner tinha um gosto questionável em dias quentes.

O Dostoiévski... O Dostoiévski era boa pessoa.

não importa nada

As pessoas dizem que não gostam de escritor A porque é um escroque, de artista B porque é um egocêntrico, de C porque foi colaboracionista nazi ou de D porque foi comunista. Não interessa ok? As pessoas muito criativas são todas defeituosas de uma forma ou de outra. Não é mesmo nada importante. Deixo-vos com umas fotos do Hemingway a ser um fofo.




sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O que fazer dele?

Considero o primeiro e o segundo volume de crónicas o melhor que ele fez, geniais, têm o Lobo Antunes em toda a sua amplitude, o sentido de humor e tudo, a inteligência. Gostei muito do Fado Alexandrino e de outro, O que farei quando tudo arde. Um dado relevante que acrescento é que na altura em que conseguia ler um calhamaço do Lobo Antunes e gostar, eu lia em transportes públicos, passava 3 horas por dia enfiado na merda de um autocarro e no metro e tinha tempo para me acondicionar devidamente.

Depois não gostei do Memória de Elefante. Depois, tentei ler mais uns e fui tendo cada vez mais dificuldade em gostar. Não consegui ler o Arquipélago da Insónia, nem o Cus de Judas nem o Que Cavalos São Aqueles etc e suspeito que não tem a ver com os livros em particular, mas com o que há de comum em todos os livros do Lobo Antunes. Começo a ler e depois à 4ª ou 5ª página só me vem uma palavra à cabeça: "mais 400 páginas disto? não, obrigado". Como é que um autor que eu colocava nos píncaros absolutos do génio na prosa, no espaço de 3 anos, me provoca agora esta reacção de impaciência?

os únicos dois temas que me interessam

bons conselhos que chegaram 42 minutos tarde demais quando os barbitúricos já começaram a fazer efeito

«cabe-me salientar que embora possas ter lido na net que 70 mil palavras já fazem um romance, toda a gente sabe que qualquer coisa abaixo de 400 páginas é tendencialmente homossexual. Acho é que não devias já andar a reler, pá. se achas uma passagem menos boa vais logo entrar em parafuso. Ainda é cedo. Está tudo bem. Levas essa merda até ao fim, escreves a última frase e depois só voltas a reler quando já te tiveres esquecido de quase tudo(comigo basta um mês; creio que beber muito ou fumar charros ainda encurta mais o prazo).» - carta de correio electrónico de Vasco Graça Moura


(ok, pode não ter sido o Vasco Graça Moura)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

im going to love you tender

retiro quase tudo o que disse no post anterior, oh meu Deus, acabei de ler um capítulo penoso, péssimo, sou uma merda. Deixo-vos com isto

A good style should show no signs of effort. What is written should seem a happy accident. ~W. Somerset Maugham, Summing Up, 1938

eu estou bem, vou só apanhar aqui os cacos do cinzeiro de cristal que me caiu por causa de um murro na mesa. E dançar um bocadinho com uma cerveja fresquinha, os fones nos ouvidos e o pijama dos ursinhos.

a euforia do escritor

Estou tão excitadinho com o meu romance, só me falta dar pulinhos e bater palminhas como uma rapariguinha numa loja da hello kitty. Estou a aproximar-me das 70 mil palavras, a estrutura está feita. Há dois dias pus-me a reler umas partes escritas há quase 4 meses e são do caralho. Deu-me a sensação de "precog" do Minority Report, aquela cena de começar a ler uma frase de que não me lembro de ter escrito, escrevê-la mentalmente e depois soltar um "eish foda-se lindo" quando a acabo de ler porque está melhor do que faria hoje. Nesses momentos estou perto do meu máximo potencial actual e nunca me aconteceu com uma extensão tão grande de trabalho, apenas a espaços, e nunca em tentativas de conto ou romance. Começo a cantar o Cant Touch This do MC Hammer e tudo. É possível que daí por 1 ou 2 anos releia e ache uma merda. Mas não interessa. Eu ficaria deprimido se não sentisse evolução, transformação, refinação. Há muito trabalho ainda, passagens más, buracos e inconsistências. Preciso de mais 3 ou 4 meses e de o dar a ler a 3 pessoas cuidadosamente seleccionadas com base em critérios exigentes.

Humildade? Não me falem de humildade (ninguém falou, mas eu precisava agora de uma introdução para o que se segue) É preciso ser humilde e apagar aquilo que o nosso eu achou bestial numa noite menos inspirada, páginas e páginas desaparecem com um delete. É preciso ser humilde para atirar para o lixo um aborto de romance de 150 páginas e outro de 130 e meia dúzia de 60-70 páginas. É preciso ser humilde para reconhecer que somos uma grande merda, uns preguiçosos, uns cobardes. Por vezes somos patéticos, vocês são muito patéticos também, mas quando uma pessoa se escreve, fica o registo da patetice do patético, da presunção, da superficialidade, do armanço, como um espelho que, quando nos apanha de ressaca e com o cabelo oleoso, tira uma foto e nos mostra aquela cara de vez em quando. O Hemingway dizia que é preciso ter um radar detector de merda, é o essencial para se ser escritor. Pelo menos isso, o Tolan tem. Eu se fosse a uma audição dos ídolos, era capaz de, ao sentir que tinha cantado mal, pedir desculpa ao juri, insultar-me e ir-me embora, sem que aquele panhonha, o da cara de parvo, abrisse a boca. Era muito bem feita.

beat it Portugal

A Beat Generation! Não percebo porque os artistas que eram incluídos na beat generation, como o Allen Ginsberg, William S. Burroughs ou o Jack Kerouac, haviam de rejeitar um rótulo tão fixe. Suponho que tem a ver com aquela coisa da "perda da individualidade" etc. Prima-donas...
Estes tipos tinham mesmo muito em comum. Preocupavam-se com aquilo que eu chamaria de intenção criativa a priori, ou arte-tao-espartilhada-por-manifestos-que-acaba-por-ser-pífia e iam ao cú uns aos outros. Também experimentavam drogas e rejeitavam o materialismo, abraçavam a cultura oriental. O Kerouac era o mais genuíno, o mais próximo de uma pessoa boa e normal.

Onde eu queria chegar é que em Portugal, a geração 70/início de 80, tem algo de beat. Assim como eles eram o pós guerra e cresceram na aurora da época da abundância, nós acompanhámos o início do desenvolvimento português do final dos 80s e dos 90s. Nós, os que víamos o Tom Sawyer na tv, fomos os primeiros a crescer com televisão e publicidade a sério. Quase quatro décadas depois, tivemos finalmente carros, como os putos americanos nos 50s.

Talvez seja por isso que muitos sintam angústias existenciais semelhantes às dos beat americanos dos 50s: a rejeição do materialismo, o sentimento de uma vida que não é preenchida pela profissão (qualquer profissão), a busca de espiritualidade e verdade em que o budismo ou o zen surge frequentemente como resposta, o hedonismo nas drogas, bebida e no sexo. Pode ser isto, mas também pode dar-se o caso de isto ser uma coisa perfeitamente cíclica e que todas as épocas tenham os seus beat. Camões, por exemplo, é um bocado beat. Pessoa e Sá Carneiro, são beat a valer. Se calhar, devia apagar este texto inconclusivo. Estou confuso. Estava muito entusiasmado com ele.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O Pedro Passos Coelho vai receber hoje os presidentes dos bancos

O Pedro Passos Coelho vai receber hoje os presidentes dos bancos e o encontro realiza-se "a pedido dos banqueiros". Vão lá estar Ricardo Salgado (Banco Espírito Santo), Faria de Oliveira (Caixa Geral de Depósitos), Carlos Santos Ferreira (Millennium bcp) e Fernando Ulrich (Banco Português de Investimento). Estou a ver a cena com toda a nitidez e vocês também...

*efeito fade out em ondinhas*

- Pedro, não estás com boa cara, tens comido bem?
- Está tudo bem, obrigado, comi hoje um croquete de camarão que se calhar...
- Como está a Laurinha? E a tua esposa não é? Laura?
- Sim.
- Manda-lhe cumprimentos. Vê se descansas, pareces cansado. Tens feito um bom trabalho Pedro, gostámos muito e já quando eras candidato à liderança do PSD eu disse "este homem tem potencial para chegar longe". Não disse, Fernando? Não disse que ele tinha potencial para chegar longe?
- Disseste Ricardo.
- Estás ver Pedro? Tens potencial para chegar longe.
- Obrigado. Eu tenho uma visão muito clara do que Portugal precisa.
- Compreendo, pois, uma visão, isso, a política é um jogo complicado e... tens lume Pedro?
- Sim, aqui tem.
- Obrigado. A política é um jogo complicado, é preciso mostrar firmeza. E tu és um político firme. Não disse que ele era um político firme Carlos?
- Disseste, e nós concordámos.
- Disse pois. Sabes Pedro, eu gosto de ler provérbios na internet. Tu lês provérbios na Internet?
- O meu staff dos blogs costuma e depois imprime páginas. Eu por acaso não sou muito de ir ao internet mas às vezes vou ao Sapo para ver o tempo.
- Devias. Há umas páginas muito completas, como o brainy quotes. Hoje de manhã por acaso li este, a propósito de firmeza.. está em inglês, não há problema pois não?
- No sir!
- Muito bem: A wise unselfishness is not a surrender of yourself to the wishes of anyone, but only to the best discoverable course of action. É de David Seabury.
- É bonito.
- Mas percebeste o provérbio?
- Sim.
- Sabes o que tens a fazer?
- Acho que sim.
- Podes fazê-lo de maneira airosa, para ficares bem. Disso percebes tu. Nós não somos propriamente políticos. Esperas uns dias se calhar.
- Se calhar é melhor.
- Mas não esperes muitos. Sabes quanto é que nos custa cada ponto de juros da dívida portuguesa? Ou cada nível de rating na moodys?
- Não faço ideia, mas deve ser uma pipa.
- É Pedro. "É uma pipa". Ele diz que é "uma pipa"! Ahahah não é engraçado rapazes?
- Ahahaha!
- ahah Uma pipa... Boa Pedro. Boa... Não esperes muito.
- Está bem.
- Muito bem. Eu não disse que ele era esperto?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

a doce música da vitória

Andava atrás desta rapariga estilista há quase um mês. Ela tinha um talento miserável como estilista mas vestia-se bem, era muito social e tinha umas maminhas jeitosas. De vez em quando mostrava-me esboços que estava a fazer e tinham todos o aspecto de bonecas Sailormoon passadas a papel vegetal, como as que uma sobrinha de um amigo meu faz. Mas eu dizia-lhe “wow, foste tu que fizeste?” e ela ficava toda corada e contente.
Finalmente consigo um jantar com ela e, menos de uma hora antes da hora marcada, quando ainda estava no escritório, ela manda-me um sms a dizer que vinha com três amigos, todos gays, colegas do curso de estilismo, se eu não me importava. Respondi-lhe que não havia problema. Desliguei. Continuei a trabalhar, mas depois os suores frios, princípios de ataques de pânico e hiperventilação obrigaram-me a ir à casa de banho e fiquei lá até serem horas de sair.
Não estava suficientemente bem vestido para enfrentar um esquadrão G, o meu cabelo precisava de um corte há mais de um mês e estava com a pele muito pouco hidratada. Pensei em cancelar o jantar mas tinha mesmo de vencer a minha fobia. Além disso, pensei que se passasse este teste com distinção, ela não me poderia resistir. Se eu caísse nas graças dos três amigos gays era bem mais significativo que o aval do pai, da mãe, dos avós, das primas.
Enquanto conduzia para o Sheraton, fui ensaiando personalidades e falando sozinho. É evidente que tinha que adoptar uma personalidade especial para a ocasião, algo de que eles gostassem. De quem gostam eles? Do Cristiano Ronaldo, do Pedro Granger, do José Sócrates, de forcados, do vocalista dos The National, de homens de uniforme… a lista era infindável. Fiquei-me pela personalidade cowboy marlboro. Era um valor seguro. Eles gostam dessas coisas, lembro-me do video do George Michael, com os cobóis aos beijos e do brokeback mountain… Na altura pareceu-me boa ideia.
Semicerrei os olhos, os maxilares tensos, gestos lentos e decididos, Clint Eastwood, pensa no Clint Eastwood… Chego ao restaurante e lá está ela acompanhada de três bichas que pareciam teletubies excitados. Quase que tive um ataque epilético com o choque de cores e perfumes. Um deles bateu palminhas e chocalharam pulseiras. Indeciso e sem saber como cumprimentar gays acenei com a cabeça. Só rezei para que ninguém conhecido me visse ali.
Pedi um whisky, logo para começar.
- Então Tolan, o que gostas de fazer? – perguntou-me um.
- Gosto de caçar.
- De caçar?
- Yep.
- Caçar... animais?
- Sim. E esfolo-os eu próprio, tenho uma colecção de...
- O C. é da liga dos direitos dos animais e eles são todos vegetarianos. - interrompeu a miúda, tentando aligeirar as coisas. Instalou-se um silêncio desconfortável.
- Estou a brincar. - disse.
- Ahh! - exclamaram.
- Adoro animais fofinhos! E o David Bowie. E os Abba. Hey, uma dúvida! Estou a pensar cortar o cabelo, como é que acham que me ficava bem? Esperem, antes de responderem, vamos pedir margueritas para todos?
Ouvi palminhas e o chocalhar de pulseiras, a doce música da vitória. O problema, evidentemente, é que ela perdeu todo o interesse por mim e da última vez que ouvi falar nela, namorava com um forcado.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Escrever para jovens

O Jack Kerouac tem pelo menos duas virtudes. Faz-nos acreditar que a coisa correcta a fazer é largar tudo, viajar e viver intensamente. E, indirectamente, que todos podemos escrever um romance. Não me sinto muito confortável com estes efeitos. Primeiro, não posso fazer isso à minha mãe, isso de sair por aí a tomar drogas e abandonar tudo. E não me sinto muito à vontade com o estilo do On The Road porque consegue ser aborrecido por vezes, o que é um feito num livro tão pequeno. Diz que tiraram mais de 120 páginas do original, o que dá que pensar. O Kerouac tinha uma abordagem confessional à ficção, abordagem que eu próprio já percebi que partilho ao chamar-lhe, pomposamente, “verdade”.
Seja como for, o gajo era bom. O que ele fazia tinha, pelo menos, vitalidade e originalidade e sem dúvida que teve um impacto grande a vários níveis. Gosto da ideia do impacto na juventude. Talvez as melhores obras sejam as que conseguem mexer a sério com adolescentes, com jovens. Naquela idade, as fronteiras entre a arte (cinema, música, literatura, poesia) e experiências reais, estão muito esbatidas. Assim, é frequente um puto achar que aquilo é a melhor coisa que já viu e ficar durante dias a fio abalado por um livro ou um filme, sentir-se inspirado por ele, sentir um sentimento de perda e solidão porque aquilo acabou e já não há mais.

mas... porque é que alguém havia de querer dizer isso?

«Salvo as devidas distâncias, dizer que o 1º de Dezembro-Braga se aproximou de um confronto desigual entre o poderoso exército de Israel e um grupo desorganizado de guerrilheiros palestinianos é tudo menos correcto. - » http://www.ojogo.pt/

homens que sabem impressionar uma mulher

Uma vez que me retirei do activo, não me importo de partilhar com outros homens os meus segredos e técnicas aperfeiçoadas ao longo de décadas. Depois do que me aconteceu, o meu sentimento competitivo implacável e selvagem, foi substituído por ternura e amizade pelos meus irmãos homens. Por isso, desejo-lhes as maiores felicidades.

As dicas que se seguem são mais ou menos universais, podem ser aplicadas a qualquer tipo de mulher. Bom proveito.

Os homens que sabem impressionar uma mulher:

1- Não dão guinchos de medo quando aparece o Voldemort no Harry Potter
2- Sabem abrir qualquer espécie de frasco ou embalagem
3- Conseguem lembrar-se pelo menos de partes daquilo que elas lhes acabaram de dizer (eu uso mnemónicas para as expressões faciais delas)
4- Não entram na sala com a bisnaga de Canesten na mão a perguntar "isto é para quê querida?" (googlem)
5- Não tentam impressionar o pai dela com relatos de conquistas
6- Não acham a Isabel Figueiras interessante e atraente
7- Levam-na a restaurantes bons e caros e fingem ser habitues e conhecer os empregados, tratando-os por nomes fictícios
8- Têm datas como o aniversário dela no outlook, sincronizado com o blackberry e com alarme
9- Gostam de crianças e acham que ter um filho mudaria a vossa perspectiva de vida etc etc.
10- Nunca respondem "no golo do Carlos Martins" à questão "estás a pensar em quê?"

domingo, 10 de outubro de 2010

nem 1000 cenas do Artrax a morrer no pântano da tristeza se comparam ao que foi o Artur Jorge no Benfica

estatística

Vejo no telejornal que um em cada cinco portugueses sofre de perturbações mentais. Será que esta estatística tem em conta o meu caso de personalidade múltipla? Comigo são cinco em cada um a sofrer de perturbações mentais.

agora já sei porque me pareceu tão má

-Reescreve muito?
-Depende. Reescrevi trinta e nove vezes o final de O Adeus às Armas, a última página, antes de ficar satisfeito

Hemingway à Paris Review

sábado, 9 de outubro de 2010

subir na vida

Moro numa zona tão boa de Lisboa que os grafitis nas paredes têm inscrições como "I love you", "Carla, adoro-te", "Miguel e Susana amo-vos", "friends forever", por entre smileys e corações.

Na minha anterior zona em Benfica alguém tinha escrito "merda" a tinta preta em pelo menos 8 paredes diferentes no quarteirão. E havia um grafiti elaborado que dizia "quinta do bill".

Na zona antes dessa, em Sta Apolónia, nem grafitis havia, era mesmo merda nas paredes. Também havia vinho roxo vomitado nos cantos da estação e um rasto de sangue seco no passeio.

a eventual lamechice ou bom senso neste blog aparece porque

a) estou com os copos
b) acabei de ver mais um video do Elmo

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

já agora...

... a minha melhor amiga, a Rita, em mais uma demonstração cósmica do bonito que é a improbabilidade de duas pessoas geografica e cronologicamente próximas terem tanto em comum.

quem me mostrou este poema, pela primeira vez, ironicamente, foi quem mais tarde me explicou o que ele significava

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti
- O'Neill, Adeus Português

infelicidade :( felicidade :)

Disseram-me que o meu cão tinha sido abatido pelo meu pai por ter mordido uma pessoa gravemente. Tinha acabado de chegar da escola, num dia parecido com este, de chuva. Devia ter 6 ou 7 anos e chapinhava nas poças de água com as botas com olhinhos de sapinho, a moda outono inverno de 83 ou 84. Vi a forma canina nos braços do meu pai, enrolada no seu velho cobertor roído, a ser pousada na cova lamacenta entre as duas laranjeiras, no fundo do escuro quintal. O meu pai abatera-o, com uma injecção de pentotal. Era ele ou a gnr e abate num canil municipal. Depois tive mais cães, ao longo da vida. E sempre que seguro num cachorro bebé e vejo os seus olhos azulados, o focinho húmido, as patas desproporcionais, penso, “ este idiota vai lixar-me um dia”.
Mas quem percebe mesmo disto é o Elmo.

Mário Vargas Llosa, Garcia Marquez...

... venha o diabo nóbel e escolha. Escolheu os dois, por acaso. Sabíamos que era uma questão de tempo até se desfazer a idiota polémica Llosa vs Marquez que ocorreu quando este último ganhou o nóbel. Evidentemente que o Llosa é melhor que o Marquez mas isso é o mesmo que dizer que o Daniel Carriço é melhor que o Tonel. Garcia Marquez é-me intragável. Uma questão pessoal creio eu. Não vou muito à bola com literatura sul americana. Nem sei se lhes falta alguma coisa, mas são capazes de ter em excesso duas, exuberância estilística e uma lamechice melancólica. Os brasileiros, apesar de sentir sempre que estou a ler uma tradução da europa américa, gostei de alguns, só que eles deram ao mundo o Paulo Coelho e penso que pelo menos 100 bons escritores devem pagar pelo Paulo Coelho. O chileno Pablo Neruda é um work in progress, não sei ainda, é poesia, e poesia, é como levar no cú, há quem goste, há quem aprenda a gostar. Desses lados, do que li, safa-se o argentino Bioy de Casares (com os mesmos defeitos sul-americanos, infelizmente) e com grande margem o mexicano Juan Rulfo.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Ricky Gervais em 1984 era mais paneleiro e mais bonito que o David Bowie



(via bluesy, também não quis acreditar, quem quiser confirmar, confirme aqui. Ainda por cima a música é do caraças. Versão completa e sem cortes aqui.

não tem piada

Se o David Bowie trabalhasse como empregado de mesa, de cada vez que fosse dar o troco a alguém cantaria
here's your Ch-ch-ch-ch-Change

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

uma coisa feia

O protagonista do For Whom the Bell tolls do Hemingway, o Robert Jordan, luta contra os fascistas na guerra civil de Espanha. Não se sente comunista ou republicano, mas tem a certeza de que o fascismo é mau. Em termos práticos, ele acaba por ser tão ou mais eficaz contra os fascistas que os seus camaradas.

Entre os camaradas, são poucos os que têm efectivamente uma consciência política. Numa guerra confusa como a que é descrita no livro, feita de células de resistências mais ou menos autónomas, cada homem tem os seus motivos para combater e para não combater.

Numa das melhores passagens da literatura que já me foi dada a ler, executam-se fascistas, um a um, numa aldeia tomada pelos guerrilheiros. São executados à paulada e atirados de um penhasco. O facto de se executarem um a um, leva a que o juízo colectivo do povo oscile entre o ódio (há fascistas mais filhos da puta) até um sentimento de mal estar (tipos inofensivos que mesmo assim devem ser mortos).

No fim, a psicologia de massas leva a melhor e, por causa das palavras ofensivas e desafiadoras de um dos fascistas, os restantes são executados sem qualquer hesitação, de forma selvagem, por uma populaça embriagada e feroz.

Tudo isto deixa um travo amargo na consciência da camarada Pilar, espanhola que simboliza precisamente o "ideal da república". Foi uma coisa feia, como ela resume, um dos dois dias mais tenebrosos da sua vida. «Qual foi o outro?» pergunta o Robert Jordan e ela responde «O dia em que os fascistas retomaram a aldeia.»

domingo, 3 de outubro de 2010

nighty night

areia gigante

A Maria postou uma música dos Giant Sand. Chamou-me a atenção. Youtubei, allmmusiquei, confirmei. O sentimento de euforia quando descobrimos uma banda clássica alternativa que desconhecíamos completamente. Eles existem desde 1980 e tal. Parece que um deles depois fundou os Calexico, uma banda de que eu gostava muito e agora não consigo ouvir. Isto é de 1989.


E esta, de 1994, ideal para aquele passeio de carro na marginal, com os copos, às 5 da manhã, com um cigarro ao canto na boca, quando começam a cair as primeiras chuvas que anunciam um inverno frio... eish...


E isto é de 2008. Isto é que uma voz foda-se.

sábado, 2 de outubro de 2010

Os filmes de terror são como as mulheres

Debaixo de uma mantinha, com cheetos e cervejas, eu e a minha constipação severa acabámos de ver o Saw, o primeiro. Não resisti ao trailer e ao facto de ter o Michael Emerson, o gajo que faz de Linus no Lost e que é simplesmente o gajo mais fodido à face da terra. Metam o Michael Emerson contra o Chuck Norris num ringue, eu pagava para ver. Aposto que o Michael Emerson conseguia puxar os cordelhinhos ao Chuck Norris ao ponto deste se suicidar: «nunca chegaste aos calcanhares do bruce lee... e só um filme do silvester stalone teve mais impacto que toda a tua filmografia de "acção"... e o Walker, o Ranger do Texas? Que merda era aquela Chuck? Tinhas um colega preto Chuck. Um preto? Que andava de fato e gravata? E que mandava em ti?


Estou consideravelmente abalado. A minha constipação também. Os micróbios deram tréguas, por instantes, para verem o filme, com as patinhas de micróbio em frente aos olhinhos de micróbio, muito assustados. O meu sistema imunitário também deve ter parado para ver o filme. Foi tipo aqueles cessares fogo entre Israel e a Palestina. Mal o filme acabou, comecei a espirrar e tossir, voltou tudo ao normal, como quando os observadores internacionais bazam da faixa de gaza. Eu é que fiquei abalado e agora estou em casa sozinho, são 23:30. Oiço um lobo a uivar ao longe. Não, é uma sirene de ambulância. Será mais uma vítima do Jigsaw? :|

Não sei poque motivo me ponho a ver filmes de terror quando estou sozinho. É a procura de emoções fortes, talvez. Um prazer masoquista. Digo a mim mesmo "vê o happy feet foda-se, ou o chovem almôndegas..." e lá estou eu a percorrer a lista dos filmes de terror. O título deste post era só para enganar, nem tudo o que eu escrevo tem a ver com mulheres porra.

Selvagem Tosco

Foda-se Diego, estás sexy nisto.

http://www.myspace.com/feromona

Tema político nº6: A selecção nacional

Os maus resultados da selecção nacional são maus e deviam ser melhores. Ter maus resultados é normal, mas tantos também não. Espanha tem excelentes resultados. Portugal teve resultados satisfatórios nos últimos anos, mas os de Espanha foram melhores. Uma prioridade do Governo deveria de ser melhorar os resultados da selecção nacional. O principal problema da selecção nacional portuguesa é que os jogadores têm de ser portugueses. Isto constitui uma forte desvantagem face a Espanha. Espanha pode escolher jogadores espanhóis. A Alemanha tem ao seu dispôr jogadores alemães e o Brasil conta com jogadores brasileiros. Felizmente já se fez qualquer coisa quanto aos brasileiros, com as naturalizações dos craques Pepe, Deco e Liedson, jogadores que sozinhos levaram a selecção nacional ao colo no último mundial na África do Sul. Mas os espanhóis e os alemães deviam ser os nossos alvos prioritários de naturalizações. Uma dificuldade é que os jogadores por vezes preferem não se naturalizar por Portugal para poderem jogar na selecção da Espanha ou da Alemanha. É pois necessário agir rápido, criar uma SWAT team do SEF, apoiada por batedores olheiros do FCP. Identificam-se os alemães e espanhóis promissores e manda-se a SWAT team do SEF por helicóptero, armada de papeis e carimbos, naturalizá-los, eventualmente com a autorização dos pais, a troco de pontos (um cartão de pontos para descontos em restaurantes ou gasolina por exemplo). Mesmo com o cartão de pontos, é possível que a medida não fosse bem aceite. Outra alternativa seria comprar a nacionalidade desses jogadores no mercado internacional. Comprar o Xavi a Espanha pode sair barato. O Real Madrid pagou 94 milhões de euros pelo Cristiano Ronaldo. Para se ter uma ideia, os dois submarinos que Portugal comprou à Alemanha custaram 832 milhões de euros. Dava para lhes comprarmos o Podolski, o Muller, o Schweinsteiger, o Klose, o Ozil, o Kedhira e ainda sobrava dinheiro para umas lanchas para a marinha.

os dinossauros

A primeira vez que escrevi ficção foi na 2ª ou 3ª classe, quando escrevi uma composição sobre um passeio. Toda a turma tinha de escrever uma composição sobre um passeio que tinham feito no fim de semana. Eu escrevi a minha, calmamente. Depois todos lemos as composições. Eram as merdas do costume. "Fui com o meu pai e a minha mãe a Santa Cruz. Comi um gelado de morango." Esse tipo de coisas formais, a medo, como as pessoas fazem quando não têm talento. Como eu estava a passar a minha fase "livros de dinossauros" e na altura não me parecia que tivesse algo de especial a contar, o meu passeio envolvia uma viagem no tempo com o meu cão e partilharmos o nosso lanche (o meu e o do meu cão) com um gigantesco e simpático Diplodocus, a contemplar a selva mesozoica, até sermos interrompidos pelo malvado Tiranossauro Rex. A professora pediu para falar com os meus pais porque achou que eu tinha tido ajuda deles. Foi o primeiro elogio sincero ao meu talento. Os da Inês e a Cristina não valiam, elas gostavam de mim e uma vez chegaram mesmo a pegar-se nos ensaios da festa de natal. Em boa verdade, fui influenciado vagamente pelo trabalho da minha mãe, as cartas que escrevia à irmã gémea em francês e que normalmente tinham elementos como lontras, cães e ursos. A especialidade da minha tia eram gatos e gorilas. Trocavam histórias infantis uma com a outra, em vez de contar a rotina do dia a dia. Essa ficava-se por um parágrafo e chegava. A minha tia, de vez em quando, enviava um animal de peluche de qualidade, em Portugal, na altura, não havia. Refiro-me a animais de peluche realistas e fofinhos. Em Portugal nos anos 80 eram todos coloridos, berrantes, artificiais e sintéticos, ainda são um bocado.

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